Imortal escrita por Carola


Capítulo 12
Finalmente, meus pais




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Eu cheguei até a porta, e em vez de pegar minha chave no bolso direito da calça, apertei a campainha e aguardei por algum sinal de vida dos meus pais, mas nada.

_ Steph, eu vou entrar. – Olhei para ele com aquele olhar de “não adianta querer me impedir”.

_ Quer que eu vá na sua frente?

_ Não!

_ Tudo bem então.

Coloquei a mão dentro do bolso e tirei a chave. Eu ia acabar com toda aquela tensão, e caso meus pais não estivessem ali, eu ligaria para eles imediatamente para saber onde estavam de verdade.

Quando coloquei a chave na porta, tive uma surpresa: um barulho de porta sendo destrancada ecoou de dentro da casa e a maçaneta se mexeu. Aquilo poderia ser tanto um bom sinal, quanto poderia não ser, e apesar de saber disso, eu implorava mentalmente para que minha mãe abrisse a porta e me acolhe-se em seus braços tão macios e brancos. Felizmente eu estava errada. Mas, por que felizmente? Porque na verdade quem abriu a porta foi meu pai, com os cabelos bagunçados, um short verde e grande de cetim, e os olhos semi cerrados, reagindo contra a claridade. Não é preciso nem dizer que já havia se passado de meio dia, mas meus pais estavam dormindo.

Fiquei tão feliz em vê-lo que saí correndo e pulei em meu pai, como se eu ainda fosse leve. Com o ato inesperado, o homem de pijamas parado bem à porta da minha sala cambaleou para trás.

_ Papai, papai, que saudades de você!

Foi impossível não deixar caírem as lágrimas que se formaram em meus olhos naqueles segundos. Fora terrível poder cogitar a possibilidade de não ter mais meus pais, que apesar de um pouco ausentes, me amavam incondicionalmente. Bom, procurando mais profundamente pelos motivos do meu choro compulsivo do momento, eu tinha certeza de um: aquele abraço do meu pai me oferecia confiança e aconchego. Era aquele homem de 43 anos que nunca me abandonaria... Em nenhuma hipótese. Para mim, Fred Graham Williams era a maior figura de proteção da face da Terra, e através daquele carinho de pai eu confirmava isso.

_ Ei, ei... Calma! Também estava morto de saudades filha, mas, onde você estava?

_ Ah papai, é uma longa história... Depois eu vou tentar explicar; mas onde está mamãe? – Eu olhei para o meu pai, fitando-o profundamente.

_ Sua mãe ainda está deitada lá em cima filha.

Olhei para a sala e então saí correndo sem pensar duas vezes. Enquanto subia a escada, enxugava os olhos e sentia uma vontade desesperadora de pular em minha mãe e abraçá-la fortemente.

Quando cheguei à porta do quarto, fiz silêncio e olhei aquela mulher lindíssima enrolada em cobertores, sendo iluminada apenas pela luz que entrava pela porta aberta. Hesitei em acordá-la ou não, mas o sentimento de saudade falava mais alto, implorando-me que saísse correndo e pulasse em minha mãe. Acabei decidindo acordá-la calmamente, sem euforia.

Andei ate a cama, sentei de lado e então me curvei em direção à cabeça de minha mãe e sussurrei bem baixinho:

_ Mamãe?!

Ela abriu os olhos, mas os deixou semi-abertos até conseguir reconhecer quem estava ali.

_ Carol?

_ Sim mamãe, sou eu!

Minha mãe sentou na cama e me abraçou bem forte e demoradamente.

_ Filha, que saudade! Tive um sonho tão estranho com você.

_ Sério? – Fiz uma cara de interrogação e curiosidade. – Me conta! E ah, eu estava morta de saudades! – Depois de ter falado isso, pensei na ironia que era falar que estava morta.

Nós duas nos largamos e então sentamos de perninhas de índio, para que pudéssemos conversar. Minha mãe logo começou a falar do sonho.

_ Hum, meu sonho não foi nada agradável, em compensação foi bem confuso também. Você estava no meio de alguma briga, e eu não podia ver o rosto da outra pessoa. Vocês dois trocaram umas palavras indefinidas e inaudíveis e em seguida, o homem anônimo te atacou com uma adaga e você morreu.

Ao ouvir aquelas palavras saindo da boca de minha mãe, arregalei os olhos. Senti um desespero subir pela espinha e se alojar na boca formando uma vontade de gritar. Comecei a suar frio e a ferida começou a doer. Por alguns segundos senti tonturas e meu estômago embrulhou, mas tentei me recuperar logo para que minha mãe não percebesse.

_ Hum, se-sério? Que coisa mais estranha!

_ Sim, mas o que foi?

_ O que?

_ Você ficou estranha do nada!

_ Ah, não, não é nada!

_ Hum, então ta. Mas, quantas horas são agora?

_ Bem mamãe, já passou da hora do almoço. – Eu dei uma risadinha.

_ Nossa! Vamos sair para almoçar então. Avise seu pai para se arrumar.

Deixei de lado o fato de eu já ter almoçado e desci para dar o recado para meu pai, e quando cheguei ao primeiro andar me deparei com Stephan e meu pai conversando; por alguns segundos fiquei com medo do meu namorado estar atualizando meu pai das últimas notícias sobre mim, mas depois percebi que eles na verdade estavam rindo.

_ Ei, qual é a graça aqui?

_ Nada não, assuntos de homem. – Meu pai disse terminando de rir.

_ Hum... Tanto faz! Bem, mamãe pediu para avisar que vamos sair par almoçar.

Steph me olhou com uma cara de “mas nós já comemos” e eu o respondi sibilando:

_ Para de frescura e come de novo, são meus pais e eu quero ficar com eles!

_ Está certo, eu vou lá em cima me arrumar e poderemos ir.

_ Ok, vamos esperar aqui embaixo.

Meu pai subiu as escadas e eu e meu namorado sentamos no sofá da sala e começamos a assistir a TV.

_ Ei, você está bem amor? – Steph me perguntou.

_ Ah, me sinto um pouco melhor. – Eu disse enquanto deitava me escorando em Stephan. – Mas não sei, as coisas não estão muito normais para mim.

_ Como assim?

_ Eu não sei explicar direito, mas não é fácil me acostumar com essa história toda de morrer, ter duas almas, ter poder, bruxas... Enfim, é tão confuso e surreal que as vezes eu acho que estou sonhando.

_ Hum, eu entendo como é; ou entendo mais ou menos.

_ Mas, quando é que você vai me contar tudo que eu preciso saber?

_ Quando for a hora certa.

_ Eu preciso saber!

_ Opa, calma amor! Eu vou te contar, mais na hora certa.

Quando eu ia retrucar novamente para tentar fazer Stephan falar, meus pais surgiram na ponta da escada, e minha mãe disse:

_ Estamos prontos, vamos?

_ Sim!

Levantamos do sofá, desliguei a televisão e segui em direção à porta de mãos dadas com meu namorado. Todos saímos e paramos perto do carro:

_ Aonde vamos? – Meu pai perguntou.

_ Vocês quem sabe. – Eu disse.

_ Vamos naquele restaurante de comida inglesa?

_ Pode ser.

Entramos no carro e fomos para o restaurante. Eu liguei o radio e por coincidência a minha música preferida estava tocando.

_ E então, por que vocês não foram ao baile? – Eu quebrei o silêncio.

_ Olha filha, tentamos de tudo, mas nosso vôo foi cancelado. Pelo que sei, ocorreu algum problema no avião.

_ Pois é, e depois disso tivemos que esperar seis horas para conseguirmos um novo vôo. – Meu pai completou a fala de minha mãe.

Foi ai que eu fiquei sabendo a verdade: meus pais não tinham sido capturados por Carl, e eu havia morrido à toa. Como eu era burra!

_ Mas, me conta como foi, Carol! – Minha mãe me perguntou.

Eu olhei para Steph com aquela cara de “e agora, o que eu faço?” e rapidamente meu namorado disse:

_ Bom Loren, sua filha estava completamente maravilhosa, e nós dois aproveitamos demais. Dançamos a noite toda e chegamos bem tarde em casa. – Ele deu uma risadinha para disfarçar, e piscou para mim.

_ Ah, que bom que vocês dois se divertiram. Mas, Carol, onde você dormiu?

_ Ahn, mamãe, depois nós conversamos sobre isso... – Dei uma risada muito sem graça.

_ Aham, sei...

_ Pessoal, chegamos! – Papai nos interrompeu.

Não demoramos muito a encontrar uma vaga, até porque já passavam das quatro horas da tarde, e a grande maioria das pessoas já tinha almoçado. Todos nós descemos do carro e nos dirigimos em direção à porta do restaurante. Era o preferido de minha mãe naquela cidadezinha. Quando entrei, lembrei das vezes que fomos ali durante minha infância. Meus pais sempre sentavam perto do playground e ficavam me observando correr.

Por coincidência, meus pais sentaram exatamente naquela mesma mesa de antigamente. Olhei para minha mãe e ela deu uma risadinha para mim.

_ Mamãe, eu já tinha almoçado, então posso só comer uma sobremesa, né?

_ Pode.

Meus pais chamaram o garçom e fizeram seus pedidos. Como eu já sabia o que ia pedir, perguntei para Steph:

_ Você já sabe o que vai comer?

_ Como a mesma coisa que você for comer, amor.

_ Então está bem.

Virei para o garçom e pedi dois petit gateau de chocolate e consegui ver pelo canto do olho a aprovação do meu namorado. Eu sabia que ele gostava.

_ Sim senhorita, logo trago os pedidos de vocês.

_ Mas então, até quando vocês vão ficar aqui? – Steph perguntou.

_ Ainda não sabemos, mas provavelmente não ficaremos por muito tempo. O trabalho está um pouco pesado. – Papai disse.

_ É, não temos nenhuma previsão, e por isso queremos passar o maior tempo possível com você, filha.

_ Hum, entendo. Eu queria que vocês pudessem ficar mais aqui. Sinto muitas saudades. Vocês não tiram férias? – Eu perguntei.

_ Tiramos... Mas ultimamente está impossível conseguir férias. – Mamãe respondeu.

_ Senhores, aqui estão os pedidos.

_ Os garçons chegaram para nos servir. Meu petit gateau parecia estar muito delicioso. A conversa foi interrompida por garfadas de comida e o silêncio pairou.

Eu estava tão concentrada no meu doce que nem me lembrei de continuar a conversa, mas então meu pai falou:

_ Filha, seu aniversário está chegando!

Arregalei os olhos, olhei para o meu pai, larguei o garfo e falei:

_ Nossa, é mesmo! Eu juro que não estava me lembrando do meu próprio aniversário! Como eu sou voada!

Na verdade, não era um esquecimento normal. Eu estava tão fora de mim, que tinha me esquecido de tudo que era considerado da minha “vida normal”.

_ Ah, é, pois é.

_ Vai ficar velhinha! 18 aninhos. – Steph riu para mim e eu mostrei língua.

_ Mas, o que nós vamos fazer para comemorar?

_ Não sei. – Para ser bem sincera, eu não estava animada para festas.

_ Por que você não faz uma festa? – Stephan sugeriu.

Eu olhei para ele com aquela cara de “sério? Você acha mesmo que tem clima para festa?”

_ É mesmo Carol, seria divertido! Vamos aproveitar que estamos todos juntos e comemorar, mas de um jeito bem animado.

Minha mãe ficou tão empolgada que eu desisti de falar que não queria comemorar meu aniversário, e muito menos dar uma festa, mas depois eu ainda xingaria Steph por ter tido essa maldita ideia. Bom, eu já previa como seria todo o decorrer da conversa: todos expondo ideias que seriam usadas na minha festa.

_ Vamos alugar um salão e fazer uma bela decoração, não é?

_ Isso! – Meu pai vibrou.

Fingi um meio sorrisinho e continuei mexendo na minha sobremesa com o garfo.

_ Ei, você não parece estar muito contente. O que houve? – Steph perguntou.

_ Nada não. – Eu o fuzilei com os olhos, dando a entender que depois nós conversaríamos.

Terminamos de comer e toda a conversa entre meus pais e meu namorado foi simplesmente ignorada pelos meus ouvidos. Comecei a viajar enquanto estava sentada na mesa e a única coisa que passava pela minha cabeça era contar ou não contar toda a história para os meus pais. Bom, de qualquer forma, eu fiquei tanto tempo tentando raciocinar algo que nem percebi minha mãe me chamando.

_ Carol? Carol?

_ Ahn... Oi?

_ Você já terminou de comer?

_ Ah, sim.

_ Podemos ir para casa?

_ Sim, podemos.

Todos se levantaram, e enquanto meus pais se dirigiam ao caixa para pagar a conta, Stephan e eu fomos para o lado de fora do restaurante. Eu me virei repentinamente para o garoto e disse levantando a voz:

_ O que há de errado com você?

_ Em?

_ Quem disse que eu queria uma droga de uma festa?

_ Eu só achei que...

_ Não tinha que achar nada! Você sabe que as coisas não estão legais e que minha vida está a mais confusa possível. Não tenho cabeça para festa!

_ Desculpa... – Ele abaixou a cabeça, o que me fez perceber o quão rude eu estava sendo gritando com o garoto que eu amava e apenas queria me ver feliz.

_ Ei, ei, desculpa, me exaltei. É que não queria comemorar e isso me deixou irritada.

_ Tudo bem, eu entendo. Eu deveria ter te perguntado primeiro, não é?

_ Podia, mas deixa, agora vai ter uma festa de qualquer forma.

Meus pais surgiram na porta e então me chamaram para ir para casa.

_ Steph pode ir?

_ Claro, filha. – Meu pai respondeu

Dei um sorriso bem grande e comecei a me dirigir em direção ao carro. Toda a volta para casa foi silenciosa demais. Ao entrar pela sala, a primeira coisa que eu fiz foi correr para o meu quarto e gritar meu namorado lá de cima. Meus pais não se importariam se eu ficasse no meu quarto junto de Steph, por isso fechei a porta e então cochichei para que mais ninguém ouvisse:

_ E então, quando é que você pretende me contar?

_ Carol, agora não.

_ Por quê? – Bati na cama.

_ Deixa passar seu aniversário que eu conto.

_ Mas ainda faltam alguns dias!

_ Eu sei, melhor assim.

Fechei a cara, cruzei os braços e sentei de costas na cama.

_ Amor, tenta entender...

_ Entender o quê? – Eu perguntei secamente.

_ Eu estou tentando te distrair um pouco antes de te fazer encarar a realidade toda.

_ Promete que vai me falar? – Eu olhei para ele.

_ Prometo.

_ Hum, o que vamos fazer? Já são quase seis horas!

_ Eu acho que você devia aproveitar para descansar.

_ Você já vai? – Fiz beicinho.

_ Vou sim meu amor, seria bom você dormir, pois provavelmente amanhã seus pais vão querer olhar coisas para sua festa e te mimar bastante.

_ Ah é, a festa...

_ Então eu vou embora, certo? – Ele se aproximou e me deu um beijo suave, quente e leve na testa.

_ Te amo. – Eu disse.

_ Também te amo.

Stephan saiu do quarto, fechou a porta e desceu as escadas silenciosamente. Levantei da cama apenas para trocar de roupas e pegar meus edredons e almofadas. Queria ficar bem quentinha, bem aconchegada e esvaziar a cabeça. É, era isso que eu queria: não pensar em nada. Arrumei meu cantinho da forma que eu mais gostava, e então pulei para debaixo das minhas cobertas. Meu quarto estava escuro, e apesar de ainda não ser, já pareciam umas dez horas da noite. Fiquei olhando para o teto, mergulhada na escuridão que preenchia todos os cantos do recinto e tentei pensar em nada.

No meio das minhas tentativas de enterrar os problemas, um pensamento aleatório surgiu do nada: onde estava Jason? Eu o tinha visto pela última vez quando recobrei a consciência, e me lembro perfeitamente de tê-lo sentido triste e abatido. Por onde ele estava andando? Em nenhuma hora do dia Jas deu algum sinal de vida, não me ligou para saber como eu estava e nem mandou uma mensagem sequer. O que estava acontecendo? O que eu havia perdido? Hesitei por uns segundos em mandar ou não alguma mensagem, ou até mesmo ligar.

Peguei meu celular e então digitei uma mensagem curta e simples:

Jas,

Você está bem? Por que não apareceu hoje? Por favor, não some, preciso de você.

Beijos, Car.”

Deixei o aparelho de lado, virei até encontrar uma posição confortável na cama e abracei uma almofada. Continuei com os mesmo pensamentos sobre Jas e depois de pouco tempo eu peguei no sono. Meu celular apitou indicando mensagem nova, mas eu não acordei e por isso não a li... A única coisa que eu deveria fazer era dormir; apenas dormir.


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