Era simplesmente encantadora. A maior parte das paredes era de vidro, assim como a porta, dando um ar de graciosidade. O resto das paredes era de um branco suave, parecia que devia ter uns cem anos. Tinha três andares, retangulares e proporcionais. No princípio não entendi como vampiros poderiam morar num lugar tão aberto, mas depois percebi que essa era a melhor parte.

Por um momento desejei que eu pudesse morar numa casa igualmente significativa e especial como parecia ser para aquele clã, com meu irmão, com minha mãe que eu nunca conhecera. Sentar na mesa da cozinha e esperar ela fazer o jantar, a observando. Reclamar da demora da comida, fazendo-a a rir. Vê-la bagunçar os cabelos pretos de meu irmão carinhosamente.

Afastei essa ideia dos meus pensamentos rapidamente, aquele sonho tinha ficado humano demais. Impossível. Pois minha mãe nunca iria estar numa casa como essa, cozinhando, sorrindo, respirando. Ela estava morta e era minha culpa. Assim como todos aqueles humanos que matei por minha sede de sangue. A dor da culpa no meu peito me corroeu por dentro, mas já era tarde de mais pra isso. Eu era um monstro. Assim como todos os outros sugadores de sangue.

Toda minha hesitação durou poucos segundos, mas Edward percebera minha expressão. Senti a dorzinha incômoda na minha cabeça, e vi sua expressão de frustração. Suspirei, e continuei a acompanhar os outros vampiros em direção à entrada da casa, um pouco nervosa. Ele correu antes de mim, segurando a porta com um sorriso torto. Passei sem encarar seu rosto de mármore, sorrindo por dentro.

– Por aqui, Bella – Esme me indicou, mostrando-me um par de sofás brancos. Percebi a simplicidade da sala de estar, toda em tons de branco e bege. A frente do primeiro sofá havia uma TV enorme de plasma, extremamente fina. Carlisle se sentou e eu me sentei ao seu lado, afinal, pretendia conversar diretamente com ele, fitando o seu rosto. Não estava a fim de ver os olhares especulativos de Edward, nem os assustadores de Jasper ou os brincalhões de Emmett.

Alice sentou-se no chão a minha frente, sorrindo. Devia ser um ato normal, para ela. Edward se encostou na parede que ficava á esquerda, junto de uma estante com vários livros. Emmett e Rosalie sentaram-se um ao lado do outro com Jasper no braço do outro sofá. E Esme sentou-se do meu outro lado, sem eu perceber. Num minuto eu olhei pro lado e no outro ela estava lá, com um sorriso de encorajamento.

– Sinta-se a vontade – Carlisle me disse, e eu podia ver a curiosidade nos seus olhos dourados.

Falei do meu pai e suas experiências, meu irmão e a morte de minha mãe. Falei dos Volturi chegando inesperadamente, da morte de meu pai e como eu descobri meu poder. Falei do tempo em que passei com os Volturi, como aprendi a controlar corretamente meus poderes, quando parei de me alimentar de humanos. Falei tudo editando as partes em que julguei que não eram pra ser contadas, e observei suas expressões de curiosidade, surpresa, assombro.

Quanto terminei, depois de algumas perguntas que eu já esperava, passei o resto do tempo ouvindo a história daquele clã. A história de como Carlisle se transformara, o ódio que tinha por si mesmo inicialmente e depois a descoberta de que poderia viver de uma forma mais humana, mesmo sendo um vampiro. A história de como ele transformara Edward, que estava quase morrendo da gripe espanhola que abalava Chicago em 1918, e depois de seu pequeno momento de rebeldia quando ele decidiu provar do sangue humano, mas só de bandidos e mal feitores.

A história de Esme, que perdera seu bebê e tentara se matar, jogando-se de um penhasco. Mas Carlisle a salvou e ela se transformou no grande coração da família. A história de Rosalie, a rainha da beleza mesmo quando era humana, que fora violentada sexualmente por seu ex-futuro marido e Carlisle a transformou no último momento, depois de encontra-la quase morta no meio da rua. Foi muito tenso vê-la contar sua história, mas ela estava calma, assim como Esme quando falou da sua. Mas pude ver que nenhuma das duas se conformou totalmente com a perda que obtiveram no passado.

Emmett também contou sua história, de um jeito mais divertido, o que me fez feliz. O clima estava muito tenso depois da história de Rosalie.

– Eu estava numa montanha e fui dar uma de corajoso e enfrentar um urso pardo… É claro, mesmo com o corpinho musculoso que eu tinha na época, não consegui derrotar o ursão. Mas Rosalie me salvou. – Falou ele, olhando apaixonado pra vampira loura ao seu lado – É por isso que prefiro caçar ursos hoje em dia. Além de ser divertido vê-los irritadiços, é como uma vingança por aquele urso ter me enfrentado, quem ele pensava que era? Deveria ter se afastado ao ver meu corpinho sexy… Mas agora eu estou ainda mais sexy, é claro, graças a minha ursinha.

Ouvi vários suspiros depois da história de Emmett, mas segurei o riso. Depois dele Jasper contou sua história, o que me deixou meio assustada pelo seu modo frio de falar. Era a melhor história que eu ouvira naquela noite, mas também a mais cruel. Os exércitos de recém-criados, as constantes brigas por território… Estranhamente me fascinaram. Queria fazer perguntas, mas a expressão dele não me deixou ir em frente.

A história de Alice tinha vários pontos cegos, o que não foi interessante de se escutar, mas prestei atenção mesmo assim. Depois que todos acabaram suas histórias, eles me encararam com um tom especulativo, esperando de mim uma reação.

– Foi muito… Interessante ouvir todas essas histórias, obrigada por compartilhá-las comigo. – falei com um sorriso torto.

– Não há de quê, jovem. Foi muito fascinante escutar sua história e ver todas as possibilidades que a nossa espécie tem nas mãos. – Carlisle disse e sorri pra ele.

– O que a trás a Forks? – perguntou Alice, um tempo depois.

– Vim conhecer a cidade, fiquei surpresa ao ver vampiros aqui. – Falei, dando um meio sorriso.

– É um lugar bom para nós, quase nunca há dias muito ensolarados, então podemos sair ao dia. – Alice também sorriu.

– Maior alegria para um vampiro – Edward falou, suspirando. Eu dei uma risada espontânea.

Olhei através de uma das paredes de vidro e percebi que já tinha anoitecido. Passei a maior parte da tarde ali, e eu tinha de procurar um hotel ou qualquer outro lugar para dormir, comprar roupas, pois eu odiava trazer bagagem, tomar um banho… Tudo eu tinha que fazer aquela tarde. Maravilhoso.

– Você tem lugar para ficar? – Esme falou, quase adivinhando meus pensamentos.

– Bom, eu vou procurar por um hotel em Port Angeles e comprar algumas coisas… – falei fitando o relógio na parede perto de Edward, eram quase sete. Será que as lojas de roupas aqui fechavam muito cedo? Esperava que não. De Forks para Port Angeles era uma hora de viagem, com minha velocidade chegaria em um pouco mais de trinta minutos… Quarenta talvez? Não deveria ter ficado tanto tempo ali.

– Por que não fica aqui esta noite? Seria tão legal! Poderíamos conversar a noite toda, tenho certeza que temos o mesmo bom gosto por moda, ao ver pela sua jaqueta, ela é linda! De que grife é? Não consegui identificar. Mesmo se não for de grife, não tira a beleza da peça. Uma vez eu encontrei um par de sapatos de saltos deslumbrantes em um brechó de Paris. E um brechó, dá pra acreditar? Então não acredito que a origem da peça seja o que importa. Nós podíamos conversar sobre música também e… – Alice tagarelava. Dei uma risada para disfarçar meu desconforto.

– Alice! Assim você assusta a garota. Se ela ficar vai ser pra jogar videogame comigo, a gente poderia até jogar monópoly se ficarmos muito entediados. – Emmett falou, sorrindo. Quanta hospitalidade.

– Bom, mesmo se eu ficasse, nós não teríamos a noite toda, Alice. Eu durmo. – falei sorrindo timidamente. - Mas acho melhor eu ir mesmo, não quero incomodá-los com meus pequenos problemas humanos…

– Não seria incômodo nenhum, Bella. Temos camas aqui e comida, para manter as aparências. Você é bem vinda. – Esme disse, gentilmente.

– Apoiado! – Emmett disse. Olhei para Jasper e Rosalie e eles não pareciam ser contra a ideia. Carlisle e Esme me olhavam com um olhar hospitaleiro. Alice e Emmett estavam tão animados, que me contagiavam. E finalmente olhei para Edward.

– Fique – ele sussurrou, com a voz perfeita.

– Tudo bem – falei, rendendo-me. Vi o sorriso encantador de Edward e não pude me negar a sorrir também. – onde irei dormir?