Daniel escrita por Miss A


Capítulo 7
7. O Salvador


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo que escrevi. Na minha opinião, ficou bom :)



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Fazia 26°C na manhã de sábado e a primeira coisa que eu fiz depois de acordar foi abrir a janela do meu quarto para deixar os raios de sol da manhã penetrarem. Não me lembrava com o quê ou quem eu havia sonhado, mais concerteza havia sido bom, o meu humor estava ótimo.

            Tomei banho, passei hidratante corporal, me perfumei e me vesti com a camiseta e o short mais bonitos e gostosos que eu tinha e desci para tomar café.

- Bom dia, tio Jorge – cumprimentei com um largo sorriso ainda descendo a escada.

- Ótimo dia para você, Emily – ele sorriu, tomando um pouco da minha empolgação para si – Christina está na cozinha.

- Ótimo, estou indo.

            Christina trajava um vestido longo e colorido, que a deixava mais magra e bonita. Seu sorriso jovem me alegrou ainda mais.

- Estou vendo que acordou de bom humor hoje – ela disse ao me servir de café com leite e sorriu com a minha empolgação repentina.

- Pois é simplesmente acordei bem! – mordi o pedaço de bolo que já estava servido em um prato a minha frente.

- É sua ida ao cinema que te deixou empolgada? – ela se sentou a minha frente os olhos brilhado com a minha felicidade.

- Não – respondi sincera – Na verdade eu nem lembrava disso. Caramba, na verdade... Que bom que eu vou sair...

- Fico feliz que vá – ela respondeu – Você já está a tanto tempo aqui, e imagino que não conheça nem a casa ainda.

            Era verdade, três meses ali, e eu nunca havia tido curiosidade em olhar os outros cômodos. Uma idéia passou pela minha cabeça.

- Vou conhecer a Biblioteca dos meus avôs! – eu disse, um sorriso excitante no meu rosto. Tomei outro gole do café.

- Excelente idéia, querida. Quando eu tinha a sua idade, me deliciava com os romances que eu lia lá.

- Vou passear pelos títulos e histórias – pensei na idéia, um lugar novo para ver – Por falar em histórias, que tal me contar um pouco sobre os meus avôs, tia?

- Oh – ela pareceu espantada – Claro! Bom, Vicente e Marta, seu avô e sua avó, se conheceram aqui em Macapá, em 1960, se não me engano. Os pais de minha mãe eram comerciantes da cidade e donos dessa casa, que na época, já era grande e de dois andares. As festas dos meus avôs, sempre tinham muitos convidados, e muitos deles vinham de barco de Belém e ficavam hospedados aqui, como já acontecia no tempo dos meus bisavôs, só que os parentes vinham dos municípios.

“Foi em uma dessas festas, de fim de ano acho, que eles se conheceram. Meu pai era filho de um dos amigos dos pais da minha mãe e veio de Belém para ficar hospedado aqui. Eles se conheceram, namoraram e o casamento foi aprovado por meus avôs, já que o pai do seu avô era um político importante de Belém.”

- A nossa família era bem grande naquela época...

- A nossa família ainda é bem grande. Mamãe tinha sete irmãos e papai em Belém, tinha 4. Eu tenho muitos primos, e conseqüentemente, você também tem. Eu gosto de festas de aniversário... Você vai conhecer a família... Ao longo do ano, há muitas festas.

- E eram só você e minha mãe de irmãs?

- Sim.

- Bom – pensei, uma lembrança chegando a minha cabeça – E minha mãe e meu pai? Sabe como eles se conheceram?

- No Tiradentes, em maio de 1986, quando eles tinham 16 anos. Eu não conheci seu pai muito bem, eu nasci 2 anos depois, e eles já namoravam. O que sua mãe me contou, foi que eles estudaram também na mesma faculdade em Belém quando terminaram os estudos aqui. Voltaram para cá, 8 anos depois se casaram e vieram morar nessa casa, você nasceu em 1995 e seu pai, que era americano decidiu voltar para os Estados Unidos e levou vocês duas. Eu tinha 8 anos, se não me engano.

- Eles estudaram no Tiradentes também?

- Sim. Estudei e conheci Jorge lá também. Sempre foi uma escola modelo no estado. Hoje parece meio acabada... Mais ainda tem os melhores índices de aprendizagem no estado. Na verdade, não sei por que seu pai morava aqui, parece-me que os pais dele moravam aqui na época e depois voltaram para seu país, porém ele quis ficar...

- Mais tia – me lembrei vagamente de algo que ela havia me dito quando cheguei – Você disse que meu pai não gostava desse lugar... Por que...?

- Bom... – ela tentou se lembrar – Parece-me que ele tinha uma namorada antes da sua mãe... Eu não sei, não lembro. Ele não gostava daqui mesmo. Preferia Belém, na época era uma cidade melhor também. O fato é que ele se mudou e disse para o seu avô que ia embora porque não gostava daqui, disse que era um lugar perigoso para a sua família.

            A conversa com minha tia havia sido gostosa, porém minha curiosidade em relação a biblioteca e o lado da casa onde Daniel dormia era grande demais para mais perguntas. E por volta de 09 horas da manhã, eu subi as escadas apressada, logo depois de Christina me dizer que era a porta do meio.

            As luzes do cômodo estavam acesas e a enorme janela atrás de uma mesa de escritório que estava localizada bem na direção da porta, estava aberta, fazendo com que a sala ficasse extremamente iluminada. O tamanho do cômodo me amedrontou. Era enorme e detinha 6 prateleiras que iam do chão até o teto. Duas delas estavam nas extremidades da mesa de escritório, uma em cada parede, esquerda e direita e uma em cada lateral da porta, criando a ilusão de sermos cercados por paredes de livros. Havia ainda dois sofás pretos de três lugares no centro da sala, em frente a mesa de escritório. Havia também, uma mesinha de centro, com uma rosa vermelha em um vaso com água, que era cercada pelos sofás.

Adentrei a sala e comecei a passar o dedo pelos diversos títulos de livros nas estantes, da direita para a esquerda, na altura que eu alcançava. Percebi que os romances estavam dispostos por seções, que começavam no espiritismo, passavam pelos livros didáticos e terminavam nos livros de bruxaria.

            Mais a seção que me chamou atenção, foi a dos vampiros e o titulo do livro que eu peguei para começar a ler era “Drácula", de Bram Stoker, 1897, que para minha surpresa era redigido em inglês.

            Deitei-me no sofá e comecei a ler na minha língua natal. “Drácula” é uma obra epistolar, contada na forma de uma série de cartas e entradas em diário, o que me fez adorar já de cara o livro.  

            A história foi se mostrando encantadora e três horas passaram voando por mim e pelo livro. Só percebi que minha barriga roncava no momento em que Christina bateu na porta da biblioteca e adentrou a sala.

- Temos açaí hoje Emily – ela anunciou com voz excitada.

- O que é açaí? – perguntei alarmada. E se eu não gostasse?

- Um fruto de uma palmeira muito apreciado na região norte. Uma delicia! Você vai gostar – em seguida, ela saiu para a cozinha. Devolvi o livro para o lugar e sai em disparada atrás dela.

            A mesa estava posta como sempre, para três pessoas. Era impressionante como ninguém tocava no nome do hospede que havia a muito sido anunciado como uma pessoa encantadora.

- Daniel – iniciei logo após de me sentar e Christina servir um pedaço de bife no meu prato. Aprecei-me para por duas colheres de arroz, duas de farofa e duas conchas de feijão. Típico almoço do brasileiro – Ele nunca come em casa? Estou aqui a três meses e até agora nada.

- Bom – Jorge começou a falar – Daniel é um garoto reservado – eu já havia escutado isso em algum lugar.

- Ele diz que prefere não interromper com a sua presença a nossa refeição em família – ela mastigou um generoso pedaço de bife – então, antes de começarmos a comer, sempre levo a ele, um prato de refeição no seu quarto.

- Você também pega o prato lá? – perguntei.

- Não – ela continuou mastigando – Ele desce e lava.

            Devorei a comida do meu prato lentamente, respondendo uma coisa ou outra que Christina perguntava. “Ele é muito reservado”, tudo bem, mais isso não interfere na convivência com ninguém. Qual é? Ninguém gosta de comer sozinho no quarto!

            O tal do açaí era um liquido escuro, sua cor tendia do roxo escuro ao preto. Christina me sugeriu misturar açúcar e por farinha de tapioca e riu da careta que eu fiz ao misturar tudo.

            Porém, era delicioso! Fiquei encantada com o gosto e com raiva de todos que esconderam essa delícia de mim. Porque minha mãe nunca havia dito como essa espécie de suco era boa? Não, não era boa. Era maravilhosa.

            Repeti o açaí e sai super cheia da mesa, decidida a escovar os dentes e deitar na minha cama. Não deu outra. Adormeci rapidamente, minha mente, com a ajuda do açaí, não conseguiu pensar em mais nada, se não na necessidade de dormir.

            I’ve Just Seen a Face dos Beatles, fora minha nova escolha de toque. O Galaxy soava estridente na mesinha de cabeceira esquerda ao lado do despertador agora silencioso. Eram 16 horas e Silvana estava excitada do outro lado da linha.

- Emily – sua voz era estridente – Não acredito que não esta pronta! Arthur e eu estamos sentados na calçada em frente a sua casa.

- Acabei de acordar, Silvana – respondi sincera – Mais estarei ai em cinco minutos.

- Ok. Rápido.

            Peguei a primeira calça comprida e a primeira regata que vi na cômoda, penteei o cabelo e fiz rápido também, a maquiagem. Agarrei a bolsinha bege pendurada no cabide e joguei o celular juntamente com 60 reais dentro dela. Desci correndo as escadas, gritei um “já estou saindo tia” para Christina que estava na cozinha preparando um bolo e pontualmente às 16h05min eu estava na frente de casa, já abraçando Arthur Soltelo.

- O shopping Macapá fica há algumas ruas daqui – disse-me o loiro sorrindo. Evitei olhar seu rosto.

- Algumas ruas o escambal – corrigiu Silvana, com o típico ar grosseiro que eu já conhecia – Fica a muitas e muitas ruas daqui!

            Sorri levando na brincadeira enquanto Silvana movimentava negativamente a cabeça. Acabávamos de sair dos perímetros da escola e caminhávamos escoltados pelo enorme muro do centro aquático.

- Silvana gosta de complicar as coisas – Arthur agora ria alto, os olhos maliciosos – Chegaremos lá em 40 minutos, no máximo. Até menos se não andarem que nem lesmas!

- Qual é, Arthur? – Silvana gostava de brigas – Não vai nos obrigar a seguir o seu ritmo! Emy – ela agora me olhava com ar zombeteiro – A ultima namorada desse cara deixou ele, por que ele fazia tudo rápido demais!

- Sério? – perguntei sem olhar para nenhum dos dois, apenas seguindo reto, tentando manter o mesmo ritmo do louro, que agora era mais intenso.

- Claro que não – ele respondeu, o sorriso zombeteiro, balançando a cabeça – Eu não namoro ha mais ou menos 150 anos!

            Silvana riu enquanto eu tentava digerir aquela informação. Como alguém tão bonito e legal não tinha namorada? Claro, se tivesse, eu saberia!

- Não é por falta de oportunidade – Silvana respondeu rindo. Acabávamos de atravessar a avenida, e seguíamos por uma rua de mão dupla.

- Vocês se conhecem a quanto tempo, Arthur? – Perguntei rindo. Silvana falava como se fosse a melhor amiga do garoto, porém, quando cheguei à escola, os dois mal se falavam.

- Desde o ano passado – ele agora olhava para frente.

- Vocês não pareciam amigos, à primeira vista – enfatizei.

- Não éramos – ele balançou a cabeça – Nos unimos em seu favor. Para ver se você aceitava logo sair de casa.

- Ele era como você, Emily. Não conhecia ninguém... Bom... Ninguém exceto Daniel Grigori. Aliás – Silvana fingia estar curiosa – Ele também só conhecia você...

- Infeliz coincidência. – Arthur não parecia querer levar o assunto adiante.

            Seguimos em silêncio até a praça Nossa Senhora de Fátima, na qual Arthur fizera questão de me falar o nome, enfatizando à Silvana que eu deveria saber os nomes dos lugares, para aprender a me situar.

            20 minutos depois já havíamos passado por uma revendedora de carros, um supermercado, uma escola de cursos técnicos e agora estávamos pegando a rua que dava acesso a um hospital e do outro lado ao Corpo de bombeiros do Estado.

- Este é o Estádio Glicério Marques – Arthur me informou gesticulando para o muro igualmente alto ao do Centro Aquático.

- Esta ai na frente – disse Silvana, agora dois passos atrás de Arthur e eu – É, Graças a Deus, a avenida que nos levará até a rua do shopping.

- Sabe que podemos seguir nessa rua que estamos direto, e chegaremos no shopping até mais rápido, quem sabe?

- Ah Arthur! – a voz dela era irritada – Quer saber? Vou diminuir o passo! Você não está nem suado! Minha maquiagem já era – disse por fim a garota, agora cabisbaixa.

- Você é mágico? – perguntei, enquanto atravessávamos a avenida que Silvana sugeriu pegar – Não parece cansado e não está nem ao menos suado! – era verdade. Arthur não parecia nem um pouco abatido, sorria como se tivesse acabado de tomar café.

- Digamos que estou acostumado a longas distancias – o sorriso malicioso e ao mesmo tempo arrebatador voltara.

- Ok senhor “acostumado a longas distâncias” – disse Silvana, numa tentativa débil de imitação – Diminui o passo, que ainda temos tempo!

- Ok – ele sorria, olhando no relógio de pulso – 36 minutos. Foram muito bem!

- Hahaha – disse a garota sem graça.

            Ao dobrarmos a esquina, na outra rua, pude com facilidade avistar um enorme M maiúsculo fixado a um prédio no qual percebi rapidamente ser pequeno comparado aos shoppings de Richmond. Havia uma entrada para o estacionamento que dava acesso a parte superior do shopping e na qual Silvana sugeriu entrarmos. Porém, novamente Arthur não concordou e continuou andando, fazendo com que o seguíssemos.

- É pequeno e nada bonito – anunciou o louro, enquanto subíamos uma escadinha de piso antiderrapante – Porém, é bem acolhedor! – ele agora ria da própria piada.

- Nenhum lugar que te cobra tão caro pelas coisas dentro é acolhedor! – Silvana gostava de retrucar. Eu me divertia.

- Escolha – falou o garoto em direção a mim, esquecendo a outra completamente.

- Ah – pensei. Dois filmes em cartaz – Um homem de Sorte. – Disse por fim, escolhendo deixar Madagascar 3 para outro dia. Zac Efron era o ator principal, sorri pela lembrança que vagava em minha mente. Que ele ocupe meus pensamentos de noite, pedi secretamente.

- Hmm – Arthur parecia pensar – Fã dele? – perguntou-me irônico.

- Sim – respondi apenas. Segui em frente por uma rampa que dava acesso ao que me pareceu ser um supermercado. Parei pensativa.

- As pessoas gostam desse supermercado. Siga em frente, para a escada rolante – pediu Arthur. Eu agora desviava das pessoas que entravam e saiam do supermercado.

            Ao chegarmos ao terceiro e ultimo andar, me deparei com uma praça de alimentação do tamanho do refeitório na minha escola em Richmond. Poucas pessoas estavam sentadas. O lugar era mesmo pequeno. Segui Arthur e Silvana pela direita, por um pequeno corredor, onde havia algumas lojas.

- Aqui só há o Bob’s, Emy – disse Arthur com voz de deboche – Nada de Mac Donald’s ou outro lugar que você estivesse acostumada.

- Bob’s está bom – assenti com a cabeça. Se o atendimento for rápido, estará melhor ainda, pensei, lembrando da variedade de lugares que eu tinha antigamente para escolher.

- E nada de atendimento rápido – disse Silvana respondendo ao meu pensamento anterior – Aqui a coisa é lenta mesmo!

- E esse, é o nosso parque de diversões! – exclamou Arthur. Gesticulando para a área onde brinquedos, na grande maioria infantis estavam. O lugar parecia menor do que a praça de alimentação.

- Legal – fiz uma careta, fazendo os dois rirem – Compre logo os ingressos, Arthur – entreguei 20 reais a ele, para que pagasse o meu.

            O louro se dirigiu a uma pequena cúpula, onde vários cartazes de filmes antigos estavam pregados e onde uma moça ruiva vendia as entradas.

            15 minutos depois uma fila começou a se formar em frente a uma escada estreita que dava acesso as salas de exibição. Ficamos no meio da fila, graças a nossa desatenção.

            Nossos três lugares eram na fileira do centro. Ótimos, na minha opinião. As Luzes se apagaram, os trailers começaram e 5 minutos depois, Zac Efron já estava sem camisa.

            Em um papel bem maduro, Zac me impressionou. Foi meio estranho ver o meu segundo ator preferido, ao qual eu só via em filmes interpretando personagens de até 19 anos, do tipo colegial, vivendo um soldado. Ele foi um herói bem romântico e confesso, o achei ali, o homem perfeito.

            Quando saímos da sala de cinema, fomos andando em direção a saída. Entramos em um consenso e acabamos por decidir deixar a ida ao parquinho do shopping para outra tarde qualquer.

- O bate-bate sempre foi o meu preferido! – caçoava Arthur, enquanto descíamos as escadas.

- Pô, Arthur... A Barca sempre foi a melhor de todas! – protestava Silvana, defendendo um dos brinquedos do parque que a oito anos atrás deve ter sido a atração principal.

- Vamos tomar um Milk Shake? – comecei, interrompendo a brilhante discussão dos dois.

- Claro – disse Arthur, virando subitamente para mim, o sorriso terno e lindo – É aqui em baixo. Não deve demorar muito.

- São 19 e 30, Arthur... Deve estar cheio de pessoas lá.

            E estava. Arthur prontamente se pois na fila, fazendo questão de pagar os nossos. Silvana e eu paramos 2 metros a sua frente, na ponta da calçada, um lugar incômodo. Arthur me lançava sorrisos de dois em dois minutos e eu sorria de volta, mais perdia o êxito a cada minuto, por que outro sorriso começava a tomar forma em minha mente, fazendo-me implorar em pensamentos para que as pessoas na frente de Arthur fossem atendidas o mais rápido possível, para que eu pudesse ir para casa.

            Silvana me puxou com ela, fazendo-me saltar de susto. Já passávamos da frente do shopping e nos aproximávamos de uma loja de celulares quando ela me falou o que pretendia.

- Arthur demorará muito ainda – disse ela diminuindo os passos e sorrindo da minha expressão de susto – Achei uma boa idéia mostrar a você a minha próxima aquisição – ela parou, esperando os carros pararem para podermos atravessar a rua.

- Porque não me avisou antes? – eu estava chateada. Teria concordado em vir com ela sem o puxão.

- Desculpe – ela tornou a segurar em meu braço, como se a qualquer momento eu fosse fugir – Tive que aproveitar um dos momentos em que Arthur não estivesse te lançando olhares furtivos. Ele não te deixaria vir.

- Ah não? – perguntei incrédula – Olha, ele não tem que deixar nada!

- Claro, claro... Olha! – ela parou em frente a vitrine de uma lojinha de roupas. Estávamos diante a um Tubinho vermelho. O vestido era simples e lindo. Tomara que caia, só havia como enfeite principal, um laço todo bordado em paetês brilhantes pretos. Não devia, porém concerteza era bem caro – Não é o máximo?

- É, é lindo mesmo – respondi, imaginando como ficaria no corpo de Silvana. Com certeza realçaria seus seios – Mais para quê? Onde vai usar?

- O casamento dos meus pais! – ela sorriu balançando a cabeça – Eles sempre moraram juntos, mais não eram casados na igreja. Vai ser daqui a um mês. Vou comprá-lo amanhã cedo. 167 reais.

- Vai ficar lindo em você – foi a ultima frase que consegui dizer a ela. Um vulto preto passou por nós, pegando Silvana nos braços e correndo em direção a calçada da rua escura que havíamos atravessado. Pensei em gritar, mais a única coisa que fiz foi correr em direção a ela.

            Era incrível como eu não havia reparado que estava escuro. A pessoa se movia rapidamente a minha frente, e devia ser incrivelmente forte para não se cansar com Silvana nos braços. Então a pessoa parou e se virou em minha direção.

- Boa noite, Emily Kalizia de Oliveira Meyer – A voz era suave e cruel ao mesmo tempo, uma voz feminina. Eu congelei diante a estranha a minha frente, seu rosto e o de Silvana também, estavam encobertos pelo escuro. Como ela poderia saber o meu nome? Me perguntei  - Deveria ter chamado alguém, ao invés de correr feito uma louca atrás de nós.

            Não consegui dizer nada, nem respirava. Meu cérebro já sentia a ausência de oxigênio, porém eu não conseguia me lembrar de como respirar. Silvana chorava baixinho a minha frente e eu não sabia o que fazer.

- Vamos lá! – ela exigiu dando um passo a frente com a garota em seus braços. Uma bota com salto agulha de cor carmim ficou visível na tênue luz da lua. Parecia-me que os postes de luz tinham sido postos a 5 metros de distância – Não esboça reação alguma. Sua amiga esta choramingando em meus braços e você não consegue nem gritar por ajuda!

- Quem é você? – perguntei depois de finalmente me lembrar de como respirar. Não fazia sentido algum, aquela estranha estar falando comigo.

- Sou Kara – disse ela em voz cruel, jogando Silvana à sua direita, como se arremeçace um bloco de notas. Silvana caiu de costas no chão soltando um grito não tão alto. Deus queira que alguém tenha ouvido, pensei mais parecia impossível – Não se mecha! – ela ordenou, fazendo-me novamente congelar – Não acredito que eles pensaram que estaria segura nessa cidadezinha!

- Não quer Silvana – falei por impulso, tentando imaginar quem era ela. Ninguém correria segurando uma pessoa em cima de um salto agulha.

            Ela riu. Agora estava totalmente visível e incrivelmente impecável. Vestia uma blusa preta de mangas compridas, jens e as botas carmim, estava também de luvas pretas, que ali, me pareceram ser de couro. Era incrivelmente linda. Cabelos ondulados emolduravam seu rosto sem nenhuma gota de suor, os olhos eram pretos e cruéis, os lábios eram carnudos e estavam pintados de vermelho, as sobrancelhas estavam erguidas e muito bem feitas e a pele branca não possuía nenhuma marca.

- Não – Derrepente ela estava diante de mim, a mão direita em torno do meu pescoço. O medo agora era evidente em meu rosto, ela iria me matar e eu nem ao menos saberia o porquê – Foi um prazer conhecê-la.

            Senti uma dor aguda quando seus dedos se fecharam em torno de minha garganta. A força era descomunal e aumentara a cada segundo, ela quebraria o meu pescoço. Tudo estava perdido.

- Não!

            Uma voz improvável soou e a mulher soltou minha garganta. “Daniel”... Sussurrei o nome do meu salvador antes de perder de vez a consciência.  


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?
Reviews, Reviews, Reviews??



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