Uma semana depois de ter saído de casa, encontro-me em um beco do lado da casa de Emily. Eu entrei na escola de madrugada e peguei o endereço de minha amada. Aqui só há um pequeno espaço para eu deitar e uma porta do lado, que leva a um cubículo (em torno de um pouco mais que 1m²)... onde eu guardo minhas coisas (empilhadas). Sorte que tem uma tomada ali, onde eu posso carregar meus aparelhos eletrônicos. Eu não trouxe meu celular... justamente para não ter a vontade de voltar. Mãe , eu sei que você vai conseguir superar isso... pois logo eu irei voltar.

– Que frio... - está ventando. Olho para os lados... apenas tijolos. No chão, um lençol simples, apenas para eu não me sujar mais. Virei um mendigo...? Não. Eu não peço dinheiro. Eu estou vivendo do dinheiro que eu guardei na vida toda. Em torno de uns 3-4 mil reais... - Eu acho que tenho que moderar... - pois eu acabei comprando besteiras nesses últimos dias, como chocolate e outras comidas desnecessárias. Então eu escuto um barulho de porta. Imediatamente me viro. É Emily. Saindo com um (sigo anotando) cachecol branco, jaqueta jeans, blusa branca, calça jeans e uma sandália de salto médio rosa. Hoje é sábado. Assim que eu não posso mais a ver, sento-me no lençol. Pego o MP4 e sigo a escutar Tokyo Teddy Bear, da Kagamine Rin. Ironicamente, essa música descreve-me perfeitamente.

" Mãe, pai ,minhas desculpas a vocês.

Meus joelhos estão trêmulos, e sigo a chupar meu polegar.

Irmã, vejo vocês depois.

Eu, uma imprudente, sobre esses sapatos gastos. "

Apesar de que... eu não chupo meu polegar (lol)... E também sou filho único. E sou homem. Tirando isso... é uma música que me identifico. Então, como está de tarde, levanto-me, abro a porta do lado e guardo tudo ali. Pego uns 10 reais e vou ver o que posso lanchar. Eu só tenho duas mudas de roupa. Estou usando a segunda a partir de hoje. A primeira está bem suja. Então sigo para a rua. Lá chegando, o tráfego e seus barulhos irritantes, pessoas andando... eu sigo para uma lojinha de conveniência. Chegando lá, peço um croissant de presunto com queijo, e um guaraná natural. Que saudades da minha caneca... Donna Hay Modern Nostalgia... então percebo que o atendente me olha estranho. - Algum problema? - pergunto. Então eu percebo que ele olha rapidamente para a minha mão direita. Olho também. Ah... meus dedos. Meus dois dedos... o indicador e o médio... simplesmente não existem. - Isso foi um acidente. - digo. Ele me entrega o lanche, aparentemente engolindo em seco. Eu estou causando medo nas pessoas por causa da minha mão...?

"Sem um destino, o coração cativo já não se move

Nem sequer minhas próprias emoções podem ser vistas por estes olhos desviados

Como a borboleta pega na palma de uma mão

É impossível voar"– está tocando Paranoid Doll...? Do Kamui Gakupo... eu achei que tinha feito uma playlist no meu MP4. Após terminar de comer tudo, volto para o beco. Abro a porta e pego o lençol. E as horas vão se passando. O lado bom desse beco é que ele tem uma grade bem alta com uma porta... e é bem escuro (tenho que ficar com algum aparelho eletrônico ligado)... Então ninguém chega perto. No caso de eu ter que me defender, tenho duas facas da Wusthof Culinar PEtec... - justamente uma delas é que cortou os meus dedos... e outra é uma de carne de churrasco. Também tenho alguns sprays de pimenta. - Não aguento mais esperar... - mas eu não posso entrar na casa de Emily. Não agora. Eu imagino o que o povo do colégio está pensando sobre mim... o que Emily também pode estar pensando? E minha família...? O que será que minha mãe fez depois...?

Bem. Essas perguntas não importam agora. Quem eu espero é minha amada. E minha companheira diária é a sujeira... que se alastra por todo o beco. Eu faço o que posso para limpar - eu comprei uma vassoura - tudo. Então... vamos lá. Vamos continuar esperando.