Uncovered escrita por SatineHarmony


Capítulo 4
Passado




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Will your system be alright

When you dream of home tonight?

(O seu sistema ficará bem

Quando você sonhar com sua casa esta noite?)

— Human —

Ulquiorra parou por um instante ao lado da porta do quarto de Orihime, no corredor. Ele sentia vontade de rir pelo desespero que a humana sentia, mas também tinha que admitir que era admirável ela ainda ter esperanças de ser resgatada.

Perguntou-se se estaria a mulher desenvolvendo Síndrome de Estocolmo, pois não fazia sentido algum ela importar-se com ele, e muito menos querer saber sobre o seu passado, e suas razões para seguir Aizen-sama.

Eram acontecimentos como esse que o fazia duvidar se antes de vir para o Hueco Mundo ele era, de fato, um humano. Eles eram irracionais, imprudentes e fracos; exatamente o oposto de Ulquiorra. Porém, o arrancar reconhecia a sua força de vontade — a mulher, recusando-se a perder a esperança, os amigos dela insistindo em vir até Las Noches acreditando serem capazes de derrotarem os Espadas e salvarem a mulher.

Escutou gemidos e sons de dor do outro lado da porta, seguido pelo típico som embargado de choro. Ulquiorra balançou a cabeça num movimento negativo enquanto voltava a andar. Como os humanos eram criaturas tão coitadas, percebeu ele.

4

Orihime passou o resto do dia desmanchando-se em lágrimas. Depois de o cuarto Espada ter despedaçado todas as suas esperanças, ela tomou consciência a gravidade da situação. Será que Ichigo e os outros conseguiriam sobreviver?

De fato eles conseguiram salvar Rukia na Soul Society, mas era diferente. Os shinigami tinham prendido Kuchiki-san porque, pela perspectiva deles, ela tinha feito algo errado e deveria arcar com as consequências de suas ações. Já ali, Aizen só a mantinha para usá-la para fins maléficos, recheados de más intenções, e não hesitaria em aniquilar os "ryokas".

Talvez estivesse na hora de Inoue admitir que talvez — talvez — os arrancars fossem muito mais fortes do que os shinigami, e no final das contas Ulquiorra não subestimava o poder de seus amigos, estava simplesmente dizendo a verdade.

Passou as mãos no rosto, tentando livrá-lo das lágrimas. Não era hora de ser fraca. Ela não tinha planejado destruir o Hougyoku? Então assim ela faria.

Orihime ergueu a cabeça, ganhando confiança. Aproximou-se da janela, observando a Lua, como já tinha feito milhares de vezes. Invés de pensar em como a invejava por ela poder ficar do lado de fora, livre, decidiu apreciar a sua beleza. O céu estava limpo, mas negro como de costume, o que só criava ainda mais contraste com a luz do astro.

— Planejando fugir? — escutou a conhecida voz fria dizer.

— Não. — Inoue virou-se, encontrando o arrancar parado em pé no meio do quarto. — Eu estou entediada. — explicou, educadamente. Sim, ela ainda iria resistir contra os que a sequestraram, mas decidira bancar a serva obediente para enganá-los.

O Espada não disse nada em troca, continuando parado onde estava.

— Ulquiorra? — a garota chamou-o, hesitante. Novamente ele respondeu com puro silêncio. Orihime engoliu em seco, nervosa. — Você... Você se lembra — ela mordeu o lábio inferior, mas logo tratou de continuar a pergunta: — Você se lembra de quando ainda era humano?

De certa forma, a dúvida o pegara de surpresa, por mais que fosse previsível. O arrancar parou para refletir — refletir não na resposta, e sim nas intenções da humana. Seria simplesmente curiosidade ou haveria algo a mais por detrás daquilo? Lembrou-se das instruções de Aizen-sama, de manipular a mente da menina até ela estar aos seus pés, devotando-o.

Se aquilo poderia contribuir com os objetivos de seu senhor, Ulquiorra entraria no jogo esquematizado pelo ser indefeso à sua frente, e deixaria os dados rolarem.

— Mulher, por que pergunta isso? — encarou-a. Ele sabia como ela ficava desnorteada com seus olhos, e decidiu tomar vantagem disso. — Não é como se você conseguisse me comover para ajudá-la na sua fuga.

— Eu estava pensando... — Orihime caminhou ao lado da janela, indo de um lado para o outro enquanto explicava-se. —... Se eu sou uma de vocês agora, não é de estranhar-se eu querer saber sobre o passado dos meus companheiros. — ela sentiu nojo de referir-se aos seus inimigos usando tal termo. — E creio que quem — parou para pensar na palavra certa — que quem tanto zela por mim também está incluído nesse grupo. — Zelar por mim... Ele está mais para meu carcereiro, pensou, sombria.

Ulquiorra estreitou os olhos de forma mínima. Agora sim ele compreendera as intenções da humana. Percebeu como o seu tom mudara de uma hora para outra, tornando-se mais macio, numa tentativa de persuasão. Talvez um dos Espada até caísse na conversa da garota — Yammy ou Grimmjow, talvez até mesmo Nnoitra —, mas essa era uma das razões que era ele que estava cuidando dela. Porque ele era o servo mais racional, capaz e leal de Aizen-sama. E Ulquiorra não iria decepcioná-lo.

— O quê quer saber? — ele deu um passo em direção à Orihime. — Não há muito o que contar, pois não me lembro de nada. Não sei minha idade, não sei como morri, não sei como o mundo era quando eu estava vivo.

Ele se sentiu satisfeito ao vê-la estremecer com a sua declaração. Aproveitou o seu silêncio para continuar:

— Mas eu não me importo. Estou no Hueco Mundo há tempo de mais, talvez eu até considere esse lugar o "lar" que vocês humanos tanto falam sobre. Seguir e apoiar Aizen-sama é a minha vida agora, e eu não me importo com algo desnecessário como o passado. Isso é para os tolos que desperdiçam suas vidas arrependendo-se de coisas já passadas.

Ao escutar isso, Orihime não conseguiu impedir o seu instinto natural de ajudar as pessoas:

— Mas e você? — pela primeira vez desde quando começaram a conversar, ela retribuiu o seu olhar com similar intensidade. — Você desperdiça a sua vida e o seu potencial seguindo um homem mal-intencionado.

— Esse é o seu ponto de vista. — Ulquiorra murmurou, seu rosto mais inabalável do que nunca. — E parece que você não entendeu uma coisa: eu não tenho nada a perder.

Dando a conversa como terminada, rumou até a porta, seus passos soando tão alto quanto gritos, devido ao silêncio extremo.

Inoue observou-o, irritada por ter que presenciar tal pessoa com tanto para oferecer ao mundo, mas que caíra nas mãos erradas. Suas sobrancelhas ergueram-se quando viu o arrancar parar, de costas, em frente da porta ainda fechada.

— E também não tenho nada a ganhar. — e com essa declaração, saiu do quarto, debaixo dos sons de choro de Orihime.

Como ela odiava aquilo! Como ela detestava o fato de que a sua maior qualidade também era a sua maior fraqueza. Aquele altruísmo exagerado que tinha, a necessidade insaciável de ajudar o próximo, mesmo que isso custasse a sua própria vida.

Era por essa razão que ela chorava agora — doía demais ficar quieta num canto observando uma pessoa despedaçar-se pouco a pouco. Ela sentia tanta pena de Ulquiorra que não sabia o que estava mais entorpecido — sua garganta, por segurar as lágrimas, ou o seu coração.

Orihime era o tipo de garota que era capaz de ver qualquer filme de terror sem pestanejar de medo, porém era só trocar o canal da televisão para o telejornal que ela se desmanchava em lágrimas, seja pelo sofrimento das crianças famintas na África quando pela mãe desamparada, que encontrara o cadáver da filha que estava desaparecida havia anos.

Ficou sentada no sofá pelo resto do tempo. Chegou a cochilar, mas fora por curto período, no máximo dez minutos. Depois que as lágrimas secaram-se, tudo o que sobrara fora o tédio. Suspiro.

Logo, a porta do quarto foi aberta, e a menina surpreendeu-se ao ver que não era Ulquiorra, e sim o número que costumava entregar as suas refeições. Percebeu que ele não empurrava o caminho que usava para transportar a comida, e franziu o cenho.

Sem dizer nada, ele deixou o que parecia ser um caderno e um lápis em cima da mesa redonda. Só quando o arrancar estava atravessando a soleira da porta que Orihime encontrou forças para falar:

— Com licença, mas o que é isto? — a educação usada aí não fora falsa.

— Bom, senhora... — o número virou-se, nervoso, para ela. — Me disseram que era algo para entretê-la.

Isso pode parecer loucura, mas ao escutar isso, Orihime deixou um sorriso tomar forma em seus lábios. Era o primeiro sorriso genuíno que fazia em mais de uma semana, e ela gostou disso.


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Notas finais do capítulo

Então, gente, eu já estou de férias, maneiro, né? a.a Obrigada por tudo e até a próxima sexta-feira!