Uncovered escrita por SatineHarmony


Capítulo 1
Uniforme




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I need a release from

This troublesome mind

(Eu preciso me livrar

Dessa mente perturbada)

Sweet Talk

Honestamente, Inoue não se lembrava da primeira vez em que o viu. Se soubesse que ele causaria tantos problemas na sua vida, talvez ela não tivesse prestado atenção somente à sua amiga machucada no dia fatídico em que o conhecera.

Só quando encontrou-o novamente no Dangai que percebera o seu erro. Ela sabia muito bem que ele não estava lá por razões pacíficas, e temia as suas intenções. Então simplesmente deixou-se ser levada para o Hueco Mundo em troca da proteção de seus amigos.

Agora, tudo o que restava para ela era observar a Lua minguante entre as barras da minúscula janela que tinha no quarto que lhe ofereceram. Orihime odiava aquela sensação. Era como ser um passarinho trancado em uma gaiola — você pode ver o mundo a sua volta, mas não pode participar dele. Ela estava começando a desenvolver um ódio por aquela janela. Mesmo que naquele lugar horrível e tenebroso onde estava não existisse felicidade, cor ou Sol, era incrivelmente tentador a vontade de sair daquele quarto.

Inoue não era uma pessoa pessimista. Ela tentava ao máximo ver tudo através de uma perspectiva favorável, mas agora essa sua característica estava sendo posta à prova.

Mesmo que estivesse trancafiada num quarto tomado parcialmente pela penumbra, poderia ser pior. Ela poderia não ter o sofá e a mesa que lhe disponibilizaram. Ela tinha de admitir que estava num lugar melhor do que as masmorras que conhecera nas aulas de História.

Eles a alimentavam três vezes por dia e não a maltratavam de nenhuma forma física. Eles permitiam que ela tomasse banho, porém não tinha autorização para sair de lá de forma alguma.

Mas todos esses prós que listara não a consolavam mais, pois chegara à conclusão de que só o faziam para mantê-la viva.

Franziu o cenho ao perceber que nesse tempo todo estava falando no plural. "Eles a alimentavam", "Eles permitiam". Quem vinha até o seu quarto era Ulquiorra. Quem a direcionava pelos corredores, vendada, até as fontes termais onde tomava banho era Ulquiorra. Quem cuidava dela era Ulquiorra.

Seus lábios crisparam-se diante deste último pensamento em especial. Ela detestava ser cuidada por terceiros, ser um estorvo — isso fazia com que se sentisse feito uma criança de três anos.

Por um breve instante desejou que os seus amigos viessem atrás dela. Logo se censurou por tal pensamento egoísta.

A porta de pedra foi aberta e por ela passou Loly Aivirrne, que simplesmente escorou-se contra a parede ao lado enquanto Menoly Mallia adentrava no quarto, segurando o que Orihime reconheceu como um amontoado de tecidos.

— O que é isso? — perguntou, hesitante, virando parte do seu corpo para ver a arrancar com cabelos curtos cor de trigo.

Menoly abriu a boca para responder, mas foi interrompida pela voz irritada de Loly:

— O seu uniforme. — disse, exibindo uma expressão sádica. — Todos os seguidores de Aizen-sama tem que usá-lo. — deu um sorriso nada amigável.

Inoue sentiu calafrios descerem pela sua espinha, mas decidiu ficar quieta, sabendo que se respondesse algo só pioraria a situação.

Adiós, princesinha. — a arrancar de cabelos negros deu um aceno debochado enquanto passava pela soleira da porta, sem olhar para trás.

Menoly continuou parada em pé onde estava, até que então tomou coragem e estendeu os braços com a roupa para Orihime. Quando percebeu que a garota estava completamente estática e não fazia menção de movimentar-se para pegar o objeto, decidiu deixá-lo em cima da pequena mesa redonda que tinha num canto.

Não, não, não. A negação batia dentro da cabeça de Inoue. Não, ela não era uma seguidora de Aizen. Ela sentia nojo só de pensar em tratá-lo como —sama. Ela estava ali pois tinha sido forçada, se tivesse o livre arbítrio, ela nunca teria escolhido ficar naquele lugar sem vida, sendo tratada daquela forma.

Pelo canto do olho, viu o uniforme preto e branco, as mesmas cores que os arrancars usavam. Definitivamente eles queriam transformar a sua sanidade em frangalhos. Ela não pertencia àquele lugar, ela não era igual àquelas pessoas sádicas que frequentavam Las Noches e concordavam com os ideais de Aizen.

Mas se ela não vestisse a roupa, o que fariam com ela? O que Ulquiorra faria com ela? Será que ele a maltrataria? Será que ele atacaria os seus amigos?

Não, não, não. Ela tinha vindo até o Hueco Mundo para protegê-los, e não colocaria a vida deles em perigo por causa de uma estúpida roupa.

Sentou no sofá, e cruzou a perna direita, apoiando-a no joelho esquerdo. Hesitou ao tirar as suas sandálias de camurça, e o seu par de meias três-quartos. A cada peça de roupa tirada, ela dava um olhar furtivo para a porta, temendo que alguém entrasse repentinamente no quarto.

Uma vez com as pernas livres, voltou sua atenção para o suéter cor de creme que fazia parte do uniforme da escola. Tirou-o, seguido pelo laço vermelho que envolvia o colarinho de sua blusa.

Inspirou fundo. Não sobrara mais nenhum acessório para usar como desculpa — agora Inoue estava somente com uma saia de pregas cinza e uma camiseta branca.

Protelando por mais alguns instantes, aproximou-se da mesa onde o uniforme estava. Aparentava ser uma roupa complicada de vestir — eram três peças de roupa distintas. Havia uma calça branca que se assemelhava a uma legging, e era acompanhada por uma blusa da mesma cor, sem mangas, que era conectada à uma espécie de cauda de sereia.

Tentou acalmar-se, e manter em mente a imagem de Ichigo, Rukia, Sado, Ishida e seus outros amigos.

Eles ficarão bem se eu trocar de roupa. Não é nada demais, pensou.

Ponderosa, tirou a saia, vestindo a calça rapidamente, corando de vergonha para si mesma. Teve um pouco mais de problemas para colocar a blusa, uma vez que costurada à ela tinha um longo pedaço de tecido branco. Quando conseguiu ajeitar-se e ficar confortável, percebeu que o tecido de ambas peças de roupa era justo, mas não era nada que Orihime não estivesse acostumada.

A terceira e última peça de roupa era uma espécie de casaco, que cobria somente os seus ombros, colo e braços. Havia duas mangas bufantes, e era branco como o restante do uniforme, com detalhes pretos.

Inoue estava tendo sérios problemas para vesti-la. Seu cotovelo prendera numa curva da roupa, e ela não conseguia fechar o zíper que se localizava no seu colo. Ela estava começando a tirar o pseudo-casaco, tentada a transformá-lo em vários pedaços de tecido jogados pelo chão, quando escutou a porta do quarto ser aberta.

Parou no ímpeto de se mexer, surpresa. Como a pessoa não disse nada, supôs que fosse Ulquiorra. Ele era o único arrancar que não sentia a necessidade de falar todo o tempo.

Virou-se lentamente em direção à única saída do quarto, e viu que estava certa. Sim, lá estava ele, encarando-a com aquele par de olhos cor de esmeralda, em contraste com a sua pele pálida.

— Mulher tola. — balançou a cabeça num movimento de negação, enquanto avançava pelo quarto. Sua voz e rosto estavam como sempre: inexpressivos ao máximo.

— Hã, hm. — Orihime tentou falar, engolindo em seco. Mordeu o lábio inferior, duvidosa, e encarou o chão, tentando fugir do olhar penetrante do Espada.

Então sentiu um par de mãos roçarem em seus ombros nus. Surpresa, levantou a cabeça de rompante, e se preparou para usar o Santen Kesshun.

— Não reaja exageradamente. — Ulquiorra censurou-a, dando um leve tapa nas mãos de Inoue, que estavam prontamente perto de suas presilhas, pronta para usar o seu poder. — Em instantes haverá uma reunião dos Espadas com Aizen-sama, e eu não irei me atrasar por sua causa. — olhou para a garota com desprezo. — Agora fique parada. — disse, num tom de ordem.

Orihime inspirou fundo novamente, tentando acalmar-se. Fez como ele pedira.

— Estenda os braços. — exigiu, puxando algumas pontas do tecido da roupa de Inoue.

Seus ombros estavam tensos pela proximidade anormal do arrancar, e surpreendeu-se com o fato de ele estar ajudando-a. Mas isso é porque Aizen o ordenou a fazê-lo, pensou. Orihime quase exaltou-se quando sentiu um puxão mais forte, vindo de suas costas. Como as mãos de Ulquiorra alcançaram o lugar ela não sabia, uma vez que ele estava à sua frente.

Aproveitou para observar o seu rosto de mais perto. A garota não admitia, mas ela sempre se encantava em admirar os olhos de Ulquiorra. Eles pareciam ser tão... Profundos. Era como se ele conseguisse ver através da sua alma. E aquela boca... Inoue sempre fora curiosa em relação à ela. Como era singular, em comparação à dos outros Espada. O lábio superior negro, em contraste com o inferior, que era tão branco quanto a pele do arrancar. Ela também adoraria saber como era o rosto de Ulquiorra por completo, sem os restos de sua máscara atrapalhando a visão.

E o toque de Ulquiorra? Fora tão rápido e tão de leve quando ele passou as mãos que ela mal sentira. Mas sabia que tinha sido algo delicado. A sua mão era mais quente do que ela esperava, notou a garota.

— Pronto. — disse ele, fechando o zíper preto. — Coloque as botas. — acrescentou, gesticulando para as mesmas, que estava no chão ao lado deles dois.

Orihime assentiu prontamente, sentando-se no sofá e calçando o par de sapatos preto e branco.

— Em uma hora voltarei com a sua comida. — informou de forma fria enquanto retirava-se do quarto sem se dar ao trabalho de olhá-la.


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Notas finais do capítulo

Bom, então, é isso, espero que tenha gostado :) Se alguém deixar um review a cada capítulo, eu começarei a postá-los semanalmente ç.ç