A noite já se encontra em seu estado mais escuro quando Sig parou de correr. Lágrimas escorrem de seus olhos,como se para imitar o rapaz,o céu também chorava...

Sig senta-se na calçada com os joelhos agarrados no peito, ainda chorando:

- Que tipo de aberração eu sou?

Os olhos de Brookk,os olhos de um homem a beira da morte,encarando seu assassino...Sig jamais esqueceria esses olhos...

- Garotinho medroso!Você é patético, tão patético quanto antes... – dizia uma voz dentro da cabeça de Sig.

- ME DEIXE EM PAZ!!!

- Você está bem? – dizia uma voz suave doce. Escondia por entre os becos de Ka,eis que aparece a dona da voz.Uma moça jovem,bonita,pele clara,cabelos compridos e brancos,aparentava ter a mesma idade de Sig.

- Ela a linda não é?Você a deseja?Deseja possuí-la... – Sim era verdade, a moça era linda, Sig a desejava, seus instintos animais a queriam.

Sig levantou-se e começou a caminhar em direção a moça, o sorriso insano começara a se esboçar em sua face.

- SAI DAQUI!!! – Gritou Sig,chorando... Ele pusera, a mão direita no olho esquerdo, um gesto irracional na esperança de afastar aqueles pensamentos, de silenciar aquela voz.

- Vamos,estamos tão perto...Você a quer tanto quanto eu...

- Por favor sai daqui...Eu não quero...

***

- ... feri-los – dizia Brookk,que novamente se encontrava sozinho frente a uma iminente batalha.Sig tinha fugido,Feedo desapareceu logo depois dele.Brookk pensou em procurá-los,mas fora surpreendido por três soldados,que patrulhavam,bêbados as ruas daquela pequena cidade.

- Não quer nos ferir?Acha que temos medo de você grandalhão?Estamos armados e em maior número. Acha que seu tamanho nos assusta?

Brookk respirava fundo, tentava conter sua raiva. No entanto foi surpreendido quando um dos soldados tirou um pequeno saquinho amarrado em sua armadura e arremessou no ex-escravo.Assim que o saquinho atingiu o peito de Brookk,ele explodiu em chamas.A dor era intensa,Brookk caiu de joelhos,um outro soldado enterrou sua lança no peito em chamas do ultimo filho de Mobliz.

- É um fragmento de boom seu verme. Assim que e choca com alguma coisa, ele a incinera. Mesmo com a chuva a chama continua forte, como nosso império, consumirá tudo ao redor.

Brookk se levantou, seu olhar era o mesmo daquele dia em Ut,ele retirou a lança de si e enfincou  no soldado tagarela,os outros dois soldados assustados,começaram a correr.A lança atravessara aquele homem,era como um espeto humano,Brookk levantou a lança ainda com o homem preso nela,e arremessou atingindo outro soldado.

O fogo no peito de Brookk começava a se apagar, mas a dor só aumentava. O soldado restante arremessou seu fragmento de boom em Brookk,que preparava para socá-lo.O punho direito de Brookk estava em chamas,mas ele não parou o soco.

***

Já amanhecia quando Sig foi acordado por um velho senhor vestindo uma túnica branca, calvo, com uma barba enrolada e branca. Seus fragmentos de memória lhe diziam que aquele homem muito se parecia com Sócrates.O garoto não tinha a menor idéia de quem era Sócrates,e depois da noite anterior,não confiava mais em seus pensamentos.Ele levou a mão direita a cima, no olho esquerdo novamente,tentando afastar aqueles pensamentos.

- É melhor se levantar garoto. O pessoal dessa cidade não é muito amistoso com mendigos, principalmente, de manha quando vão para o trabalho de mau humor.

O jovem se levantou, achou que era prudente seguir o conselho do velho.

- Pra onde vai? – perguntou o velho homem.

- Não sei... – respondeu Sig.

- Tem família?

- Não sei - repetiu Sig.

O velho prestou bastante atenção no olhar de Sig,e por fim concluiu:

- Perdeu a memória...

- Sim - respondeu Sig tristonho.

- Isso não é motivo para tristeza meu jovem. Pense em quantas pessoas desejam ter uma chance como a sua, uma chance de recomeçar tudo do zero, esquecer seu passado, suas mágoas e frustrações...

Sig lembrou-se de Brookk.

- Posso lhe ajudar nesse recomeço rapaz, o que me diz?

- Fome – disse Sig sorrindo.

O velho também sorriu.

- Siga-me – disse o velho.

Sig obedeceu.

***

Brookk acordou com um “pisão” em sua mão ferida. Os habitantes de Igros não eram nada agradáveis com mendigos. Brookk sentou-se, rasgou um pedaço dos trapos,agora queimados,que vestia e enfaixou a mão.Nesse meio tempo fora alvo de cusparadas de alguns cidadãos de Ka.Embora estivesse com raiva,ele a reprimiu.Não iria matar mais ninguém.Prometera para si mesmo,no entanto não seria capaz de cumprir essa promessa por mais que alguns minutos.

Ele ouvira gritos, e via um soldado arrastando uma jovem e bonita mulher. Pele clara, cabelos brancos, olhos vermelhos. Ele sabia o que iria acontecer, presenciava a cena varias vezes.

- Continue gritando vadia,isso me anima ainda mais. – disse o soldado.

As pessoas que passavam por lá simplesmente ignoravam a cena, alguns tapavam os ouvidos para não ouvir os gritos da mulher, mas ninguém sequer tentava ajudá-la.

Brookk se aproximou do soldado, segurando-o pelo pescoço e o levantando (do mesmo modo que Sig fizera com ele na noite anterior)

.

- Fuja – disse á mulher, que obedeceu imediatamente.

- Seu lixo,eu a vi primeiro!

- Vocês não têm humildade nem diante da morte.

O soldado cuspiu no rosto de Brookk,que sorriu.

***