—Vampiros? — perguntou surpresa. — O que sabe sobre eles? —analisou-me.

— Menos do que gostaria. — lamentei.

—Hinna tem algo que eu não sei? —Interrogou.

—Ele está aqui!— exclamei a mim mesma ao sentir sua presença aos arredores. Sim, eu podia senti-lo como nas outras noites. meus pés se arrastaram para fora da mansão de forma que eu não conseguia controlar.

Tia Alexia gritava algo em minha direção. Palavras que se dissipavam na escuridão da noite antes de alcançarem-me. Caminhei por entre as ruas da cidade, observava tudo, embora não visse nada. Passei pela praça e logo adentrei arbustos, arvores, salgueiros e por fim toda a floresta. A escuridão agora era comum aos meus olhos e de longe avistei algo que parecia uma casa abandonada. As luzes da cidade já não podiam ser vistas e conforme eu avançava em passos percebia que estava na propriedade de minha família. As ruinas do Castelo de Chantilly.

Vi que tinha muitos túmulos onde seria um jardim. Alguns metros a frente estava o castelo, que mesmo com azulejos manchados, mofo e musgo nas paredes e vidros quebrados ainda era belíssimo. Comecei a me perguntar o que teria acontecido e me lembrei de tia Alex falando de uma guerra. “Será esse o motivo de tal destruição?” perguntei mentalmente Enquanto meus pés faziam o reconhecimento do lugar.

Observei que as datas de falecimento nas sepulturas eram entre 1558 e 1560, mas as datas de nascimento eram diferentes.

Mais adiante havia um caminho ao qual não me atrevi a entrar. Senti como se minha consciência retornasse a mim, devolvendo-me o bom senso. Ao olhar novamente para o castelo senti um arrepio me subir a espinha, o que aos meus olhos pareciam belo, possuía agora um ar sinistro e misterioso. Era evidente que ninguém morava ali há séculos.

—Ei! Tudo bom? — uma vez ecoou o lugar assustando-me. Procurei de onde vinha, mas nada vi. Ninguém estava ali além de mim.

—Quem está ai? — perguntei, a voz gélida e as palavras presas em minha garganta só pioraram o meu estado.

—Eu é que devia perguntar isso madame. — Novamente aquela voz sem corpo algum. Meus olhos arregalados rodeavam a extensão do lugar, a visão que eu tinha não era das mais convidativas. De repente senti algo bem próximo a mim e ao me virar deparei com um enorme par de asas negras. “U-um m-morcego?” gritei mentalmente sentindo meu corpo abater-se ao chão.

— O que voce está fazendo aqui? Eu não vejo ninguém a séculos. — ele disse. EsperaEle disse!“Um morcego que fala? Como isso é possível?”questionava-me, até lembrardeDimitry.Foi por causa dele que vim. “O que estava acontecendo comigo?” primeiro um vampiro, agora um morcego falante, sinceramente estou começando a duvidar do que é real em minha mente.

—Eu não sei direito. Estava em casa com minha tia e acabei chegando aqui. — respondi ao vê-lo me olhar insistente.

—Estranho. — ele disse. Pelo seu tom pude imagina-lo levar a mão ao queixo como Lysandre costuma fazer.

—Eu espero que você não tenha se assustado muito. Este local tem um passado sombrio e no decorrer dos séculos, ficou ainda mais pesado. Por isso imagino que não deve ser muito reconfortante para você!

— Confesso que é bem diferente do meu habitual. — respondi-lhe, sentando sobre minhas pernas.

—Isto deve-se a uma epidemia que atingiu o vilarejo próximo. Não houve sobreviventes e como o local era isolado, ninguém veio ajudar os habitantes. Foi em 1558, eu acho.— explicou de forma doce. Isso explica o fato de todas as lapides terem o mesmo período de falecimento. —Não tem ninguém para cuidar das sepulturas, exceto eu. Mas com minhas pequenas asas eu não posso fazer muita coisa! Tem muitas! — ele continuava a falar, e apesar de meu foco ser outro, minha curiosidade me prendia ao assunto.

—Sim... eu imagino... — disse esperando-o continuar.

—Só há uma sepultura que está bem cuidada, a de Mary Magdalaine. Ela está num local estranho, um pouco bizarro... mas agradável mesmo assim.

—Eu não vi nada parecido com isso. Talvez esteja mais longe na floresta. — conclui.

—Sim! É lá! Mary Magdalaine foi enterrada um pouco mais longe, pois não havia mais local no cemitério.— disse abrindo um sorriso largo.

—Teria problema se eu fosse ver? — perguntei. Não adianta, sou curiosa além da conta.

—Acredito que não. Mas não vá embora sem se despedir de mim. — ele disse em tom infantil, terminei por sorrir e prometer fazer o que ele me pediu. Ao adentrar mais a fundo a floresta vi uma sepultura realmente bela, conservada, com flores ao redor e um perfume magnifico emanava do ambiente. Ao contrario das outras não era sombrio e sim melancólico, de forma triste, porém encantadora. A data marcava 1560. Alguém teria sobrevivido a epidemia talvez?

—É triste não? A cada vez que venho aqui tenho vontade de chorar... — a voz do morcego assustou-me novamente.

—Aaah! Não apareça assim sem avisar... — avisei ainda tomada pelo susto.

—Desculpe, mas como você disse que queria ver o tumulo de Mary, eu preferi te seguir. E como é o seu nome? Eu esqueci de perguntar.

—Me chamo Hinnary.— respondi e ele mudou de expressão. Pareceu tenso ou algo do tipo.

— E eu me chamo Noir. Não quer voltar ao cemitério? Acho essa sepultura um tanto mais triste que as outras. Não me sinto bem ficando por aqui. — propôs e eu assenti. Na verdade senti-me muito estranha estando ali. Uma tristeza que me atingiu ferozmente como se Mary fosse alguém próximo, que partiu muito cedo. Ao chegarmos em frente ao castelo Noir parecia mais alegre.

—Você sabia, tem toda uma história envolvendo o túmulo de Mary Magdalaine.— ele disse como aqueles narradores de tevê interativa para crianças.

—Ah é? — perguntei. Por alguma razão aquilo tudo me interessava bastante.

—Está vendo aquele castelo? O namorado dela era o proprietário e, quando ela caiu doente, ele saiu à procura de um remédio nos vilarejos vizinhos. O único encontrado foi transformá-la em vampiro, pois os vampiros são imortais.Só que Mary Magdalaine estava muito cansada para viajar. Por isto, ele decidiu ir sozinha se deixar morder por um vampiro e, na volta, transformá-la. Mas, infelizmente, chegou tarde demais. Ela lutou contra a doença mais tempo do que os outros e se ele tivesse chegado um dia antes, ela ainda estaria viva... É realmente triste. — ele contou-me empolgadíssimo. Logo associei a historia a Dimitry, o vampiro condenado a habitar Amour Sucré.

—Um vampiro? — perguntei de forma a certificar minhas teorias.

—Ele não é mau! Mas não está muito bem no momento. Ele está sempre ao lado do túmulo de sua doce amada, você deveria ir ver!— então esse o motivo de seu sumiço? Por isso não o vi mais... Meus batimentos cardíacos se descompassaram. A ideia dele estar preso a essa moça depois de tanto tempo me era estranha, sofrida demais. Machucava-me lentamente. Noir ainda falava e disse que eu devia ir vê-lo próximo ao tumulo de Mary. Gostaria de saber o porquê disso tudo mexer tanto comigo.

—O que você esta fazendo aqui? — a voz de Dimitry acalmou meus nervos e provocou em mim reações que eu não conhecia.