– Rue pov –

Muito tempo passou após aquele vasto momento de surto que tive, Durante alguns anos que passei no reino, crises ocorreram comigo, dores fortes, agonias, a única que pode dizer do que se tratava minha dor foi Kalifa, a feiticeira e uma grande amiga de nosso reino, ela me visitava diariamente depois da primeira vez que viu a cor de meus olhos, ela disse que... Que eu... Que em meu corpo não havia alma, na maior parte do que ela disse, realmente estava certa.

Em uma forma inimaginável eu não conseguia ver meu reflexo no espelho de novo, eu não tinha mais sentimentos, eu me tornei um ser frio, e agora ao menos totalmente saudável, segundo Kalifa algo meu esta preso ao reino, ela disse que era minha alma, por isso tinha de me manter saudável, pois qualquer dor que eu sentisse refletiria sobre o reino, e eu não seria a única a sofrer, todo o reino sofreria.

Kalifa se perguntava o que ainda me deixava viva, nem eu mesma sabia responder a esta pergunta, acho que tem algo haver com o que me abrasou aquele dia no lago, aquilo nunca sairá de minhas lembranças, mesmo sendo algo terrível aquela... Aquela... Aquela coisa que me abraçou... Talvez até tenha me salvado.

Ali estava eu, sentada sobre uma pequena cadeira de madeira ao lado da janela observando todo o reino, animais descansando, criaturas mágicas brincavam sobre as árvores, crianças corriam por todo o local e os aldeões trabalhavam com felicidade, era algo lindo, notei alguém indo em direção ao castelo, era o Roger, me levantei da cadeira, calcei sapatinhas brancas da mesma cor de meu vestido, usando minhas mãos prendi meu cabelo a forma de um rabo-de-cavalo e fui em direção a porta do quarto.

– Querida, o Roger está aqui! – Gritou minha mãe, de um andar a baixo de onde eu estava no castelo.

– Já estou indo! – Gritei, respondendo a afirmação de minha mãe.

Continuei a andar até a porta de entrada de meu quarto, me retirando do mesmo, corri descendo as escadas, chegaria até o final se não tivesse escorregado ao meio da mesma, e então cai batendo meu rosto sobre o piso.

– Ai – Disse, após a queda.

No mesmo momento em que cai, todo o reino estremeceu, minha mãe estava ao lado da cozinheira do reino, as duas tremeram e quase caíram após o tremor, não só elas, Roger também estremeceu.

– Eu estou bem! – Gritei, e ao mesmo tempo os tremores foram cessados.

– Francamente querida, tenha mais cuidado. – Disse Genevive na ponta da escada.

Minha mãe sempre bem arrumada, com uma longa capa azul com detalhes brancos ao seu pescoço, com um enorme brasão do reino atrás da mesma, um longo vestido azul, um cajado com uma enorme pedra branca acima do mesmo, sua coroa, a sim... A coroa, jamais saía sem ela, e botas o que era obsessão mesmo sendo uma rainha jamais saia sem suas botas de couro de salamandra de fogo.

Levantei-me de sobre o chão logo batendo minhas vestes, e continuei a descer.

– Roger, a que devo a honra da visita. – Falei com uma expressão seria em meu rosto, após descer as escadas.

– Saudades, minha querida princesa. – Disse curvando-se.

Roger... Ele estava a cada dia mais belo, com seus cabelos castanhos desarrumados, olhos verdes, uma boina verde escura cobrindo parte de sua cabeça, um pequeno colete desabotoado e uma camisa branca suja por dentro, calças sujas e também verdes ao mesmo tom da boina e dos coletes, e sapatos marrons simples em seus pés.

– Pensei que tivesse mais o que fazer... – Retruquei indo até ele.

– Veio em uma boa hora Roger, irá haver um jantar amanhã à noite. – Disse a rainha.

– Irá? – Perguntei.

– Sim, irá. – Respondeu Genevive.

– Por que não vem Roger? – Perguntou Genevive.

– Bem... Não tenho roupas para esta ocasião majestade. – Respondeu Roger.

– Não? Então serão dadas por mim... Irei mandar um alfaiate fazer uma sobe medida para você. – Afirmou Genevive.

– Então, vem? – Perguntei.

Roger colocou suas mãos nos bolsos da calça, e bufou colocou sua cabeça para baixo e depois de alguns segundos disse – Sim, eu irei. – Sorriu com seu belo rosto cheio de sardas.

– Que ótimo. – Disse com a mesma expressão seria de todos os dias.

– Espero que esta expressão seja de alegria. – Falou Roger.

– Sim, é. – Afirmei.

Eu não conseguia mais sorrir, era como se fosse uma ação negada em meu corpo, não demonstrava sentimentos, nem ao menos chorar conseguia, era algo fora de questão, mas no fundo... Bem no fundo eu sentia algo a mais, não sei como explicar.

– Irei começar os preparativos. – Disse Genevive se retirando do local ao lado da cozinheira chefe.

Observei minha mãe se retirar do local as pressas, sem que eu notasse Roger segurou minhas mãos e as colocou em seu ombro, virei meu rosto em direção ao dele e senti ele me puxar com um pouco de força para si próprio e então nossos rostos ficaram bastante próximos, Roger aproximou seu rosto mais um pouco do meu e então... Ouvi uma voz nos portões do castelo gritando – Querida! – Era meu pai, em sua chegada após a retirada das tropas do reino.

Larguei Roger e fui correndo até ele, novamente eu conseguia sentir algo dentro de mim chegando até meu pai o abracei, era um lindo momento mesmo com minha terrível expressão.

– Querida... – Disse meu pai sorrindo.

– Pai... – Disse-lhe com uma voz um pouco rígida e com uma expressão seria.

Notei algo saindo de trás do ombro de meu pai, e observei calmamente conseguindo distinguir, era um rato, logo o rato saltou sobre o chão e se transformou em uma linda mulher totalmente despida, era Kalifa.

– Francamente Kalifa, já não mandei parar com isso?! – Exclamou meu pai.

– Então você manda em mim agora? Conte-me melhor esta história. – Disse Kalifa enfurecida.

Os dois discutiram durante horas, Roger se aproximou e caiu na risada, mais um dia normal no reino de Barthon.