No dia seguinte, vi Kohaku dando sua aula, mas ele parecia bem mais sério do que nos outros dias. Não estava sorridente e brincalhão como normalmente ficava com seus alunos.

" Será que ele se arrependeu do que disse ontem ?" , pensei, preocupada.

Um dos garotos que estava na aula saiu de fininho e veio andando em minha direção.

- Você e o Kohaku brigaram ? - ele me perguntou

- Hã ? - parei de arar a terra - Não...

- Ele está estranho hoje.

- Isso é verdade. - dei mais um olhar de relance ao seu rosto rígido.

- Você é a namorada dele, não é ? - o menino perguntou inocentemente.

- O quê ?! - enrubesci - Não ! Por quê acha isso ?

- Desculpa, é que parece. - ele sorriu e voltou para a aula.

Esperei um tempo, e assim que a aula acabou fui falar com Kohaku. Aquela expressão dele estava definitivamente me perturbando.

- Kohaku... você está chateado comigo ?

Ele hesitou um pouco, depois disse, sem fazer contato visual :

- Não.

- Mas você está muito estranho hoje !

- Impressão sua. - ele disse, frio

Ele se virou e ia andar, mas eu segurei seu braço.

- Vem cá, quero falar com você.

Puxei-o até minha cabana e nos sentamos um na frente do outro.

- Por que você está assim ?

Ele não me respondeu, e ficou olhando para o chão.

- Kohaku ! - insisti - Olha pra mim ! Me diz ! Foi sobre ontem, não foi ? Você ficou chateado com a minha reação, não ficou ? Me responde !

Ele apertou os punhos :

- Você acha que é fácil ver que mesmo dizendo que quero ficar com você para sempre, você ainda não para de pensar... nele ? - ele disse, com raiva.

Arregalei os olhos, perplexa. Sabia muito bem quem era esse "ele" a quem Kohaku estava se referindo.

- Ko-kohaku...

- Rin, você precisa esquecê-lo ! Eu sou muito melhor pra você do que ele ! Como pode ainda sentir algo por ele sabendo que ele te abandonou, para sempre ?

Dei-lhe um tapa no rosto. Ele não tinha o direito de jogar isso na minha cara ! Ele não tinha visto o que eu vi ! Eu me lembro claramente de ver a silhueta do Senhor Sesshoumaru no reflexo da lua ! Aquilo era verdade ! Não era minha imaginação !

- Não... fale... assim... - disse , com um nó na garganta.

- Rin ! - ele segurou minhas mãos - Eu estou completamente apaixonado por você !

Olhe profundamente em seus olhos. Não acreditava no que acabara de ouvir. Ele realmente se confessara. Meu coração batia acelerado.

- Rin.. você.. gosta de mim ?

- Eu... eu...

Não consegui responder. Minhas mãos suavam, minhas pernas tremiam.

- Eu prometo.. que vou te fazer.. feliz.

Ele foi se aproximando, e eu comecei a ficar outra vez perdida em meus pensamentos. Não percebi que não estava afastando-o. Seus lábios estavam quase tocando os meus, quando algo me fez recuperar a razão. Um rugido assustador veio de fora da cabana, seguido de gritos horrorizados dos moradores.

Kohaku se afastou e pegou sua arma.

- É um youkai. Não saia daqui. - ele pulou pela janela em um segundo.

Fui até a janela e vi os exterminadores lutando contra o youkai, um monstro que devia ter quase dez metros de altura. Por mais que todos estivessem reunidos para acabar com ele, ele era muito forte. Só conseguiram lhe fazer alguns cortes, mas nada profundo. Comecei a ficar preocupada.

- Maldito ! - Kohaku fincou sua arma com força no ombro do youkai, ele deu um rugido de dor e jogou Kohaku longe.

- Kohaku ! - pulei pela janela e corri até ele

- Rin ! Eu disse para ficar na cabana !

Não dei ouvidos, pus a mão em sua cabeça : estava sangrando.

- Por favor, aguente !

- Eu estou bem. - ele disse, fraco.

De repente o youkai veio em nossa direção, pronto para nos atacar. Abracei Kohaku com força e fechei os olhos.

- SOCORRO !!

Mas ele não nos atacou. Nem conseguiu nos tocar. Uma luz esverdeada surgiu do fundo da floresta, e quando percebemos, só restaram os ossos do youkai.

- O que... aconteceu ? - perguntei, tremendo o corpo inteiro.

Da fumeça que restou apareceu alguém. Alguém que eu conhecia, que eu amava. Meu coração disparou, não acreditei no que meus olhos viam. Segurando sua espada que acabara com o youkai, estava ele, bem na minha frente. Senhor Sesshoumaru.

Estava tonta, confusa e ainda assustada. Tudo ficou escuro na minha mente. Não consegui aguentar ficar de pé e caí desmaiada. A última coisa que me lembro eram seus braços fortes me segurando para eu não bater a cabeça no chão.