Eu aceno para meus pais pela última vez, antes de entrar no terminal de embarque. Uma despedida melancólica, porém, que dá início a uma parte nova da minha vida. Viver sozinha, sob minha própria e exclusiva responsabilidade, sem minha família por perto, em um país distante um oceano de onde estou agora, com um grupo de pessoas desconhecidas – ou quase isso –, tendo que tomar minhas decisões sozinhas e encarar suas consequências. Vai ser difícil, mas uma boa experiência de aprendizagem. Um ano passa rápido, eu aguento.

Brincadeira! Eu mal posso esperar para pisar fora daquele avião lá na Inglaterra, me ver livre dos meus pais controlando minha vida – não me entenda mal, eu os amo –, conhecer um monte de gente legal e com sotaque britânico (viva os britânicos!), estudar em um lugar diferente e mais interessante, mudar um pouco meu ritmo monótono de vida! Talvez eu sinta saudades de casa nos primeiros dias, mas depois, só vou me lembrar de Baltimore no dia de voltar para casa.

Há dois meses eu venho pesquisando sobre a cidade de Leeds feito uma maníaca, além de contar dias e horas para esse momento. Agora, finalmente embarcando, acho que vou quicar de ansiedade durante o voo inteiro. Pela primeira vez, vou ter a chance de recomeçar, em um lugar novo, com pessoas novas, uma casa nova, tudo diferente. Meus pais não aceitaram pagar um ano na Inglaterra para eu não fazer nada de útil, então serei obrigada a estudar, mas é melhor que nada. Não estou indo para lá por causa do diploma, e sim pela experiência.

Lágrimas escorrem dos olhos dos meus pais ao acenarem para mim pela última vez. É como se eu estivesse partindo para um lugar sem sinal de telefone ou internet, e nunca pretendesse voltar. Eles deviam ficar felizes, isso sim – se eu fosse minha própria mãe, adoraria que eu mesma passasse um ano fora de casa (ficou muito confuso?). A família anfitriã que eu escolhi é basicamente igual à minha, com a única diferença da nacionalidade. É apenas um casal pouco mais velho que meus pais, e se chamam May e George Cunningham. Eu entendi vagamente que eles têm um filho – acho que mais velho que eu –, e resolveram se candidatar para receber um intercambista justamente porque seu filho também está fazendo intercâmbio em outro país. Achei engraçado isso, foi tipo um programa de "troque seu filho por uma menina americana".

O avião em que vou tem apenas pouco mais da metade dos assentos preenchidos, em sua maioria, por idosos e casais. Como de costume, ninguém entende nada que o piloto diz, além de "boa viagem a todos, e preparem-se para a decolagem".