Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, teriam colocado um ator mais bonitinho para interpretar o Neal Cassidy. Just saying... Como sempre, créditos aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
Meus eternos agradecimentos à minha beta, Mellie. =DDD



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/291068/chapter/7

               Isabelle rapidamente se viu encantada, aguardando ansiosamente cada fim de tarde na casa de penhores. O tom de conversa confortável que se estabeleceu entre ela e o Sr. Gold fazia os minutos correrem levemente, passando despercebidos, e ela passou a ter quase um sentimento de perda a cada vez que saía da loja.

                Às vezes os sentimentos borbulhando em seu peito a faziam querer gritar aos quatro ventos sobre o tesouro que encontrara. Por outro lado, era ainda mais encantador pensar que aquele Sr. Gold existia apenas para ela. Que os sorrisos e gracejos eram apenas dela, e ninguém mais na cidade poderia nem mesmo imaginar o que se escondia sob a fachada do agiota. Sempre que entrava na loja, Isabelle captava um leve ar de surpresa misturado às boas-vindas que ele lhe dava, quase como se ele não pudesse acreditar que ela escolhia voltar à sua companhia repetidamente. Mas a verdade é que não havia nenhum lugar onde ela preferisse estar.

                Ela se perguntava constantemente se ele sentiria o mesmo. Apesar dos galanteios e dos olhares por vezes tão intensos que a faziam arrepiar-se, ele era um perfeito cavalheiro, educado e sempre muito recatado, e ela temia projetar seus próprios sentimentos em interpretações precipitadas de suas atitudes.

                Não ajudava nada o fato de que ela nunca tivera realmente um namoro de verdade. Alguns paqueras de escola, beijos superficiais, alguns roubados... e jamais um sentimento que chegasse aos pés do que a envolvia agora. Ainda assim, certo dia, quando ele a acompanhou à porta da loja na hora de se despedirem, seu olhar vagou tão veementemente para seus lábios que ela teve certeza, por um instante, de que ele a beijaria.

                O momento se quebrou bruscamente quando um carro estacionou à frente da loja e um cliente inconveniente abriu a porta, dando de cara com os dois congelados em seus lugares. Isabelle fez seu caminho para casa jogando pragas silenciosas ao homem.

                No dia seguinte, porém, ao se despedirem, em vez de um beijo ela ganhou um convite para jantar em sua casa. Isabelle sentiu seu rosto ficar vermelho enquanto seu sorriso se abria em uma perda de palavras. Aquilo era, de qualquer ponto que ela analisasse, um encontro de verdade.

-*-*-*-

                “Prontinho!” Ruby anunciou, analisando seu trabalho com um sorriso satisfeito.

                Isabelle virou-se lentamente para o espelho, temendo encontrar em seu rosto uma versão da forte maquiagem vermelha da garçonete. Com um suspiro de alívio, ela analisou a face refletida, um tom claro de sombra realçando seus olhos azuis, o blush colorindo de leve suas bochechas e o batom apenas um tom ou dois mais escuro do que ela usaria em um dia comum. Mas,  é claro, aquele não era um dia comum.

                “Você está linda. O Sr. Gold vai adorar!” Ruby piscou para o leve rubor envergonhado de Isabelle refletido no espelho.

                “Obrigada, Ruby.” Ela lhe lançou um sorriso cheio de gratidão, e estava claro que os agradecimentos não eram pela maquiagem, muito menos pelo elogio. A verdade é que, após a relutância inicial, a moça cultivara um divertido interesse pelos rumos da relação entre Isabelle e o Sr. Gold.

                Assim, não havia sido muito surpreendente quando ela aparecera mais cedo naquela noite e passara horas tagarelando distraídamente, opinando sobre a roupa de Isabelle e até se oferecendo para fazer sua maquiagem. Havia sido uma distração bem-vinda para o nervosismo de Isabelle e as borboletas que resolveram fazer moradia em seu estômago.

                Além disso, Ruby a livrara de um considerável problema: apenas após recusar educadamente a oferta do Sr. Gold de ir buscá-la em sua casa, Isabelle descobrira que a residência dele ficava muito afastada do centro da cidade, quase nas bordas do bosque. Muito distante do roteiro que ela fazia à pé todo dia, e nem mesmo havia uma linha de ônibus que passasse por perto. Para seu alívio, Ruby prontamente lhe oferecera uma carona.

                Ela abriu distraidamente a bolsa de Isabelle e perguntou, casualmente: “Quer uma camisinha para levar?”

                Após alguns segundos de silêncio, Ruby levantou o rosto para encarar uma Isabelle muito vermelha.

                “Quê?!”

                “N-não é esse tipo de encontro.”

                “Ah, é? E ele sabe disso?”

                “Claro que sim!”

                “Você é que sabe... Mas ele te convidou para a casa dele. Não para jantar fora, ou sair para qualquer lugar. Eu sei no que um homem está pensando quando me convida para sua casa.”

                “Bom, o Sr. Gold não é assim! Ele é um perfeito cavalheiro.” Isabelle franziu de leve o cenho para Ruby, mas a moça apenas riu.

                “Está certo, então. De qualquer forma, se precisar de qualquer coisa, ou se precisar voltar para casa, pode me ligar, certo?   Não importa o horário.”

                O olhar de Isabelle suavizou-se pela preocupação da garota, e ela sorriu, confiante.

                “Não será necessário, Ruby. Não precisa se preocupar. Tenho certeza que ele vai se oferecer para me trazer de volta. Além do mais, você também vai sair hoje, não? Não vou estragar sua noite.”

                “Ah, não vai estragar nada...”

                Ruby pareceu hesitar por um instante, e Isabelle ficou surpresa. Raramente ela vacilava em falar alguma coisa, especialmente para Isabelle.

                “Hm... O Richard me chamou para sair hoje a noite.”

                “Richard?!?!”

                “Sim, mas eu não confirmei que ia. Eu não vou, é claro, se te incomodar de alguma forma...” Ela acrescentou rapidamente.

                “Não, não! Não me incomoda de forma alguma.” Isabelle olhou para Ruby, ainda muito espantada. “Uau... Richard, hm?”

                “Ah, bem... Não tem muitos dentistas gostosos dando sopa por aí.” Ruby deu de ombros, e ela só pôde rir. Que a moça aproveitasse bem o seu dentista. Isabelle tinha coisas muito melhores nas quais pensar.

-*-*-*-

                Quando o Sr. Gold abriu a porta, perdeu o fôlego por um instante. O pequeno sorriso de sua Belle pareceu iluminar a noite em um instante, enquanto a brisa da noite brincava com seus cachos.

                “Uau, Belle...” Ele deixou escapar por seus lábios em um suspiro encantado. Ela riu, levemente corada.

                “’Belle’? Pulamos de ‘Srta. French’ direto para um apelido?”

                O Sr. Gold ficou levemente sem jeito, não acostumado a cometer deslizes como aquele. Com um meneio, afastou-se da porta para que ela pudesse entrar na casa.

                “Desculpe, Srta. French.”

                “Não peça desculpas! Na verdade, eu gostei. ‘Belle’... Acha que combina comigo?”

                Ele lhe deu um de seus intensos olhares que faziam Isabelle arrepiar-se, antes de sorrir de leve.

                “Definitivamente, combina muito com você.”

                “Ótimo. ‘Belle’, então.” Ela riu alegremente. “Agora, eu não posso continuar te chamando de ‘Sr. Gold’, não é mesmo?”

                “Acho que ‘Sr. Gold’ está bom.”

                “Hm. Desculpe.” Ele se arrependeu de suas palavras assim que viu o sorriso de Isabelle morrer lentamente. Com uma praga silenciosa e um suspiro resignado, ele tentou se explicar.

                “Não, eu peço desculpas. Não pretendi ser indelicado. O problema não é você... Se você quer mesmo saber meu nome...”

                Isabelle se viu congelada em seu lugar, com o coração acelerando em seu peito, quando o Sr. Gold aproximou-se lentamente e inclinou-se de leve ao seu lado, seus lábios sussurrando ao seu ouvido. Tão absorta estava na sensação de seu hálito quente sobre sua pele, que demorou alguns segundos para captar o que ele dissera. Mas, então, não conseguiu conter uma leve risada.

                “Sério?! Esse é seu nome?”

                “Acho que eu tinha pais muito criativos.” O Sr. Gold suspirou, frustrado. Era verdade, seus pais haviam sido criativos até demais com o nome ‘Rumpelstiltskin’. Já em Storybrooke, ele não tinha certeza se deveria culpar a rainha diretamente, ou era apenas um efeito da própria maldição.

                Ele mesmo a projetara, e tinha muito orgulho de quão elaborada ela era. Regina, é claro, poderia acrescentar qualquer detalhe que quisesse à vida de qualquer das vítimas de seu feitiço. Mas ela não precisava pensar em cada detalhe, se não lhe interessasse. Seria mesmo impossível para uma pessoa normal elaborar cada aspecto da vida de uma cidade inteira. A arquitetura da casa da pessoa, seu nome, um passado falso rico em detalhes...

                Assim, por exemplo, Regina precisara apenas estabelecer que Jefferson seria rico e solitário. Os detalhes eram providos pela própria magia, numa analogia ao que seria uma pessoa rica nessa nova realidade. Portanto, a rainha não precisara ter conhecimentos sobre a arquitetura, tecnologia ou estilo de vida naquele novo mundo. Seria impossível para ela, que nem mesmo sabia o que era eletricidade. Além de ser uma perda de tempo desnecessária.

                Uma maldição muito engenhosa, de fato. Por isso, o Sr. Gold não tinha certeza se fora ‘batizado’ apenas por analogia ao nome esquisito que já tinha na sua antiga vida, ou se havia sido um detalhe especialmente pensado por Regina como zombaria. Faria um belo par em deboche com sua casa cor-de-rosa.

                “Bem, por que não fazemos assim: você pode me chamar de Gold, sem o ‘senhor’?”

                “Parece justo, Gold.” Ela lhe deu mais um radiante sorriso, e ele pensou que aquela imagem valia qualquer nome que Regina quisesse lhe colocar.

                Com a mão delicadamente repousada em sua cintura, o Sr. Gold convidou Isabelle à sala de jantar. Ela notou a leve música instrumental dominando o ambiente, onde algumas velas tremeluziam um ar de encanto sobre a mesa posta. Algumas flores sobre as estantes e bancadas coroavam o cenário com seu enebriante perfume.

                “Que lindo...” Isabelle suspirou, encantada.

                “Linda é você, Belle.”

                Com os olhos brilhando, Isabelle sorriu alegremente enquanto era guiada à mesa. Com um gesto galante, o Sr. Gold afastou a cadeira para que ela pudesse sentar-se.

                “Espero que goste de comida italiana.” Ele sorriu, senvindo-lhe um prato de fettuccine com camarão. À primeira garfada, Isabelle deixou escapar um suspiro satisfeito.

                “Isto está simplesmente divino!”

                “Tenho certeza que o cozinheiro do Antonioni’s ficaria lisongeado com o elogio.” O Sr. Gold gracejou, e ela teve que rir. Então se lembrou, por um instante, dos comentários de Ruby e franziu a testa.

                “Algum problema, Belle?”

                “Oh, não.” Ela ruborizou-se de leve. “Eu só estava pensando... Por que você me convidou para comer aqui? Por que não em um restaurante...?”

                Diante da pergunta, ele pareceu genuinamente surpreso.

                “Pensei que preferiria um encontro mais reservado. Acharia melhor ir a um lugar público?”   

                Isabelle parou para imaginar, por um instante. Seu estômago se embrulhou rapidamente ao pensar nos possíveis sussurros e olhares das outras pessoas no restaurante. Ela ainda era, afinal de contas, a louca da cidade. Seria especialmente mortificante quando ela pensava no quanto o Sr. Gold gostava de ser discreto. O clima seria rapidamente arruinado, com certeza.

                Com um olhar para o ambiente ao redor, as flores e velas, Isabelle deu um sorriso satisfeito.

                “Não. Acho que aqui está absolutamente perfeito.”

-*-*-*-

                Isabelle ainda segurava sua taça de vinho quando se dirigiu à sala de estar, levemente tonta. Uma desculpa perfeita para inclinar-se de leve contra o Sr. Gold, que a seguia ainda com a mão em sua cintura. Ela fechou os olhos por um instante, deixando a doce música no ambiente dominá-la. De repente, virou-se para ele com um brilho no olhar.

                “Você está me devendo uma dança, Gold.”

                “Estou?”

                “Ah, sim. Está sim.”

                Ele elevou uma sobrancelha quando ela estendeu a mão e pegou sua bengala, repousando-a contra o sofá. Não precisou de outro incentivo para puxá-la mais para perto, enterrando a face em seu cabelo enquanto ela repousava contra seu ombro.

                Os dois se embalaram brandamente, quase sem sair do lugar, enquanto a música escorria quase sem ser mais escutada. Isabelle sentia a cabeça leve e não tinha certeza se culpava o vinho ou o aroma enebriante que se insinuava pelo paletó de seu acompanhante.

                Logo, eles já nem se moviam, permanecendo abraçados enquanto aproveitavam o calor dos corpos tão próximos. Isabelle inclinou a cabeça para cima, encarando o olhar muito intenso do Sr. Gold. Seu coração pareceu pular uma batida e suas pernas ficaram fracas, fazendo-a apoiar-se mais contra ele.

                Em um segundo, seus lábios estavam unidos, doces e macios, e o resto do mundo pareceu desaparecer. A própria Isabelle sentiu-se sumir, só restando dela as partes que estavam em contato com o Sr. Gold, como uma âncora que a segurava em meio ao sonho encantador.

                Quando se afastaram, levemente ofegantes, o Sr. Gold viu em seus olhos o reflexo de todas as emoções que também sentia. Ele lembrou-se do primeiro beijo, tantos anos, décadas, atrás, e se sentiu, por um instante, tão encantado, surpreso e um tanto amedrontado quanto se sentira na época. Mas, acima de tudo, sentiu-se abençoado por ter outra chance de sentir seus lábios macios e sua respiração contra sua face. E, daquela vez, nada a tiraria dele.

                “Minha Belle...”

                Isabelle suspirou, quando aquele novo apelido fez seu coração palpitar alegremente. Com um sorriso alegre, ela se inclinou para capturar novamente os lábios dele. Tudo que ela queria, com certeza, era ser a Belle dele.

-*-*-*-

                Quando Isabelle entrou na Granny’s, na manhã seguinte, Ruby não precisou de uma só palavra para perceber que o encontro transcorrera muito bem.

                “Hm, sorriso bobo no rosto, olhar sonhador... Ponto para o Sr. Gold, hein?”

                Isabelle riu, mas não se deu ao trabalho de comentar nada.

                “Pelo menos uma de nós teve uma boa noite...”

                “O que houve com seu encontro?”

                Isabelle franziu o cenho quando Ruby lhe estendeu a última edição do ‘The Mirror’. Na capa, para sua surpresa, uma foto de Richard ilustrava a manchete.

                “’Dentista preso por sonegação de impostos’?!” Ela leu, a surpresa transbordando em sua voz. Correndo os olhos pela página, ela notou ainda um quadro que apontava um ‘histórico criminal’ que consistia, basicamente, de multas de trânsito atrasadas.

                “Pois é. Quem diria, hm? Quando ele está a fim de você, é um dentista gostosão. Quando vai sair comigo, vira um sonegador de impostos! Isso não é justo!” Ela reclamou, com um suspiro chateado.

                “Oh, Ruby, sinto muito! É uma pena!”

                “Ah, bem... É a vida.”

                Com um dar de ombros, Ruby pegou o jornal e dobrou-o, jogando em uma lata de lixo enquanto se encaminhava para a porta da lanchonete para virar a placa que anunciava ‘ABERTO’.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!