Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, o Robert Carlyle teria uma obrigação contratual de responder aos tweets da Emilie. Ela é tão fofinha *-* Eternos créditos aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
Meus sinceros agradecimentos à minha beta, Mellie.



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O Sr. Gold passou a mão sobre seus olhos cansados, tentando se concentrar na bangunça de papéis na escrivaninha à sua frente. Verdade seja dita, ele já deveria ter terminado aquele serviço há horas; mas contratos de compra, venda e arrendamento não estavam conseguindo prender sua mente errante por mais que alguns minutos aquela tarde.

        Sua concentração estava arruinada há dias, é claro. Desde que o irritante dentista aparecera no Granny’s falando tão confiantemente com a sua Belle. O homem tinha uma sorte imensa por não haver magia nesse mundo. O Sr. Gold não achava que teria resistido a transformá-lo imediatamente em um caramujo para ser esmagado com uma gratificante pisada.

        É claro, havia mais de uma forma de ‘esmagar’ alguém, e ele tinha se assegurado de se garantir um papel confortável e influente neste novo mundo.  O problema é que ele tinha prometido a si mesmo que, dessa vez, Belle teria o destino dela em suas mãos (e, consequentemente, boa parte do seu próprio). Ele não permitia que ninguém impedisse isso, nem a rainha, nem ele mesmo.     Assim, ele tinha decidido lhe dar algum espaço para fazer o que quisesse. Até porque ele não podia assegurar que iria resistir a tomar uma atitude mais enérgica se estivesse por perto para ver o dentista rondando o Granny’s novamente.

Ele sempre cuidaria dela, é claro, e ficaria de olho em qualquer necessidade ou perigo que se acercasse dela, independente de qualquer coisa. O próprio dentista tinha sido submetido a uma investigação minuciosa, que revelou apenas um pequeno problema com o imposto de renda, provavelmente um engano, e algumas multas de trânsito antigas. Sem histórico de violência, em nenhum dos dois mundos; sem inimigos ou inimizades importantes; sem nem mesmo um amor verdadeiro vagando pela cidade, separado dele pela maldição. Foi com mais que uma pontada de decepção que o Sr. Gold teve que declará-lo inofensivo.

        Ele tinha trazido isso para si mesmo, é claro, ao expulsá-la do Castelo Sombrio, quando tudo o que ela tinha feito fora lhe oferecer o que ele pensou que nunca poderia ter. Como consequência, a condenara a décadas de cativeiro por seus inimigos. Ele não podia deixar de questionar o que sua Belle faria se pudesse se lembrar de tudo o que aconteceu e tudo pelo que passou por sua causa. Nesse momento, porém, só lhe restava aguardar o que Isabelle decidiria fazer.  

        Absorto novamente em seus pensamentos, o Sr. Gold não chegou a notar o som do pequeno sino que anunciava a chegada de um visitante, só sendo arrancado de seus devaneios pela voz de Isabelle vinda da loja.

        “Sr. Gold?”        

        “No escritório.” Ele respondeu automaticamente, em um reflexo surpreso.

        Isabelle entrou no recinto e lhe tirou o fôlego por um segundo, belíssima em um vestido verde-água que fazia um par adorável com seus olhos claros; sobre as alças de um rendilhado delicado, seus cachos caíam graciosamente.  Ela parou à porta, segurando meio nervosamente uma pequena vasilha de plástico.

        “Boa tarde, Sr. Gold. Espero não estar atrapalhando.” Ela disse, a um olhar para a bagunça de papéis sobre sua mesa, mordendo de leve o lábio inferior.

        “De forma alguma, Srta. French. Acho que já vi contratos demais por hoje. Está na hora de uma pausa.”

        “Eu estava pensando... Se você não estiver mesmo ocupado... Eu tinha combinado de vir tomar uma xícara de chá. Qualquer dia.” Ela indicou a vasilha em sua mão, tentativamente. “Eu trouxe alguns cookies.” Ele teve que sorrir a quão adorável ela soava.

        Logo o Sr. Gold estava voltando da pequena cozinha anexa ao escritório carregando uma bandeja com um fumegante bule, os biscoitos expostos em uma delicada travessa de porcelana. Enquanto  se sentava a sua frente, ele pensou que Belle parecia diferente. Ela parecia estar meio perdida em algum pensamento, mais calada e tímida que o usual.

        Não que ela não tivesse prestando atenção nele. Ele tinha percebido a forma como seu corpo se endireitara inconscientemente no sofá enquanto ele trazia o chá, embora seus olhos só tivessem passado por ele por alguns segundos. Porém, nas outras vezes que tinham se encontrado, o olhar de Belle sempre tinha sido de curioso interesse, às vezes com uma pontada de fascínio ou divertimento – sempre o tinha impressionado sua capacidade de achá-lo divertido, mesmo antes da maldição, mesmo em situações em que a maioria das pessoas ficaria amedrontada ou desconfortável. Como ser mantida cativa pelo Senhor das Trevas.

        Sua curiosidade e entusiasmo estavam mais contidos agora. Prova disso é que ela lhe aguardara sentada quietamente enquanto ele fazia o chá, em vez de vagar entre os itens de sua coleção, como tinha feito da primeira vez que estivera ali, e como costumava fazer no Castelo Sombrio. Em vez disso, havia algo mais no seu olhar. Algo que ele não conseguia mensurar extamente, mas lhe lembrava vagamente os olhares que ela lhe lançava nos últimos dias antes de ele tê-la prendido nas masmorras e a expulsado a seguir. O pensamento fez seu coração pular uma batida.

        O silêncio pesou sobre o ambiente, com cada um perdido em seus pensamentos enquanto ele lhe servia o chá. Ao primeiro gole, ela deixou escapar um suspiro satisfeito, o que arrancou um leve riso do Sr. Gold. Finalmente, ela começou a falar, em tom forçadamente casual.

“Faz alguns dias que você não aparece no Granny’s.”

        “É verdade. Agora a viúva Lucas voltou para lá... Nada contra a mulher, mas eu acho que preferia a última cozinheira.”

        Ela riu de seu gracejo, embora duvidasse que aquele fosse o motivo de seu sumiço.

        “Bem, prometo que eu mesma preparo seu café-da-manhã da próxima vez que aparecer por lá.”

        Ele deixou o assunto morrer, com um gesto de cabeça, sem nenhum comentário, antes de mudar de assunto. “E então, como está a vida na nova casa?”

        “Ah, ela é ótima! Estou muito bem instalada. Estou muito agradecida pela sua ajuda.”

        “São negócios, Srta. French.”

        “Oh, bem, para mim foi um ótimo negócio, então. Até saí para comemorar com a Emma, Ruby e Mary Margaret.”

        “Espero que tenha se divertido.”

        “É...” Isabelle deu de ombros. “Acho que não sou uma pessoa muito noturna. Sou mais ao estilo ‘xícara de chá’.”

        Ela lhe deu um sorriso divertido, mas ele apenas estreitou os olhos, deixando escapar uma ponta de ironia em suas palavras. “Não gostou de dançar, queridinha?”

        As bochechas de Isabelle ficaram levemente coradas, e o Sr. Gold imaginou que ela sabia exatamente sobre o que ele estava falando. “Na verdade, não. Um mau parceiro de dança pode estragar qualquer noite.”

        O Sr. Gold apenas acenou de leve, e tomou um longo gole do seu chá, deixando o silêncio cair novamente entre eles enquanto observava Isabelle. Após um segundo de hesitação, ela perguntou: “Você dança, Sr. Gold?”

        “Não sou exatamente um bailarino.” Com um leve ar de supresa, ele fez um ligeiro gesto para a bengala que repousava contra o sofá, ao seu lado.

        “Bem, pois eu acho que você seria um ótimo parceiro de dança.”

        “Podemos testar, algum dia.”

        “Trato feito.” Ela sorriu alegremente, e de repente o Sr. Gold já não estava preocupado em absoluto com um dentista qualquer.

        O resto da tarde escorreu alegremente em uma conversa amena, até que as primeiras sombras da noite caíram sobre Storybrooke e Isabelle achou que era hora de se despedirem. O Sr. Gold a acompanhou até a porta, e ela se virou para ele com um sorriso.

        “Foi uma tarde muito agradável.”

        “Foi sim, Srta. French.”

        “Ah... Não precisa me chamar de ‘Srta. French’. Pode me chamar de Isabelle.”

        “Isabelle...” Ele pronunciou seu nome lentamente, como se provando a palavra em sua boca. “Não combina com você.”

        “Hm... Certo.” Isabelle franziu o cenho, sem entender bem o que ele queria dizer com aquilo. Ela passou o dedo distraídamente pela borda da vasilha branca, agora vazia, parecendo não ter pressa nenhuma em sair.

        “O chá estava maravilhoso, como sempre. Você devia me ensinar a fazer um chá tão bom.”

        “E tirar sua desculpa para vir aqui novamente? Jamais.”

        Ela lhe deu um olhar penetrante, por um instante, e respondeu, com um pequeno sorriso: “Eu posso pensar em alguns motivos melhores para voltar aqui.”

        Quando finalmente ela saiu, e o Sr. Gold voltou para sua escrivaninha abarrotada de papéis, o mundo parecia mais leve.

-*-*-*-

        Ele chegou no Granny’s bem cedo no dia seguinte, segurando uma rosa vermelha nas mãos. ‘Só pode ser brincadeira...’ Isabelle pensou, com um suspiro frustrado, enquanto Richard ia até o balcão. Depois de tantos dias sumido, ela tinha alimentado a esperança de que não iria mais vê-lo. Aparentemente, ela não teria tanta sorte.

        “Uma rosa para uma rosa!”

        Isabelle teve vontade de socá-lo. Não bastasse a frase clichê, ela tinha a impressão de que a cena estava bizarramente errada, como o ato de oferecer e receber uma rosa pertencesse a um cenário completamente diferente. O sentimento de desacerto revirou suas entranhas.

        “Richard, eu estou trabalhando...”

        “Claro, claro... É só que o fim de semana está chegando, e eu pensei que podíamos combinar alguma coisa. Posso voltar no final do seu expediente.”

        Isabelle pensou que já passara da hora de pôr um ponto final naquilo.

        “Por que não vamos conversar lá fora por um minuto?”

        Enquanto saía com o sorridente dentista, fez um gesto rápido para Ruby, avisando que logo voltaria. Eles pararam na rua lateral ao Granny’s, e Isabelle ficou pensando em uma forma delicada de dispensar Richard, mas a rosa vermelha, ainda na mão dele, renovava a cada instante sua irritação.

        “Eu estive pensando, já que você não gosta muito de dançar, o que acha de um jantar?”

        “Richard... Eu realmente não estou no clima...”

       “Ora, vamos! É só um jantar! Eu sei que você não está muito acostumada a sair, com tudo pelo que passou... Mas eu não mordo.” Ele inclinou a cabeça, com um sorriso supostamente sedutor. Isabelle só conseguiu se sentir horrorizada. Como ele poderia ser convencido ao ponto de achar que o único motivo para uma mulher não aceitar seus convites era um passado de internação psiquiátrica?

       “Já chega! Eu não tenho problema em sair para lugar nenhum. Eu só não quero sair com você! Fui clara?!”

       “Eu... Eu não entendo.” Ele pareceu genuinamente surpreso e confuso, e Isabelle teve que se conter para não dar uma resposta afiada. Ele obviamente não estava acostumado a receber negativas de alguma mulher, com todo aquele charme sobre os cachos loiros e o sorriso brilhante. Ela respirou profundamente, e resolveu ser o mais clara e sincera possível.

       “Eu não tenho nenhum interesse em você. Nunca vou ter. Eu nunca vou querer sair com você. Entendeu? Eu estou apaixonada por outra pessoa!”

       Richard apenas a olhou abobalhadamente. Ela estava pensando se deveria dizer mais alguma coisa, quando ouviu uma voz muito familiar, que gelou seu sangue em choque.

       “Esse senhor está lhe incomodando, Srta. French?”

       Isabelle se virou, com o rosto ardendo de rubor, para encarar um Sr. Gold muito sério, apoiado em sua bengala com ambas as mãos, que olhava gravemente para Richard.

       “N-não. De forma alguma. O Richard já estava de saída. Não é?”

       O homem demorou alguns  segundos para processar toda a cena. Finalmente, ergeu ligeiramente o queixo, e, recolhendo o que lhe restava de orgulho, se despediu polidamente dos dois e se retirou.

       Isabelle acompanhou o Sr. Gold de volta ao Granny’s em silêncio, evitando seu olhar, com o rosto muito vermelho. Ele abriu a porta e indicou que ela passasse à frente, com um gesto, e ela sussurrou um agradecimento e entrou rapidamente, enquanto sua mente fervilhava, imaginando se ele teria escutado suas palavras. Quanto ao Sr. Gold, ele fazia seu melhor para evitar que um sorriso satisfeito tomasse seu rosto.


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Notas finais do capítulo

N.A.2: Talvez esteja na hora de um primeiro beijo xD