A agitação e as descobertas do dia que passou refletiram nos meus sonhos como era de se esperar, então acordei cansada quando ainda estava escuro, mas eu não queria voltar praqueles sonhos tão incômodos. Eu queria me afastar o máximo possível de tudo aquilo, e assim, quem sabe, esquecer por completo os Cullen e Jacob. Tarefa árdua, eu sei, mas não pode haver outro jeito. Eu já devo correr perigo demais só em já saber de tudo, então eu não quero aumentar as chances de me encrencar e encrencar meu pai continuando amiga daqueles seres sobrenaturais. Seres sobrenaturais que eu amo. Ok. Eu não posso me dar aio luxo de pensar assim, não posso nem ao menos me importar com isso. Eles são parte de um passado.

-Ah, mas que droga! – exclamei indignada com a situação, mas logo coloquei as mãos sobre a boca e torci pra não ter acordado Charlie no quarto ao lado.

Ele não acordou. Me virei na cama e olhei o relógio. Eram 3 da madrugada. Eu ainda não queria dormir, então me levantei e fui tomar um banho quente pra relaxar um pouco. Depois de uns 40 minutos ou mais debaixo do chuveiro eu saí de lá e coloquei um roupão quente e peludo. Me sentei na cama e comecei a ler ‘Em Chamas’, o segundo livro da trilogia Jogos Vorazes, e coloquei os fones e deixei a música tocando no aleatório. Quando eram 5 e meia eu já estava quase na metade do livro, que é envolvente demais pra não devorá-lo assim. Mas algo me chamou atenção na rua. Um som alto de motor velho veio aumentando e uma luz forte fez sombras na minha janela. O som parou do outro lado da rua, então fui até a janela ver o que era. Um caminhão de mudança. Quando uma imagem pequena e esguia desceu do lado do carona da cabine eu logo me toquei que era Renesmee chegando. Depois dela, uma figura mais alta surgiu e passou a mão por seus ombros. Esse devia ser Benjamin, mas pelo que posso ver com a iluminação fraca da rua, ele está mais alto e mais forte do que eu me lembro.

Eles logo entraram, e os carregadores levaram para dentro os poucos itens que eles trouxeram e as malas.

Antes de trancar a porta Renesmee encarou a minha casa, mas acho que ela não me viu da janela. Resisti à minha vontade de ir falar com ela agora mesmo. Resolvi deixar eles descansarem e mais tarde iria até lá dar-lhes boas vindas.

Sentei no meu computador e fui dar uma olhada no meu Facebook, mas não tinha ninguém nem nada interessante lá então logo saí e fiquei vagando por vídeos e sites aleatórios.

Quando meu despertador tocou eu desci e fui comer alguma coisa. Tomei meu café reforçado por causa do tempo que eu já estava acordada. Charlie apareceu na porta me encarou e me perguntou se eu era um zumbi.

-Vai te catar, pai. – eu respondi friamente revirando os olhos pra ele. - Eu não dormi muito bem essa noite.

-Pensei que fosse um zumbi. – ele insistiu.

-Pai, é melhor você parar de ver essas sérias malucas da televisão. – alfinetei.

-Nem vem não, minha filha.

-Então me deixa em paz com minha cara de sono. – dei língua pra ele e saí da cozinha dando-lhe um beijo na bochecha ao passar por ele.

Quando abri meu armário pra escolher minha roupa fui inundada por Alice diante da visão das minhas novas roupas. Tentei ignorar isso ao máximo enquanto vestia uma calça jeans clara e uma camisetinha de alças finas verde. Agora que estava mais claro voltei na janela e observei o tempo. O frio de sempre, então coloquei uma jaqueta de couro e meu All Star velho. Fiz uma maquiagem básica pra disfarçar minha cara e saí mais cedo de casa.

-Querendo ser a primeira a chegar na escola? – perguntou meu pai enquanto eu abria a porta.

-Não, vou passar na casa de Nessie. Ela chegou nessa madrugada.

-E você acha que ela vai estar acordada a essa hora depois da viagem? – meu pai estava certo.

-Okay, okay. – eu disse desanimada enquanto fechava a porta e escorregava na poltrona ao lado do sofá.

-Calma, Bella. Vocês vão ter tempo de sobra pra matarem saudade.

-Estou ansiosa, pai! Não posso? – fingi fazer um pouco de pirraça. Ele me encarou com uma cara de “garota, você tem probleminha” e se virou pra TV com um sorriso.

Puxei meu livro da mochila e li mais um capítulo até dar a hora de ir pra escola. Não.. Espera..

-EU TÔ ATRASADA! – gritei me levantando do sofá ao mesmo tempo que colocava o livro na mochila. – Tchau, pai. Beijo. Amo você! – disse enquanto saía. Entrei no meu caro às pressas e fui o mais rápido possível pra escola. O mais rápido possível não foi o suficiente. Tive que esperar a segunda aula pra entrar sentada no corredor junto à mesa da Inspetora.  Quando o sinal tocou e eu ia entrar em sala a minha turma começou toda a sair.

-Hey, Gata, deixa sua mochila aí e vamos pra quadra. O horário mudou e agora é Educação Física. – disse Mike ao passar por mim.

-Não vou fazer essa aula. – disse resmungando.

-Por que não? – ele me acompanhou pra dentro de sala.

-Porque eu não vim preparada pra isso e eu tô cansada. – pra frase ficar perfeita eu acabei bocejando.

-Má noite?

-Má noite e mau dia ontem.. – disse enquanto me sentava no meu lugar.

-Fiquei sabendo que você saiu com as meninas Cullen.. Algum problema com elas.

-Pra falar a verdade.. Sim. Mas eu não quero falar sobre isso.

-Tudo bem.. Pelo menos você não vai ter que encará-las hoje. – ele disse como quem nada quer.

-Elas não vieram?

-Nenhum dos Cullen. Acho que prolongaram a folguinha. – disse dando de ombros.

-Tanto faz. – eu disse realmente dando de ombros.

-Nossa, quanta indiferença, Bella.. Tem certeza que não quer conversar?

-Tenho sim, obrigada.. – eu sorri e ele sorriu de volta. – Mas mudando de assunto.. As duas próximas aulas são de Educação Física?

-Aham.. Depois temos duas de Química, mas a professora está de licença, então a gente sai depois do intervalo.

-Sério? Eu vou pedir pra ir embora então. Não quero ficar aqui a toa..

-Claro... “Oi, eu sou a Isabella Swan e quero ir embora agora porque não vou fazer Educação Física e não quero ficar a toa.” – Mike disse tentando me imitar e completou - Ai você sorri docemente e a diretora te dá uma advertência.

-Você não tá a fim de me ajudar mesmo, certo? – eu disse implicando.

-Não mesmo. – ele disse rindo enquanto saia pra aula na quadra.

Sozinha na sala eu peguei meu livro na mochila e comecei a ler.

Vários vultos começaram a me rodear e eu não sabia pra onde direcionar a visão. Era muito confuso, eu estava desesperada e não conseguia respirar direito. Foi quando num átimo de segundo as formas impecáveis pararam em círculo à minha volta. Minhas pernas bambas me forçaram a girar e encarar cada um daqueles rostos.

Alice, Jasper, Rosalie, Emmett, Edward, Carlisle e Esme.

Seus olhos ficaram vermelhos e rosnados sedentos saíram de seus lábios que mal pareciam estar abertos, seus corpos se curvaram na minha direção como em uma coreografia ensaiada e suas mãos ficaram como garras, todos eles avançaram lentamente na minha direção até que um uivo gutural os dispersou. Eles não se moveram um passo pra longe de mim, mas antes de se virarem na direção do uivado, eu pude ver que seus olhos voltaram pro tom habitual de dourado. Quando a forma de um grande lobo castanho-avermelhado surgiu algo parecido com mármore me atingiu e levou para longe, para o alto de um rochedo. De lá era possível ver a clareira onde eu estava antes. Os vampiros cercaram o lobo que me olhava. Por me olhar, ele não percebeu o ataque súbito que o acometeu, e enquanto eu tentava correr numa forma desesperada para ajuda-lo as mãos frias e fortes da pequena Alice me mantinham presa ali. Um grito muito agudo e alto saiu da garganta do lobo quando os vampiros o esmagaram na rocha a seu lado. Ao mesmo tempo que ele gritou eu também gritei.

Minhas mãos voaram pros meus ouvidos quando o som persistiu.

-Gente, para! A Bella tá mal! – ouvi Angela dizer e se aproximar de mim.

Eu estava realmente assustada com o que estava fazendo aquele barulho e estava agoniada pelo sonho. Eu estava nervosa e tremendo. Angela tentou retirar as minhas mãos dos meus ouvidos me dizendo que estava tudo bem, mas eu fazia muita força contra ela e me agitava pra que ela se afastasse. Ela colocou as mãos nos meus braços pra me segurar, mas isso só piorou, pois suas mãos estavam frias e eu lembrei de Alice me segurando no sonho. Eu comecei a gritar nervosamente pra que ela me deixasse ir.

-Chamem a enfermeira e mandem ligar pro hospital! – eu ouvi a voz de Lauren gritar.

Houve muita movimentação ao meu redor até que enfermeira chegou e pediu pra que Mike, Tyler e Eric a ajudassem a me carregar. Todos os alunos foram retirados do caminhos e os meninos tiveram que usar todas as forças pra me carregarem enquanto eu lutava pra me manter encolhida e longe de contato.

Eles me deitaram na maca da enfermaria e eu fechei meus olhos com toda força, abracei os joelhos e fiquei falando coisas que nem mesmo eu entendi. Alguns minutos depois meu pai chegou com Carlisle ao seu lado e eu comecei a gritar e me debater.

-ASSASSINO! O QUE VOCÊS FIZERAM COM O JACOB? SAI DE PERTO DE MIM. SOME! – ninguém entendeu nada. Eu fui sedada.

Imagens turvas passaram pela minha mente durante horas e eu não consegui distinguir nada pelo que me pareceram dias.

Em alguns momentos em que eu conseguia abrir os olhos eu via alguns vultos e ouvia vozes ao longe. Meus próprios pensamentos estavam embaçados, e nada fazia sentido. Eu só sabia que eu estava em alguma ala especial do hospital.

Às vezes eu sentia uma mão acariciando minha cabeça, e outras massageando minhas pernas e braços. Uma voz doce às vezes cantava coisas delicadas perto dos meus ouvidos, e uma voz masculina e diferente vinha frequentemente avisar a alguém sobre meu estado.

Eu passei muito tempo dormindo. Ou pelo menos eu acho que sim.