Já que insistiram em me deixar com babá hoje, eu resolvi abusar.

-Jacob! Se é pra cuidar de mim, vai arrumar um café da manhã no capricho enquanto eu tomo meu banho. – eu disse com ar de autoridade.

-Como é que é!? – ele disse se fingindo ofendido.

-É isso mesmo que você ouviu. Vai logo.. Ou vai querer que eu me estresse?

-Melhor não arriscar, né? Já estou indo providenciar algo, senhorita. – ele disse rindo e indo pra cozinha. Eu subi pra tomar meu banho. Quando terminei coloquei um short e um moletom do Mickey, prendi meu cabelo de qualquer jeito e desci.. Quando entrei na cozinha eu não acreditei no que vi.

Jacob sentado numa das cadeiras da mesa, uma tigela de sucrilhos e leite na frente dele, uma vela acesa, uma flor ao lado da vela, e uma outra tigela de sucrilhos e leite, (que era a minha). Eu fiquei parada na porta olhando aquilo sem acreditar que Jacob podia ser tão palhaço. Quando eu finalmente me sentei à mesa Jacob se manifestou.

-Satisfeita? – Ele caçoou.

-Olha, o dia que um restaurante chique começar a servir café da manhã, e o café da manhã caprichado for esse, eu te respondo, pode ser? – Eu disse séria. Nós acabamos rindo.

Tomamos o café em silêncio.

-Sabe, até que não foi tão mal assim.. O melhor café da manhã feito pelo melhor amigo. – eu disse quando tirei nossas tigelas da mesa, e as coloquei na pia. Eu ia lavar a louça, mas Jake não deixou.

-Depois eu lavo isso, Bells. Vamos ver um filme.

-Claro! Tudo pra me livrar da louça de vez em quando. – Eu disse. Jacob resmungou qualquer coisa e nós rimos.

Me sentei no sofá enquanto ele ligava a TV e o DVD. Ele começou a olhar a prateleira de filmes.

-CARACA! VOCÊS TEM ESSE FILME!!!!! – eu quase pulei de susto quando ele gritou.

-Jacob, seu retardado! Não me assusta assim!

-Ah, desculpa, Bellinha. Eu não consegui me conter.. – Ele disse fazendo cara de cachorro sem dono.

-Tudo bem, mas qual o filme afinal?

- Bolt! O SuperCão! – ele exclamou com os olhos brilhando.

-Que filme é esse, Jacob?

-Cara, a gente assistia isso todo final de semana, Bells. – Ele disse um pouco decepcionado.

-Jacob, você me obrigava a assistir essa porcaria... – eu falei friamente, enquanto me lembrava, e cruzava os braços.

-Aah Bellinha, no fundo você ama esse filme, admite, vai! Vamos ver de novo? Matar a saudade dos velhos tempos!

-Como tu consegue ser tão criança, Jacob? Larga disso e pega um filme decente antes que eu te coloque pra fora daqui a vassouradas! – Ops, era pra eu ter só pensado isso.. Vixe..

-Caramba, não é pra tanto... – ele se ofendeu de verdade. Até porque eu fui sincera com minhas palavras..

-Ah, Jake, desculpa.. Eu não queria te magoar.. Foi sem querer.

-Tá bom, Bella. Deixa pra lá. Vou procurar um filme melhor. – Ele tava chateado de verdade! Ai, eu sou horrível de vez em quando..

-Jake, não fica assim. Você sabe que eu não fiz por mal. – e eu sei que ele não vai dar o braço a torcer e a tarde vai ser horrível. – Desculpa, por favor? – só falta eu me ajoelhar.

-Tá, Bella. – ele disse secamente. Mas que chato!

-Jacob... – eu me abaixei perto dele do lado da TV. – Desculpa a minha idiotice, por favor. Você sabe que eu não gosto de ficar assim com você. E isso não vai me fazer bem. – agora eu que estava com cara de cachorro abandonado.

-Tá certo, Bella. Mas só dessa vez e por causa da sua saúde. – Ele disse sorrindo um pouco.

-Obrigada!!! – eu gritei abraçando o pescoço dele. Ainda era estranho sentir o calor dele.

-De nada!!! – Ele me imitou – Agora me ajude a escolher um filme que preste. – disse fazendo careta.

Procuramos mais um pouco e Jacob me mostrou uma capa branca onde estava escrito “Ação” na letra do Charlie. Resolvemos assistir esse. Eu e Jake deitamos juntos no sofá. Mas nos primeiros 40 minutos de filme eu caí no sono. Além do filme não ter ação nenhuma era muito chato. O filme acabou com um barulho super alto que me acordou. Eu estava com o rosto no peito de Jacob, o queixo dele apoiado no alto da minha cabeça e seus braços segurando meu corpo junto dele pela cintura. Ele percebeu meu susto e passou uma mão pelas minhas costas até minha cabeça e ficou fazendo carinho sem nada dizer.

-Viu o filme todo? – eu sussurrei ainda sonolenta depois de uns minutos.

-Sim... E você fez bem em dormir. É muito ruim esse filme. – ele riu baixinho – Na verdade fiquei boa parte do filme olhando você dormir. Parecia um anjo. – eu senti meu rosto corar e agradeci por ele não estar olhando agora. Agradeci em vão. Ele sabia que eu coraria, e afastou um pouco o rosto de forma que conseguisse me olhar. Eu coloquei as mãos no rosto, mas ele as afastou e puxou meu rosto pra direção do dele. Ficamos muito próximos, e eu podia sentir seu hálito quente enquanto ele falava.- Você fica ainda mais linda com o rosto corado, não precisa esconder. – Ele beijou minha testa e eu me escondi em seu pescoço.

Me senti tão bem ali. Eu queria estar ali pra sempre, na segurança do abraço dele, no calor dele. Mas que egoísmo!! Eu nem sequer posso querer isso. Isso pra ele teria um significado totalmente diferente, e eu não posso infligir isso a ele. Ele é meu melhor amigo, e eu preciso dele assim. E eu preciso me lembrar que um dia ele não vai ser mais o MEU Jacob. Logo que ele desistir de estar apaixonado por alguém que não pode o amar como ele merece. Era ruim pensar isso. De alguma forma eu não quero que exista alguém na vida dele, porque eu tenho medo de que ela seja uma idiota e o faça sofrer de algum jeito. Eu não posso admitir isso. Olha eu sendo egoísta de novo. Egoísta e hipócrita, afinal, eu mesma o faço sofrer por vê-lo como amigo.

Eu bufei baixinho comigo mesma, mas óbvio que ele percebeu.

-O que foi, Bellinha?

-Nada, Jake.. Estava pensando em algumas coisas.. Nada demais. – essa é uma mentira aceitável, certo?

-VOCÊ? PENSANDO?? – ele ironizou.

-Jacob Black, deixa de ser palhaço! – eu disse enquanto me levantava jogando os braços pro alto. Fiz minha cara de “Jacob corre” antes de começar a rir. Ele passou por cima do sofá e ficou me encarando. Começamos a rir e eu saí correndo atrás dele. Ele passou pela cozinha e saiu pela porta dos fundos. Fui atrás dele e como quando erámos crianças ficamos correndo pelo quintal. Rindo igual dois malucos. Até que ele parou bruscamente e eu o empurrei sem querer em cima da pilha de folhas que tinha atrás da casa. Eu caí em cima dele, com os cabelos jogados no rosto dele. Ele ria embaixo de mim. Quando levantei o rosto pra olhar pra ele, ele segurou meu rosto e ficou sério. Ele puxava meu rosto delicadamente pra mais perto do dele. Eu não entendi muito bem o que ele queria no início, mas logo percebi que ele queria me beijar. Por um momento eu quis também, mas eu me lembrei do que estava pensando quando estávamos deitados no sofá. Eu não podia. Nós estávamos muito próximos, nossos lábios se tocaram, e eu tive que virar o rosto bruscamente. Ele beijou minha bochecha e suspirou. Soltou meu rosto e eu rolei, me deitando ao lado dele.

-Me desculpa. – eu disse,

-Por que você está pedindo desculpa? – havia um misto de raiva e decepção na voz dele.

-Acho que... – eu não podia terminar essa frase. Eu não podia, mas eu precisava. - ... por não te amar como você me ama, Jacob.

-Você não tem que se desculpar por isso. Eu que tenho que me desculpar por essa atitude idiota. Eu devia saber que você ia reagir assim.

-Eu..  não sei o que dizer, Jacob. – e eu não sabia mesmo!

-Só me desculpe. – Ele disse triste.

-Tudo bem, Jake. – eu me sentei e segurei as mãos dele. – não se martirize pelo que você sente. Eu não te condeno de forma alguma pelo que acaba de acontecer. E eu só preciso que você fique bem. Porque de alguma forma a minha alegria depende da sua, Jacob. Eu preciso teu sorriso pra iluminar meu céu. Preciso da tua risada pra que a música faça sentido. Preciso da tua mão na minha pra saber que eu posso caminhar sem medo de cair, e se eu cair, pelo menos vou saber que você está me segurando, Jake, e me ajudando a levantar. Eu sei que isso é meio piegas, mas é essa a minha forma de te amar. É minha forma de precisar de você. Ela não deixa de ser errada, mas é pura e sincera, Jacob. Me desculpe por não poder mudar isso. – ele já estava sentado quando eu terminei de me olhar. Ele me olhava confuso quando soltou minha mão e foi embora.

Eu fiquei ali sentada sem reação. Eu não podia prendê-lo ao meu egoísmo idiota.. Mas que droga! Isso com certeza foi demais pra ele.. Ele não vai mais voltar.

Como eu pude?