-O que fizemos foi errado falei, já longe dela.

-Você acha mesmo?

-Você não?

Mariana ficou em silêncio,

-Olha, agente tem que pedir desculpas a eles - opinei.

-Tá bom, mas olha só...

-O que?

-Eu to com fome.

Começamos a rir.

-Tá bom. Vamos lá, agente compra um CheeseBurger e vai procurá-los, tudo bem?

-Tá bem.

Me levantei e estendi a mão para ela.

Mariana pegou minha mão e levantou.

Atravessamos a rua e entramos no Bob's. Pedimos os dois um cheeseburgers e um milk shake. Fomos comendo enquanto andávamos.

No caminho conversamos sobre a nossa vida antes de 3159.

-Era tudo meio louco né? Agente parecia duas criancinhas de 5 anos.

Mariana riu.

-É. Agente só pagava mico.

Rimos juntos, lembrando algumas coisas. Como o dia em que eu tropecei no degrau do ônibus e caí de quatro. E quando Mariana gritou no meio da sala de aula por causa de uma mensagem que recebeu no celular. Tudo bem, não é tão grave, mas era o primeiro dia de aula no primeiro ano lá no IEBSO.

-Era bem divertido.

-Era.

-Não me lembro mais o que tinha naquela mensagem.

-Sabe que nem eu?

Eu ri.

-Olha, o que houve lá na frente...

-Não. Não foi culpa sua. - disse ela.

-Foi sim. Quer dizer, eu que te avancei.

-Mas não teria acontecido se eu não tivesse começado a chorar.

-Ah, para de se culpar.

-Mas...

-Mas nada. A gente só tem que esquecer. Foi um erro.

-E se não foi?

-O que?

-E se não foi um erro. E se eu ainda gostar de você. E se... Se você ainda gostar de mim.

-Você ainda gosta de mim?

Ela amassou o papel em que segurava o cheeseburger e jogou numa lixeira que ficava próxima a ela.

-Eu não sei - disse ela, de cabeça baixa.

Eu fiz o mesmo que ela e terminei meu milkshake.

-Essas confusões ficam nas nossas cabeças, mas depois tudo passa. Você tá com o Rafael e eu com a Talita. Aconteceu. Se tiver que der certo vai dar. Se não... bom... Agente pode conversar sobre o passado de novo.

Mariana olhou para mim e sorriu. Agente se abraçou.

-Olha, vou encontrar minha mãe pra gente ir comprar alguma coisa.

-Alguma coisa?

-É, minha mãe gosta dessas compras improvisadas.

-Tá bem eu disse a ela, rindo. - Vai lá. Amanhã agente conversa com eles.

-Tchau.

Mariana me deu um beijo na bochecha, deu as costas e caminhou de volta para o centro.

No caminho de casa vi um coisa curiosa.

Numa banca de jornais que estava fechando vi um jornal que dizia o seguinte:

No lago em que foi descoberto o corpo de Cátia Martins, à dois meses atrás, foi encontrado também, nessa semana, outro corpo.

O corpo identifica-se como Marcos Laércio. A família do ex-delegado relatara o seu desaparecimento no mês de maio.

A causa da morte ainda não foi esclarecida. Mas, igualmente à Cátia, o corpo de Marcos continha os números 3159 tatuados na nuca.

A polícia ainda não tem suspeitos mas a investigação no lago continuará.

Abaixo do texto havia uma foto. Eu estendi minha mão para pegar o jornal mas o jornaleiro me interrompeu.

-Estou fechando, garoto. Volte amanhã.

-Mas eu só quero...

-Amanhã - disse ele apontando para o fora da banca.

Eu obedeci e saí.

Voltando ao meu caminho para casa. Saindo do centro da cidade cheguei perto de um beco. Outro beco. Já estava ficando fóbico. Por dentro dele ouvi um choro lamentoso. Era uma garota.

Eu segui o choro até chegar nele. Tinha uma garota encapuzada e com luvas sentada em telhas velhas que estavam enfileiradas até a altura da minha canela. Na mão da garota havia uma arma. Fui chegando perto, e mais perto.

-Julia, é você?

A garota olhou pra mim. Haviam lágrimas nos seus olhos castanhos escuros e fios de cabelos negros espalhado pelo rosto.

-Talita?