Skyfall escrita por Fitten


Capítulo 29
Capítulo 30 - Antes que você já embora (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Oi amores da minha vida! Como vão? Ok... Sem enrolação. Eu quero agradecer pelas 3 recomendações com 24 leitoras, nossa! Tenho que admitir que escrever Skyfall me desanima até pelo fato que eu tenho mais leitoras em You Belong With Me (70) e Pizza Girl (56), mas eu amo escrever essa história... Enfim muito obrigado mesmo. Se vocês estiverem gostando divulguem, comentem, indiquem... Claro se acharem que eu mereço. Temos um POV Alec... Espero que gostem.



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POV Alec

Será que eu conseguiria dizer a ela? Será que eu seria capaz de lhe explicar todas as partes podres de minha vida de uma forma que ela não sentisse nojo de mim?

As coisas que vi, as coisas que fiz... Tudo em que acreditei, tudo pelo que lutei ao lado de minha irmã... Mentiras.

Toda minha vida, humana e imortal foi apenas um conto de horror. Sangue, morte, ódio, ganância, e o imenso vazio impreenchível que me acompanhou por todos os momentos, desde o menino fraco e miserável daquele vilarejo longínquo até o vampiro letal, a máquina de morte e destruição imperecível que Aro criou.

Eu não poderia culpá-la por não entender, por não acreditar, era difícil até mesmo para mim crer em tudo que eu estava sentindo, em tudo que eu estava disposto a fazer por ela, para ela. Mas eu queria tanto que ela acreditasse...

O gosto dela ainda estava em minha boca, como se nunca mais fosse se dissipar. O cheiro dela grudou em mim com garras que me rasgavam ao meio toda vez que eu era obrigado a ficar longe dela, e todos esses sentimentos confusos e intensos se misturavam em mim de uma forma que eu jamais julguei poder sentir um dia, não depois de tanto tempo. A pele dela junto a minha, os braços delicados e macios rodeando meus ombros como um manto de calor intenso e surreal, eu não conhecia nada daquilo. Nunca conheci nada como essa sensação, sentia-me embriagado por ela. E quando aqueles olhos grandes e tão perturbadoramente humanos me encaravam, eu sentia que ela podia alcançar minha alma. Ela mexera em algo há muito esquecido dentro de mim, algo que nunca sequer foi acordado, e agora eu me sentia com essa ansiedade constante, essa vontade insaciável de estar com ela, de vê-la, de observá-la enquanto ela trançava os cabelos acobreados, o rosto perdido num mistério que me apavorada e me tragava como o olho de um furacão. Eu estava no centro, perdido na órbita, flutuando em meio ao caos, e eu só pensava nela, só nela...

O que era isso meu bom Deus? Que coisa era essa que não me foi explicada em três séculos de imortalidade? E eu que pensava já ter visto e conhecido todas as coisas... Tampouco havia uma língua existente nesse planeta que fosse capaz de explicar esse desespero por alguém que até então me era indiferente. E então o que eu faria? O que eu faria com tudo isso que se revirava dentro de mim como cobras vivas?

Em todas as opções que cogitei apenas uma me foi insuportável, apenas uma foi rejeitada quase que imediatamente: Perdê-la.

Já abri mão de inúmeras coisas em minha vida, coisas das quais nem me lembro, coisas que não pesaram em minha mente nem torturaram meu coração morto. Mas ela... Por que eu não conseguia abrir mão dela? Por que eu não conseguia deixá-la ir? Eu estava agindo pior que Aro, aprisionando-a em meu coração com toda força e desespero que eu jamais experimentara nem em vida nem em morte. E a cada vez que eu olhava para ela, cada vez que a via chorando daquele modo furtivo e ultrajado dela, cada vez que a via tentando conter aquele sofrimento mudo dentro dela, eu sentia que ficava mais longe, cada vez mais distante do coração dela, por que ele estava no lado oposto ao meu. O coração dela pertencia a um lugar que não me incluía, onde não havia espaço para mim, onde eu e as lembranças soturnas dos dias em que ela esteve ao meu lado seríamos apenas pesadelos que ela esqueceria. Por que essa sempre foi minha condição, um pesadelo.

E mesmo assim eu estava aqui, lutando como um condenado, arrastando-a comigo até o fundo do poço ao qual pertenço. Mesmo derrotado eu ainda lutava, mesmo no chão eu ainda me arrastava na direção dela como uma cobra com a cabeça esmagada, rastejando sofregamente em direção ao calor. Se eu fosse um homem digno, eu não teria nem ao menos cogitado a idéia de tê-la, não teria permitido que ela me tocasse como me tocou, não teria permitido meu coração ressuscitar, enlouquecido por um par de olhos que nunca encontrara antes.

Se eu fosse um homem digno...

Mas tudo que eu era se resumia em uma criatura egoísta e fria, e agora eu a queria como jamais quis nada em tantos anos inutilmente vividos e desperdiçados. Agora eu a conduzia pela escuridão gelada desse labirinto que têm sido meu lar por três séculos, tentando encontrar as palavras certas para dizer a ela: fique comigo, por favor. Me ame como eu a amo, me escolha como eu a escolhi. Mas tais palavras simplesmente não existem em mim. Há apenas a idéia delas, o sentido, o significado, mas eu jamais seria capaz de retirá-las desse coração imóvel e empoeirado, essa é uma língua que não domino. Mas o quê então? O quê eu pretendia fazer? Mostrar a ela as quinquilharias materiais e sentimentais que amontoei durante todos esses anos e esperar que ela se compadeça de mim? Afinal, que idéia estúpida era essa?

Por um momento eu quase parei, quase desisti, mas uma força estranha conduziu meus pés quando a covardia ameaçou tomar meu coração, e eu compreendi algo que até então estava encoberto dentro de mim por uma grossa camada de medo que neguei por toda minha vida. Pela primeira vez desde sempre, eu desejei que alguém me conhecesse que alguém de carne e osso conhecesse minha história, minha vida, minhas batalhas, minhas tragédias e até mesmo minhas vergonhas. Eu senti no cerne de meus ossos um desejo irreprimível de ser tocado, de ser amado e conhecido, de romper o lacre que selava dentro de mim todas as coisas das quais eu era feito. As coisas feias e as bonitas, meus defeitos, meus quase extintos valores, minhas poucas virtudes. Eu queria tanto que doía. Talvez por que, lá no fundo eu já soubesse que essa minha última batalha estava perdida, assim como eu havia me perdido desde aquela maldita noite em que a tirei daquela casa. Agora, na minha mente, eu via um relógio acelerado, marcando os últimos momentos que eu teria com ela antes de vê-la partir para o mais longe de mim que ela pudesse chegar. E eu a ajudaria, por que nada era mais importante pra mim do que ela, mesmo custando o último quinhão de algo bom que eu ainda mantinha dentro de mim.

E o quê eu faria quando ela me rejeitasse mais uma vez? A última vez? O que eu faria com os cacos aos quais eu estaria reduzido? Voltaria para Aro? Voltaria a matar por ele, pela lei?

Não.

Disso nem Jane poderia me persuadir.

Eu seria morto se não houvesse outra escolha, mas eu levaria o maior número de Volturis que minhas mãos rígidas conseguissem alcançar, era uma promessa, não para Nessie nem para o prepotente do Willian e nosso pequeno bando anarquista, era uma promessa para mim, Alec. E eu cumpriria essa promessa, eu precisava provar para mim mesmo que eu ainda era um homem em alguma parte remota dessa mente imortal.

– Alec. – A voz dela me arrancou de meus pensamentos com a suavidade de uma brisa, a voz clara e firme soou temerosa na escuridão dos corredores de pedra que eu já conhecia tão bem. Olhei para ela, temendo ver aqueles olhos apreensivos que me fitavam com uma piedade que me cortava mais fundo que um machado cego.

– Já estamos chegando. – Me apressei em dizer, apertando o passo na extensão monótona do corredor que levava diretamente a meus aposentos, no último patamar da ala sul. Observei-a pelo canto dos olhos, temeroso de que ela desistisse, que me deixasse plantado ali no meio da escuridão com minhas esperanças vãs.

Ela parou, e por um segundo eu senti que meu coração voltou à vida apenas para pausar novamente, deixando um silêncio agourento pairar entre eu e ela, entre eu e meu desespero mudo.

– Alec. – Ela sussurrou, e mesmo de costas eu pude sentir o peso das palavras dela, o enorme peso que dizia sempre a mesma coisa quando ela dizia meu nome, quando me chamava daquele jeito, como se ela se desculpasse em cada olhar, em cada gesto cadenciado.

Eu esperei de costas, reunindo forças e coragem para encarar aqueles olhos suplicantes, me torturando com todo aquele pesar, toda aquela culpa.

– Eu... Eu não posso... – Ela suspirou, a voz grave alertando meus ouvidos para o que viria. Percebi que ela tinha se firmado em alguma concessão silenciosa enquanto eu lutava contra o tempo e contra os fatos. Temi por aquela convicção que tingia as poucas palavras que ela me dirigiu de uma cor tão negra quanto as paredes que nos cercavam do chão ao teto.

– Não posso ficar com você, não do jeito que você quer. Nada do que me mostrar ou me dizer vai mudar isso. Desculpe. – Eu deixei aquelas palavras penetrarem em mim, e elas logo alcançaram uma profundidade até então desconhecida por mim. Era como um eco de palavras que já habitavam minha mente há muito tempo, desde o dia em que a levei em meus braços até o avião, cega e surda pelo meu dom das trevas. Àquelas horas com ela, mergulhada no mais profundo e pacífico torpor que eu já me dei o trabalho de proporcionar a alguma alma, mudaram permanentemente algumas pedras soltas que existiam em mim, enfraquecendo de vez os pilares que sustentavam meus frágeis ideais. Desde então ela esteve me sustentando, tomando o lugar de inúmeras coisas que subitamente pareceram meros cacos a meus olhos. Mesmo que em forma de pensamento, de sonho platônico, ela ocupou minha mente, cada vez mais, acelerando em uma freqüência que em poucos dias me deixou fraco diante de um único ideal. Ela entrou sem pedir licença e devastou tudo que já era destroços dentro de mim. Mas agora ela não poderia ficar, não poderia tomar o lugar no grande buraco que ela mesma abriu. Agora ela se desculpava e me deixava aqui, no escuro, num espaço e tempo que não poderia mais me abrigar como outrora fizera. E de que palavras eu me serviria diante de uma mudez de alma? De que lugar vazio eu tiraria uma resposta suficientemente altruísta para lhe fazer se sentir melhor?

Com um desespero gelado eu ouvi os passos dela se afastando de mim. Com uma consciência incrédula e inerte, percebi que eu a estava perdendo mais cedo do que esperava.

Um medo agonizante se solidificou em minha frente como uma muralha de pedra, e uma voz gritou de dentro daquela entidade evanescente diretamente em minha face imóvel. O grito soou apenas em meus ouvidos, mas era como se o castelo todo o tivesse escutado. Virei-me depressa, movido por um desespero completamente novo em minha gama tão pobre de emoções.

– Eu não tenho muitas coisas para lhe dizer. Tenho ainda menos coisas boas das quais eu me orgulhe o suficiente para dividir com você. Trezentos anos não me deram experiências suficientemente proveitáveis, algo de que eu realmente precise ou utilize na vida que levo. Na verdade as coisas mais importantes que aprendi em minha vida foram aprendidas enquanto estive ao seu lado. Coisas que não me foram ditas, coisas que nem ao menos tive tempo de pôr em prática, de provar ou sequer entender de fato. Eu vi você um belo dia e de repente eu sabia de muitas coisas, muitas delas inconscientemente. Mas eu sei que sei, sei por que sinto, e sei que isso é novo por que nunca esteve aqui. – Meu peito arfava como de um humano que percorreu grande distância. Minhas palavras ecoavam nas paredes e eram levadas para todos os lados, reverberando os sons por todo canto inócuo. Ela me ouvia a meio passo, as costas rígidas, os ombros trêmulos. Deixei o restante de aquela dor fluir para fora de mim, incapacitado até o último membro de refrear aquele jorro de fel, jogado para fora de meu corpo como o sangue que verte da ferida aberta.

– Eu sei como vai terminar para mim, e eu estou bem com isso. Eu só queria que você soubesse, que quando eu me imagino feliz... É com você. – Eu sabia, quando terminei de dizer aquelas palavras, que jamais, em nenhum dia remoto esquecido nos confins dos meus longos anos, jamais eu dissera nada mais verdadeiro.

Ela virou-se lentamente, e quando meus olhos alcançaram o perfil delicado, desenhado contra escuridão intransponível, eu pude ver nos olhos dela uma centelha de algo em que tentei rapidamente não me agarrar, mas era inútil dizer a meus novos sentimentos essas coisas sensatas. Era inútil fazê-los entender a complexidade das coisas que estávamos vivendo agora. Minha razão não enxergava nada além dela.

Quando os olhos dela me fitaram, um brilho delicioso me atingiu, e por mais dolorido que eu estivesse naquele momento, eu ainda assim teria desejado iludir-me um pouco mais naquele olhar. As coisas a minha volta ficaram turvas, e dentro de mim misturou-se os sentidos e a percepção das coisas, diluíram-se em minha dor e em minha enorme vontade de tê-la. Minha mente fazia planos, nos imaginava juntos, pregava-me peças, iludia-me traiçoeiramente com imagens claras demais de momentos que jamais tornariam-se reais. Eu estava perdido e só conseguia me importar com ela.

Lentamente, eu observei o rosto dela se transformar, os olhos apagaram-se, o sorriso enrijeceu. Um desespero mudo torceu sua face, era como assistir uma pintura derretendo-se em água, até que apenas o cinza restou e a lividez no rosto dela me arrancou com um solavanco de dentro do meu mundinho de dor e lamentação. As pedras tremiam, o chão ecoava as batidas retumbantes de algo que vinha diretamente para nós. Agucei meus ouvidos para todas as direções, expandi meus sentidos, expeli minha fumaça cinzenta de torpor para além do nosso alcance. Aproximem-se covardes, pois morrerão em minhas mãos, cegos e surdos, e antes que percebam suas cabeças estarão rolando pelo chão desse castelo.

Esperei que viessem, pois lá no fundo eu já sabia do que se tratava, eu esperava por isso ansiosamente. Renesmee encostou-se em mim, costas a costas, eu sentia o calor emanando dela em ondas de ódio, o instinto de sobrevivência que todo imortal possuía tomando o lugar da parte humana e delicada que ela possuía de modo tão harmonioso. Vida e morte em um só corpo de mulher.

Agora, mais sóbreo e atento, eu ouvia vozes em todos os lugares. Falavam junta, de forma rápida e desordenada, mas eu podia ouvi-los com a clareza com que eu ouvia os sinos da catedral soarem durante cada hora do dia.

“Eu a quero aqui... Traga-me a maldita mestiça aqui” Aro, Aro, eu poderia distinguir sua voz a quilômetros de distancia, eu poderia reconhecê-la dentre mil vozes distintas, ainda mais quando estava gritando tão descontroladamente. As ordens dele reverberavam pelas paredes como se estas fossem veias pulsantes, pertencentes ao próprio corpo de Aro. Ele trovejava pelos quatro cantos, enfurecido, ensandecido, amedrontado... O que esse maldito queria agora? Bem, eu não ia esperar para descobrir...


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