–Belo tapa! - diz a tal da Lucy .

Me afasto da Hermione e vou em direção a porta. Não acredito que essa garota me bateu. Um turbilhão de pensamentos passa pela minha cabeça. Tenho vontade de pega-la pelo braço e beija-la , exatamente como eu fazia com as meninas que se fingem de difícil. Mas com a Mione é diferente, eu não quero ter que força ela. Quero que ela simplesmente me queira e anseie pelo meu beijo.

Prefiro ir embora e esperar que ela venha me pedir desculpas.

***

É angustiante a minha incapacidade de dormir em finais de semana. Hoje é domingo e aqui estou eu, as cinco horas da madrugada acordada . Daria tudo para dormir até uma hora da tarde, mas parece que isso é impossível. Depois de rolar na cama e tentar de todas as formas , me rendo .

O vento frio bate forte no meu rosto e faz com que meu rabo de cavalo escorregue para fora do prendedor. Correr no frio é bem difícil , mas é melhor do que ficar rolando na cama. Pego os fones do meu ipod e tento me perder na música para que o vento não seja um problema . As ruas extremamente vazias me permitem notar a beleza da cidade. Ontem teve um pouco de neve e o bosque ao redor da estrada que leva para a praia está perfeitamente branco e extremamente bonito.

A musica em meus ouvidos combina perfeitamente com os longos passos da minha corrida. Resolvo parar um pouco para descansar e noto que já estou na praia. Os troncos que ficam na areia estão brancos de tanto gelo e combinam perfeitamente com o mar escuro, daria uma bela pintura.

Sento-me na areia perto do mar e tiro meus fones para que possa ouvir o som aconchegante das ondas batendo. Fico parada assistindo ao mar por um curto período. O vento começa a me deixar com frio e sou obrigada a fechar meu casaco até a altura do queixo. A areia não é mais tão confortável e minhas pernas começam a formigar. Observar a praia não é mais tão agradável por causo do frio então prefiro refazer meu caminho de volta.

***

Estava voltando da clareira quando notei que havia alguém sentado ao longe na praia. Pensei que eu era o único que andava as seis da manhã. Quando me aproximei notei que não era um alguém qualquer. Era uma pessoa de cabelos ruivos alaranjados. Um cabelo tão bonito que se misturava nos tons da neve e do mar com uma harmonia assustadoramente perfeita , como se fizesse parte da paisagem. Percebi logo que a dona desse exótico cabelo era a minha parceira de laboratório. A menina que havia me dado um tapa. A menina que apenas com um selinho conseguiu dominar meu pensamento por inteiro. A Hermione Dobrey

Apressei meu passo para que ela pudesse me ver. Botei meus fones e fingi que não havia a notado. Ela deve vir até mim e me pedir desculpas.

Ela olhou para mim mas ao invés de vir falar comigo ela recolocou os fones e começou a correr.

–Dobrey! - eu havia ficado tanto tempo sem falar que a palavra queimou minha garganta ao fazer seu caminho para fora. O som saiu baixo e abafado , ela nunca iria me escutar.

Preferi correr atras dela e consegui alcança-la rapidamente. Mas chegar perto dela me deixou sem saber o que fazer. Ela é quem tem que me querer, ela tem que correr atras de mim e não ao contrario.

–Hoffman! - ela falou ao sentir minha presença. - Você está me seguindo ?

Ela tirou seus fones mas não parou de correr.

–Claro que não , Dobrey.- falei com uma voz ainda rouca.- Estou apenas fazendo minha corrida matinal.

– O bosque faz parte do seu plano de corrida ?

–Claro! - menti.- O bosque na neve é realmente bonito e reconfortante, é bom correr por aqui.

Ela parou repentinamente me fazendo parar um pouco distante. Ela ficou lá parada e eu não queria ir até ela, mas minhas pernas pareciam andar sozinhas.

– Você se machucou ?

–Não , eu achei ter visto…- ela balançou a cabeça em negativo e olhou para mim. - Deixa pra lá.

– Um lobo ? - perguntei ao voltar para a corrida.

–Acho que sim.

–É comum. Alguns dos morados do meu condomínio tem lobos como animais de estimação e eles os deixam soltos por ai.

Ela ficou em silencio e continuou correndo. Eu resolvi deixa-la sozinha e me virei e voltei para o caminho da minha casa. Essa garota não me quer, e eu só estou parecendo um mariquinha . Desisto dela, desisto.

***

Cheguei em casa e James e Lucy já estavam sentados tomando o café. Eles olharam pra mim assustados como se eu fosse um fantasma.

–Onde você estava mocinha? - James tentou parecer responsável.

–Correndo.

–Achei que fosse dormir até de tarde, Mione. - Lucy disse sem tirar os olhos de seu prato de ovos e baicon .

– Vou tomar um banho. Que horas você vai abrir o restaurante ,Lucy? - perguntei quando estava no meio da escada.

– As nove da manhã.

***

Tirei minha roupa da corrida e entrei na banheira cheia de água quente. Meu corpo estava frio e o contato com a água ardeu minha pele. Depois de um tempo na água afundei minha cabeça e fiquei embaixo da água pelo máximo de tempo que consegui. Foi nesse momento que me lembrei do Tom . Fiquei com tanto medo do lobo que quis sair de lá o mais rápido possível e acabei esquecendo do Thomas. Eu devia ter pedido desculpas pelo tapa, mas não seria certo. Algo dentro de mim sente medo dele, medo do sentimento confuso que ele me causa. Talvez eu esteja ficando maluca, talvez esteja sendo protetora demais. De qualquer maneira, ele não pode simplesmente chegar na minha casa e sugerir que vai "me comer" . Ele nem sequer tem o direito de sair me beijando, imagine sugerir coisas desse tipo. Ele mereceu aquele tapa. Por falar em beijando, depois que ele me deu aquele selinho eu não paro de pensar nos seu lábios, o superior fino e o inferior grosso, estavam num tom levemente avermelhado hoje e olhar para eles me fez lembrar de morangos. Eu amo morangos e daria tudo pra poder provar os lábios dele, novamente.

Terminei meu banho e desci para me encontrar com a Lucy. Mas quando eu entro na sala tenho uma surpresa que me deixou com náuseas e dor no estômago. No sófa encontram-se a Lucy e o Ryan. A Lucy no colo do Ryan e com a saia quase no peito mostrando toda a sua calcinha e o Ryan sem camisa . Ambos tinham a língua na boca do outro.

–Mas que merda é essa ?