Estava andando pelo corredor do primeiro andar. Eu tinha acordado atrasada, e já passava da hora da primeira aula. Mas eu não tinha problemas com isso. Sorri, enquanto apertava o medalhão preso a uma corrente, no meu pescoço. Continuei andando, até estar ciente de que estava sozinha e poderia usá-lo sem intromissões.  Doce ilusão. Senti-me sendo puxada para dentro de uma sala vazia, escura e suja. Quis gritar, mas mãos grandes e macias cobriram minha boca.

- Está atrasada, Lily. Não vai entrar na aula de poções. – suas mãos continuavam na minha boca, e minha visão estava completamente turva pela escuridão. Mas eu sabia exatamente quem era. – Cinco anos por aqui e ainda não aprendeu? – ele me soltou. Bufei.

- Você precisa parar com isso, Potter. As pessoas podem achar que somos amigos.- disse ríspida.

- E nós não somos? – ele me empurrou para a parede e me deixou encurralada.

- Saia da minha frente. Ou...

- Ou o quê? – mesmo na escuridão podia ver suas sobrancelhas erguidas.

- Ou...eu grito.

- Tente. – ele riu debochado.

Abri minha boca para gritar, mas como se tivesse adivinhado, James selou o espaço entre nós com um beijo. Ok, eu até admito que ele beija bem. Mas é o Potter! Qual é! Enfim, eu mordi o lábio dele.

- Aaai! – ele gritou - Ficou louca?

-  Cinco anos por aqui e ainda não aprendeu?- repeti. Saí da sala sorrindo orgulhosa. Ele não tentaria de novo.

Parei do lado de fora da sala e tirei o medalhão. Era um vira tempo, a salvação de todos os meus dias. Ganhei do professor Slughorn no primeiro ano em Hogwarts. Eu nunca conseguia chegar no horário na aula dele. Bem, até hoje não consigo.

Segurei o vira tempo. Meia volta devia ser o bastante. Mas quando ia virar, James apareceu e o pegou da minha mão.

- Não James! Devolva-me!

- Não. – ele sorriu cinicamente – Sempre tive vontade de usar um desses.

- Mas você não sabe usar! É perigoso!

- Nada é perigoso comigo, ruiva.

- Você é um idiota.

- Não me chame de idiota.

- Ok. – revirei os olhos –  Agora me devolva o vira tempo, ser desprovido de inteligência.

- Eu já disse que sempre tive vontade de usar, baixinha irritante. – ele disse e eu bufei.

- Eu te avisei. Se algo acontecer, saiba que a culpa é única e exclusivamente sua. – ameacei. Eu duvidava que ele fosse assim tão idiota para dar mais que meia volta. Mas nada é impossível neste mundo. – James? O que você está fazendo? Não! Quantas voltas você deu? Merlim! Estamos ferrados. – eu disse assim que vi tudo ao redor de nós girar.

- Sei lá, umas 20 voltas. – ele disse preocupado. – É muito ruim? – eu não tive tempo de responder. Vi uma luz branca muito forte sendo formada atrás de James e senti o chão tremer.

Fechei os olhos. Meu estômago revirou e parecia que sairia voando a qualquer momento. Eu não conseguia falar. Depois de alguns minutos, abri meus olhos com cuidado para ver o que James havia feito conosco.

Ele estava sorrindo maroto para mim. Olhei ao redor de nós, e nada. Não tinha acontecido nada! Mas ele disse que tinha dado 20 voltas!

- Eu disse que nada é perigoso comigo, Lily. Viu? Não aconteceu nada.

- Mas você deu 20 voltas! E eu senti o chão tremer!

-  20 ou mais. Não contei direito. Enfim, será que não está quebrado? – ele passou o vira tempo para mim.

- É claro que não! Eu usei ontem! Tem certeza que virou direito?

- Não, não tenho. Sou um ser desprovido de inteligência, lembra? – ele piscou para mim.  Bufei.

- Tanto faz. Vou guardá-lo em um lugar seguro até ter certeza que não tem nada errado com ele.

- Quer companhia? – ele sorriu malicioso.

- Só porque tivemos uma conversa quase civilizada, não quer dizer que quero continuá-la, Potter. – virei para ir embora, mas ele postou-se à minha frente.

- Eu não estava falando de continuar a conversa, lírio.

- Se eu não quero conversar com você, é meio obvio que não quero nada a mais, também. – falei seca e segui para a torre da Grifinória.

Subi as escadas e passei por corredores quase vazios. Cheguei ao quadro da mulher gorda, disse a senha e entrei. O salão comunal estava vazio. Joguei-me no sofá e suspirei. Não adiantava voltar para a aula do Slughorn, ele não me deixaria entrar tão atrasada. E nem morta eu usaria o vira tempo novamente. E se ele me mandasse para, sei lá, a Idade Média? O acontecido a pouco não dera em nada, mas de jeito algum eu me arriscaria novamente. Levantei a muito custo do sofá e subi para o dormitório.

Eu precisava de um lugar para guardá-lo. Abri a minha parte do armário e achei uma caixinha de madeira pequena. Não me lembrava dela. Estranho. Talvez as meninas tivessem colocado lá por engano. Retirei-a  e coloquei sobre a mesinha de cabeceira. Continuei procurando outro lugar para o medalhão, até que vi uma luz rosada sair de dentro da caixinha  e iluminar todo o quarto. Era como se estivesse tentando chamar a minha atenção. Lílian Evans e sua curiosidade incontrolável. Eu tive que abri-la.

Não havia nada mais dentro dela, exceto por um pergaminho pequeno e  dobrado. Abri.

 Ainda não era o momento. Mas logo será.

Era tudo o que dizia. Possuía uma letra redondinha e desenhada. Procurei na mente por qualquer vestígio de uma letra ao menos parecida com aquela, mas não achei. Não era da Marlene ou da Vanessa. Muito menos, de James , Sirius ou Remo. A letra de Peter, era ilegível.

Era estranho, mas não parecia ter sido feita há muito tempo. Na verdade, pelo cheiro de tinta fresca, eu podia julgar que quem tinha escrito,o havia feito há poucos minutos. Mas, não tinha como alguém ter subido a pouco tempo no dormitório, e saído sem que eu visse. Eu estava no salão comunal. A menos que...ainda estivesse aqui. Senti o impacto na cabeça e a luz apagou-se.