Quando eu era pequena, uma borboletinha pousava na janela do meu quarto. Ela era de um azul forte e bonito, tinha asas enormes. Ela era linda, tão linda que a chamei de Felicidade. Quando ela vinha, pela manhã, meus dias eram bons, quentes, dava até gosto de viver. Ela costurava um sorriso no meu rosto, que não saía nem se que quisesse. Quando a noite caía e eu tinha que ir para a cama, Felicidade esperava eu dormir, para depois ir embora. Às vezes, nem me deixava dormir direito. E foi assim, todo santo dia, até eu crescer.

Um dia, me apaixonei por um homem. Alto, de cabelos escuros e olhos castanhos. Contei a ele sobre a Felicidade, até mostrei-a a ele, e ele, como se esperava, gostou muito dela. Gostou tanto, que a colocou em uma caixa e guardou para ele, dizendo-me que eu poderia vê-la, mas apenas quando estivéssemos juntos. Desde então meus dias foram cheios de angustia. Eu ficava esperando a Felicidade pousar na minha janela, toda manhã... Ela não vinha. Então eu ligava pra ele, pedia pra sair com ele. Só assim eu veria Felicidade. E ela estava sempre lá com ele, até nos dias mais nublados e chuvosos, mas no fim do dia eu sabia que ela iria embora, assim como ele também.

O tempo passou e um dia, quando nos encontramos, ele não trouxe a Felicidade até mim. Nunca havia me sentido tão mal. Ele me disse que não me queria mais. Que meu amor já não era o mesmo, que não iríamos mais nos ver. E o pior: a Felicidade morrera. Ela se foi. Depois disso, ele se foi, me deixando ali, no meio daquela rua. Fui para casa, chorando como nunca havia chorado. Tranquei-me em meu quarto e esperei o tempo passar... Maldito homem; tirou a Felicidade de mim. Matou-a.

Sem minha Felicidade sou alguém tão...

...Tão...

...Infeliz.