Ainda não estava completamente escuro lá fora. Eu estava sozinha. Não me restava nada além de uma imensa casa vazia. Bem... Desde que ele me deixou, tudo tem sido assim. Vazio. Sentei em um canto qualquer da varanda e tentei chorar um pouco, mas não adiantava, eu já chorei tudo que tinha para chorar. E mesmo assim, aquela tristeza me corroia por dentro, como uma traça corrói as roupas que abandonamos num armário qualquer.

Depois de um tempo pensando, achei como meio de extravasar minhas mágoas, escrever tudo que queria esquecer em um papel e queimá-lo. E foi o que fiz. Cortei uma grande folha em pequenos pedacinhos e escrevi em um por um: “O gosto do teu beijo”, “O cheiro da tua pele”, “O timbre da tua voz”, “As frases fofas que você já me disse”, “As vezes que você já disse que me amava”. Frases que alguns minutos depois seriam reduzidas a pó.

E assim foi noite à dentro. Começou com apenas um fósforo aceso, mas com o tempo, tornou-se uma fogueira de lembranças a serem esquecidas. Uma fogueira que me trazia o alívio e o conforto de saber, que cada partícula das cinzas que a brisa levava era um pedacinho na minha infelicidade partindo.