Já se faz uma semana que Harriet voltou para casa. E também uma semana que Jev, meu querido irmão, não dá as caras por ai. Isso me deixa um tanto quanto desconfiada. Ele não é do tipo que desiste facilmente.

Estou na escola hoje. Will também não está andando por ai, o que me deixa ainda mais desconfiada.

- Alison, espere!- ouço alguém dizendo. Ou melhor, olhos verdes dizendo. 

Dou um rodopio e me vejo frente a frente com ele.

- O que foi, Harry? - pergunto, dou um suspiro e tento não olhar naqueles olhos que me fazem ficar sem ar. 

Ele está tentando olhar nos meus olhos, mas eu o evito, olhando para seu ombro.

- Só queria perguntar se você quer que eu te leve pra casa. - ele diz, colocando a mão em meu ombro. Tento ao maximo não ficar sem ar. 

- Tudo bem. - é tudo que digo, ou consigo dizer. 

Eu o acompanho até o estacionamento da escola, olhando para os meus pés. Ele abre a porta do carro para mim, como um cavalheiro e isso me faz sorrir para ele e olhar em seus olhos. 

Seus olhos brilham de uma coisa que desconheço e quase tenho vontade com que ele faça comigo o que fez na igreja, mas isso é pedir demais para ambos. 

Ele liga o carro e uma música suave começa a tocar. 

Abro a janela ao maximo possivel e coloco meus braços em seu vão. Fecho os olhos e sinto o vento bater em meu rosto, como quando estou voando. Quase tenho vontade de abrir as asas e voar de verdade, mas me mantenho quieta.

P.O.V Harry

Não sei o que está acontecendo comigo ultimamente. Desde aquele dia na igreja, venho sonhando com Alison. 

E agora ela está aqui, do meu lado, sentindo a brisa em seus cabelos enquanto estou nos levando para casa. Seu pescoço está a mostra, já que ela resolveu prender-lhe os cabelos e isso me deixa louco de vontade de ir beijar a sua pele, para ver se ela vai rir ou se arrepiar. Mas não faço isso. Continuo quieto observando-a vez ou outra.

(n.a: dê play na música)

Olho para o por-do-sol a nossa frente.

- Adoro as cores que se misturam em momentos como esse. - digo a ela. 

Allie dá um suspiro e depois me responde, sem nem deixar de tirar a cabeça da janela.

- Sim. 

Mordo os lábios mas me mantenho calado por mais um tempo, até que não aguento mais.

- Alison, por que naquele dia você me disse que tem que cuidar de mim? - pergunto, esperando que ela me responda.

P.O.V Allie

- Alison, por que naquele dia você me disse que tem que cuidar de mim? - ele me pergunta e aquilo está ecoando em minha mente. 

Levanto a cabeça e me afasto um pouco da janela. Estou olhando para frente, sem ter qualquer vontade de olhar nos olhos dele.

- Porque é a verdade. - digo.

- E por que? - pergunta.

- Não posso explicar, Harry!

- Por favor, Allie.

- Não tente dar uma de Harriet para o meu lado.

Isso faz com que ambos rimos de meu comentario, mas depois ficamos quietos. Quietos demais até. 

Estou tão nervosa que tenho que olhar para seus olhos. E os faço.

Seus olhos, aqueles imensos olhos verdes que me encantam estão me fitando, apesar de estarmos na estrada. Rezo para que nada de errado aconteça e tento desviar meus olhos dos dele.

Tento, mas é impossivel. Me sinto perdida naquela imensidão verde. É como se ele estivesse me oferecendo um lugar calmo e doce, mais calmo e doce do que onde eu vivi antes. 

E eu sou tudo. E eu sou nada. E aqueles imensos olhos me perseguem para onde vou. Minha mente está um tanto quanto insana, querendo com que eu ultrapasse todos os meus limites e vá correndo de encontro aos seus braços, aos seus lábios, ao seu amor...

NÃO! Grito para mim mesma em minha mente. 

- O que foi, Alison? - pergunta ele.

- Na..nada. - respondo, sem conseguir tirar os olhos dos dele. O sinto parar o carro e me pergunto quais são suas habilidades para saber que estamos exatamente na frente do portão da casa dele. 

Saio o mais rapido possivel do carro e tento correr para longe dele, mas Harry pega meu braço e um fogo intenso me consome. Um fogo que tem a cor mais linda que já vi em toda a minha vida. Um fogo verde. Tento me desviar dele, mas em um movimento unico estou em seus braços, tal como eu desejo. 

- Alison, olhe para mim. - ele pede e eu obedeço.

Me perco em seus olhos e tudo em mim queima. Não estou conseguindo respirar, imaginando que ele vá me beijar naquele exato momento. 

- Vá para longe! - grito. - Eu preciso respirar. - peço e quase digo para ele não se afastar, porque está longe demais para me sufocar.

Ele se afasta um pouco, mas ainda está proximo demais. Suas mãos seguram as minhas.

- Alison, eu... - ele começa e respira fundo. 

Espero, mesmo querendo que ele me solte e que eu possa ir o mais longe possivel dele. 

Dele e de seus olhos.

P.O.V Harry

Respiro fundo e aperto suas mãos. Consigo coragem.

- Alison, eu só quero que você saiba de uma coisa. - digo a ela.

- Não... - começa, mas eu a interrompo.

- Desde o dia em que você nos encontrou, eu sinto alguma coisa estranha por você. 

"Sei que você sabe que eu vi uma coisa que não deveria ter visto. Posso ver agora, nos seus olhos que ficam indo e vindo toda hora, como se estivesse procurando por alguma coisa que eu desconheço a existencia.

"O que aconteceu com a Harriet semana passada me fez pensar em muitas coisas, muitas mesmo. E o que eu mais pensei foi em você. Penso tanto em você desde aquele dia na igreja. Eu esqueci tudo o que tinha acontecido naquela noite, mas não consigo esquecer o que eu quero, Alison.

"É loucura, eu sei. Você é tudo aquilo o que eu deveria ser e queria ser. Você é doce, gentil, sorridente e ajuda todo mundo que conheça, até mesmo aqueles que não mereciam a sua ajuda.

"Alison, eu.."

Não consigo concluir e acabo olhando para o chão, pensando que em meus pés possam ter as palavras certas e menos embaraçosas possiveis. 

Sinto sua mão em meu queixo, pedindo para que eu olhe para ela. Faço o que suas mãos mandam.

P.O.V Allie

Aquilo tudo está confuso demais, intenso demais e... e desejoso demais.

Quando seus olhos encontram os meus, eu sorrio. Tento transparecer o que sinto por ele naquele momento só no sorriso e sei que não é o bastante. 

Seguro sua mão com força e me aproximo, mesmo sabendo que é errado. Mesmo sabendo que eu não deveria fazer isso. Que eu deveria abrir minhas asas e fugir dele. Fugir de suas mãos, seus braços, seus olhos, seus cabelos e seus lábios. Mas é impossivel. 

Eu desisto, desisto de tentar deixa-lo longe de mim. Desisto de tentar não ficar perto dele. Desisto de tudo.

Meus lábios correm para os deles e eu fecho os olhos para não ter que pensar em mais nada.