Klaus Madalen escrita por Apolo Blans


Capítulo 1
Eu quero morrer...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/289512/chapter/1

A velha casa de madeira estava em chamas, quase desmoronando, prestes a matar todos ali. Eu sabia que havia chegado tarde demais para intervir sozinho, mas que escolha eu tinha? Não podia simplesmente deixar o homem no meio da sala fazer o que bem quisesse. Ele tinha uma mulher em seus braços, presa como refém, usando apenas uma camisola e demonstrando toda sua fragilidade. A faca estava pressionada forte demais contra o pescoço dela. Eu podia ver o sangue escorrendo por sua pele. Eu precisava ajudar. Mas não sabia o que fazer. Eu havia prometido... Mas de que adiantaria manter minha promessa se ela morresse? - Vamos, Klaus, você quer me matar. Você quer me atacar. Você quer salvá-la. Por que se impedir disso? – O homem encapuzado, que ameaçava minha irmã estava me olhando com um sorriso vitorioso no rosto. - Não! Klaus, não faça isso! Isso é que eles querem, que você saia do controle de novo, que você mate de novo. Você sabe que se fizer isso, nunca mais poderá voltar. Por favor, Klaus, não! – Minha irmã esperneava e gritava, se machucando ainda mais contra a lâmina, mas não parecia se importar com isso. Ela só se importava comigo. E eu iria deixa-la morrer assim? Que tipo de pessoa eu seria se fizesse isso? Mas que escolha eu tinha? Eu não podia matar novamente. - Você é fraco, Klaus Madalen. Muito fraco – Uma voz incorpórea, saída do nada, que parecia me rodear, sussurrava pra mim, deliciada com minha dor e indecisão – Você foi a escolha errada. Você não tem nenhum poder. Sua única força vinha dele. E agora que ele está morto, você é um inútil. Não pode fazer nada. Apenas sente-se aí e veja-a morrer. Como você sempre faz... - Quem é você? Você é uma Voz? Por que você está aqui? Por que isso não para? Por que isso nunca para? Eu não pedi por isso! Eu não quero isso! Eu não posso mais fazer isso... – Caí de joelhos, de mãos na cabeça e com lágrimas de frustação escorrendo por meu rosto – Vá embora! Eles disseram que isso pararia! Eles disseram que depois que eu o matasse, vocês iriam embora! Saia daqui, me deixe em paz! Me deixe em paz... - Sim, Klaus Madalen, eu sou uma Voz. Mas não sou como ele. Sou mais forte. Sou mais poderosa. Sou melhor. – Ela me rodeava conforme falava, aproximando-se e afastando-se, passando de tons ameaçadores para tons sedutores - Comigo no controle, você será incrível de novo. Poderá controlar todo o mundo, sem se preocupar com nada. Poderá ser o rei de todos os países. Comigo no controle, você será o mais poderoso ser vivente. E ninguém nunca mais atacará sua irmã... - NÃO, KLAUS! NÃO DÊ OUVIDOS A ELES! VOCÊ SABE O QUE VAI ACONTECER! VOCÊ NÃO PODE DEIXAR QUE ELES VOLTEM! POR FAVOR, KLAUS, POR FAVOR, POR FAVOR! – Minha irmã gritava ao longe, muito longe. Eu já não estava em uma casa enfumaçada e quente. Eu já não via mais o homem ameaçando tudo que eu amava. Eu estava... Em outro lugar. Um lugar melhor. Um campo aberto, com flores e colinas, com um céu limpo e um vento fresco. Era bom estar ali. Eu gostava dali. Eu não precisava pensar ou me esforçar, não precisava lutar, não precisava me arriscar, ninguém me odiava, eu não tinha um passado do qual fugir. Enquanto eu estivesse ali. Ali... Meus olhos foram se fechando aos poucos, enquanto o chão se aproximava rapidamente... - Isso, Klaus Madalen. Isso... Não há motivos para continuar lutando. Deixe-me cuidar de você. Deixe-me mudar o mundo. Deixe-me melhorar as coisas. Seja meu servo. Seja meu instrumento para salvar a quem merece... – A Voz não parecia mais ameaçadora. Agora era apenas justa. Ela queria ajudar. Ela queria que eu tivesse paz. Ela queria o bem do mundo. Como eu pude algum dia lutar contra ela? Fora muito tolo de minha parte apenas sonhar em recusá-la. Algo bonito e poderoso como ela. Ela era uma amiga... Meus olhos se fecharam de vez e tudo desapareceu... Quando recuperei meus sentidos, estava de volta na casa. A fumaça havia piorado e o incêndio estava mais furioso, destruindo tudo ao redor. Eu estava ajoelhado no meio da casa. Havia sangue em minhas mãos. Sangue humano. O sangue do homem... E de minha irmã. Abracei seu corpo sem vida, que jazia no chão ao meu lado, e gritei. Gritei para a noite, gritei por horas sem parar. Gritei e chorei. Chorei minha dor, meu desespero, minha raiva, meus medos, minha fraqueza. Eu falhara novamente. Mais uma vez eu fui controlado por uma Voz. Eles tinham razão. Eu era fraco. Eu era inútil. Eu devia ter morrido quando nasci. Tantas vidas seriam poupadas... Principalmente a de minha irmã. A de minha irmã, que sempre me apoiou e sempre esteve ao meu lado. Minha irmã que tão fielmente me defendeu e ajudou por tantas vezes. Morta. Por mim. Por minhas fraquezas. Seu sangue estava espalhado pela casa. Abracei seu corpo sem vida, desesperado. Morta por mim. Morta por uma Voz. Conforme a noite avançou a casa continuou queimando e o incêndio consumiu tudo, carbonizando os dois corpo ao meu redor. Eu desejei morrer. Eu desejei que as chamas me engolissem e me dessem o mesmo misericordioso destino que a casa teve. Mas, é claro, eu não morri. Eu nunca morro. Ouvintes não podem morrer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feedback, por favor? Devo continuar escrevendo ou fazer dessa uma one shot?