O Toque De Um Grimm escrita por Akiel


Capítulo 4
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO: Falas em COLCHETES são falas ditas em FRANCÊS.



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O Toque de um Grimm

Capítulo IV

– Soraya? – Nick pergunta incrédulo, o tom de voz baixo, quase inaudível – É você mesmo?


– Espera. – Monroe diz, tentando compreender a situação – Vocês dois se conhecem? São da mesma família?!



– Somos irmãos. – o Grimm responde com um pequeno sorriso nos lábios e olhando brevemente para o Blutbad, mas logo voltando o olhar para a jovem sentada ao lado de Angelina.



Irmãos?! – a Blutbad diz sem conseguir acreditar.



– Nick, você nunca disse nada sobre ter uma irmã. – Hank comenta.



– Eu nunca disse nada por que... – o detetive começa, o olhar ainda sobre Soraya – Eu pensei que minha irmã estava morta.



Destoando do clima de incredulidade e felicidade – por parte de Nick –, a face de Soraya permanece séria e impassível, como se o reencontro com o irmão não a afetasse no mínimo. A Grimm respira fundo e pega o papel de cima da mesa, os dedos acariciando suavemente o desenho dos galhos, o J.G escrito.



– Eu deveria estar morta. – a voz de Soraya não passa de um sussurro, o olhar azul preso no papel – Há muito tempo. Lily foi quem não me deixou morrer.



– Lily? – Nick pergunta, estranhando o começo da fala da irmã – A tia de Monroe?



– Sim. – a Grimm responde, voltando a colocar o papel sobre a mesa – Ela me salvou. Duas vezes.



Percebendo o tom de voz de Soraya, Monroe e Angelina trocam um rápido olhar, entendendo no tom baixo e lento, a hesitação da Grimm em falar sobre Lily e tudo que aconteceu antes dela aparecer em sua vida. A Blutbad se aproxima mais de Soraya, passando os braços sobre os ombros da mais nova e puxando-a para seu colo. A oferta de carinho é aceita imediatamente.



O olhar claro de Nick observa o modo como Soraya se inclina e se encolhe nos braços de Angelina em uma muda demonstração de confiança. Em sua mente, o detetive repassa a memória de uma noite, há muito tempo atrás. Uma noite em que ele foi deixado com a tia e a irmã foi levada com os pais, no que, ele pensava ter sido, um passeio fatal.



– Soraya... – Hank começa com o olhar indo do parceiro para a irmã deste – Você disse que aqueles Ceifadores estavam atrás de um descendente direto de Jacob Grimm, mais precisamente, você. Por quê? – o detetive fixa o olhar na Grimm – Por que eles estavam atrás de você?



Antes de responder, Soraya se desvencilha dos braços de Angelina e se levanta do sofá, caminhando lentamente até a cadeira onde Monroe está sentado e tocando o rosto do Blutbad, o que faz a Woge acontecer imediatamente.



– Por causa disso. – a Grimm responde, ouvindo o fraco som do pular de Hank em um dos sofás, o olhar preso nos olhos vermelhos de Monroe – Jacob Grimm era conhecido por seu dom de fazer os Wesen mostrarem suas verdadeiras formas com apenas um toque e de uma maneira que todos pudessem ver. Em sua época, Jacob usava esse dom para provar que as histórias eram reais e para mostrar que os Wesen que tentavam se esconder da nobreza não tinham a menor chance de serem bem sucedidos. – Soraya faz uma pausa e então Monroe volta à sua forma humana – Jacob Grimm passou esse dom para alguns de seus descendentes diretos, que, durante séculos, foram caçados e/ou usados pelos nobres. Esse desenho que acharam com o Ceifador, essa marca de descendência, é a marca que todos os herdeiros do dom de Jacob Grimm carregam. – a Grimm levanta o cabelo negro com uma mão e, com a outra, abaixa a camiseta, deixando a nuca exposta e mostrando a mesma imagem tatuada em sua nuca. – Como disse, é uma típica simbologia Grimm.



Monroe toca a cintura de Soraya, que volta a abaixar o cabelo e sorri fracamente para o Blutbad. Nos olhos azuis, o relojoeiro pode ver a dor que a Grimm sente ao falar sobre o assunto, a vontade de se calar e deixar toda a história presa no silêncio.



– Então era por isso que os Ceifadores estavam atrás de você. – Nick afirma, tentando assimilar as novas informações acerca da irmã – Por causa desse dom.



– Sim. – Soraya responde, se virando para o irmão, mas sem deixar o lado de Monroe – E foi por esse motivo que mamãe me levou ao invés de me deixar com a tia Marie. – uma breve pausa – E com você. Ela sabia sobre meu dom antes mesmo que eu pudesse compreendê-lo e, com isso, sabia que eu seria caçada, então pensou que eu estaria mais segura ao lado dela.



– E você estava? – Nick pergunta.



– Por um tempo, sim. – Soraya responde – Mas não é fácil se esconder da nobreza.



– O que aconteceu?



– Espera. – Hank pede – De que tipo de nobreza vocês estão falando?



– Os nobres são famílias humanas muito poderosas. – Monroe responde – São eles que comandam nosso mundo. Por muito tempo, os Grimm trabalharam para eles. – ante a afirmação, Soraya assente – Mas algo aconteceu e até mesmo os Grimm começaram a ser mal visto pelos nobres.



– Então esses nobres não gostam de Grimm? – Hank pergunta.



– Não é tão simples. – Soraya responde – Os Grimm são guardiões de um segredo que há muito tempo as famílias vem querendo se apoderar.



– Que tipo de segredo?



– É... Complicado. – Nick comenta olhando para Soraya.



xGrimmx


Em uma delegacia de Portland, o som de um celular pode ser ouvido dentro do escritório. O dono do aparelho o pega e o atende, reconhecendo imediatamente a voz do outro lado da linha.


– [A família o achou] – a voz diz em um tom baixo, discreto.



– [Quem?] – Capitão Renard pergunta.



– [O descendente de Jacob Grimm]



– [Ele possui o dom?] – Renard questiona, abaixando o tom de voz e olhando para a porta do escritório.



– [Oui]



– [Onde ele está?]



– [Portland]



Um momento de silêncio.



– [Você tem um nome?] – o tom de voz do Capitão se torna mais forte e urgente.



– [Oui] – a voz do outro lado responde – [Soraya Burkhardt]



Ao reconhecer o sobrenome, uma expressão de surpresa e ceticismo passa pelo rosto de Renard, um único nome ecoando em sua mente.



Nick.



xGrimmx


– Quão complicado? – Hank pergunta.


Ignorando a pergunta, Soraya se aproxima de Nick, ajoelhando-se em frente ao irmão e puxando um pingente do pescoço. Os olhos claros do detetive se arregalam levemente ao reconhecerem o pingente verde e prata.



– Uma chave. – o Grimm diz.



– O quanto você sabe sobre essas chaves, Nick? – Soraya pergunta, abrindo o pingente e mostrando a citada chave.



– Eu sei que existem sete delas e que juntas montam um mapa que leva a um tesouro cobiçado pela nobreza.



– Que tipo de tesouro? – Angelina pergunta.



– Ninguém sabe. – Soraya responde antes que Nick possa dizer algo – As famílias Grimm vêm protegendo essas chaves e mantendo-as longe da nobreza há gerações.



– Como conseguiu essa chave? – Nick pergunta, tocando o pingente e analisando-o.



– Era da família com quem eu deveria ter ficado. – a Grimm responde.



xGrimmx


O pacote é deixado em frente à porta com cuidado e a campainha é tocada duas vezes. Enquanto aquela que o entregou se afasta sem esperar ser atendida, ela se lembra de como e onde conseguiu o conteúdo do pacote. Ela se lembra da bela casa destruída, das marcas de sangue pela parede e no chão. E do corpo de uma Blutbad abandonado, os cabelos longos e brancos combinando perfeitamente com a pele clara e destacando o sangue que cobria o corpo imóvel.


O capuz negro é puxado e o rosto da mulher é escondido. Ela continua a caminhar, procurando dar continuidade ao seu objetivo de permanecer próxima e assim poder proteger os dois seres que lhe são mais importantes.



xGrimmx


O som do celular silencia a pergunta que estava prestes a deixar a boca de Nick. Hank atende, se levantando e se afastando alguns passos. Soraya também se levanta, voltando a fechar e esconder o pingente sob a camiseta. O Grimm observa os movimentos da irmã com um atento olhar.


– Nick, nós estamos sendo chamados de volta à delegacia – Hank diz guardando o celular.



– Você deve ir. – Soraya diz ao perceber que o irmão procura uma desculpa para poder ficar.



O detetive assente e, junto com Hank, se despede de todos e se dirige à saída da casa. Na rua, Nick caminha em direção ao carro sem notar que olhos castanhos o observam das sombras. Olhos atentos que registram cada movimento do Grimm e se iluminam ao notar a jovem que se aproxima dos detetives.



– Nick! – Soraya chama, correndo em direção ao irmão.



– Soraya? – Nick diz alerta e levemente preocupado – O que houve?



– Eu... – a Grimm hesita por um momento, olhando nos olhos do mais velho – Eu só queria dizer que sinto muito. Eu sinceramente esperava que você não se tornasse um Grimm, que ficasse longe dessa maldição.



O adjetivo usado por Soraya para definir a herança que ambos compartilham faz com que Nick se lembre do que Monroe disse sobre os sentimentos da mais nova acerca de ser uma Grimm. “Soraya odeia ser uma Grimm, Nick”



– Bem, eu estou feliz por ser um Grimm. – Nick diz sorrindo e tocando o rosto da irmã.



– Por quê? – Soraya pergunta genuinamente confusa.



– Porque ser um Grimm me permitiu reencontrar minha irmã. – o detetive diz sorrindo e abraçando a irmã.



O abraço é retribuído imediatamente, Soraya escondendo o rosto no pescoço do irmão. Hank apenas sorri, observando os irmãos, se sentindo feliz com a felicidade do parceiro. A dona dos olhos castanhos, ainda escondida, sorri também, sabendo que os dois Grimm estarão mais seguros agora que possuem um ao outro.



– Fique a salvo. – Nick sussurra para a irmã e então ri levemente.



– Você também. – Soraya diz, se afastando e permitindo que o irmão entre no carro.



Quando o automóvel já se encontra fora de vista, Soraya volta à atenção para o parque em frente à casa de Monroe, parecendo notar algo em meio às sombras das árvores. A Grimm permanece parada, observando por alguns segundos e então se vira, voltando para junto de Monroe e Angelina.



Entre as sombras, a mulher de negro suspira, sabendo que Soraya percebeu sua presença.



xGrimmx


Depois de passar o resto do dia na delegacia, terminando os relatórios sobre o assassinato dos Ceifadores, que, através das digitais, eles descobriram serem criminosos procurados em vários países da Europa, Nick volta pra casa com um sorriso nos lábios. Há felicidade e certo relaxamento no peito do Grimm por ter encontrado a irmã que ele julgava morta.


O detetive entra na cozinha e encontra Juliette cozinhando. A veterinária sorri ao vê-lo. Desde o coma, as coisas não tem andado muito boa entre eles, mas pouco a pouco, ambos tentam melhorá-las, se reconhecendo. Juliette se afasta um pouco da pia e indica a sala com a mão.



– Nick, um pacote foi deixado na porta hoje. – a ruiva diz – Tinha seu nome escrito. Eu deixei em cima da mesa.



– Obrigado. – o detetive agradece assentindo e voltando para a sala.



Nick pega o pacote de cima da mesa de centro e coloca-o no colo enquanto senta no sofá. É um pacote relativamente pequeno, assemelhando-se a um livro. O nome do Grimm foi escrito no papel pardo que o envolve e que logo é retirado. Ao colocar o papel de lado, Nick olha atônito para o conteúdo em sua mão.



É um caderno com capa de couro e folhas um pouco amareladas, parecido com os cadernos em que os antepassados do detetive costumavam descrever seus encontros com Wesen. Nick o folheia, notando as datas no topo e os textos que seguem. Parece um diário. Um papel dobrado cai do meio das folhas e Nick se abaixa para pegá-lo, abrindo-o e lendo-o:



Você a encontrou, mas não a conhece.



Intrigado, o Grimm abre o diário na primeira página, examinando-a e encontrando um único nome escrito: Soraya Burkhardt. O caderno é o diário de Soraya.



Imediatamente, Nick começa a lê-lo.



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