Jogos Vorazes - O Garoto Do Tridente escrita por Matheus Cruz


Capítulo 28
Epílogo




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A música alta toca num ritmo suave e excitante. As luzes fortes e coloridas seguem a harmonia, rodopiando no teto dourado, lançando cores e formas no suntuoso salão.

O calor me faz transpirar e todas aquelas mãos que roçam na minha pele suada são firmes e ousadas, apertando a carne sem pudor. Línguas umedecem meu rosto e palavras são sussurradas aos meus ouvidos. Uma ânsia de vômito faz todas as veias do meu corpo latejarem, mas mantenho o foco e sorrio, me forçando a sentir algum prazer naquilo.

Afasto-me das mãos, sorrindo. Ajeito a máscara torta e continuo a dançar, puxando as laterais da túnica para deixar à mostra meu abdômen. Quero chorar, sinto os olhos umedecerem, mas respiro e continuo a balançar o corpo ao som da balada. Agacho e abro a boca, uma das mulheres põe uma uva dentro dela. Mastigo, seduzindo-a.

Gordas, feias. Com bochechas grandes e rosadas, perucas coloridas, lábios carnudos e sebosos. Aquelas mulheres me observam e me pegam, sorriem para expor os brilhantes dentes brancos umas para as outras, cruzando as grandes pernas enquanto bebericam taças de gim.

Entre tantas outras no salão, a reconheci enquanto dançava. A pulsação acelerou.

Não falhe, senhor Odair... Confio na sua inteligência, a voz do presidente ecoou das trevas. É ela! Penso e jogo algumas mechas úmidas para trás, rebolando. A mulher loira e gorda, pousou seus olhos pequenos em mim e mordeu o lábio inferior, com desejo. A chamei com o dedo indicador e toquei o abdômen, sedutor. Ela saltitou, se aproximando, sedenta.

Fomos para uma das suítes do bordel. Fiz tudo de máscara, e como as outras, implorou que revelasse meu rosto. Não disse uma palavra durante toda a noite. Quando terminou, a deixei na cama, ofegante, e fui pegar duas taças de vinho.

Hesitei e olhei de soslaio para trás. Abri o feixe do meu anel de ouro e depositei todo o pó branco que havia dentro dele no recipiente.

Caminhei até ela, e sentei ao seu lado. A curiosidade era visível na sua face confusa, mas ela desistiu de tentar adivinhar a  minha identidade e bebeu o vinho com um único gole. Sorrio e me puxou pelo ombro, para si, cheia de desejo.

-- Linda.. – sussurro ao seu ouvido.

Reconhece minha voz instantaneamente e uma expressão de esclarecimento domina sua face. Quando acordar de manhã, não lembrará de nada, penso. Tiro a máscara e olho no fundo dos seus olhos, com nojo. A criatura abre a boca e expira um hálito nauseante no meu rosto.

Amanhã seu marido será um homem morto.

-- Como pagar o prazer de sua companhia...? – fala, com a voz rouca e hilariante.

Frio, respondo suavemente:

-- Com segredos. 


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