The Place Where Nobody Comes escrita por ArianaGirl5


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu via as nuvens da janela do carro e imaginava as formas com que elas se pareciam. Só assim eu poderia me distrair. Estava indo me reencontrar com a pessoa que odiei minha vida inteira. Alguém que se importava pouco comigo, alguém que abandonou e entristeceu minha mãe.

Já era triste demais perder minha mãe. Éramos muito próximas. Ela era minha confidente: Contava sobre meus segredos, dizia de quem gostava, abria meu coração. Contava tudo, tudo mesmo pra ela. E agora, ela tinha ido embora.

A perda da minha mãe já me tirava o sono. Mas era pior agora. Eu ia encontrar meu pai, aquele que só falava comigo por telefone, pagava minha escola, mas não queria saber como eu me saía nela. Dizia que me amava, mas só da boca pra fora, nunca quis mesmo saber como eu estava de verdade.

E agora, eu era obrigada a morar com ele, depois de tudo que ele fez comigo e com minha mãe. Reconhecia seu esforço, afinal ele me dava dinheiro e falava comigo, mas ás vezes, uma criança precisa do pai, e eu tive que viver minha infância inteira com essa mágoa.



Paramos em frente a um grande portão de metal pintado de dourado, um muro alto cercado de plantas e uma cabine de porteiro. Quando nos aproximamos mais, vi que estávamos sendo filmados por todos os cantos. Senti que esse condomínio era um lugar importante. Isso fazia eu me sentir insegura.

–White Orchid Ville. – Eu disse sussurrando, lendo o letreiro grande. Então era ali que eu iria morar pelos próximos anos...

O portão se abriu, o táxi entrou e passamos por casas bem elegantes. Andando mais um pouco, passamos por um grande lago, com águas azuis bem escuras. Em volta dele havia vários patinhos, cisnes e gansos.

Passamos tremendo pela estrada de pedra, até que chegamos à Alameda Rosebuds, com as mansões mais caras e elegantes do condomínio. Olhava para tudo aquilo e pensava se um dia eu iria me adaptar a toda aquela ostentação.

Paramos em frente a uma grande mansão de vidro, era uma casa bem bonita, mas para alguém como eu, aquilo tudo era demais. O motorista me deixou na porta, retirou minhas malas, e assim que paguei o táxi, ele sumiu, descendo pela ladeira e sumindo aos poucos.

Fiquei parada alguns instantes ali, olhando para a grande porta de entrada. Olhava para a campainha, sem conseguir tocá-la. Eu sabia que meu pai ficaria surpreso em me ver. A última vez que me viu, foi quando dava meus primeiros passos. E agora, lá estava eu, com 16 anos, como uma criancinha com medo de abrir a porta do armário e se deparar com um monstro.

Finalmente, depois de pensar bastante em como minha vida mudaria dali pra frente, tomei coragem, toquei a campainha. Ninguém atendeu. Toquei novamente, mesmo. Depois de suspirar forte, e, me preparando para tocar pela terceira vez, a porta se abriu.

-Sim? – Uma senhora com jeito de empregada abriu a porta.

-Eu procuro o John. – Eu disse, ficando vermelha de vergonha.

-Desculpe mocinha, não tenho tempo para brincadeiras. – Ela se preparava para fechar a porta, mas segurei-a e falei com firmeza:

-Não senhora. Isso não é uma brincadeira. O John, ele é meu pai...

-Você é Jessica? – Que estranho, a empregada sabia meu nome.

-Sim, sou eu mesma. – Abri um pequeno sorriso.

-Entre, entre. Vou chamar o mordomo para carregar suas malas, seu pai não está, mas ele volta logo da reunião. Fique a vontade.

Ela abriu a porta pra mim, e eu me dei conta de qual seria meu estilo de vida daqui pra frente. Duas escadas paralelas subiam para um segundo andar. No teto da sala, um grande lustre era o necessário para iluminar o grande cômodo.

A sala era a maior que tinha visto. Tinha móveis luxuosos, e vários fotos do meu pai. Parei surpresa em frente a um porta-retrato: Era uma foto minha, quando bebê, usando um chapeuzinho cor-de-rosa florido e um vestido jeans. Eu tinha o cabelo todo encaracolado e a pele rosada.

Eu não agüentei, e comecei a chorar. Chorava toda hora desde que minha mãe se foi, mas não me importava. eu estava passando por momentos difíceis, e precisava disso. Pensamentos povoavam minha cabeça. Será que minha mãe tinha tanta raiva do meu pai, que o proibiu de me ver? Será que tudo o que eu pensava dele estava totalmente errado? Isso era muito perturbador.

Nesse exato momento, a porta de entrada se abriu. Um homem alto, com poucos cabelos grisalhos, vestido elegantemente de terno apareceu. Minha cara devia estar vermelha, toda molhada, pois ele olhou pra mim com uma cara de tristeza e correu ao meu encontro.

-Oi... - eu disse, me sentando no sofá e enxugando as lágrimas com o punho do moletom.

-Oi – Ele disse, sem saber quem eu era. Eu achei que a empregada teria falado com ele, mas parecia que não. Tomei coragem, fechei os olhos, suspirei e abrindo-os novamente, me virei pra ele com seriedade:

- Pai, sou eu, Jessie. – Não aguentei, e recomecei a chorar, ele me abraçou forte.

-Filha, que bom te ter aqui, sua mãe finalmente a deixou vir me visitar?

Vendo que eu não respondia, ele tornou a me questionar:

-E sua mãe? Como ela está?

- Ela... Se foi. – Eu disse baixinho. Isso era tão difícil pra mim, que todo o meu ódio havia sumido.

Ele ficou quieto, me observando enquanto eu olhava para a foto daquela menininha dos cabelos pretos e me lembrando daquele dia, quando minha mãe me levou ao parque pela primeira vez. Quando eu lhe perguntava quando meu pai viria, ela sorria tristemente e me dizia que eu precisava ter paciência, ele já iria chegar, já iria me buscar. De repente, me lembrei de quem ele era, o que havia feito comigo. E, com um movimento rápido, me livrei de seu abraço. Mas fiquei quieta.

- Vem, vou te mostrar seu quarto. – eu não disse nada, mas tenho certeza de que ele me entendeu. Parecia que sabia que eu iria ficar ali.

Subimos as escadas, passamos por várias portas, atravessando um corredor e ele me mostrou uma porta branca. Eu a abri, e vi um quarto que não tinha nada a ver comigo. Tinha uma cômoda, com um notebook branco. Do lado havia a cama, apoiada na parede. Um armário cobria toda a parede do lado. Era bonito, mas não era pra mim. Para uma garota com um moletom preto que cobria até a coxa, com uma calça jeans escura e com o cabelo longo e meio despenteado, isso não era o quarto dos sonhos. Murmurei um “obrigado”, entrei e bati a porta.

Sentei-me na cama, e olhei ao meu redor. Tudo tão diferente. Servia muito bem para uma garota do subúrbio, acostumada a ter tudo que queria, mas pra mim? Uma garota da cidade, que tinha que estudar de manhã e trabalhar de tarde para ajudar a pagar as contas da casa? Me deixava um pouco desconfotável.

- Quanto dinheiro se gasta comprando móveis caros, sem parar pra pensar em outras pessoas que precisam de menos do que isso... – Eu disse, depois de um suspiro.

Foi quando ouvi batidinhas na porta e a voz de meu “pai” falando:

-Quero que conheça uma pessoa.

Esfreguei meus olhos e abri a porta. Desci até a sala e vi uma moça, provavelmente uma empresária, de saia cinza, blusa branca de botão, salto alto e de maquiagem, olhando pra mim, séria, levantando a sobrancelha:

-Quem é essa menina? John, você sabe que não pode trazer qualquer um pra casa. – Abaixei minha cabeça, com vergonha.

- Kathy, essa é Jessica, minha filha. – No exato momento, ela abriu um sorriso e me abraçou.

- Não acredito! Minha enteada! Meu nome é Katherine, mas pode me chamar de Kathy.

- Vou deixá-las sozinhas para conversar. – Kathy deu um sorriso falso para meu pai, e se virou pra mim.

Assim que ele se foi, o sorriso sumiu do rosto de Kathy. Ela se sentou no sofá e olhou pra mim, autoritária:

– Muito bem garotinha vou te falar apenas uma coisa, eu que mando aqui entendeu? Então tudo o que eu falar não é ordem é lei, me obedeça e quem sabe eu te dou uma peça de roupa por mês. – Ela sorriu cínica.


Nessa hora uma raiva incontrolavel tomou conta de mim, quem essa mulher pensa que é? Eu não obedeço nem o meu pai, porque iria obedecer ela?

- Não faço nada que você mandar.

Debochando de mim, ela deu uma risada maléfica e ficando séria logo depois, disse:

- Talvez sua mãe ficasse bêbada demais pra perceber o quanto você é ridícula.

Depois que ela falou isso minha vontade era de encher a mão e dar um tapa na cara dela, mais me contive. Apenas peguei a minha bolsa e fui em direção a porta, mas antes de sair me virei e olhei no fundo dos seus olhos e disse:
– Nunca mais fale da minha mãe desse jeito.- Bati a porta, ela falou alguma coisa mais não dei importância, só queria sair dali. Não passei nem 1 hora nessa casa e já a odeio profundamente.

Não aguentei. Aquelas lembranças voltavam constantemente. Um flashback passou por mim. Nessa hora eu me lembrei de minha mãe. Quando eu tinha dez anos, minha mãe começou a beber muito. Ela não chegava ao ponto de ficar bastante bêbada, mas, às vezes eu precisava ampará-la. Lembrei do dia do acidente. Eu estava com raiva dela, pois não me deixava sair com meus amigos. Ela ficou chateada, e escondida, vi que começou a beber. Logo depois, pegou as chaves do carro e gritou para mim:

- VOU SAIR JESSIE!

-NÃO! – eu disse, sabendo de suas condições naquela hora. – Você não pode ir, olha como está, não tem condições!

Ela apenas me olhou com tristeza, deu um sorriso triste, que eu conhecia muito bem, destrancou a porta e saiu.

Eu não podia ter a deixado sair. Podia ter corrido e impedido de fazer aquela loucura. Mas não. Fiquei lá, parada, com raiva. De certa forma, eu me sentia culpada por tudo isso. Uma parte de mim sabia que não era minha culpa, mas a outra, ainda tinha se prendido a duas palavras bem pequenininhas: “e se”.

E se eu não tivesse ficado com raiva? E se eu tivesse impedido minha mãe de beber? Ela ainda poderia estar viva?

Não sabia para onde ir, mas não podia ficar naquela casa. Simplesmente não podia.Desci a ladeira da Alameda Rosebuds, olhando pra frente pra nunca mais ver aquela casa de vidro, tão bonita por fora. Mas o infermo por dentro.

Pensei que não poderia mais viver ali, afinal, se foi assim que conheci minha madrasta, não ia querer ver o que mais ela poderia fazer.

E eu não estava a fim de descobrir como as coisas funcionavam no lugar que eu teria que chamar de casa. Se algum dia eu pudesse me acostumar a chamar aquilo de casa.


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Notas finais do capítulo

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