Ela sentia a água da chuva entrar em contato com sua pele, a roupa molhada e o frio da noite a faziam tremer. A dor de cabeça não a deixava raciocinar direito. Aos poucos abriu os olhos, estava em uma floresta, não havia luz, não havia sinais de vida. Levantou-se com dificuldade, passou a mão na testa sentindo uma dor agonizante naquele local. Estava cansada, dolorida demais para permanecer de pé, mas o medo de ficar ali a fazia permanecer consciente para procurar ajuda.

Mesmo com muita dificuldade passou a caminhar sem direção, na esperança de encontrar alguém que pudesse a ajudar. Estava com fome, com sede, a situação que estava vivenciando parecia um pesadelo. Andou durante quase uma hora, seus pés estavam feridos, o frio era intenso e a chuva não dava trégua. Lagrimas banhavam seu rosto, os soluços de seu choro ecoavam pela floresta. Será que ela era uma pessoa má? Será que ela merecia aquilo? Não lembrava seu próprio nome, não sabia se tinha família.

Sua atenção foi direcionada por uma luz em meio à escuridão. Passou a caminhar rumo à claridade, rezando para encontrar alguém que pudesse lhe ajudar. Mesmo estando longe pode notar que se tratava de uma estrada, que por sinal estava deserta. Continuou a caminhar com dificuldade até chegar à pista. Passaram-se longos minutos, mas nenhum carro passou por ali. O frio era mais intenso na estrada do que na floresta, mas infelizmente ela não podia voltar, tinha esperança que alguém passaria ali para ajuda-la. O frio intenso fazia seu corpo tremer, parecia que chuva não cessaria tão cedo. A dor de cabeça estava aumentando. Aos poucos seus sentidos estavam se tornando fracos, deitou na pista respirando com dificuldade, lutava para permanecer sã, mas sua luta foi em vão, pois perdeu os sentidos.

~II~

O moreno dirigia impaciente rumo a Konoha. Trabalhou o dia inteiro para deixar o serviço em dia, pois Itachi estava doente, incapacitado de tomar conta da filial de sua empresa que ficava na cidade visinha. Não era tão ruim trabalhar até tarde, mas depois de um dia cansativo de serviço tudo o que deseja era descanso. Mas duvidava muito que tivesse já que era noite do dia das bruxas. Era provável que seus vizinhos adolescentes estivessem festejando, por qualquer motivo eles faziam festa, e no Hallowen não seria diferente. Enquanto dirigia pela pista deserta abriu o porta-luvas e tirou de lá um frasquinho de aspirinas. Desviou a atenção da estrada para pegar uma garrafinha de água que estava no banco passageiro. Ao voltar sua atenção para pista freou o carro bruscamente. 

- Era só o que me faltava. – disse para si mesmo, vendo um corpo estirado no chão. Desceu do carro para descobrir o que tinha acontecido. Poderia ser alguém que fora atropelado, ou simplesmente uma brincadeira de mal gosto de jovens idiotas. Caminhou até o corpo e logo percebeu que se tratava de uma moça. Olhou bem a vestimenta da jovem que usava um vestido branco, e por cima do vestido uma capa vermelha. - Ela estava fantasiada de Chapeuzinho Vermelho? - Aquilo só podia ser uma pegadinha. Olhou em volta, mas não avistou ninguém. Aproximou-se da garota e observou que ela tinha um ferimento na cabeça. Tentou acorda-la, mas seu esforço foi em vão. Notou que ela respirava com dificuldade e seu pulso estava muito fraco.

- Por que essas coisas só acontecem com você Sasuke? – perguntou mais uma vez a si mesmo.

Correu até o carro e abriu a porta do passageiro. Pegou a jovem no colo e a ajeitou no banco do passageiro, para logo em seguida entrar no carro e voltar a dirigir. Pegou seu celular que estava sobre o painel e discou alguns números para logo em seguida coloca-lo no ouvido. Chamou algumas vezes até que alguém atendeu.

– Alô. – ouviu a voz sonolenta do outro lado da linha.

– Preciso da sua ajuda. – disse o moreno.

– Será que não podia esperar até amanhã Sasuke? Estou muito cansado, morrendo de sono.

– Também estou cansado e com sono Naruto, mas ainda não cheguei em casa.

– Fala logo o que aconteceu para que eu possa voltar a dormir.

– No caminho de volta a Konoha encontrei uma garota desmaiada na pista, liguei para saber se Tsunade está de plantão hoje.

– Está sim. Mas o que aconteceu?

– Não sei; apenas a encontrei. Ela tem um ferimento na cabeça e respira com dificuldade.

– Essas coisas só acontecem com você hein. O que vai fazer?

– Vou levá-la para o hospital, a deixarei sobre os cuidados de Tsunade.

– Está certo, depois vá pra casa descansar, amanhã à tarde eu passo na sua casa e vamos ver como ela está.

– Está bem, amanhã nos falamos. Tchau. – disse o moreno encerrando a ligação. – Quem será que fez isso com você. – falou a olhando. – Espero que possa me contar depois que estiver melhor.

Sasuke dirigiu um pouco mais de meia hora até chegar ao hospital de konoha. Entrou com a morena nos braços sendo amparado por um enfermeiro que o ajudou a colocar a garota em uma maca.

– O que aconteceu com ela? – perguntou o enfermeiro.

– Não sei informar, eu a encontrei na estrada e a trouxe para este hospital. A propósito, Tsunade se encontra? Gostaria que ela mesma cuidasse da menina.

– Está sim. – respondeu o enfermeiro. – Levarei a garota para ser examinada, vou pedir a Tsunade que venha aqui trazer noticias.

O enfermeiro saiu empurrando a maca em que estava a moça para ser atendida. Sasuke sentou em um sofá que tinha na recepção, esperando por noticias.

Passou-se mais de uma hora e nada da loira aparecer, o Uchiha já estava impaciente. Queria ir para sua casa, tomar banho e ter uma boa noite de sono, mas não sairia dali até ter noticias da garota, ia contra seus princípios deixar o hospital sem saber como ela estava. Sua impaciência foi quebrada pela chegada da médica.

– Como ela está? – perguntou rápido.

– Aparentemente bem. Quando chegou estava com febre, mas já conseguimos neutraliza-la, quanto ao ferimento da cabeça não parece muito grave, mas a perda de sangue foi significante.

– Então ela vai ficar bem?

– Sim... Mas agora me diga Sasuke, quem é essa garota?

– Eu não sei apenas a encontrei na estrada.

– Em suas vestes não havia documentos e eu nunca a vi na cidade. Já que é este o caso vou ter de chamar o delegado para averiguar essa situação, mas só farei isso amanhã.

– Está bem.

– Agora vá para casa e descanse.

– Sim. Amanhã à tarde voltarei para vê-la, sei que preciso falar com o delegado.

– Certo. Até amanhã então. – disse a loira caminhando para a sala da direção.

O moreno saiu do hospital direto para casa. Tomou um relaxante banho, depois se jogou em sua cama. Pensou um pouco na garota que havia encontrado mais cedo, estava curioso para descobrir o que tinha acontecido com ela. Vencido pelo cansaço caiu no sono.

~II~

O loiro acordou logo cedo pela manhã, apesar de ter seu sono interrompido na noite anterior pelo amigo estava de bom humor. Seus pais não estavam em casa, tinham ido a evento na cidade vizinha, mas estariam de volta ao anoitecer.

Naruto passou boa parte da manhã fazendo tarefas domésticas. Terminou tudo antes das nove horas da manhã, depois foi jogar um pouco de vídeo game, mas logo enjoou, pois jogar sem o amigo não tinha muita graça.

Havia combinado de passar na casa do Uchiha a tarde, mas o tédio estava falando mais alto. Lembrou que era sábado, e nesse dia eles e os amigos sempre iam à mesma lanchonete, para conversar e se divertir um pouco. Pensou que talvez a visita à garota, tomaria uma boa parte do tempo deles, então decidiu ir à casa de Sasuke mais cedo para irem logo ao hospital.

Pegou as chaves do carro, trancou as portas e saiu rumo à casa do Uchiha.

~II~

Tsunade analisava alguns laudos médicos em sua sala quando ouviu leves batidas a porta.

– Pode entrar. – disse a loira demonstrando cansaço.

– Desculpe atrapalhar Tsunade-sama, mas a garota já acordou.

– Não precisa se desculpar Shizune. Como ela está?

– Acho melhor ver com seus próprios olhos, ela está assustada, não disse uma palavra.

– Entendo. – disse a loira pensativa.

Tsunade deixou os laudos em cima da mesa e saiu rumo à sala de observação. Antes de entrar olhou pelo vidro e observou a garota olhando para o nada. Foi até a porta e a abriu chamando a atenção da paciente.

– Como se sente? – perguntou sem receber resposta. Caminhou até a menina e verificou o pulso da mesma, depois colocou a mão na testa da garota que parecia assusta. – Você está bem melhor. – sorriu. – Ninguém aqui vai te machucar, pode ficar tranquila. – tentou ser o mais amável possível. – Onde está sua família Hinata?

A menina a olhou assustada. Abriu e fechou a boca várias vezes, mas de seus lábios não saiu som algum. Ela parecia se esforçar para dizer alguma coisa.

– Então esse é o meu nome? – perguntou a morena a loira.

A médica olhou surpresa. Ela não se lembrava do próprio nome? A situação havia se complicado um pouco.

– Sabe me dizer o que aconteceu com você? – a pergunta foi respondida com um manear de cabeça em negativa. – Não posso afirmar com certeza o que aconteceu, mas acredito que tenha sido agredida. – suspirou. – Temos que descobrir quem é sua família, assim vai ficar mais fácil saber o que aconteceu contigo.

– Senhora? – chamou a morena corada.

– Me chame de Tsunade ok? – falou a loira sorrindo.

– Está bem. – disse tímida. – Será que pode arranjar algo para comer? Estou com um pouco de fome. – Perguntou tímida.

– Que falha a minha, vou providenciar seu café da manhã. – falou caminhando em direção à porta. – Volto já. – disse saindo do quarto.

~II~

O loiro havia chegado à casa do Uchiha. Bateu violentamente na porta, pois sabia que o moreno tinha o sono pesado. Logo Sasuke abriu a porta com cara de poucos amigos.

– Mas que porra Naruto, isso são horas? Combinamos que você viria à tarde. – Falou o moreno enrolado em um lençol, e só percebeu que estava assim quando viu que algumas adolescentes que passavam na rua lhe lançavam olhares maliciosos. – Entra e fecha essa maldita porta.

– Fica calmo Sasuke. – falou entrando e fechando a porta. – Vim mais cedo, pois hoje é dia da nossa reunião com nossos amigos e precisamos passar no hospital primeiro.

– É verdade, tinha esquecido. – disse pausadamente. – Vou vestir uma roupa e já volto, tente não quebrar nada.

– Vai pra o inferno. – berrou o loiro vendo o amigo bater a porta do quarto.

Passou alguns minutos até o moreno sair do quarto arrumado, pronto pra sair.

– Finalmente, você demora mais que mulher para se arrumar. – falou o loiro.

– Não enche Naruto, estou de mal humor.

– Você está de mau humor todo dia, tenebroso vai ser o dia em que acordar cantarolando e sorrindo.

– Vamos logo, estou perdendo o pouco de paciência que me resta.

Eles decidiram usar o carro de Naruto para ir ao hospital por ser mais espaçoso.

– Como é a garota? – Perguntou o loiro concentrado na estrada.

– O que?

– Quero saber se ela tem a nossa idade, se é de Konoha.

– Ela deve ter uns 17 anos; nunca a vi pelas redondezas.

– Você disse que ela estava ferida, será que foi atropelada?

– Acho que não, pois só vi um ferimento na cabeça e Tsunade não me falou nada a respeito, imagino que tenha sido agredida por alguém.

– É por isso que não gosto do Hallowen, sempre sai coisas desse tipo na televisão, geralmente são crimes cometidos por adolescente inconsequentes.

– Nós só temos 22 anos Naruto, passamos por essa fase há pouco tempo.

– Mas nunca cometemos atos irresponsáveis. – Se defendeu o loiro.

– Porque eu sempre estive do seu lado para impedir que fizesse besteiras.

– Diz pra mim algo de grave que me impediu de fazer?

– Namorar a Sakura, por exemplo. – respondeu o moreno. – Sei que ainda gosta dela, mas acho que você merece alguém especial, que te dê valor.

– Fiquei sabendo que ela ficou com o Sai. – riu triste. – Sou o único idiota que não mereço uma chance... Mas quer saber? Eu não ligo, Konoha tem muitas garotas, uma hora eu encontro a que me completa.

– Eu estou namorando a Karin, mas não a amo. Enquanto não encontro a certa me divirto com as erradas. – Sorriu de canto.

– Devo lembrar que a Karin é minha prima? Se não gosta dela a deixa em paz. – falou bravo

– Ela é legal, não fica me ligando o tempo todo querendo saber onde estou e com quem, ela tem suas qualidades.

– Só que como você disse não a ama. Libere-a desse relacionamento sem futuro, deixe que ela fique com um cara que goste dela.

– Vou terminar com ela, mas não agora.

– Você quem sabe, só não a magoe, por favor.

– Fique tranquilo quanto a isso.

Os dois fizeram o restante do caminho em silencio. O moreno observava a paisagem, pensativo. Já Naruto mantinha os olhos fixos na estrada, pensando em certa rosada.

Depois de alguns minutos chegaram ao hospital. Naruto estacionou o carro e os dois foram para a recepção.

– Bom dia. – disse o moreno a recepcionista. – Meu nome é Uchiha Sasuke, gostaria de falar com a Tsunade-sama, por favor.

– Vou verificar se ela está disponível, aguarde um momento, por favor.

Os dois sentaram no sofá da recepção e voltaram a conversar.

– Odeio quando falam: Aguarde um momento, por favor. – disse o moreno observando a recepcionista.

– Por quê? – perguntou o loiro.

– Me lembra de quando tenho de ligar para a operadora do meu celular para cancelar um serviço ou reclamar de algo. Parece que fazem isso propositalmente para ver se desistimos.

– É verdade. – estava pensativo. – Você é o meu melhor amigo... Estou precisando desabafar. – falou um pouco desanimado.

– É sobre a Sakura?

– Você me conhece, sabe que sim. Desde pequeno eu sempre gostei dela, sempre tentei conquistá-la. É difícil ver um cara chegar do nada e conseguir em dias o que eu não consegui em anos.

– Eles não estão namorando Naruto.

– Eu sei, mas ele está com ela... Mesmo que não seja nada oficial eu me sinto mal. Sempre tentei a agradar, mostrando que ela era especial pra mim, faria qualquer coisa para tê-la ao meu lado. Ser rejeitado por alguém que você ama dói.

– Ela só te vê como amigo. Ouça o que eu te digo, apesar dela ser minha amiga não vale a pena.

– Por que você nunca ficou com ela? Afinal ela sempre correu atrás de você.

– Ela é infantil, mimada e muito irritante. Somos amigos e isso nunca vai mudar, pode ter certeza. Sem contar que sou como você.

– Como eu? Em que sentindo?

O moreno não pôde responder, pois Shizune chegou.

– Olá meninos. – cumprimentou sorridente. – A Tsunade-sama está à espera de vocês na direção.

– Obrigado Shizune. – falou o Uzumaki. – Não precisa nos acompanhar eu sei o caminho.

O loiro foi para sala de Tsunade, entrou sem bater na porta.

 – Olá vovó. – cumprimentou o loiro risonho.

– Já disse que não tenho idade para ser sua avó moleque. – falou brava. – Como está se sentindo Sasuke? – Perguntou ao moreno que se encontrava ao lado de Naruto.

– Estou bem, mas e ela? Como está?

– Bem também.

– Ela disse o que aconteceu?

– Ela não se lembra de nada, nem mesmo o próprio nome. A maior pista que temos é o cordão que estava em seu pescoço, pelo jeito o nome dela é Hinata, é o que diz o pingente do cordão. Reparei que o pingente é de ouro, e que ela é uma menina delicada, acredito que seja de família rica.

– Já é um começo. – Comentou o loiro.

– Já liguei para Kakashi e expliquei toda situação, ele está a caminho para interrogar a garota.

– Se não for incômodo, gostaria de conversar um pouco com ela. – Pediu o moreno.

– Claro que pode. Talvez assim vocês nos ajudem a descobrir alguma coisa. – falou pensativa. – Acho que já vi aqueles lindos olhos em algum lugar, mas não me lembro, estou ficando velha.

– Os olhos dela te lembram de alguém? Como são? – perguntou o loiro.

– Vamos até o quarto, é melhor que vejam com seus próprios olhos. – disse a loira caminhando até a porta do escritório, sendo seguida pelos rapazes.