Chegou o dia, eu só estava esperando a hora exata em que os guardas trocavam de turno. O guarda de dia era um meio gordo, meio musculoso, já que era impossível ser gordo e sobreviver aqui eu suspeitava que parte daquilo que preenchia a sua roupa vinha das horas de malhação durante o treinamento. Eu não tinha ideia do nome ou do número dele, era o guarda diurno e eu geralmente trabalhava e treinava nesse período do dia, mas eu sabia de algo importantíssimo, ele era muito impaciente, durante o turno ficava sentado até que alguém aparecesse e o visse então ele levantava rapidamente e logo voltava a sentar. Havia uma buzina que anunciava a troca de turno e quando ela tocava, mesmo que o outro não estivesse lá, esse guarda, que não aguentava mais esperar nem um segundo, sai e deixa o portão desprotegido. O guarda noturno era o Pedro, esse eu conhecia bem, já tinha tentado de tudo com ele, tentei seduzi-lo, foi uma ideia bem idiota, suborná-lo, outra idiotice. Todas essas ideias pareciam sempre estar dando certo até que ele caia na real e me chutava de volta para o alojamento.

Alguns guardas daqui tinham uma peculiaridade, eles eram drogados, mas maconha, crack, cocaína, nem mesmo álcool existia aqui, quase ninguém sabia o que era isso, portanto eles usavam algo diferente, Pedro também, ele era viciado em analgésicos. Quem podia ter acesso à droga eram dois tipos de pessoas, os médicos e alguns enfermeiros, é claro, e os guardas que em troca faziam vista grossa para o que acontecia no hospital, por isso eu estava sempre por lá, bom além de que eu me machucava bastante nos treinamento, mas às vezes eu fazia de propósito, o hospital era a área mais livre, ou a menos controlada, daqui e eu gostava de lá, foi onde eu conheci o Jef depois de nós dois coincidentemente termos quebrado o mesmo osso da perna no mesmo dia. Bom, voltando, acontece que Pedro quase nunca chegava na hora do seu turno e quando chegava, 5 minutos depois do outro guarda sair, ele estava tão dopado que não via tudo turvo. Outro dia pousou um pássaro na frente dele e o louco achou que fosse uma criança passeando pelo pátio. Havia outros guardas, é claro, mas o turno destes dois coincidia sempre nos dias múltiplos de seis do mês, 6, 12, 18, 24, 30. Hoje era dia 18, eu venho observando os dois por um bom tempo e hoje eu sairia desse lugar.