Brad entra voando pela minha janela. Eu adoro quando ele fica com essa forma, é simplesmente adorável, o sol o iluminava e todo o quarto refletia a sua cor nas paredes, era lindo principalmente em uma hora tão sombria do dia, mas eu não tinha tempo para ficar admirando o belo animal de penas azuis que se encontrava na minha frente agora, Demetria estava chegando pra nos levar ao campo. O treinamento é uma incessante luta, todos os dias, durante as 12 horas que ela dura nós temos um roteiro programado impresso por Ela, e por isso, um roteiro fatal. Não são nem um pouco raras as vezes que alguma de nós chega com um grave ferimento em casa e isso não é novidade, pois lá acontecia da mesma forma, é por isso que temos um centro de atendimento nos campos e eu os conheço bem, já que nos últimos 7 anos passei boa parte do meu tempo dentro deles, as marcas ficaram comigo para sempre, as nas minhas costas pelas chibatadas, e os inúmeros cortes e pontos nas pernas e braços que eu ia ganhando através da minha jornada, por algum motivo que eu nunca entendi Ela gostava de me ver sofrer, pois os meus treinamentos eram sempre mais difíceis que os normais.

A minha rotina de hoje era simples, depois que passamos a viver aqui eu a Lucy temos treinamento só 3 vezes por semana, alongamento nas primeiras 2 horas, depois treinamento marcial por mais 6 horas e as 4 restantes era o conhecido labirinto, uma vez que você estivesse dentro só poderia sair pela porta do outro lado do campo ou quase morto, claro que não era tão simples assim, bombas explodindo, robôs assassinos vindo na sua direção, grandes facas e arcos lançados para te atingir num ponto certeiro para que não haja possibilidade de continuar, não foram poucas vezes que eu vi gente morrer ali e eu pensava como Ela podia ser tão insensível. Se aquele lugar era o inferno então Ela era o diabo.

– 0805! – Fico de pé rapidamente enquanto Demetria circula em volta de mim procurando algo errado com a minha arrumação, mas meu cabelo está bem preso e eu estou usando a roupa especial que nos permite usar nossos poderes normalmente, ela se adapta a sua forma, é uma roupa elástica colada no corpo, ao senti-la pela primeira vez parecia que eu estava nua, mas ela nos da mobilidade para lutar e desviar de ataques.

O número que ela pronunciou é o meu código, eu me lembro perfeitamente do dia em que me marcaram, pois foi a primeira vez que eu subi no palco central da praça. Eu tinha dez anos e havia recém chegado, um guardo me levou gentilmente a praça, naquela época eu era tão ingênua que eu achei que eu ia ter que apresentar alguma dança do Ballet que eu fazia antes, ele me posicionou em uma fila de crianças, acontece que aos 8 anos todas as crianças passam a ser consideradas e tratadas como jovens e para oficializar essa passagem há a marcação. O 1º número significa a classificação do poder, ou seja, o quão poderoso você é, vai de 01 a 12, mas a maioria recebe um 06 ou 07. O segundo número é apenas para identificação já que não pode haver dois 07 o primeiro a ser marcado é 0700 e o segundo 0701 e assim por diante. O seu número você carrega para sempre ali dentro mesmo depois da passagem para a fase adulta. O número da Lucy era 0644, mas obviamente a Demetria decorara muito mais fácil o meu do que o dela.

– Vamos. – Estamos todos na sala, pernas fechadas e mãos nas costas. Os guardas que acompanharam Demetria nos unem em um círculo e teletransportam todos para o campo de treinamento.

Brad fala suas últimas palavras antes de começarmos – Boa Sorte maninha- Não tenho tempo de retrucar porque a treinadora vem vindo em minha direção e eu já começo a sentir a dor que está por vir.