Imortais escrita por Rogue


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :3



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“Não é livros e pesquisas que fazem uma pessoa sábia, e sim a curiosidade.“

                Depois da primeira mordida no pedaço de frango eu já não me importava se era comida dos Imortais, se eu parecia uma selvagem ou se havia alguém me olhando. Eu comi vigorosamente, sabendo que meu estômago reclamaria mais tarde por não estar acostumado a receber essa quantidade de comida, ignorando todos ao meu redor. Eu sentia o olhar das outras garotas na mesa quase queimando sobre minha pele, mas só levantei a cabeça para encará-las de volta quando senti que não caberia mais nada dentro de mim.

-Que tipo de coisa vocês fazem aqui? – eu perguntei, ficando satisfeita quando minha voz saiu clara e alta. Elas pareciam bem saudáveis e nada feridas.

-Nada. – uma delas falou. Ela era mais velha do que eu, tinha cabelos longos e lisos e o número na sua roupa era o 84. – Nada que possa ser chamado de trabalho. Cobaias poderia se adequar melhor a situação.

-Como assim?

-Você verá. Qual o seu nome? Eu sou Bianca. – a mesma garota disse, dando um sorriso amarelo.

-Amy. E eu odeio mistério.

-Ninguém nunca sabe o que eles fazem realmente. Nós ficamos aqui, eles nos alimentam, recolhem nosso sangue e fazem exames de tempos em tempos e um dia te levam. Você nunca volta. Fim. – outra disse. Ela era mais nova do que eu, tinha adoráveis cachos loiros, olhos azuis e era bem pequena. – Quanto mais nova você for, mais rápido eles te levam. – Ela disse estremecendo. – Eu sou Demétria.

-Essa parte não é bem verdade. Eles te levam a qualquer hoje se você tiver o que eles procuram, não importa que idade você tenha. Demétria só está maluca com essa idéia porque nos últimos dias levaram 8 garotas da idade dela. – Bianca disse revirando os olhos. As outras garotas, deveriam ser 7 ou 8, continuavam observando silenciosas.

-Eram as únicas da minha idade! A próxima deve ser eu.

-Quantos anos você tem? – Perguntei realmente curiosa.

-14. Se minhas contas estiverem corretas faço 15 daqui a dois meses.

-Eu tenho 16. – falei baixo. Se pegavam as mais novas eu deveria estar encrencada como Demétria.

-Bom, eu tenho 23. – Bianca disse, acompanhada das outras garotas, que uma por uma disseram suas idades. Estavam entre 17 e a mais velha tinha 25.

-Nunca passa disso – a mais velha disse – Quando você tem 25 pode esperar pelo pior. Eles com certeza te levarão... ainda não sei o que estão esperando para me pegar.

-Vocês não tem nenhuma idéia do que fazem?! – Perguntei achando aquilo o maior absurdo do mundo e perdendo as esperanças de encontrar alguém do meu grupo naquele lugar. Se só havia garotas entre 14 e 25 anos, com certeza nenhuma do grupo estaria aqui, já que eram bem mais velhas.

-Não. E pra falar a verdade, nem quero saber. O que os olhos não vêem o coração não sente, não é isso? Se eu soubesse como seria o meu fim passaria os dias com medo de minha própria sombra. É só ficar aqui e respeitar as regras dele. Se te levarem cedo, bom, se demorarem a te levar, ótimo. Pelo menos temos comida e água quente. – Bianca falou – antes de vir para cá eu vivia fugindo com os meus pais, que desrespeitaram a política do filho único e viraram foras da lei.

Eu me senti tentando a perguntar o que havia acontecido com os pais dela, mesmo já sabendo a resposta. Os Imortais eram extremamente severos com os Mortais que desrespeitavam a lei do filho único. Foi exatamente essa lei que causou toda a revolução. Eu havia escutado a historia uma série de vezes.

Aconteceu bem antes de eu sonhar em nascer. Os Imortais já dominavam boa parte da terra e foi quando tudo começou a virar um caos por causa da super lotação. Era o ano de 2050 e havia 15 bilhões de pessoas na terra, sendo 40% Imortais e o número não parava de subir. A pobreza aumentava cada vez mais, os governos não tinham controle sobre mais nada e então vieram os Imortais com suas idéias revolucionarias: Cada casal Mortal só poderia ter 1 filho, caso contrario pagaria multas absurdas ou poderia serem presos (é claro que isso não cairia sobre os Imortais. Eles não podem ter filhos). Isso não deu muito certo, já que não levaram a lei a sério. Então em 2075, quando a população atingiu a marca de 18 bilhões, sendo a maior parte deles Imortais, o governo (que nessa época já era controlado por Imortais) tomou atitudes drásticas; as famílias com mais de um filho teria de entregar o mais novo(s) para o governo. BAM! Caos, protestos, guerras... Mortais x Imortais. Mas no fim toda a briga de nada adiantou, as crianças foram levadas pelo governo e nunca mais vistas. Isso gerou a série e conflitos e guerras mais tarde. Agora, existiam aqueles Mortais que aceitavam viver dentro da regra dos Imortais. E existiam Mortais como eu, que se juntavam aos grupos rebeldes e tentavam fazer justiça.

Esses eram os que sempre acabavam mal. 

  -Aqui não é tão ruim. – Demétria disse tirando-me dos meus devaneios. – Você pode ver Tv, saímos para tomar sol antes das avaliações todas as manhãs, pode visitar a mim ou Bianca no nosso quarto antes do toque de recolher. Apenas não faça nenhuma idiotice e eles irão de tratar bem. – assim que ela terminou de falar um sinal tocou e as garotas começaram a se levantar. – Esse sinal significa que acabou o jantar. Temos 40 minutos antes do toque de recolher.

-Agora voltamos aos quartos? – Perguntei, meio perdida no meio daquilo tudo.

-Sim, ér, se você não quiser ficar sozinha pode vir comigo para o meu até o toque de recolher. – Demétria ofereceu.  Embora eu não era do tipo de pessoa que adorava a companhia de outra, por mais agradável que fosse, mas estava confusa demais pra conseguir ficar sozinha naquele lugar, então aceitei o convite.  O número na roupa de Demétria era o 120 e ela estava ali a apenas dois meses, eu preferi não perguntar como foi que ela parou ali, do jeito que era tagarela acabaria me dizendo uma hora ou outra.

-Todos os Imortais aqui conhecem a nossa língua, então não faça a mesma besteira que eu, dizendo qualquer coisa perto deles achando que não entenderiam. – Ela disse quando entravamos no elevador que levava até nosso andar.

Ah, por acaso eu comentei? Imortais tem sua própria língua, denominada ‘Ansa’, embora algum deles (principalmente os mais velhos) conheciam nossas línguas antigas, ou pelo menos as que sobreviveram a nova ordem: o inglês, o espanhol, o português, o francês e o japonês. Mas isso não importa agora.

-Nenhuma garota que foi... nunca voltou? – eu tinha medo de estar enchendo o saco de Demétria com esse assunto, mas eu não conseguia evitar. A curiosidade estava fazendo meu estomago revirar e eu não queria colocar todas as maravilhas que eu havia comido para fora.

-Não... estou aqui a pouco tempo, mas Bianca está a bastante e ela disse que nunca, nunquinha, uma garota voltou. Vai saber o que fazer com elas... o que vão fazer conosco.

-E se perguntássemos? Tinha uma mulher... Ela não parecia ser totalmente ruim. Talvez se eu perguntasse a ela...

-Samira?

-Não sei! Ela nunca disse seu nome.

-Só pode ser ela. Ela veio para mim também. Com um sorriso bonito, roupas chiques e voz simpática. – ela disse – Não confie nela. Aqui, esse é o meu quarto.

-Igualzinho ao meu. – comentei entrando no cômodo.

-Aham, são todos exatamente assim. Pode se sentar. – Demétria fechou a porta e se jogou em um dos sofás. Caminhei meio tímida para o outro, me sentido mais fora de lugar do que antes.

-Você parece se sentir bem confortável aqui.

-Ah, me acostumei. Se me fizessem escolher entre ficar aqui e voltar para meus pais, acredite, eu ficaria. – ela disse dando de ombros.

-Eles eram maus para você?

-Não até quando os Imortais vieram... Eles não foram maus, eles só foram... covardes. –Ela disse dando de ombros. – Me venderam em troca de perdão.

-Isso é...

-Horrível, triste, ridículo... eu sei. Já me disseram uma porção de vezes. Mas enfim! Amanhã você vai ver realmente como as coisas são. Está preparada?

Eu queria saber mais sobre como Demétria havia chegado ali, mas aceitei mudar de assunto. Ela e Bianca pareciam tão conformadas e frias em relação ao que acontecia que até me assustava. Eu não iria me conformar com isso tão fácil assim. Minha curiosidade estava quase me levando à loucura! Se essa séria minha vida a partir de agora, eu queria pelo menos saber o motivo.


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Notas finais do capítulo

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