Imortais escrita por Rogue


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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“Existem diferentes tipos de pessoas no mundo: os fracos, os fortes e aqueles, que assim como eu, são um meio termo entre essas duas coisas.”

Na semana passada, depois de quase vomitar as tripas para fora, eu havia jurado que nunca mais comeria batatas. Mas agora, quase desmaiando e com uma dor de cabeça infernal por causa da fome, eu faria qualquer coisa por nem que fosse apenas uma lasca delas.

Eu sabia, no fundo eu sabia bem, que acabaria desse jeito. Um bando de mortos de fome nunca conseguiria nem mesmo abalar uma pequena parte dos Imortais. Talvez fosse exatamente por saber disso que eu concordei em participar da rebelião. Morrer de uma forma heróica parecia mais agradável do que morrer covarde em um buraco na terra.

Eu estava lutando contra a escuridão. Eu não desmaiaria. Porque se eu o fizesse eu sei que não acordaria mais. E eu queria ficar acordada até que eles viessem me pegar na cela e me levar até onde me executariam. E que fosse de uma forma bem bárbara, como me decapitar ou arrancar os meus membros lentamente até que eu morresse de tanto sangrar. Eu queria morrer de uma forma que fosse lembrada. Eles poderiam pendurar minha cabeça no centro da cidade como aviso às rebeliões. Eu não me importava. Eu queria que alguém pensasse que eu fui útil, ou ao menos corajosa. Eu queria ser lembrada. Por isso me forcei a levantar apoiando-me na parede fria quando escutei passos do outro lado da porta e por isso não abaixei a cabeça quando dois guardas Imortais entraram na cela e prenderam minhas mãos com a algema fria e apertada. Fiz uma reza silenciosa para que meus joelhos bambos não me traíssem naquele momento me fazendo cair. Quando mais adentro dos corredores me levavam, mais eu percebia que havia algo errado e eu percebi que estava certa assim que soltaram minhas mãos e me enfiaram em outra sala, dessa vez maior e mobiliada. Uma mulher Imortal estava sentada em um dos sofás, com as costas perfeitamente eretas, a mão pousada sobre o colo e um sorriso que poderia ser lindo se chegasse aos olhos.

–Seja bem vinda, Sra. Furlan. – Ela saldou com sua voz melodiosa. Seu português sem erros ou sotaque revelava que ela era velha. Eu queria perguntar que diabos era aquilo, mas minha boca estava seca demais para eu conseguir falar, então apenas observei, esperando que ela falasse. – Eu gostaria de esclarecer algumas coisas antes de levá-la para onde será suas estalagens a partir de hoje. Sente-se aqui. – ela chamou. Um dos guardas me cutucou para que eu a obedecesse e assim ele saiu junto com o outro, me deixando a sós com a mulher.

–Você pega junto a um grupo de Mortais rebeldes. Você sabe qual é a punição para quem se rebela contra os Imortais, Sra. Furlan? – ela continuou quando eu me sentei no sofá ao lado dela, nunca perto demais. Eu não respondi de novo e ela suspirou impaciente, desfazendo seu sorriso. – A morte, Sra. Furlan.

–Me matem logo então. – Eu tentei dizer, não ficando surpresa quando minha voz saiu como um sussurro rouco e entrecortado.

–Felizmente para você, Sra. Furlan – ela sorriu – estamos oferecendo uma chance de ser perdoada. – Ela ressaltou a palavra ‘oferecendo’ e eu entendi que não poderia recusar de todo jeito. – Estamos realizando uma pesquisa, a fim de tornar nossa vida ao lado dos mortais cada vez mais agradável. Você será uma de nossas voluntarias. Terá tudo o que precisa apenas por colaborar conosco e essa sala será sua a partir de agora.

Olhei em volta. Havia dois sofás de couro negro e uma pequena mesa de madeira marfim perfeitamente polida entre eles. Uma grande Tv ligada a outros aparelhos que eu nunca vi de perto e uma porta que eu não sei para onde levava. Era mais do que tudo que eu havia tido ao longo da vida, com certeza, mas eu só conseguia ter nojo daquilo.

–A porta leva até o quarto e o banheiro. Eu espero que tome um banho e se troque antes do jantar, há roupas no armário. – Ela se levantou e saiu batendo seu salto irritante no chão e eu não tinha forças para protestar. A palavra ‘jantar’ havia feito minha cabeça e embora eu soubesse que não deveria confiar em Imortais e estar bem ciente de todas as vezes que haviam me dito “Não aceite nada deles, porque sempre terá um preço alto demais para você pagar” eu me levantei e caminhei cambaleante até a porta que levava ao quarto.

Uma cama de casal ficava no centro. Também havia uma Tv e os aparelhos estranhos. As paredes eram em tons claros e doentios assim como os corredores, mas ainda assim, havia algo que atraia no quarto. Talvez fossem os lençóis macios e os travesseiros de pena. Isso era a última palavra de luxo para mim, uma Mortal que viveu a vida inteira se escondendo em porões e cavernas. Eu queria ser forte o suficiente para recusar tudo aquilo, mas em vez disso, eu abri a porta do armário pequeno que ficava ao lado da cama e verifiquei as roupas. Eram tecidos claros e macios, de seda e algodão, todos eles tinham o número ‘125’. O número significava uma contagem? Então haveria mais Mortais além de mim? Talvez alguém do meu grupo ainda estivesse aqui, vivo. Essa idéia até me animou um pouco. Tirei um dos vestidos do armário e a coloquei sobre a cama, então tirei minha própria roupa e a deixando ali mesmo no chão, fui para o banheiro.

Minhas mãos tremiam de ansiedade quando liguei o chuveiro. Há quanto tempo eu não tomava um banho decente! E embora eu tivesse acostumada a ter que esquentar a água e me banhar com algum caneco, não havia nada com a água correndo sem precisar de eu fazer nada para isso. Fiquei parada por uns instantes sentindo a água escorrer, desejando que ela varresse todas as dores, mas era impossível. Eu havia cogitado a possibilidade de ficar debaixo da água até que minha pele estivesse enrugada, mas me lembrei que a Imortal havia dito algo sobre jantar, então peguei um dos sabonetes cheirosos e me lavei o mais rápido possível e me enrolei em uma das grossas toalhas que estavam penduradas no banheiro. No quarto, minhas roupas sujas haviam desaparecido do chão, o vestido que eu havia pegado continuava no mesmo lugar, só que com um par de roupas intimas desconhecidas ao seu lado. Alguém entrou ali, com certeza. A Imortal que eu havia conversado antes parecia elegante demais para esse tipo de tarefa, então deveria ter sido um empregado qualquer. Sequei-me e coloquei as roupas, que eram extremamente sedosas contra minha pele, sentindo-me totalmente estranha. As únicas coisas familiares que haviam restado, eram meus coturnos (que haviam ficado limpos magicamente) e meus cabelos, que eu havia mantido rebeldes e embaraçados, embora não houvesse sido possível mantê-los secos enquanto eu tomava banho.

Fiz o caminho para a sala e antes mesmo que eu me sentasse para esperar a de entrada foi aberta e a Imortal com quem eu havia falado antes entrou. Seu rosto estava com o mesmo sorriso de quando nos encontramos pela primeira vez.

–Que bom que seguiu minhas recomendações, Sra. Furlan. Agora me acompanhe, por favor. De estar com fome. – Ela disse e eu a segui.

No corredor eu percebi que havia mais portas como a minha, todas elas numeradas, eu consegui contar do 125 (minha própria porta) ao 115 antes que a mulher me enfiasse em um elevador. Paramos no andar 45°. Dessa vez não havia corredores e sim um grande refeitório, cheios de pessoas. Garotas. Apenas garotas. Todas elas não deveriam ter mais de 25 anos e algumas pareciam mais novas do que eu, que tenho 18. Algumas olharam curiosas, mas sem grande interesse, como se não fosse à primeira vez que viam uma estranha entrando por ali. Elas vestiam roupas parecidas com as minhas próprias e com números do lado esquerdo no peito, como havia o ‘125’ no meu vestido. E todas elas eram Mortais, assim como eu. Havia 10 grandes mesas, todas elas repletas de comida, mais comida do que eu já tinha visto a vida inteira. A Imortal que me acompanhava me empurrou para uma das mesas delas e sorriu maliciosamente para mim.

–Considere essas garotas como suas companheiras de trabalho, Amy Furlan. E coma o quanto quiser... precisaremos de você saudável para nossas experiências.


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Notas finais do capítulo

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