Loki acordou no dia seguinte em um sobressalto. Vozes agitadas tomavam o andar de baixo e logo uma empregada veio chamá-lo em seu quarto.

Ele até pensou que Thor havia desistido e voltado de sua viagem, mas ela lhe disse:

– Seu pai, o rei Laufey está aqui.

– Meu pai?

– Sim, disse que precisa falar com você urgentemente.

Loki então desceu e se encontrou com seu pai, que estava na sala de visitas e o aguardava acompanhado de outros seis soldados do palácio.

– Podem ir, por favor. – disse assim que fechou a porta – Vão, ele não fará nada. Eu prometo.

Os seis então muito relutantemente saíram e deixaram pai e filho sozinhos.

– O que você pensa que está fazendo aqui? – perguntou se aproximando de Laufey que o encarava muito sério.

– Eu vim vê-lo.

– Você sabia muito bem que Odin e Thor não estariam aqui hoje não é mesmo?

– Naturalmente. – o rei gigante sorriu.

– Por quê? O que você quer?

– Oh, não ouvi o que disse...a aliança em seu dedo me chamou bastante a atenção. Então, é verdade? Os boatos que chegaram até a mim são de fato reais? Você consumou seu casamento com o asgardiano?

– Isso não te interessa. – Loki respondeu, seus olhos fugindo dos de Laufey.

– Pelo contrário. Você fez exatamente aquilo que não poderia ter feito, Loki.

– Eu nunca disse que te ajudaria! Eu nunca disse que me arriscaria por causa dessa vingança estúpida!

Neste momento Laufey estapeou seu rosto, fazendo-o cair com tudo.

– Eu não preciso de você. Nunca precisei. Você só foi uma ferramenta...mas já vi que não serve para nada. – o mais velho respondeu.

– Ótimo. – Loki respondeu se recompondo, tremendo de raiva.

– Você é tão tolo. Tão inocente ao achar que essas pessoas possam te aceitar algum dia...

– Eu nunca pensei nisso...

– Que Thor esteja apaixonado por você...- Laufey interrompeu fazendo-o ficar sem reação – ou você acha que eu acredito que você foi forçado a consumar esse pacto? Ou que até era algo estratégico de sua parte tal coisa? Está no seu olhar, Loki. Está no seu jeito...patético.

Ele se levantou enquanto engolia suas lágrimas e olhando para seu pai e disse:

– Sim. Pela primeira vez eu começo a agir por mim e quer saber? É libertador...não farei e não serei nada além de minha própria vontade.

– Oh, vejo que você tomou seu partido. Saiba que quando quiser voltar para onde você pertence, eu o lembrarei todos os dias dessa traição.

– Eu nunca voltarei para Jotunhein. Vá embora. Agora.

– É isso o que veremos, Loki. – Laufey sorriu.

Os dois trocaram um olharam antes do rei sair acompanhado dos seis mesmos soldados que o acompanharam até a entrada do reino de Asgard, praticamente expulsando-o.

Loki se sentou por um momento na poltrona e pensou no que tinha feito. Até parecia que ele não se conhecia mais. Poderia negar o quanto quisesse, mas tudo aquilo era por causa de Thor, não poderia ser por outra coisa.

Ele havia deixado seu pai furioso, sabia...mas não se arrependia. Começava a questionar sobre essas mudanças que ocorriam no seu corpo, na sua mente, no seu coração.

Suspirou fundo ao se lembrar que o Thor agora estava muito longe e que ambos ficariam assim por ainda um bom tempo.

– Loki... – a voz de Frigga fez despertá-lo assim que esta entrou no local.

– Sim...- ele respondeu se levantando.

– Por que seu pai veio?

– Não se preocupe, ele já sei foi.

– Sim, eu vi. Mas não quero que isso se repita, não preciso dizer por quê.

– Obviamente que não. Peço desculpas pelo inconveniente.

– Você esta bem? – ela perguntou e Loki sabia que se tratava apenas de uma formalidade.

– Sim.

– Certo. Eu já tomei o café da manhã. Visitarei algumas amigas, volto somente no final da tarde. – avisou a rainha já saindo e deixando-o só novamente.

Os meses que se passaram foram uma repetição daquela última cena. Ele os viveu completamente sozinho, apenas com seus pensamentos e própria companhia.

Pensou sobre sua decisão mais algumas vezes, se lembrou de sua vida antes de Asgard, mas principalmente pensava em Thor. A todo instante. Era algo que começava até a incomodá-lo. Incomodava-o, pois não conhecia tal sentimento, não sabia como reagir. Era desconcertante para ele pensar que até Laufey, o mais insensível ser de todos, tivesse notado isso!

Existia a possibilidade dele apenas estar provocando, obviamente, mas Loki sabia o que sentia verdadeiramente e disso não podia fugir.

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Como tudo o que acontece na vida, Loki se adaptou com aquela situação.

Com a solidão, com a ausência de Thor e com seus sentimentos revirados e confusos. Começava agora a se perguntar se realmente havia sentido tudo aquilo mesmo ou se não tinha passado de ilusão.

Sabia que nutria um afeto pelo príncipe, mas agora se perguntava se a distância não fez seus desejos diminuírem ou seus pensamentos se acalmarem.

O dia do retorno de Odin, Thor e de todo o restante da realeza demorou, mas chegou.

Loki fazia algumas anotações em seu caderno quando ouviu naquela tarde morna de primavera, o barulho dos cavalos se aproximando.

Seu coração disparou e ele agora se sentia muito vivo. Sim, era ele...Thor. Correu até a janela e pode vê-lo chegar e descer do cavalo sorrindo enquanto Odin cumprimentava a todos.

A impressão que Loki tinha era que fazia séculos que não se viam, mas como um golpe certeiro, todos os seus momentos juntos voltaram à sua memória e agora podia sentir suas pernas quererem falhar.

Thor olhou para a janela e assim que o viu, abriu um sorriso ainda maior e correu para dento do palácio, provavelmente para vir ao seu encontro.

“Ótimo, você queria distância. Não está fazendo isso da maneira correta” ele pensou enquanto seu coração parecia querer sair de sua boca.

Após alguns segundos mais tarde seu quarto foi invadido por Thor que rindo o abraçou e o encostou na parede e colando seus lábios de maneira violenta contra os dele.

Loki que ficou completamente sem reação e sem ar, apenas conseguiu rir enquanto as mãos do loiro agarravam seus quadris contra os dele.

– Como foi a viagem, asgardiano? – perguntou enquanto os dois se olhavam agora sorrindo muito.

– Muito demorada. Como você está?

– Eu, eu...

– Meu filho! Seu pai disse que você tinha corrido para cá...que saudades! – disse Frigga entrando no quarto.

– Mãe! – Thor disse enquanto corria e abraçava sua mãe.

Loki sentia um tolo por deixar se levar por tão pouco. Apenas um beijo, um sorriso, um toque e ele teve a certeza que nada do que sentia havia mudado, apenas aumentado.

– Hoje sairemos para comemorar o nosso retorno...todos irão. Você vai, não vai Loki? – Thor perguntou.

– Claro que sim. – respondeu com um sorriso.

– Será perfeito então!

– Você gostou do lugar, filho? É bonito mesmo? – sua mãe perguntou ignorando a presença do jotun.

– Mãe, é incrível. Apesar de todo o tempo distante, posso dizer com certeza que não conhecemos nem um por cento do que aquele reino tem de belezas. Você teria adorado, Loki. Eu comentei com meu pai sobre isso, na nossa próxima viagem você será intimado a ir. – Thor sorriu enquanto Loki ficava sem graça.

– Certo, certo. Bom, vou ver como seu pai e todos os outros estão. Desçam para se juntar a nós. – a rainha pediu saindo e deixando os dois sozinhos novemente.

Thor então se aproximou e Loki tremeu mais uma vez.

– Eu senti sua falta. – ele disse agora sério.

– Eu duvido disso, asgardiano.

– É sério. Eu...eu senti.

Os dois então se olharam e Loki sorrindo perguntou:

– Vamos para onde hoje à noite?

– Não sabemos ainda. Talvez na taverna onde sempre vamos...

– Combinado. Me chame assim que forem, tudo bem?

– Você não descerá comigo? – Thor perguntou decepcionado.

– Ah, não. Estou terminando algumas coisas. Estou ocupado.

– Certo. Tá. Bom, então mais tarde eu venho te chamar.

– Combinado.

– Até mais tarde. Vou ver o restante do pessoal...

– Até, asgardiano. – Loki se despediu e viu Thor sair do seu quarto um pouco triste.

Ele então respirou muito fundo e pensou que deveria agora apenas tentar manter distância de Thor naquela noite.