Mft - The Adventure escrita por Larissa Amorim


Capítulo 6
Um pequeno e velho amigo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/287840/chapter/6

Seguiram por mais quatro horas, em silencio quase absoluto. Chegaram a um porto, e não poderiam mais avançar a pé.

– Bem, é aqui que você nos mostra sua utilidade, professor. – disse Teor.

– Claro, claro – Silver mantinha a mesma expressão fria – Sigam-me.

Andaram por alguns minutos pela praia, aparentemente sem destino. Apenas seguindo Silver. De repente pararam em frente a uma estranha venda, num lugar retirado e pedregoso. Silver bateu palmas, chamou, berrou, mas nada.

– Ótimo, nem o barco você vai nos conseguir! – Teor revirou os olhos.

– Espere aí.

O professor se abaixou, e todos o seguiram, sem saber exatamente do que se tratava. Começaram rodear o estabelecimento engatinhando e dando pequenos tapinhas na parede. Apesar de ninguém se recusar a imitá-lo, às vezes entreolhavam-se abismados.

Até que, em um dos tapinhas, quando já estavam passando pelos fundos do estabelecimento, uma minúscula maçaneta brotou vagarosamente da parede. Aos poucos, a figura de uma portinha com cerca de um metro emergiu naquele mesmo lugar. Todos, exceto Silver, ficaram boquiabertos.

– Então você continua aqui, camarada! – Gritou Silver, encarando a porta com um sorriso de orelha a orelha.

– Seja o que for, não quero comprar nada – resmungou uma voz, vinda do que quer que estivesse do outro lado. A voz aproximou-se.

A pequena porta abriu-se com um rangido alto. Mas de alto naquela casa, só havia o rangido.

A figura que saiu daquela porta tinha cerca de 50 centímetros, um corpo que lembrava uma lontra, e um rosto idêntico aos ratos do pântano. Era surpreendentemente civilizado, usava roupas e até pequenos óculos redondos.

Apesar de nunca haverem tido contato com aquela espécie, todos perceberam na hora do que se tratava.

– Um Lárdor? – Indagou Thor.

– Pensei que você não se surpreenderia, caro aventureiro. – Silver disse, sarcasticamente.

– Eu não estou surpreso... Bem, como posso dizer... São criaturas de difícil acesso, por isso nunca havia esbarrado em um. Geralmente estão se escondendo de medo em algum lugar.

O Lárdor pigarreou.

– Bem, a criatura de difícil acesso aqui – começou – Vai voltar a se esconder de medo.

E bateu a porta.

– Euteriel! Venha aqui dar um abraço em seu velho amigo!

– Não quero amizade com quem mostra minha residência a estranhos! – exclamou, enquanto arrastava uma espécie de corrente do outro lado.

– Seu covarde! Viemos tratar de coisas de seu interesse!

– Meu interesse?

– Sim. Mas primeiro, saia daí!

A porta rangeu por um segundo. Mas parou.

– Vai sonhando! – gritou.

– Nós estamos indo atrás de Valkyria.

A porta rangeu de novo, mas dessa vez abriu-se. De lá, saiu pé por pé, uma figura tímida e cabisbaixa.

– O que vocês estão planejando?

– Podemos te contar, se você nos emprestar aquele velho barco.

O pequeno senhor distanciou-se pela primeira vez da porta, e a encostou. Consentindo.


Enquanto as crianças estavam entretidas com a pequena casa de Euteriel, os adultos sentaram-se na área pedregosa, com vista para o mar. Uma bela vista ajudaria nas negociações.

– Para começo de conversa – disse Euteriel, escondendo-se atrás de Silver – Por que ele carrega essas armas perigosas?

– Ah, isso? – Thor pegou uma flecha e a apontou para Euteriel, que tremeu – Eu não me lembro de uma única vez que não a tenha usado em animais, para comer.

– Animais?

– Sim, lagartos, ratos...

Tremeu ainda mais. Silver encarou Thor.

– É uma brincadeira! – Protestou.

Silver pigarreou e, com um galho, desenhou um circulo na areia da praia. Riscou-o de um lado para o outro, criando trajetórias.

– Nos traçamos uma rota mais curta para chegar até Valkyria. Não temos como evitar o mar, seguindo-a ou não. O único caminho por terra seca passa nas terras élficas do Sul. Não podemos chegar se quer perto, até você deve ter ouvido sobre a guerra. Por isso, precisamos de seu barco.

– O que... – Euteriel estava pensativo – O que vocês querem com ela?

– O livro. – Respondeu Thor.

– E vocês acham que ela vai simplesmente entregá-lo a vocês?

– Aqui está o porquê das flechas.

Silver lançou novamente um olhar de reprovação a Thor, que simplesmente revirou os olhos.

– Eu não vou entregar um barco aos futuros assassinos da ninfa guardiã.

– Ninguém vai assassiná-la! – corrigiu Silver.

– Eu não confio no loiro.

– Mas confia em mim, não é? Ora Euteriel! Lembre-se de nossos dias de juventude, nossas aventuras, nossa amizade inabalável!

– Nossa amizade inabalável foi um pouco abalada quando você decidiu fugir, quantos anos faz mesmo? Doze, se esse velho rato ainda não perdeu sua memória. Doze anos sem uma única notícia. Você prometeu me visitar.

Thor sentiu-se desconfortável por estar ouvindo algo tão íntimo, mas ao mesmo tempo percebeu que daquela conversa podia tirar provas para confirmar, ou não, suas suspeitas. Apenas observou calado.

– Isso não é hora para revirar o baú!

– Silver, aquela menina...?

– Sim.

– Você sabe o que fez?

Thor estava esperançoso, aquela conversa lhe redeu mais que o esperado.

– Eu sei.

– Está louco só de pensar em ir ver Valkyria nessa situação.

– Nem mais uma palavra.

Silver levantou-se, irritado.

– Vim pensando que ainda podia contar com você. Parece que estava errado. Vamos, Arqueiro.

Quando Thor já estava para levantar, o pequeno Lárdor decidiu cooperar, dizendo:

– Como uma condição.

– Qual? – Silver ainda parecia chateado.

– Você dará, pessoalmente, um recado meu a Valkyria.

– Feito. Pode dizer.


Euteriel e Silver retiraram-se por alguns minutos. Quando voltaram, Silver parecia aliviado. Contou aos outros onde poderiam encontrar a embarcação, e partiram os cinco.

Quando partiram, o professor acenou para seu pequeno velho amigo que também acenava na praia, pensativo, com os olhos cansados de alguém que passou quase 30 anos de sua vida escondido atrás de uma pequena portinha, com medo.

Silver refletiu. Após uma juventude aventureira e cheia de perigos, acabou por tornar-se professor e escolheu uma vida monótona. Arrependia-se e nunca esteve em paz consigo mesmo por ter desistido de todos os seus sonhos. Mas, depois daquela visita, o professor da pequena vila élfica de Corvel entendeu que sua vida era razoavelmente boa. E isso ficou mais claro ainda quando do barco, quase desaparecendo no mar, viu seu velho amigo voltar com um olhar melancólico para sua casa, onde permaneceria trancado pelo resto da vida. Provavelmente.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aí. Passei dois dias sem postar, por estar ocupada. Mas vamos lá! Comentem o que acharam :3