Acordo com Maka em meus braços. Isso seria até normal, se ela não estivesse sem camisa. Mas o que aconteceu aqui? Será que... Não. Impossível. Saio do quarto bocejando, deixando a loirinha dormir sossegada enquanto faço algo para comer. Penso em fazer o café da manhã, mas quando olho no relógio mudo de idéia, pois são 11:02 horas. Não há mais tempo de fazer um café da manhã, além do mais, quando Maka acordar, provavelmente já será tarde.

   Começo a cozinhar. Quebro alguns ovos para fazer uma omelete e sigo preparando tudo enquanto penso: O que aconteceu ontem?

   Consigo lembrar de quase tudo que aconteceu ontem, menos o porque de Maka ter dormido comigo e estar sem camisa, apenas de sutiã. Coro ao lembrar de seu rosto adormecido, seu corpo agarrado ao meu, nesta manhã. Ah, Maka, daria tudo para tê-la comigo. Mas você nunca gostaria de um fracassado como eu.

    Volto à tentar lembrar de ontem, enquanto reviro a comida na frigideira. Lembro de Maka ter entrado em meu quarto enquanto eu terminava uma garrafa de vodka... Mas ela ainda estava vestida. Então o que teria acontecido? Eu teria abusado dela? Não, senão ela teria corrido ou algo similar... Mas o que aconteceu? Pergunto para ela? Não vejo outra alternativa, então tento me distraír mais com minha omelete.

   Depois de uma hora, eu termino as omeletes, e faço outras coisas adicionais. Me preparo para ir chamar Maka no quarto, mas sou surpreendido pela mesma, que acordou e está de pé na entrada da cozinha.

- Yoo. - eu digo, nervoso por causa de meus pensamentos - Bom dia.

- Bom dia. - ela responde e boceja, depois cruza os braços e se encolhe como se estivesse com frio. Só então, percebo que ainda está sem camisa, então eu coro até o último fio de cabelo.

- Anh... Maka? - aponto para ela.

- Ué, qual o problema? Nós já somos bem íntimos, não é?

- Ok... Quem é você e o que fez com a Maka?

- Dramático. - ela murmura e se senta à mesa. - Uau. Pensei que só soubesse preparar macarrão instantâneo, mas vejo que sabe fritar uns ovinhos também.

- Ei! Eu aprendi umas coisinhas além disso, tá bom?

- Então você se garante em fazer isso todos os dias?

- B... Bem...

- Tsc, é claro que não. - eu protesto mas ela me ignora. - Ah, sente logo! Estou morrendo de fome.

- Oh, que milagre! - digo enquanto me sento - Você nunca me espera para começar a comer.

- Cale a boca - ela resmunga e nós começamos a comer.

   Depois de um tempo conversando em silêncio, a baixinha pára para me elogiar. Fico fliz que ela tenha gostado, pois pelo menos em omeletes eu posso provar que sou bom. Pelo menos...

   Penso em perguntar para ela, mas ao olhar naqueles olhos verdes e inocentes, não consigo fazer isso. Eu tenho medo que a resposta para essa minha pergunta seja prejudicial à nossa relação de amizade. Amizade... Eu queria ter mais que isso, mas sei que não vou conseguir.

   Termino de comer, seguido de Maka.

- E então, - eu começo a dizer - Temos planos para hoje?

- Acho que não. Você está de ressaca, então eu não sei direito.

- Que tal a praia? - sugiro.

- Hoje é domingo.

- Sim, e daí?

- E daí que se fôssemos para a praia, teríamos que passar mais de um dia e amanhã eu tenho trabalho, lembra? - ela levanta uma sobrancelha.

- Claro, claro. - concordo e faço uma pausa. Depois, volto a sugerir - E por quê você não falta? Seu paciente sou eu, mesmo! Você poderia dar algum atestado ou sei lá. Eu posso faltar quando quiser.

- Não me parece certo...

- Ah, vamos lá. Podemos chamar o Kid e o Black Star! Isso inclui a Liz, a Patty e a Tsubaki!

- E se eles não puderem ir?

- Eu tenho meus modos de conseguir com que eles vão. - estendo o polegar - Pode deixar comigo!

- Mas Soul...

- Fica tranquila, só alguns dias de férias não vão te fazer mal.

- ... Tudo bem. Mas só dois dias!

- Três!

- Dois!

- Três!

- Soul!

- Maka, não dá para aproveitar em apenas dois dias!

- Argh, tudo bem! Três dias, nada mais que isso!

- Sim, senhora!

- Não sou tão velha!

- Age como se fosse. - murmuro, mas ela ouve.

- Argh! - ela bufa e sai da cozinha, me deixando só.

   Coloco os pratos na pia da cozinha, para lavar depois e vou para a sala. Me jogo no sofá e pego meu celular. Então, ligo para Black Star.

- Alô? - ele atende.

- Yoo, cabeça azul!

- Ah, Soul! o que aconteceu?

- É que eu estava aqui, curtindo minha ressaca, com a Maka, e nós pensamos em fazer alguma coisa.

- E o que seria essa coisa?

- Que tal a praia? - enfatizo o nome praia e conto os detalhes.

   Black Star concorda empolgado, e diz que vai falar com Tsubaki, antes de desligar. Depois, ligo para o Kid e o processo se repete. Ao fim da tarde, os dois me ligam novamente, todos os dois confirmando que iriam conosco. Proponho um horário naquele mesmo dia e corro para avisar Maka. Depois, nos arrumamos, pegamos algumas malas e começamos a esperar pelos outros.

   Estamos sentados no sofá com as malas à nossa volta. Fico nervoso, mas resolvo perguntar.

- Maka... O que aconteceu ontem à noite?

- Black Star e Kid vieram aqui. Você não se lembra? - ela está sem expressão, tanto que nem suas palavras têm entonação - Ficou tão bêbado assim?

- Bem... Acho que sim, mas não é isso que quero saber.

- Então, o que é?

- Depois do pessoal ter ido embora... O que aconteceu? Por que você estava no meu quarto hoje de manhã?

   Ela faz uma longa pausa, me deixando cada vez mais nervoso, então ela olha para mim, seu rosto continua sem expressão.

- Soul... - Ela abre a boca para falar, mas é interrompida pela campainha, que a anuncia a chegada de nossos amigos.

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   Todos nós viajamos de carro. Eu, Kid e Black Star no carro de Maka, enquanto ela, Tsubaki, Lizz e Patty vão no de Kid.

- Huaa! - Black Star se espreguiça ao meu lado, no banco do passageiro - E então, Soul? Você vai faltar o trabalho amanhã?

- Na verdade... - fico sem jeito - Eu estou desempregado.

- O que? Por que não me falou antes? Posso te arranjar um onde eu trabalho.

- I... Isso é sério?

- Sim! - ele sorri

- Ah... Obrigado, cara.

- Isso meio que irá lhe ajudar com a Maka, não é, Soul? - Kid se manifesta.

- O... O que quer dizer? - coro

- Você gosta dela, não é?

- Vá se acostumando, Soul. Kid virou um qrande psicólogo. - Black Star me olha malicioso.

- Black Star me contou o que houve antes de eu ter chegado, naquele dia. Além disso, Lizz andou me contando algumas coisas também.

- Que coisas? - pergunto nervoso.

- Acho que quem tem que te contar isso é a própria Maka. - fico gélido. Não é possível... - Ah, então? Você gosta dela, não é?

- B... Bem... Sim... Eu a amo... Desde a sétima série, eu acho.

- Uou. - Black Star se admira. - Conseguiu ficar esse tempo todo sem resposta?

   Eu não respondo, mas Kid me faz mais perguntas, que me deixam cada vez mais nervoso.

- Soul... Quando a Maka foi embora, o que fez para se ocupar?

- B... Bem...

- Eu soube que você é um ex-viciado... - ele não me deixa responder. Mas o que é isso? Ele está me pondo contra a parede! O que quer com isso?

- Kid... O que está tentando fazer?

- Apenas tentando te entender. Não vai me responder?

   De repente, me vejo contando tudo para o garoto de cabelos negros. Desde que Maka foi embora, até os dias atuais.

- Hum... Interessante... Por que não fala para ela como se sente?

- Não sei se consigo...

- Soul... Você comeu a Maka, ontem? - Black Star está boquiaberto.

- Mas o que está dizendo!? - berro

- Você disse que acordou com ela, hoje de manhã. E que ela estava sem camisa. - ele explica.

- Bem... Não sei o que aconteceu...

- Bom, você deveria dizer para ela, Soul. - Kid volta a dizer. - Senão, nunca sairão deste tipo de relação, e pode acabar perdendo-a.

   Engulo em seco. Perdê-la é a última coisa que eu queria em todo o mundo. Mas eu não consigo dizer para ela, simplesmente não consigo.

   O resto do caminho, eu e os meninos ficamos conversando sobre ouras besteiras, pois aquilo já estava parecendo conversinha de mulher. Enquanto isso, fico pensando no que Maka estaria conversando com as outras meninas... Será que seria sobre mim?

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   Finalmente, depois de uma hora e meia de viajem, chegamos à praia. Ali perto, haviam várias pousadas interessantes, com chalés bonitos e restaurantes, porém, nada muito caro. Acabamos por ficar em umas delas, com dois chalés. Em um, ficaram Kid, Lizz, Black Star e Tsubaki. Em outro, eu, Maka e Patty.

   Alojamos nossas coisas nos armários e dividimos os quartos, depois, como está muito tarde para ir à praia, decidimos fazer um passeio pela cidade.

- Será que tem algum parque de diversões por aqui? - Lizz pergunta, animada.

- Mesmo que tenha, só vamos amanhã. - Kid resmunga - Todos estão cansados por causa da viajem .

- Ah, que chato!

   Kid e Lizz andam de mãos dadas, assim como Black Star e Tsubaki. Desejaria poder andar assim com Maka, também. Eu e ela apenas andamos, um ao lado do outro.

   Depois de um tempo andando, acabamos encontrando um parque de diversões, mas Kid impede Lizz e os outros de irem. Então, jantamos em uma lanchonete e voltamos para os chalés.

   No chalé onde eu, Maka e Patty ficamos, só há duas camas. Uma de casal, e outra de solteiro. Resolvemos que Patty ficaria na menor e eu e Maka ficaríamos na maior, já que estamos acostumados a dormir juntos.

   Quando chegamos, eu apenas tiro minha camisa e me jogo na cama, estou cansado por causa da viagem. Maka veste um pijama no banheiro, para que eu não a veja nua, e se deita comigo. Ela me abraça e Patty apaga as luzes.

   É bom estar deitado com Maka desse jeito. Mas, há algo que ainda quero saber. Levanto um pouco a cabeça para ver se Patty está dormindo e, quando estou seguro disso, recosto minha cabeça no travesseiro novamente. Então, verifico se Maka está dormindo. Aparentemente ela parece estar, mas percebo que suas pálpebras tremem um pouco, logo, sei que está acordada.

- Maka, está acordada, não é?

- ... Sim. O que foi?

- Eu preciso saber... O que aconteceu ontem?

- ... Quer mesmo saber?

- Sim.

- Eu estive no seu quarto. Você ainda estava bebendo.

- Eu sei, eu lembro.

- Então, por que perguntou?

- Porque só lembro até aí. Prossiga.

- Você... - ela me abraça mais forte. - Me chamou para perto de você...

- Aham... E o que mais? - ficou gélido. Estou temendo o que sei que fiz.

- E... Nós... Nos beijamos...

- ... Só isso?

- Sim... Só isso. - eu sei que ela está mentindo. Pois estava tremendo e ainda não explicara o fato de estar sem camisa hoje, de manhã.

- Me desculpe, tudo bem? - me dói dizer isso. - Eu estava bêbado.

- Tudo bem... - ela me abraça mais forte ainda e eu retribuo. Será que deveria falar aquilo agora? Ou não? Argh!

- Maka... - eu volto a falar, nervoso

- Sim?

- Eu... Queria... - gaguejo. Enfim, não consigo e me esforço para dizer outra coisa - Eu queria ir no trem fantasma, amanhã. Quer ir comigo? Não... Você é medrosa demais - rio

- Ei!

   Continuamos discutindo em sussurros até dormirmos, abraçados. Não consegui dizer o que sinto, ainda, mas juro que conseguirei, logo.