Um mês depois...

Leslie corria pelo jardim da escola, ela tentava andar perto do muro para que as arvores a escondessem. A garota apertou o passo para que chegasse mais rápido no muro onde ela pularia e seguiria para a floresta.

Assim que se aproximou do muro, se impulsionou e subiu nas caixas e logo se sentou ao alto do muro, e assim ficando com uma das pernas dentro e a outra fora do muro alto da escola. Atirou a mochila no chão, e pulou caindo com os joelhos flexionados e logo já estava ereta. Pegou a mochila e a sacudiu para que saísse as folhas que a sujaram. Colocou a mochila sobre o ombro e adentrou a floresta. Leslie estava cabulando os dois últimos períodos de aula, eram Educação Física, e a garota odiava a matéria. Leslie nunca fora uma má aluna, sempre teve notas boas e raramente cabulava aulas, mas Educação Física era uma tortura e Leslie não iria se submeter á aquela aula asquerosa. Então ela resolveu seguir para a floresta, que era o lugar mais perfeito de Lancaster, segundo Leslie. Ali ela poderia ler um livro, escutar musica e relaxar, nada de aulas e pessoas falando o tempo todo á sua volta.

Logo que estava totalmente dentro da floresta e assim ninguém poderia vê-la ali, ela desacelerou o passo e andou calmamente, contemplando a paisagem rustica e meio aterrorizante da floresta ao por do sol.

Leslie caminhava pulando troncos e folhagens grandes, a garota não tinha um rumo certo, apenas caminhava pela floresta que tanto amava. Depois de minutos de caminhava, Leslie avistou entre as altas copas das arvores, sobre voando o céu, grandes corvos negros que faziam seu voo em círculos, á espera da morte se sua vitima para logo, devorar a carne já em decomposição. A menina sentiu um calafrio pelo corpo todo, aquelas aves davam medo em Leslie.

A morena de olhos verdes esmeralda caminhou mais alguns minutos, desviando-se de folhagens, galhos e barba de pau das arvores. Leslie pulou sobre um tronco de arvore caído, e logo sentiu seus pés afundarem. A menina resmungou e se segurou em galho baixo de uma arvore próxima, pulou de volta para cima do troco caído e suspirou irritada. Ela havia pisado em uma parte do pântano, lama, folhagens e sujeiras eram o que compuseram aquele pântano nojento. Leslie agora tinha as sapatilhas sujas de lama, e a sujeira ia até suas canelas, pois ela havia afundado os pés por completo no pântano lamacento. A menina deu pequenos pulinhos e bateu os pés freneticamente sobre o troco, para que a sujeira caísse, pelo menos a grande parte dela, folhas e o barro grosso.

Leslie estranhou ter pisado no pântano, sendo que pântano só se encontrava perto do cemitério, tinha que adentrar muito a floresta para que chegasse lá. A jovem levantou seu olhar, os tirando de suas sapatilhas arruinadas pela lama e encarou a paisagem á sua frente.

A clareira onde o Cemitério Highgate se encontrava. O lugar onde as piores lendas da cidade se encontravam envolvidas ali. O lugar era deplorável e horrendo. Cercado por um pântano profundo, o mesmo sendo coberto por gramas que assim faziam com que um desavisado não visse a água coberta por folhagens e caísse naquela imundice negra. Os túmulos tinham lápides que um dia foram brancas e bem cuidadas, mas agora estavam sujas, quebradas e muitas já destruídas pelo tempo ou até como se alguém fosse ali e a quebrasse de proposito. Árvores velhas e retorcidas se localizavam á volta do cemitério, como se elas fossem uma cerca para limitar á entrada. Mausoléus grandes e antigos, ficavam dispersos ao longo do terreno do cemitério, alguns tão grandes que pareciam casas de moradia, mas que provavelmente tinham enterrado uma família inteira.

O cemitério Highgate é o local onde as piores lendas de Lancaster estavam envolvidas, claro, logo depois, o Castelo Red Lyon. Leslie cresceu ouvindo sobre as lendas das Sete famílias, sobre as magias negras, escravos de guerra, tortura, sacrifícios...Todos que moravam ali já ouviram sobre as lendas. E há quem acredite e crê que tudo isso um dia aconteceu. A menina não acreditava em nada disso, mas ela adorava ler ou ouvir sobre as lendas, já que elas envolvem o castelo onde sua escola se encontra e a floresta que ela tanto se identifica.

Leslie sempre fora muito independente e muitas vezes, solitária. Seus pais a trancafiaram em uma escola interna para que pudessem trabalhar sem ter que se preocupar com a filha adolescente, e isso tornou a menina muito concentrada e responsável. Leslie se sentia como se ela vivesse sozinha, morasse sozinha em uma casa independente longe dos pais. Apesar de que não precisava trabalhar para se sustentar e nem nada disso, mas ela se sentia tão sozinha, que ás vezes era assim que ela via sua vida. A menina gostava de ficar sozinha, gostava de se sentir independente e responsável por si mesma, mas como todo ser humano, Leslie ás vezes precisava de alguém.  Mas ela não tinha, ela apenas se escondia do mundo, ela se escondia na floresta. A jovem sentia-se bem ali na floresta escura e fria, Leslie sentia sua vida assim, escura, fria e solitária, e isso á fazia se identificar com o local sombrio.

Leslie ouviu um farfalhar de galhos e folhagens, como se algum pisasse firmemente no solo frio e úmido da floresta. Ela pulou pra atrás da arvore que ela usou para se equilibrar ao sair do pântano, pulou para longe do pântano e ao mesmo tempo se escondeu atrás do tronco da arvore gigantesca com raízes quilométricas saindo sobre o solo. Ela se encolheu dentro do seu casaco pesado de frio, como se isso á ajudasse á se esconder de quem quer que seja que estivesse ali.

Ela ouviu vozes, eram vozes roucas e grossas. Leslie espiou entre as arvores, e ela pode ver alguns rapazes de poste alto e ombros largos seguindo pelo cemitério, eles vinham em direção onde Leslie estava escondida.

-Um, dois, três, quatro, cinco e seis... – Leslie contou baixinho. Seis garotos saiam do cemitério e adentravam a floresta.

Malcolm, Bernard, Jonnah, Thomas, Henry e Lanz. Os seis meninos mais falados e populares da escola, os seis “badboys” de Lancaster, os seis rapazes que faziam qualquer garota suspirar e qualquer funcionário daquela escola tremer de medo, pois eles eram descendentes das Sete famílias, as famílias mais poderosas de toda a colônia de Lancaster. As Sete famílias que os piores boatos e lendas se envolviam.

Os seis jovens passam por onde Leslie estava escondida e a garota se encolheu rende o troco da arvore. Os rapazes conversavam entre si e riam alto. Leslie pode notar que eles carregavam garrafas e latas de bebidas, e um deles, que Leslie reconheceu ser o Jonnah, segurava um cigarro entre os dedos, e pelo cheiro aquilo não era um simples cigarro de nicotina.

Leslie permaneceu em silencio até quando não ouvia mais as falas e os passos dos garotos. Ela saiu de trás da arvore e suspirou, o ar ainda estava carregado pelo cheiro forte da maconha. A menina seguiu em direção do cemitério, e avistou a ponte de madeira velha e corroída pelo tempo que passava por cima do pântano e levava para dentro do cemitério.

Leslie queria adentrar o cemitério, vasculhar pelo local para saber onde aqueles garotos ficavam ou o que faziam por lá. O final do cemitério era entre grandes árvores, as mesmas tapavam a visão do lugar todo, apenas a clareira da entrada principal era ampla e dava a visão de todo aquele lugar.

Assim que a garota colocou um dos pés na ponte de madeira, sentiu que seguraram seu braço e a puxaram pra atrás.

-Onde você pensa que vai? – uma voz rouca e grave soou perto do ouvido de Leslie.

(...)