Leslie tinha a impressão de que algo a observava, desde que saiu da escola e seguiu para a floresta onde ali relaxava lendo um livro com os fones de ouvido.
O que acalmava a menina, a tirava da agitação era ler um bom livro sendo embalado por música, em seu lugar favorito, a floresta que ficava atrás da sua escola. Mas aquele dia algo a importunava, algo não á deixava prestar atenção em seu livro. Por onde seu olhar seguia sentia que alguma coisa á observava,o que a deixava com um aperto no peito, a deixava com medo. Mas Leslie nunca foi de se deixar levar por medo, sempre soube que isso era psicológico, que sua cabeça trabalhava tão atentamente no que lhe transmitia medo e isso acabava se tornado ‘real’ ao seu ver. E o medo que ela sentia era um medo diferente, curioso. Leslie sempre foi curiosa e teimosa demais, tudo que chamava sua atenção merecia um tempo da mesma .Muitas vezes isso á gerou problemas, broncas levada pelos pais ou até mesmo um machucado por ter ido tão fundo á sua expedição contra/achar o medo que lhe chamava sua atenção. Adorava a adrenalina que sentia toda vez que fazia isso, o medo e a curiosidade aumentavam, o ar faltava e a sensação trazida pelo excesso de adrenalina no sangue a invadiam. Isso era uma droga natural para ela, vamos dizer assim.
Leslie guardou o livro em sua mochila, colocou o celular com os fones no bolso do moletom preto que vestia. Levantou-se colocando a mochila no obro e seguindo pela trilha que levaria á rua que dava para o muro da sua escola. O que lhe observava á seguia, então onde ela fosse a ‘coisa’ iria atrás. Seguiu seu caminho prestando atenção em tudo, para que nada saísse despercebido.
Quando estava á um passo para sair da floresta algo pulou ao seu lado. – Ah! – ela gritou.
Um cachorrinho gorducho havia pulado em sua perna para chamar a atenção da garota. Ele era branco com pintas pretas e cor de caramelo, tinha grandes orelhas que quase arrastavam no chão, era baixinho e fofo.
–Você quase me matou do coração, garoto! – Leslie falou sorrindo aliviada por saber que a ‘coisa’ era um inofensivo cachorrinho. O cachorro pulava animado á sua volta, balançado o rabo. – Você está sozinho? – ela perguntou á ele enquanto se abaixava para pegá-lo no colo.
Ele era pesadinho e tão fofo quanto um colchão de algodão. – Quer ir para casa comigo? – ela falou ao ver que o cachorro não tinha coleira ou algo parecido para identificar seu dono. Assim que Leslie começou a caminhar em direção á escola, onde lá poderia pedir para levá-lo até sua casa, o cachorro se agitou, pulando dos seus braços e correndo floresta á dentro. – Hey, onde você vai? – a garota falou ao vento. O animal já tinha sumido de vista.
Leslie pensou em correr atrás do pequenino, mas percebeu que estava atrasada e que sua aula de Literatura logo começaria.
Andou rapidamente até a rua onde dava para o muro de sua escola e nele tinha algumas caixas que eram usadas pelos alunos quando queria entrar ou sair da escola escondidos. Leslie sempre desfrutava dessas caixas, sempre saia da escola escondida para andar pela floresta majestosa e misteriosa que abrangia sua cidade. A floresta era o principal ponto de turismo de Lancaster, pois ela era fantasmagórica e tinham muitas lendas e também nela existia o famoso cemitério de Highgate, que era tão místico quanto á floresta. Leslie amava a vegetação abundante da floreta, as arvores gigantes com centenas anos de existência que pareciam se mover em meio ao nevoeiro que sempre estava presente á cada dia mais denso e úmido, tudo vazia a menina sonhar com os lugares mais misteriosos e sombrios que na sua cidade. Lancaster contém as misteriosas e mais assustadoras histórias e mitos sobre as sete famílias que á fundaram.
Leslie subi nas caixas e se sentou no muro preparada para pular, mas algo chamou sua tenção na floresta. Alguém estava parado atrás de uma árvore á observando e isso fez a menina quase cair de cara no chão ao pular para dentro da descola. A garota subiu novamente nas caixas para ver o que estava a sua espreita, mas já não tinha mais nada ali. Mas Leslie teve a nítida impressão de ter visto a silhueta de um homem, vestido de preto.
A garota se assustou com o sinal da escola e isso á lembrou que estava atrasada. Pegou a mochila que estava caída no chão e partiu entre as árvores que tapavam o muro da escola e assim facilitava suas fugas para floresta.
Correu topo a área plana do pátio da escola Red Lion High School. A escola era um castelo centenário que foi construído por escravos das sete famílias. O lugar dava arrepios em Leslie, mas ali ela era obrigada á passar a semana, pois era um colégio interno. A exposição á tempestades de neve e a umidade fizeram o castelo perder a graciosidade e dar lugar é limo preto nas paredes e assim dava um ar muito sombrio ao lugar.
Assim que Leslie entrou na sala de aula e se sentou em seu lugar, sua melhor amiga Rebecca, se sentou ao seu lado.
–Les, anda pela floresta de novo, menina? – a amiga falou sorrindo e tirando se seu cabelo algumas folhas de árvores. Leslie apenas sorriu e mostrou á língua para a amiga.
Rebecca achava Leslie louca por andar pela floresta, ninguém andava por lá, pois diziam que o lugar era mal assombrado, amaldiçoado e que almas condenadas vagavam por lá. Mas Leslie não acreditava nisso, achava tudo uma grande piada, a floresta era seu ponto de equilíbrio, um lugar onde podia relaxar, fugir do mundo , de tudo e todos.
Logo o professor entrou na sala de aula e cessando com a conversa e brincadeiras dos alunos. As aulas pareciam intermináveis, mas enfim chegou o intervalo e Leslie seguiu para o refeitório com Rebecca, elas conversavam sobre um assunto aleatório. Ao passar pela secretaria algo chamou a atenção de Leslie, na verdade um barulho que fez a menina olhar para dentro da sala da secretaria. O mesmo cachorrinho que ela havia visto hoje mais cedo na floreta estava no colo de uma mulher baixa e de cabelos castanhos e ele latia e abana o rabo para Leslie. Assim que a menina parou de caminhar o animal pulou do colo da dona e correu em direção á Leslie e pulou em suas pernas. Leslie se abaixou e pegou a pequena bolinha de pelos no colo.
–Zayron, pega ele para mim. – a mulher de cabelos castanhos falou sorrindo em direção á Leslie e um garoto todo vestido de preto apareceu na porta da secretaria e encarou a menina. Leslie teve a súbita impressão de já tê-lo visto. Ele era moreno com cabelos bem pretos e penteados em um topete, com grandes olhos castanhos-esverdeados e uma barba rala no rosto. Incrivelmente lindo, ao ver de Leslie.
Zayron se aproximou de Leslie e olhou para o cachorro que ainda estava nos braços da menina, o animal parecia contente e confortável.
–Você poderia...? – o menino falou rouco indicando o cachorro nos braços da menina.
–Ah, sim. Claro. – Leslie falou constrangida e entregou o cachorro para o menino.
–Obrigado. – Zayron falou e seguiu de volta para a secretaria onde sua mãe esperava de braços abertos pelo seu cachorro.
Leslie ficou olhando para o menino, mas sua amiga a arrastou de lá seguindo novamente o caminho para o refeitório.
–Meu Deus, o que era aquilo? – Rebecca falou escandalosa se sentando á frente de Leslie na mesa do refeitório. – Um Deus grego moreno e sexy vai entrar na escola! – a amiga falou animada.
–Becky, para com o escândalo, estão todos olhando! – Leslie falou risonha para a amiga.
–To nem ai, você viu ele? Ele é um gato! – Becky enfatizou novamente e Leslie sorriu e bebeu um gole de seu suco de laranja.
–Sim, eu vi. – Leslie falou revirando os olhos. Ela não havia dito, mas algo naquele menino mexia com ela, Leslie sentiu algo diferente nele.
O sinal bateu novamente e agora Leslie teria mais três aulas e poderia ir para seu quarto, arrumar suas malas e passar o final de semana em casa.
Depois de três aulas de Química, Leslie enfim já estava na rua esperando seu pai buscá-la e levá-la para casa. Leslie não aparava de pensar na considência do mesmo cachorro que ela viu na floresta estar ali na sua escola e o homem de preto que viu atrás da árvore também estar na sua escola, claro, ela não tinha certeza se era o mesmo homem, mas tinha certeza que era o mesmo cachorro, Leslie nunca esqueceria aquela coisinha fofa e pesada. A menina havia ficado fascinada pelo garoto, Zayron, o menino havia despertado, tão rapidamente, algo grande em Leslie.
O barulho de uma porta batendo a tirou de seus pensamentos, Leslie encarou o carro que estava parou há alguns metros dela no estacionamento da escola. O menino estava parado na frente da porta do carro e encarava Leslie, Zayron. Eles se encaravam como se estivessem hipnotizados um pelo outro.
–Leslie, minha gata! – Malcolm Kristing falou e depositou um beijo no rosto da menina, á impedindo de ver Zayron.
–Ah, oi Malcolm. – Leslie falou sorrindo levemente e sem olhá-lo, ela estava tentando ver Zayron pelo ombro de Malcolm. O garoto olhou para onde a menina tanto olhava e ficou tenso ao ver Zayron pardo lá encarando os dois.
–Você o conhece? – Malcolm perguntou á Leslie, indicando Zayron com a cabeça.
–Hã? Não. – a menina respondeu confusa.
–Ótimo! Vamos esperar seu pai na frente da escola. – Malcolm falou e ajudou Leslie com as malas, mas a menina não conseguia tirar os olhos de Zayron e nem ele os dela.
Depois de alguns passou Zayron sumiu da vista de Leslie. Malcolm havia deixado suas malas na escada do portão da escola e estava para ao lado delas.
Leslie olhou para o menino. Malcolm Kristing era um descendente das sete famílias fundadoras de Lancaster, seu pai era prefeito da cidade e isso dava ao menino um grande número de ‘amigos’, o menino era o mais popular da escola e todos disputavam sua atenção, todos os meninos queriam ser como ele ou como um dos outros cinco descendente das sete famílias. Por isso muitas vezes Malcolm era esnobe e arrogante, assim como os outros cinco. Eram apenas seis meninos descendentes das sete famílias, a sétima família havia ido embora e apenas uma descente deles havia permanecido na cidade, uma velha senhora que morava no castelo na montanha.
Todas as meninas da escola queriam ou achavam bonito um dos seis ou todos, mas para Leslie eles não passavam de meninos comuns, nada neles á agradava muito.
Malcolm Kristing, Bernad Lougas, Jonnah Hastoulin, Thomas Blascogrow, Henry Gleyse e Lanz Rogusthy. Esses eram os seis descendentes das famílias.
Mas Malcolm sempre chamou a menina para sair, Leslie chegou á sair com eles algumas vezes, por insistência dos pais, já que seu pai era do partido político de Edward Kristing, pai de Malcolm, mas mesmo assim para ela Malcolm não passava de um colega de escola.
Depois de tanto esperar e ter que ouvir o papo tosco de Malcolm, o pai de Leslie chegou e enfim a menina seguiu para casa.

(...)