I Miss The Time When You Missed Me escrita por Jade Lima


Capítulo 15
Capítulo 14 - Damn it. Damn it. Damn it.




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Abri os olhos e dei de cara com os cabelos de Elena, deitados sobre o travesseiro. Ela ainda estava dormindo. E ainda estava escuro. Respirei fundo e me virei para olhar para meu celular no criado-mudo. Duas e cinquenta e dois da manhã. Ótimo. Senti minha garganta seca. Legal. Resmunguei enquanto levantava da cama, para tomar um copo d’água. Deixei Elena dormindo na cama e saí do quarto.

Descendo as escadas, vi a sala vazia e silenciosa. Meus olhos ainda tentavam se adaptar ao escuro que lá jazia, pois nenhuma lâmpada sequer estava acesa. Apesar de que meus olhos não precisavam se adaptar, já que meus outros sentidos conheciam o caminho para a cozinha de cor. Ao chegar ao cômodo, liguei a luz e por reflexo, fechei um pouco os olhos pela claridade. Ali estava o fogão, a mesa, ao lado a geladeira, e, ah, o bebedouro. Peguei um copo de vidro e caminhei até lá para enchê-lo de água.

– Bu! – uma voz me assustou antes mesmo que eu possa chegar ao bebedouro. Meu susto foi tão tremendo que fez com que o copo deslizasse de minhas mãos, espatifando-se no chão. Rapidamente, olhei para trás, apesar de que já reconhecia aquela voz, e já sabia quem eu iria encontrar.

– Matthew... – pensei alto, fazendo-o olhar para o copo estraçalhado no chão, e sorrir, vitorioso por ter arrancado batimentos fortes de meu coração. Ele se encontrava em uma das cadeiras da mesa que eu tinha certeza que já havia olhado antes. Ele usava aquela mesma e estúpida roupa verde. Será que ele não toma banho?

– Eu tenho que lhe dizer que esse sustinho não foi nada másculo – ele disse, levantando-se.

– Como entrou aqui? E o que faz aqui, Bonovan? Porque não some da minha vida? – gritei para ele, fazendo-o rir.

– Bonovan? Sério? Bonovan? – ele disse. Quando não mudei minha expressão, ele completou: – Donovan, meu caro amigo. Matthew Donovan.

– Que seja – eu falei, apesar da aceleração que meu coração tomou. “Matthew Donovan. Mais um jovem morto na Grande Guerra”...

– Damon... Tenho algo a lhe falar. Aliás, tenho algo a lhe contar. Eu quero que você me escute. E me escute com atenção. Não temos muito tempo – ele disse, tirando de seu rosto qualquer sinal de piada ou sarcasmo. Agora, ele não ria nem sorria. Sua boca estava reta. Seus olhos azuis olhavam seriamente para mim, e mostravam arrependimento do tão curto tempo já perdido.

Tentei protestar com uma piada besta como “Vai me contar histórias para nanar, agora?” ou apenas pedir permissão para limpar o chão antes que alguém se corte. Mas ele logo me interrompeu:

– Não acho que você tenha me ouvido quando disse que não temos muito tempo...

– Não temos muito tempo para quê? – disse, sentando-me em uma cadeira na frente dele.

Ele irá me achar, Damon... E depois de seu tempo no cemitério, depois que você viu a lápide... – ele disse quase me fazendo o interromper novamente, para perguntar como ele sabe da visita ao cemitério. Mas antes de qualquer coisa, ele continuou a falar – As coisas podem complicar para você. Você não poderia saber de nada. E já sabe muita coisa. Não poderia te contar nada. Mas você está chegando cada vez mais perto... E, mesmo assim, tem coisas que você não sabe. Coisas que podem te colocar em risco. E colocar Elena em risco. – disse, fazendo com que eu me cale ao ouvir o nome de Elena. Ele falou outras coisas depois também. Algo como “tenho que te contar antes dele me achar, ele irá me achar”. Mas não me dei o trabalho de escutar com detalhes. Elena e risco eram as palavras nas quais eu focava. Não a deixaria em risco. Não podia. Faria qualquer coisa, no mundo, mas nada aconteceria com ela. Não depois de tudo. Eu a amava. E para sempre a amaria. – Você está aí? Damon, nós não temos tanto tempo, meu velho!

– Estou aqui! – falei rapidamente, desviando-me dos meus pensamentos.

– Escute. Escute bem o que vou lhe dizer. – ele falou, abaixando a cabeça e lambendo os lábios, olhando para mim a seguir. – Damon, eu estou morto. – ele disse, parando para uma risadinha. Eu franzi o cenho, confuso. Ele não está morto... Ele está aqui. Não sei como, tinha certeza que havia trancado todas as portas... Mas ele estava aqui, ele não está morto. Não está! – Para ser mais exato, morri em 1916. Grande Guerra. Fui baleado. Não resisti. Mas isso não importa.  – E essa foi minha vez de soltar uma risada. Como não importa? Esse cara tava drogado, só pode. Fala para mim que está morto, fingindo ser o fantasma do soldado, no qual vi a lápide. – Não sou um fantasma, imbecil, sou um anjo.

Silêncio. Está bem, aquele pensamento eu tinha plena certeza que eu não havia falado em voz alta. Eu encarava Matthew com a boca reta, assim como ele me encarava. Até que chegou a hora para eu soltar mais algumas risadinhas, e, dessa vez, Matthew pareceu zangado.

– Um anjo? Cara... vai dormir. Seu mal é sono – falei fazendo menção de me levantar da cadeira, mas Matthew pegou em meu braço e me puxou para baixo.

– Não tenho tempo pra ficar aqui com abobrinhas tentando te convencer. Apesar de que você deveria estar convencido, já. Depois de tudo que lhe aconteceu... – pausou. – Só olhe, está bem?

– Tá – eu disse, rindo um pouquinho mais. Aonde ele quer chegar, meu pai?  

Matt se levantou da cadeira e olhou para o teto. Ele parecia um boboca. Até a hora em que algo apareceu atrás dele. Lembra quando as pessoas desenham asas brancas em, literalmente, corpos angelicais? As asas de Matt eram negras. Pareciam sombras ao seu redor. Elas eram grandes o suficiente para cobrirem uma das paredes da cozinha por inteiro, dando um clima de escuridão no cômodo, apesar de a luz estar acesa. Matthew virou sua cabeça do teto para mim. Eu deveria estar parecendo um idiota, já que só quando ele fez isso, percebi que estava de boca aberta e que estava inclinado na cadeira, olhando fascinado para as asas do anjo em minha frente. Matt não fez menção de rir. Só entortou a cabeça um pouco, o que fez suas asas se recolhessem em seu corpo, e depois sumindo, como se nunca estivessem estado ali.

– Acredita em mim agora? – ele falou, sentando-se a cadeira novamente. Eu não respondi sua pergunta, até porque, não parecia que ele queria que eu respondesse. Eu ainda estava confuso, tentando entender toda a história. Mas Matt também não pareceu se importar com a neblina dentro de minha cabeça. Ele apenas cruzou as pernas e continuou a falar, como se na verdade, nunca tivesse parado: – Sou um anjo. E minha situação é um pouco mais complicada do que parece. Damon, você pode resmungar o quanto quiser, já que eu mesmo me arrependo do que fiz. Mas, tenho de lhe contar... Antes que seja tarde demais. – ele pausou, respirando fundo, e olhando para o chão, evitando meus olhos – Desde que eu era pequeno, meu pai costumava me falar o quanto que algum dia eu iria fazer a diferença no mundo algum dia. E foi pensando nisso que eu me alistei. Apesar de que ele queria que eu fosse médico. – ele riu amargo. – Ele queria que eu salvasse vidas. E quando morri e virei um anjo, foi pensando nisso, que fiz um acordo com o demônio. – falou, virando seus olhos para mim. Meus olhos se arregalaram, esperando o resto da história. – Não estou orgulhoso disso agora, Damon. Quero que você saiba disso. Eu só queria curar as pessoas... Fazê-las felizes... Deus, eu queria isso tanto...

– O que constava esse acordo? – o interrompi.

– Ao contrário do que as pessoas pensam, os dons de cura não são dados de mão-beijada aos anjos. Nem sei se existe tal anjo com tal poder sem que aja uma consequência. Certo dia, eu fui a caminho do inferno, pensando em uma coisa que eu possa dar em troca ao demônio enquanto ele me daria o poder da cura. E, então, mesmo morto, eu poderia ser o orgulho de meu pai. Meus pensamentos do que dar ao demônio em troca foram em vão, já que ele mesmo escolheu seu prêmio... – falou Matt. Notei que ele não olhava mais em meus olhos. Ele parecia olhar para além de mim... Era esquisito e sem noção, até. Eu balancei a cabeça, e quando notei que Matt não iria continuar, perguntei:

– O que o demônio queria?

– Ele queria almas. O demônio me deu o poder de cura em troca de que, a cada ser humano em que eu curasse, ele pudesse ser dono de sua alma. – completou, me fazendo estremecer.

– O que isso tem haver comigo? – perguntei, já sabendo onde essa conversa iria chegar.

– Elena não tinha salvação, Damon. Ela iria morrer... Ela iria morrer logo. Ela precisava de mim. – ele disse, fazendo com que meu rosto caísse em cima de minhas mãos. Que dor de cabeça... Que vontade de... E é isso. Eu estava chorando. Não sei por que, mas estava. Ah, lembrei: minha melhor amiga/namorada/noiva/quase casada está sem alma. As mãos afagavam minhas lágrimas.  Levantei da cadeira, secando meu rosto e olhando nos olhos de Matthew.

– Você fez isso com ela! Sua abominação! – gritei.

– Não! Eu não fiz nada! Você fez isso com ela! Você concordou em salvá-la, apesar das consequências! – disse Matthew, fazendo com que eu me sentasse novamente. Passei a mão por meus cabelos, pensando.

– E agora? Sem alma, sem sentimentos, certo? Nada mais vai ser o mesmo. Eu tinha notado uma diferença nela... Eu tinha notado que ela estava desenvolvendo algo por mim...

– Pelo que sei, ela poderá desenvolver sentimentos. Em seu coração. Mas não em sua alma. Ela sente, mas nada concreto. Não sei se você sabe o que quero dizer... – ele disse, e eu assenti. – Não acho que seja uma missão impossível conquistá-la de volta, Damon... Mas esse também não é o ponto... O que eu queria te dizer, o que vim aqui pra te contar, e o que realmente é importante...

E então, algo aconteceu. Matt começou a ser envolvido por uma fumaça... Uma massa vermelha. Era tão vermelha que ardia meus olhos. Ela tinha um cheiro de queimado... E Matthew começava a ficar... Transparente? Seus olhos se arregalaram e ele movimentava as mãos tentando permanecer na cozinha. Eu não sabia o que fazer. Somente o encarava.

– Ele está aqui! Ele está aqui! Queria lhe falar que você o conhece, Damon! Você o conhece! – ele gritava desesperadamente. O seu grito também ecoava, desaparecia no espaço.

– Quem eu conheço? – gritei. Matthew olhava em todos os cantos da cozinha, amedrontado. Ele não respondeu. – Matt, quem? – repeti, dessa vez, mais desesperado, já que a massa vermelha já o fazia sumir por completo.

– O demônio... – Matthew disse, me fazendo estremecer. Soou como um sussurro, a voz de Matt notavelmente já desaparecia do cômodo. Até que a massa vermelha sumiu, de repente. Como se nunca estivesse estado lá.

Eu olhei amedrontado para os lados, procurando um sinal de Matthew, ou do demônio, ou de uma massa vermelha. Nada. Apertei fortemente meus olhos com minhas mãos, não acreditando no que acabara de acontecer. Balancei a cabeça em negativa, e, com forças de não sei aonde, levantei. Peguei a pá e uma vassoura, e varri os cacos de vidro, ainda intactos no chão da cozinha. Finalmente, bebi minha água. Ao pegar o copo para enchê-lo, percebi que minhas mãos tremiam.

Vai ver é só um pesadelo, pensei. Apesar de que meu interior sabia que não era... Aquilo era real. Acabei de entrar em um mundo... Sobrenatural. Que coisa estranha de se pensar. Até porque, havia outras coisas que me preocupar. Aonde foi Matthew? Quem é esse demônio? Matt disse que eu o conhecia...

Elena. Ai meu Deus, Elena!

Saí apressadamente da cozinha, subindo pelas escadas e correndo pelo corredor até chegar ao quarto, que estava escuro. Suspiro aliviado quando vejo uma sombra de pé, virada para mim. Elena liga o abajur rapidamente, mostrando sua face. Ela estava acabada. Mostrava marcas de que havia chorado recentemente. E ela olhava raivosa para mim. Eu semicerrei os olhos, e ela soltou:

– Quem era esse que você estava falando? – Eu respirei fundo e abaixei a cabeça. Droga. Droga. Droga. Droga.

– Você ouviu...

– Sim, Damon. Eu ouvi. 


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Notas finais do capítulo

UUUUUUUUUUUUUUUUUUUH! É AGORA GENTE É AGORA! sldghjksh Então, resolvi postar esse capítulo logo, só pra deixar vocês curiosos! O próximo capítulo acho que posto amanhã mesmo (21/01), já que ele vai ser um capítulo bônus narrado pelo Matt! Vai contar a história detalhadinha sobre a ida dele ao inferno, a conversa com o demônio, essas coisas.
Minhas aulas começam terça, então, não acho que conseguirei ficar atualizando o tempo todo. Mas, vamos fazer um acordo? Eu só postarei a continuação desse capítulo quando esse daqui tiver 15 reviews! Então, leitores fantasmas, apareçam!
Recomendem, comentem, e espero que tenham gostado! Até mais!