A única coisa pela qual me arrependo é de ter sido pego. Na verdade, não estava esperando que haveriam dois policias rondando o parque em pleno domingo e pior: que apareceriam logo quando comecei a pichação no muro.

Agora aqui estou eu, indo passar oito meses na "casa de ajuda para adolescentes infratores". Para mim isso é só mais uma maneira de falar reformatório para adolescentes idiotas que fazem o que querem, já que é exatamente isso que pensam sobre mim. Blaine, o garoto mimado que gosta de fazer o que dizem para não fazer. Mas eu não me importo. Não me importam com o que digam ou o que pensam. Eu só quero me livrar desse pesadelo logo e voltar para a Dalton, onde pelo menos tenho Sebastian como amigo.

Ao chegar ao reformatório sou recebido pelo diretor, um senhor de cabelos grisalhos e olhos negros que me parece nada mal em relação aos monstros que eu imaginava.

"Isso vai ser mais fácil do que eu esperava".

–Seja bem vindo Senhor Anderson! Me chame de Sr. Heinald.

–Blaine. Me chame de Blaine.

–Muito bem, Blaine. Aposto que fará bons amigos e que tirará boas lições desse lugar.

–Duvido muito.

–Venha comigo, irei te apresentar à sua nova casa.

Não sei se ele não me escutou ou se apenas ignorou meu comentário. Ele me leva de sala em sala e sem deixar de comentar das estúpidas regras como acordar às seis TODOS OS DIAS ou das reuniões diárias que terei que fazer com um psicólogo. Essa merda não vai dar certo.. Sei que não vai.

Vou dar uma olhada no jardim do reformatório e sento em um banco que fica exatamente no centro. Tenho vontade de sair gritando por toda essa maldita escola!

Interrompendo meus pensamentos um homem um pouco mais velho que eu senta-se ao meu lado. Não sei se são seus incríveis olhos azuis, seu cabelo levemente bagunçado ou sua blusa xadrez que tem os primeiros três botões desabotoados mas ele me parece convidativo. Eu gosto disso.

–Você é novo aqui.. Chegou hoje?

Ainda perdido na minha secreta avaliação sobre ele balbucio algumas palavras..

–Sim, meu nome é Blaine.

–Oi Blaine... Sou Kurt.

Ok, até seu nome me parece convidativo.. Sinto que coro e tento me acalmar olhando em outra direção.

–O que você para estar aqui, Kurt?

–Eu tenho que ter feito alguma coisa para estar aqui?

–Não mas... Como isso é um reformatório eu pensei q-

–Reformatório? Não era isso que dizia no panfleto! Vai dizer que aqui também não tem uma piscina aquecida?!

Ele dá um sorriso que eu tenho que me lembrar de voltar a respirar.

– Sou um voluntário, Blaine. Estou aqui para ajudar no que for necessário... Pode parecer idiota mas às vezes tudo que alguém precisa é de um amigo, alguém para conversar. Sem julgamento, sem rótulos.

Nunca havia parado para pensar nisso... Será que é esse meu caso? Tudo bem, eu tenho o Sebastian que é meu melhor amigo mas às vezes ele está tão ocupado saindo com todos os caras da Dalton que eu acabo ficando sozinho. E tenho meu irmão Coop, mas ele raramente pode me ver já que está tão ocupado com sua carreira de ator.

O estranho é que eu não consigo pensar em mais ninguém.

–Isso parece bom.

–E é, Blaine... Solidão e estar sozinho são coisas completamente diferentes. Você só precisa entender essa diferença.

Olho pela primeira vez em muito tempo nos olhos de alguém.

Sinto uma onda de calor vindo daqueles olhos azuis e penetrando diretamente no meu corpo. Uma sensação boa e que me faz querer ficar ali para sempre. Com ele.

–É melhor eu ir Blaine.. Tenho que ajudar a preparar o jantar. Mais tarde a gente se vê, ok?

–Ok.

Ele se levanta e se afasta, levando a onda de conforto com ele..

Então é isso. Oito meses trancado aqui com essas regras e com pessoas dizendo o que eu posso ou não fazer. Só vou tentar sobreviver a isso e depois voltar para minha antiga rotina. A rotina que eu faço o que eu quero(mas sem ser pego, é claro).