Os Legados De Lorien - A Origem escrita por Cherles Belem


Capítulo 6
Capítulo 5




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Apesar de estar fazendo o mesmo caminho, tudo parece diferente agora. Ainda sinto o cheiro da água salgada, a brisa do mar, a umidade do ar,  o calor, ouço a água em ondas batendo na praia. Mas ao mesmo tempo não sinto nada. Estou com tanta raiva, tristeza, ódio, decepção, mas tudo é tão forte que não consigo me focar em nenhum sentimento em particular. Só ando e choro, sentindo tudo e nada ao mesmo tempo. Apenas repassando aquelas imagens que não se vão em minha cabeça.

Nem se quer reparo nas poucas pessoas que passam por mim. Pra mim é como se elas fossem invisíveis. E realmente, cada um deles não passa disso, insetos sem importância. Quando de repente, a voz dela me chama de volta à realidade.

- Set? – eu ergo a cabeça, para ver Lorena me observando com uma expressão de questionamento em seu rosto. – Você está bem?

                A visão dela, sua voz, e o tom de preocupação e... pena com que ela fala mexem comigo, mas ao mesmo tempo geram um ódio e uma raiva ainda maiores. Na minha frente, parada, a pessoa que mais amo e mais odeio em todo o universo, com talvez uma exceção.

                Vendo-a agora eu reparo o quão fraca e frágil ela é, quão inferior. Não sei o que deu em mim para me sentir atraído por alguém assim. Uma reles humana inferior, como todos os outros vermes que habitam este planeta medíocre. Eles não são dignos nem do espaço que ocupam no universo.

                E ela, ela principalmente. Eu estava bem, estava feliz, como não lembrava de já ter estado. Com meu pai, meu irmão. ela tinha que aparecer. Tinha que me fazer despertar estes sentimentos outra vez. Por quê? Por que essa infeliz tinha que aparecer? Por quê?

- Por quê? Por que você tinha que aparecer? Por que tinha de fazer isso comigo? – Eu resmungava, novamente de cabeça baixa e chorando, sem saber se ela era capaz de entender o que eu dizia e nem em que ponto meus pensamentos começaram a se tornar palavras.

                Eu dei um passo lento em direção a ela. Ela estava assustada, mas não recuou. Tola.

- Humanazinha medíocre. – Eu continuava a resmungar.

- Set, o que é que está have... – Eu a agarro pelo pescoço apertando sua garganta para que ela não possa falar. Eu não aguento mais ouvir sua voz.

- Cala-a-boca! – Eu menciono cada palavra, tentando conter minha raiva.

                Minha adaga lorica presa à minha cintura pulsa respondendo à minha raiva. Eu a comprei quando tinha doze anos, ilegalmente claro. Ela possui fragmentos de loralite em sua lâmina e punho. Sou extremamente ligado a ela, por isso sempre a carrego comigo.

- olha para você. Uma simples humana, fraca, débil. Só um pouco mais de força em minha mão e eu quebraria facilmente seu pescoço. – Neste momento sem que eu percebesse minha adaga já estava pulsando em minha mão. – você e todo o resto dessa escória humana não passam de vermes que deveriam ser exterminados, ou no máximo piedosamente usados como escravos, mesmo que fracos.

- Set, do... quê que... você... tá falando? Set... eu não to con... seguindo respi...

                A próxima coisa que sinto é o sangue quente de Lorena, que escorria da fenda que eu acabara de abrir em seu peito com minha adaga, escorrendo por minha mão. A lâmina de minha adaga se movia junto com o coração de Lorena que ainda batia. E então, parou.

Imediatamente o desespero toma conta de mim. Eu não acredito no que acabo de fazer. Em pânico eu puxo a adaga que ainda vibra para fora de seu peito e a largo no chão. Lorena está inerte, suspensa pelo pescoço que ainda seguro. Eu a largo e seu corpo cai. Ela não se move. Está completamente parada. Seu olhar sem luz, sem vida. A dor e o desespero que agora tomam conta de mim são tão fortes que meus joelhos não agüentam e cedem e eu caio no chão. E fico ali chorando de agonia, olhando seu corpo sem vida, me odiando até a alma pelo que fiz. Isso dura alguns minutos, que para mim parece uma eternidade.

- Meu deus!

                Um humano está parado perto de nós observando a cena assustado. Seu olhar vai de Lorena para mim, depois para a adaga ensangüentada no chão e novamente para mim. Se ele gritar irá chamar muita atenção, o que não quero. E pelo visto é exatamente o que ele pretende. No momento em que ele se vira para fugir eu me movo rapidamente e com um simples movimento de braço dilacero seu pescoço arrancando sua cabeça fazendo-a girar no ar e cair na areia. O sangue começa a jorrar lentamente de seu pescoço e seu corpo decapitado tomba logo em seguida. A fragilidade humana é surpreendente. Como não quero criar alarde uso minha força para lançar o corpo e a cabeça no meio do mar.

                A intromissão do humano pelo menos serviu para me despertar. A dor continua ali, como um buraco em brasa bem no meio de meu peito que acho que nunca mais irá sumir. Mas agora pelo menos posso pensar novamente. Guardo minha adaga na cintura, pego o corpo de Lorena com cuidado e corro até uma área com rochas. Sem soltar seu corpo, cavo uma cova bem profunda na areia em meio às rochas usando minha telecinese. Deposito seu corpo em sua cova com cuidado, ajeitando-o e fechando seus olhos. Ela parece estar dormindo. Apesar de a vida tê-la abandonado, a beleza certamente não o fez. Fico ali a observando por um bom tempo, imaginando todas as possibilidades, todo um possível futuro perdido. Mas não passam de besteiras. Isso é tudo passado agora e preciso deixá-lo para trás, enterrá-lo. Uso minha telecinese para cobri-la, enchendo e fechando a cova.

                Agora meu único ponto fraco está sepultado. O Set fraco e sentimental está sepultado. Hora de voltar para casa. Hora de cumprir meu destino. Hora de mudar a história.


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