Os Legados De Lorien - A Origem escrita por Cherles Belem


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Aqui os humanos finalmente entram na história! ;]



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Desde que descobri sobre aquela maldita profecia mudei bastante. Passei a me focar totalmente nos estudos, mas sem nunca deixar de treinar minhas habilidades. Hoje posso dizer que sou tão inteligente quanto Pittacus, se não mais. Aprendi tudo o que tinha para se aprender em nosso planeta sobre história, tecnologia, legados, outros mundos e raças. Duvido que haja em todo o Lorien alguém com tanto conhecimento quanto eu, apenas talvez meu irmão. Nós dois fomos desenvolvemos outros legados com o tempo. Mas alguns dos meus eu preferi manter em segredo.

Nesses sete anos dois dos anciãos foram substituídos, Myraz de Barasen e Clyo de Heren. Os outros continuam em seus postos. O conflito com Mogadore continua na mesma, morrem uns daqui, outros de lá, mas nada é resolvido. Já estudei tudo sobre essa raça e seu planeta. Acho os mogadorianos uma espécie fascinante, apesar de não serem muito inteligentes. Mas possuem uma garra e frieza que falta aos lorienos. Talvez com uma liderança decente eles provavelmente fossem capazes de nos superar. No demais, continua tudo perfeito no belo e maravilhoso planeta de Lorien.

Nosso aniversário será daqui a algumas semanas. Não fiz questão de receber presentes. Mas para comemorar terei que ir junto com Pittacus e meu pai na viajem que meu irmão escolheu. Vamos a um planetinha do sistema treze, chamado Terra. Já estudei sobre o lugar. A atmosfera e o clima são muito parecidos com os de Lorien, mas os habitantes não passam de seres simplórios, um bando de primatas ignorantes.  Nosso povo mantém vínculo com os habitantes de lá. Praticamente tudo o que eles sabem foi ensinado por nós. Pittacus tem verdadeiro fascínio pelo lugar. Por mim preferiria mil vezes conhecer Mogadore. Mas... vamos a essa viajem estúpida.

Já é tarde da noite. Pitt e papai estão dormindo. Estou debruçado sobre a mureta da varanda de nosso quarto apreciando a vista do mar. Estamos em um país chamado Brasil, em um estado chamado Rio de Janeiro. Tenho que admitir, este lugar é realmente belo, não chega aos és de Lorien, mas ainda assim é muito bonito. O clima aqui é quente e um tanto úmido, mas não deixa de ser agradável. Estamos hospedados em um hotel bastante luxuoso. Por mais que eu deteste admitir estou me divertindo aqui. Não consigo explicar, mas este planeta tem um efeito estranho sobre mim. Estou mais alegre, menos tenso. Tenho até me dado bem com meu pai e com Pitt. Ha tempos que não o chamava assim, ele até sorriu quando o tratei por seu apelido de novo, sorriso que por mais que quisesse não consegui deixar de retribuir. Pela primeira vez em muito tempo, mais do que sou capaz de lembrar, nos vejo como uma família de novo.

Esses quatro dias que passamos aqui parece que apagaram de minha mente toda aquela história de profecia, destruição e morte, que sinceramente nunca entendi como viriam a ocorrer. Por mim, gostaria de continuar aqui, para sempre, com Pitt, papai, mamãe. Viver uma vida normal, mais tranquila, em que eu não fosse filho de um dos dez governantes do planeta, não estivesse preso à uma profecia, nem fadado a matar meu irmão.

Tanto este planeta quanto seus habitantes têm muitos problemas. Os terráqueos poderiam aprender muito mais conosco. Se nós colonizássemos a Terra aqui com certeza seria um lugar realmente perfeito. Mas não eu, ou Pitt, ou meu pai, outro lorieno qualquer. Eu só gostaria de viver uma vida comum aqui, indo à praia todos os dias, saindo à noite pra festas, bares e restaurantes como os que visitamos esses dias. Realmente seria perfeito. Nem acredito que estou pensando esse tipo de coisa. Esse lugar realmente me mudou.

Papai está reclinado em uma cadeira de praia sob um guarda-sol tomando água de coco. Pitt e eu estamos brincando de um esporte que eles chamam aqui de futebol. Pitt estudou absolutamente tudo o que se tinha pra saber sobre este lugar e conhecia todas as regras do jogo. Mas como somos apenas dois não as estamos seguindo à risca. Obviamente estamos nos controlando enquanto jogamos. Não queremos estourar a bola nem mandá-la para o espaço.

O sol está quente, queima minha pele, mas de uma maneira agradável. Meu corpo está coberto de cima a baixo com uma mistura de suor, água, sal e areia. Estamos no verão daqui, Pitt fez questão de virmos pra cá durante esta estação. A praia está cheia de gente, mas viemos para um canto um pouco mais vazio. Há tempos que não ria e me divertia tanto com meu irmão. Tempo demais para que eu seja capaz de me lembrar.

Em um dado momento Pitt dá um chute forte demais na bola e ela vai parar longe. Corro controladamente para pegá-la. E é aí que a vejo. Eu paro de correr na mesma hora. É simplesmente a visão mais bela que já tive. Se não soubesse que são apenas estórias acreditaria fielmente que o que está parado na minha frente é um anjo. Sua pele morena, bronzeada de sol, é parecida com a minha, mas levemente mais clara. Seus cabelos são longos, do mais puro negro, e mesmo assim possuem um brilho único, lisos, porém levemente ondulados. Olhos de um verde tão magnífico que nem em Lorien é possível encontrar, fazendo o mais perfeito contrate com seu tom de pele. Lábios rosados perfeitamente desenhados. E um corpo que dispensa qualquer comentário. E vê-la em seu biquíni florido, expondo boa parte de seu corpo esplendoroso, só torna essa visão ainda mais perfeita.

Sinto-me totalmente atônito. Nunca imaginei que existisse em qualquer canto do universo criatura de tamanha beleza e perfeição. Sinto-me hipnotizado. Ela está olhando pra mim. Abaixa um pouco a cabeça e arruma uma mecha de seu cabelo atrás da orelha direita com toda delicadeza enquanto dá um leve e contido sorriso, o que a deixa, e fico surpreso de ver que isso é possível, ainda mais bonita. Só então percebo que eu quem causei esta reação. Estou parado como um bobo olhando fixamente e de boca aberta parecendo um débil mental. Recomponho-me rapidamente. Dou um suspiro um tanto exagerado e dou mais alguns passos em sua direção. Droga! Eu não sei o que eu falo, ou o que eu faço. Nunca me imaginei nessa situação. E por que afinal eu estou tão preocupado? E o que é que está havendo comigo? Sou capaz de mudar de forma, explodir coisas com a mente, manipular objetos com a minha vontade, causar dor aos outros com o meu pensamento, destruir rochas com o punho, e não consigo dizer umas meras palavras para uma humana?

– Oi.

Ela me cumprimenta estendendo sua mão. Nossa! Sua voz é simplesmente a mais linda que já ouvi! Parece o canto de uma sereia das lendas humanas. Meu estado fica ainda pior, mas preciso fazer alguma coisa, não posso ficar aqui parado sem fazer nada.

– Oi.

Eu estendo minha mão para apertar a dela. Essa é uma saudação comum por aqui. Quando aperto sua mão meu coração bate ainda mais forte. Seu aperto é delicado, sua pele é suave, lisa e macia. Poderia ficar segurando-a por horas. Mas percebo que minha mão está suando de nervosismo e a puxo depressa. Droga de novo! Puxei de maneira brusca de mais, deve ter parecido estranho. Ela deve estar me achando um louco. Preciso fazer alguma coisa.

– Sou... Setrá... Set. Sou Set, prazer.

Meu nome soaria ainda mais esquisito para ela, não é um nome comum neste planeta. Não quero que ela me ache ainda mais estranho do que já devo estar parecendo. Set pelo menos é um nome mais comum aqui.

– Prazer Set. – ela diz sorrindo e fechando os olhos, um movimento automático. Seus dentes são lindos, tudo nela é lindo. Não acredito! Estou apaixonado por esta humana! – Me chamo Lorena.

Não consigo conter meu riso. É coincidência demais.

– O quê? – Ela pergunta sorrindo com uma expressão de quem não está entendendo o ocorrido.

– Não, é que seu nome... me é familiar. Só isso. Acho ele... lindo.

– Obrigada! – Ela sorri novamente de forma contida e envergonhada. Acho que estou indo bem. Não sei como essa coisa de relação funciona em Lorien e muito menos aqui na Terra, mas pelo menos acho que não estou estragando tudo. – Você mora por aqui? Nunca te vi aqui pela praia? Você é aqui de Ipanema mesmo?

– Não, não. Sou de Lo... Bahia! – Quase! Acho que demorei mais do que deveria para responder depois de quase dizer besteira. Por algum motivo não consigo raciocinar perto dela. Ela me tira toda a atenção até de meus próprios pensamentos. Pelo menos consegui dizer algum estado deste país. Ainda bem que Pitt ficou tagarelando sobre o Brasil durante nossa viajem. Não estava prestando atenção em absolutamente nada, mas pelo menos de algo eu consegui me lembrar.

– Engraçado você não tem sotaque.

Sota, sotaque, sotaque... é o modo com que pessoas de uma determinada região falam!

– É, é que eu nasci na Bahia, mas... passei alguns anos em São Paulo e estou aqui no Rio há alguns meses. Acho que um lugar foi anulando o sotaque do outro.

Ela sorri. Deve ter achado engraçado. Isso! Setrákus você é um gênio!

– Mas e você? Mora por aqui?

– Set!

Antes que ela possa responder Pitt vem correndo em nossa direção me gritando. Droga! Mas que cara inconveniente. Logo agora?! 


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