Os Legados De Lorien - A Origem escrita por Cherles Belem


Capítulo 2
Capítulo 1




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Pelo relógio ao lado da minha cama já são três da manhã. Não consigo dormir. Acabei de acordar de outro daqueles sonhos estranhos. Mas são tão reais que chegam a me dar medo. Pitt também os tem, alguns são parecidos, mas não conseguimos entendê-los. Pedi a ele que não contasse nada a nossos pais, não sei o que eles diriam, poderiam achar que estamos loucos. Apesar de Pitt ser sempre o “bonzinho” sei que quanto a isso posso confiar nele, principalmente por ele ter mais medo do que eu. O sonho me deixou irrequieto, não consigo ficar deitado. Me levanto sem fazer barulho. Pitt está dormindo tranquilamente em sua cama. Seu rosto é tão sereno que até alivia um pouco da minha tensão. Pelo visto nada de sonhos pra ele esta noite. Sorte a dele.

Nosso quarto fica no segundo andar, bem no meio de um longo corredor. Em um dos extremos fica o quarto de nossos pais e no outro o escritório do papai. Mas algo me chama a atenção. A porta do escritório está entreaberta e a luz está acesa. Mas o que será que papai está fazendo tão tarde? Minha curiosidade é grande demais para eu não verificar.

Uso minha telecinese para me deslocar pelo corredor sem fazer barulho, encostado na parede. A telecinese é um de meus legados. Nem todos os lorienos despertam legados, e absolutamente nenhum tão cedo quanto eu e meu irmão, temos apenas nove anos. Somos gêmeos, apesar de não termos nada em comum, nem na aparência, nem na personalidade. Pitt é mais fraco, tem a pele mais clara, cabelos louros um pouco encaracolados, olhos verdes. Eu tenho um corpo mais desenvolvido apesar da pouca idade, minha pele é mais bronzeada e tenho cabelos negros mais curtos que os dele.

Não está muito escuro. As janelas de vidro da frente de nossa casa que vão do chão ao teto permitem a entrada da luz de uma de nossas luas, Zanar, a maior das duas, que por sinal está cheia hoje. Ao me aproximar do escritório ouço vozes, mas quem poderia vir à casa de alguém tão tarde da noite? Paro a uma pequena distância da porta. Daqui dá pra ouvir bem a conversa. Pelo som das vozes parecem estar saindo de algum aparelho de comunicação. Tenho uma excelente memória, então reconheço cada uma das vozes, já as ouvi antes. São dos outros anciãos.

Lorien, nosso planeta, possui cinco continentes, cada um com dois países. Cada país é governado por um líder que recebe o título de ancião. São os responsáveis por governarem todo o planeta. Meu pai é um deles. Nem todos os anciãos são velhos. Quando um ancião morre, alguém toma seu lugar. Mas não por votação, a pessoa já nasce para aquilo, só não sei como eles sabem quem é a pessoa certa.

– Bem, já que concluímos esta questão dos mogadorianos por enquanto, diga-nos Amanus, como estão seus filho? – reconheço a voz como sendo de Venel, o ancião de Orlin, país que faz fronteira com o nosso.

– Estão bem. – Papai responde, mas sinto um tom estranho em sua voz.

– Sabe que não era a isso que nos referíamos Amanus. – Quem fala dessa vez é Myraz, a anciã de Barasen.

– Sinto que eles andam escondendo algo de mim. – Papai fala depois de alguns segundos de hesitação. Mas não entendo. Por que os anciãos estão tão interessados em saber como eu e meu irmão estamos afinal? Começo a prestar ainda mais atenção. Sinto que há algo de errado nisso tudo.

– E o que acha que pode ser? Algum legado novo? – Agora quem fala é Tezen, o ancião de Seakon.

– Talvez. Algumas vezes os peguei na mesa ao jantar rindo sozinhos, outras vezes olhando um para o outro e saindo de repente, como se tivessem decidido algo. Mas tudo sem trocarem uma palavra. Sinto que um deles, se não os dois, tenha desenvolvido telepatia.

Segue-se um momento de silencio. Então papai descobriu. Ele é realmente muito inteligente, não é à toa que é o ancião de Tavan. Pitt desenvolveu seu primeiro legado aos seis anos, um feito inacreditável, talvez nunca antes realizado. Estávamos brincando e eu o desafiei a subir até o topo de uma paranfa, a maior árvore de nosso quintal. Como sabia que aconteceria ele não teve coragem, então eu subi. Ele ficou de baixo mandando eu descer, pois era perigoso. Pitt sempre se preocupa demais com tudo e com todos, às vezes chega a ser chato. Ao alcançar o topo da árvore sento em um galho e fico me balançando provocando Pitt. Mas de repente escorrego e caio. Consigo me agarrar à árvore e diminuir minha velocidade, mas ainda assim bato no chão com força. Acho que torci o tornozelo, dói demais, não consigo parar de gemer, mas não choro de forma alguma.

Pitt chega a mim ainda mais preocupado e pega meu tornozelo enquanto tenta me tranquilizar.

– Set, Set, você está bem? Calma, vai passar, você vai melhorar, eu garanto! Calma!

De repente começo a sentir meu pé gelado e a dor começa a desaparecer. Meus pais chegam desesperados e correm até nós perguntando o que havia acontecido e nós os explicamos. Eles brigam comigo, mas estão tão contentes e orgulhosos de Pitt que nem me dão tanta atenção. Quando entram me sinto furioso por dentro. É sempre Pitt, o filhinho perfeito. Por mais que eu o ame, às vezes sinto um ódio mortal por ele. Droga! Por que ele tinha que desenvolver esse legado estúpido? Sinto tanta raiva dentro de mim que é como se ela crescesse e transbordasse por todo o meu corpo. Então para descontá-la dou um soco na paranfa com toda a minha força, mas meu punho atravessa o tronco da árvore estilhaçando-o e corro para o lado para me desviar da árvore e começa a tombar. Fico totalmente surpreso com o que acabei de fazer. Acabo de despertar um legado também , um melhor que o do Pitt, uma super força. Meus pais correm para fora com Pitt em seu encalço. Eu sorrio para eles esperando receber o mesmo tratamento dado a meu irmão, mas ao invés disso tanto papai quanto mamãe estão com uma expressão de surpresa e preocupação misturadas com... medo.

Com o tempo Pitt também desenvolveu a habilidade de falar com animais, o que particularmente acho inútil! Ficar conversando com pássaros e coelhos... Ele adora, claro. Além de minha força também desenvolvi a habilidade de criar e controlar o fogo, além de não me queimar. Ambos desenvolvemos a telecinese e há alguns meses, em nosso aniversário o poder de nos comunicarmos mentalmente um com o outro, mas apenas entre nós dois. Desde então temos tido esses sonhos estranhos. Às vezes temos o mesmo sonho. Algumas vezes estamos um dentro do sonho do outro. É estranho. Mas então a conversa me desperta de minhas memórias e trás minha atenção de volta ao presente.

– Você sabe que precisa ficar atento a quaisquer mudanças neles Amannus. – Este é Drinian, ancião de Povan. – Seus filhos não são crianças quaisquer. Você conhece bem a profecia. Setrákus e Pittacus tem um papel fundamental no destino de Lorien. Um papel maravilhoso... ou trágico. Você sabe as consequências se formos displicentes quanto a isto.

Como? Não entendo. Do que eles estão falando? Mas que profecia é essa? O que eu e Pitt temos a ver com o destino de Lorien? Somos apenas crianças! E que história é essa de destino trágico afinal?

– Eu sei. Estou ciente de tudo isto. – Papai faz uma pausa breve e então retoma. – eu sei bem a benção ou... a maldição que meus filhos representam. Não se preocupem qualquer coisa os informo. Bom, se era só isso...

Volto para meu quarto levitando o mais rápido que posso antes que papai saia e me pegue aqui bisbilhotando. Deito, me cubro com um lençol e viro para o lado fingindo que estou dormindo. Mas agora é que não conseguirei mais dormir mesmo. O que significou tudo aquilo? Toda aquela conversa estranha sobre eu e meu irmão e o destino de Lorien? Como assim nós somos uma benção ou uma maldição? Eu não faço ideia. Mas sei que papai nunca me contaria. Terei que descobrir por conta própria.



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