Ela estava distraída pensando na vida, como recuperaria seus solos, talvez se desafiasse Mercedes para tal, e Santana. Ou ela podia desafiar Quinn que seria uma vitória certeira e recuperar tudo que a loira tentava arrancar.

            Aos poucos Rachel caia em si como estava agindo feito uma criança de oito anos que faz birra por qualquer coisa, foi-se o tempo de criança onde ela podia ser egoísta o quanto quisesse. Agora precisava aprender a dividir.

            – Hey! – Se assustou com a pessoa que nem percebeu chegar.

            – Finn? – Rachel estreitou os olhos, levemente desconfiada do que ele queria.

            Ele levantou as mãos em rendição, sinalizando que vinha em missão de paz com Rachel, não queria problema algum. Apenas flertar com ela, Rachel pode ver isso nos olhos castanhos dele.

            Finn afasta um pouco as penas de Rachel e senta-se frente a ela.

            – Queria dizer só que é muita mancada da Quinn tirar tudo de você assim – ele deu seu famoso sorriso de canto, a abertura de qualquer conversa pacífica – achei que ela fosse tua amiga agora, mas nem parece.

            Rachel respirou fundo, a conversa que passou a semana evitando com qualquer ser racional que conhecesse, até os não tão racionais assim como Puck que parece pensar com o... Deixa para lá.

            – Só isso? – Ela indagou com desdém.

            Finn negou, ainda sorria para Rachel.

            – Abre seu olho, ela ainda é uma pupila da Sue e pode te apunhalar pelas costas num piscar de olhos – Finn bateu na testa de Rachel carinhosamente antes de deixar um beijo molhado lá e sair do lugar.

            Rachel se afundou em seu próprio lugar pensando no que Finn disse. E se fosse verdade?

            (...)

            – Depois dessa apresentação incrível de Santana e Mercedes reafirmando o que já sabíamos desde River Deep, Mountain High – Will sorria para os alunos, feliz com o esforço que os escolhidos de Quinn estavam fazendo para provar a todos, à Rachel e principalmente para eles mesmos que eram capazes de ganhar as nacionais com outros talentos – eu tenho uma notícia meio boa, meio ruim depende de como vocês preferem ver.

            Quinn se levantou e caminhou até o lado do professor do coral.

            – Vocal Adrenaline está de volta, – ela observou todos mudarem as expressões – dessa vez sem o Jesse, mas com um bom cantor porque essa é a marca registrada deles! – Quinn respirou fundo.

            – E nesse ano eles fizeram um convite para “esfregar o talento dos alunos desse ano na nossa cara” – Will cruzou as mãos –, essas são as palavras que eles usaram.

            Um burburinho começou entre Kurt e Mercedes – eles conheciam o cantor desse ano e ele parecia ter uma voz incrível –, o barulho se alastrou e todos faziam uma grande bagunça de ideias sobre a afronta.

            Quinn gritou pela atenção de todos.

            – Hoje no final da aula nós iremos até o Carmel, sentaremos no auditório e assistiremos ao show como pessoas pacíficas devem fazer. Tudo bem?

            Todos assentiram, exceto uma Berry emburrada desde o inicio da aula. Finn murmurou algo sobre Jesse, se ele estaria lá e isso acendeu uma pequena chama em Rachel. Uma chama de proporções idênticas, porém de sentimento diferente brotou em Quinn.

            – Sim Finn, Jesse é o novo treinador do Vocal Adrenaline – Will falou com um fio de voz.

            O sorriso que nasceu nos lábios de Rachel era tão grande e tão brilhante que qualquer extraterrestre sobrevoando a Terra poderia descer ali achando que era um amigo chamando pela sua casa. Já as expressões de Finn e Quinn passaram de um sorriso fraco e debochado para uma tromba gigantesca.

            Santana e Kurt, as únicas pessoas que sabiam o que se passava entre todos dali começaram a rir juntos da tromba de Quinn e o sorriso abobalhado de Rachel.

            (...)

            Quinn empurrou um nerd contra um dos jogadores de futebol, deixando o garoto com grandes problemas em mãos, ela não estava dentro de si desde a visita na Carmel onde fora traída pelas suas próprias palavras e precisou assistir Jesse esfregando seu novo cantor Wade/Unique com sua voz potente – se bem que se aquela fosse a maior competição deles, Mercedes seria perfeitamente capaz de dar um banho de talento sobre o garoto –, assistiu também quando Finn se pôs entre Jesse e Rachel quando o outro ofereceu um dueto à diva. “Eu deveria estar entre os dois!” – ela gritava mentalmente.

            O que matou de verdade foi observar como Rachel cantava Rolling In The Deep com Jesse tão perfeitamente bem, ela se sentia uma intrusa na vida da morena apenas por deseja-la naquele momento.

            – Poxa, Rachel foi muito babaca ontem. – Tina se referia ao momento em que eles estavam de saída e Jesse ofereceu uma “carona” para Quinn.

            Quinn revirou os olhos.

            – Ela ainda é minha namorada – ela sussurrou.

            Elas estavam no banheiro retocando a maquiagem, e só agora Quinn percebera. Quanto tempo ela passou visualizando aquelas cenas torturantes?

            – Quem te garante? – Tina sentou-se na pia, concentrando seu olhar nos olhos de Quinn.

            – É difícil desse ângulo? – Quinn sorriu de canto e passou seu gloss. Ela viu pelo canto dos olhos Tina corando de uma forma incrível! – Respondendo a sua pergunta... Se você percebeu ela tem um colar metade-de-coração, é simbólico. Ela carrega o pedaço dela que completa o meu – ela tirou o colar para fora do uniforme Cheerio – e enquanto ela estiver com ele é porque me ama.

            Tina assentiu.

            Ela pulou da pia, virou Quinn para ela olhando-a nos olhos. Tarefa difícil porque depois de três anos os olhos da loira ainda a assustavam.

            – Vocês duas são muito melosas. Já experimentaram sexo? Isso deixa o relacionamento menos doce e mais apimentado.

            Quinn empurrou as mãos de Tina, indo em direção da porta. Aquilo soava tão Santana Lopez que por um instante ela desconfiou de Tina ser na verdade Santana disfarçada de asiática.

            – Você é quase tão repulsiva quanto a Santana. – Quinn revirou os olhos antes de tocar a porta para abri-la.

            Tina observou Quinn sair, ela foi à direção oposta para o campo de futebol onde Puck a esperava para uma pequena ajuda na fuga da escola, passar por cima do muro dos fundos. Dessa vez ela iria mais longe, numa escola de ensino fundamental.

            Ela chegou aos cacos no colégio de Damon que deveria estar – como o seu – entrando no intervalo de almoço. Ela verificou o relógio e assentiu para si mesma. “Perfeito, Cohen-Chang.”

            Na frente do colégio ela achou uma árvore para sentar e esperar o tempo passar até avistar o garoto de cabelos ruivos e sardas no nariz. Cinco minutos se passaram e ela conseguiu vê-lo, mas nada feliz com a situação. Ele corria de alguns garotos que riam dele, o que estaria ok se Damon não estivesse com expressão apavorada.

            A correria parou quando Damon tropeçou na raiz de uma árvore. Alguns garotos apontaram para ele, falando coisas que fazia Damon engolir o próprio choro. Um valentão mais alto que o resto da turma saiu do meio dos garotos e juntou o pequeno pela gola da camisa.

            – Mas que droga é essa? – Tina se pôs em pé.

            – Ei! – Ela gritou para o grupo de garotos que levavam Damon até a lixeira.

            Era como ver a versão de dez anos ruiva de Kurt no segundo ano.

            – O pensam que estão fazendo?

            – Ah, mas tinha que ser o medroso do Underwood para chamar ajuda, não é homem o suficiente para lutar por si – o garoto maior falou. Ele soava ter quatorze anos –, vai ver é por isso que tua mãe não te quer. Seu lixo.

            Damon contorceu mais o rosto para conter as lágrimas. Seu rosto estava vermelho como um tomate.

            – E ainda traz uma olhos rasgados magricela que só vai apanhar junto – ele balançou a cabeça.

            – Repete! – Tina pôs as mãos no quadril, indignada com o garoto.

            – Acha mesmo que vai proteger ele? – O garoto debochou de Tina. – Vocês são dois fracos e ele é um baita medroso!

            – Não com violência física, isso é para Santana e trogloditas. – Tina respirou fundo, buscando argumentos ao melhor estilo Rachel Berry que ela podia pensar. – Sabe quem é o único medroso que eu vejo aqui? Você! Sabe por quê? Você está agredindo Damon por quê? Porque ele é tão inteligente que é dois, quatro anos mais novo que você e está um ano à frente! – Tina levantou o dedo, impedindo qualquer um dos garotos da roda de se pronunciar. – O ser humano tem a vantagem sobre os animais por ser racional, mas quando age dessa forma ele deixa de agir racionalmente. Então eu te aconselho severamente a criar vergonha na tua cara e ir estudar ao invés de ficar por aí batendo em outros. Logo Damon sairá daqui e vai para Harvard, depois UCLA, ou Oxford e a próxima vez que ouvirá o nome dele será quando ele for indicado ao prêmio Nobel em plenos trinta e cinco anos de idade. Enquanto isso você vai ficar aqui, quando ele estiver entrando na UCLA, você estará aprendendo a decorar a frase “bem-vindo ao McDonalds, qual é o seu pedido?” e o cardápio também para parecer um funcionário menos estúpido.

            O garoto ignorou todo o discurso com um revirar de olhos e bufou quando Damon caiu dentro da lata de lixo. Ele chamou os outros garotos, cuidando Tina como se eles fossem espiões de nações inimigas.

            Ela ajudou Damon a sair e se limpar. A parte boa? Tina Cohen-Chang acaba de achar o que precisava para por Rachel e Quinn trabalhando como um time outra vez.

            (...)

            Ninguém acreditava no que viam, todos estavam de boca aberta, até mesmo Santana, a pessoa mais inabalável daquele coral. Todos piscavam tentando assimilar que droga de área do cérebro de Rachel dera pane.

            – Ficou loucona? – Puck foi o primeiro a protestar.

            Rachel apertou mais a mão dele e sorriu.

            – Só acho que sou uma pessoa adulta o suficiente para decidir por mim mesma, Noah. E vocês deveriam aprender a separar o pessoal do profissional – Rachel balançou a cabeça em decepção com os amigos. – Eu esperava que vocês fossem pessoas mais maduras.

            Santana se levantou com a velocidade da luz e quase não foi detida a tempo pelos amigos do coral a sua volta, mais um pouco e passaria por cima de Kurt para estapear a cara da Berry no centro da sala.

            – Você vai ver o que é uma pessoa madura quando eu te deixar a tua cara roxa igual uma jabuticaba, sua anã! – Santana pulava no lugar tentando se livrar dos braços de Sam e Puck.

            – Jabuticaba eu não sei, mas vermelha como morango eu faço questão – Quinn se levantou do lugar e atirou Will Schuester para longe.

            Ela puxou a mão de Rachel do enrosco que estava com as mãos de Jesse, deixando o garoto confuso. Quinn saiu bufando do lugar arrastando Rachel para o banheiro. A diva relutava com medo de Quinn surtar o qualquer outra coisa que representasse um risco ao seu rosto.

            Quando chegaram ao banheiro, a Cheerio sentou Rachel na pia, trancou a porta do banheiro e voltou para a menor, apoiando as mãos nas coxas dela.

            Elas travavam uma luta silenciosa com o olhar.

            – Me machucou feio quando disse que eu não era boa o suficiente para as nacionais – Rachel fez bico.

            Quinn gargalhou.

            – Quando? – Ela encarou a morena séria. – Eu nunca disse isso. O que disse é que temos talentos que podem ser explorados e reconhecidos além do seu, mas eu seria incapaz de esconder o seu talento. Por isso preferi você e o Kurt em um dueto. Já percebeu o quão perfeitos vocês dois ficam cantando juntos?

            – Eu não ligo para o que você acha. Agora eu gostaria de voltar para perto do Jesse, onde me sinto segura. – Rachel fez bico.

            Quinn deu passagem para Rachel descer da pia e ir até a porta.

            – Antes você pode me devolver o colar? Porque se você vai ficar o Jesse nosso “namoro” acaba, e isso é todo o significado dele – Quinn sorriu de canto.

            – Tudo bem! – Ela tirou o colar de meio coração com certo cuidado desnecessário se fosse contrastar com o ódio em suas palavras. – Eu nem lembrava mais o que ele significava.

            Ela rodou sobre os calcanhares, voltou para perto de Quinn segurando firme o colar na mão esquerda. A loira ria de toda a situação. Rachel Berry podia ser uma atriz, mas Quinn era capaz de ver por trás de qualquer capa dela.

            Rachel mordeu o lábio antes de deixar um beijo nos lábios de Quinn.

            – Você é uma idiota.

            Ela virou-se.

            – Tina quer falar com você depois da aula, não me pergunte por quê. – Quinn sorriu.

            Rachel deixou o banheiro pisando duro.

            Ela cada vez mais caía na realidade que tudo o que aquilo estava se transformando era uma infantilidade sem fim dela, Quinn para ajudar dava cada vez mais corda para a brincadeira de Rachel.

            – Vaca – Quinn riu de Rachel – levou meu colar.

            Quinn sentou-se na pia e sorriu, Rachel não devolveu o colar porque não poderia fazê-lo enquanto gostasse de Quinn.