37 edição dos Jogos Vorazes escrita por bruno


Capítulo 18
O Vitorioso


Notas iniciais do capítulo

Hey gente! Vou matar a curiosidade de vocês 8D
Mas primeiro, para retirar as dúvidas, aí está a arma que o Verizon recebeu como dádiva: http://puu.sh/1HgaG
É só clicar ;) A única diferença é que a do Verizon tem três bolas, e não somente duas :P
Boa leitura!



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Aquele bilhete tinha me pegado de surpresa. Quem mais, além de Cihla e eu, poderia estar vivo? Eu havia acompanhado todas as mortes, exceto nos dias em que estive desacordado. Mas Kala e o garoto do 6 realmente morreram, certo? Se ele estivesse vivo teria me matado enquanto eu dormia, e ela teria me ajudado. Ou, levando em conta seus mistérios, poderia até ter me matado. Quem estaria vivo, então? Eu não conseguia lembrar dos tributos que já tinham morrido mas, quando Kala falava sobre isso, eu não via erro algum. Tudo se encaixava. A menos que ela tenha mentido sobre a morte de seu aliado misterioso! Não, não podia ser. Todos estavam mortos. Talvez Auksas tenha feito isso para me deixar atento e me fazer esquecer Arany. Por um momento fiquei com raiva mas, depois, percebi que era o correto a fazer. Tudo o que ela estava fazendo era me manter vivo e, para isso, eu precisava esquecer Arany momentaneamente. Eu devia ter total concentração nos Jogos, já que qualquer movimento em falso poderia revelar minha posição para Cihla.
Passei a pensar e agir com mais cautela. Minha maior preocupação naquele momento era localizar Cihla antes que ela me encontrasse e pegá-la de surpresa. Se eu a avistasse de uma longa distância, poderia acertá-la com minha lança e finalizar com minha mais nova arma. Eu segurava a massa em minhas mãos, admirado. Aquela arma deveria ter sido muito cara. Uma coisa que poucos tributos sabem é que, quanto mais perto do fim dos Jogos, mais caras as dádivas ficam. Com o dinheiro que você compra uma refeição inteira no primeiro dia, você consegue apenas um mísero pão no último. Essa era uma forma de diminuir a frequência de dádivas e deixar os Jogos mais interessantes. A sorte, porém, estava a meu favor, já que eu tinha recebido duas dádivas no mesmo dia e, principalmente, no penúltimo - ou até último dia dos Jogos.
Andei durante horas sem sucesso. A Arena era muito grande e a chance de nos encontrarmos era pequena. Agora eu estava novamente em uma área seca e cinzenta cheia de árvores retorcidas e sem folhas. Eu já havia me habituado ao cheiro ruim e, por isso, só me lembrava dele algumas vezes. Tudo estava quieto e decidi descansar. Deitei no chão, fechei os olhos e dormi instantaneamente. Eu estava sonhando que estava no Distrito 1 com Arany quando acordei com um pulo. O hino de Panem retumbava no céu e, entre as estrelas, pude ver o rosto do tributo do Distrito 11. Logo tudo voltou a ficar escuro e, mais uma vez, agradeci pelos óculos. Eu só tinha raiva dele quando me lembrava de que o tinha recebido ao invés do tão esperado remédio para Arany. Eu estou fazendo de novo, pensei. Afastei o pensamento da cabeça e voltei a me concentrar nos Jogos. Por quanto tempo eu havia dormido? Por algumas horas, talvez. Era difícil dizer com precisão. Mas o tempo não importava agora, os Jogos não durariam mais que dois dias. Eu e Cihla poderíamos estar distantes um do outro, mas os Idealizadores dariam um jeito nisso. Com essa ideia na cabeça, resolvi ficar acordado. Eu estava cantando minha música favorita mentalmente quando tudo se iluminou ao meu redor. A floresta tinha pegado fogo repentinamente. Somente o caminho a minha direita estava livre e, por isso, fui até lá. O fogo se alastrava rápido por conta das folhas e galhos secos e, por isso, corri mais do que nunca. Sombras passavam pela minha frente a toda a hora e, assustado, eu erguia meu machado. Demorava a perceber, porém, que as labaredas projetavam sombras. Em um certo momento olhei para trás para verificar as chamas e não vi um pequeno tronco a minha frente. Caí de barriga no chão e torci meu tornozelo.
– Droga! - Arquejei.
Levantei rapidamente e voltei a correr mais lentamente do que antes. Meu tornozelo doía com a torção e minhas pernas já estavam cansadas da corrida. Boa parte da Arena estava em chamas e, pela área em que percorri, calculei que estava próximo ao fim da Arena quando o fogo começou.
Finalmente alcancei uma área calma e imaculada quando o Sol iluminou tudo ao meu redor. Logo a minha frente havia um pequeno e raso lago cercado por plantas aquáticas e, do outro lago da margem, um bosque com árvores verdes e esplendorosas. Mais ao longe, pórém, eu avistei outro incêndio. Cihla provavelmente estava a caminho. Escondi-me atrás de um tronco caído e me preparei para a batalha. Coloquei a adaga com a qual havia enganado o garoto do 3 por baixo da manga, prendi o machado ao meu cinto e segurei a lança com a mão esquerda. Com a direita girei a massa no ar, observando as bolas girarem e produzirem um som metálico. Eu estava preparado. Aquela era a batalha final da Trigésima Sétima Edição dos Jogos Vorazes e toda Panem estava assistindo agora. Pensei em meus pais, que deveriam estar comemorando em frente à televisão, e nos de Arany.
– Eu sei que não dei o meu máximo para protegê-la - Sussurrei, olhando para uma das câmeras - mas vencerei por ela. Eu prometo.
Voltei a olhar para frente e avistei um toco de tronco de árvore no meio do lago. Observei as árvores e percebi que o fogo estava se aproximando cada vez mais. Ela deveria estar perto. Passei a imaginar como ela estaria. Forte, armada e muito bem alimentada. Temeroso, pensei nas dádivas que ela teria recebido. Uma armadura? Talvez. Uma granada? Era possível. Todas as opções deixavam meu coração disparado, mas eu não podia falhar. Estava sentando no chão quando um movimento em frente às árvores da outra margem do lago chamou minha atenção. Era Cihla. Saí de trás do tronco e fiz com que ela me avistasse. Percebi um leve sorriso em seu rosto, mas seu estado era deplorável. Seus cabelos, antes perfeitamente cacheados, estavam desgrenhados e sujos de sangue. Seu traje tinha um enorme rasgo na coxa e, de longe, pude avistar um curativo improvisado. Mursten não tinha morrido sem lutar. Cheguei mais perto e vi um tapa-olhos no lado esquerdo de seu rosto, que estava completamente sujo de terra. Seu único olho era feroz e olhava para mim com ódio.
– Onde ela está? - Gritou - Onde está a sua amiga? Quero que você a veja morrer. - Continuou, girando uma faca por entre os dedos.
– Arany morreu. Somos só nos dois.
Nós andávamos em círculos e olhávamos um nos olhos do outro.
– Você sabe que eu não estou falando de sua namoradinha. Não tente me enganar.
– O quê...?
Minha frase foi interrompida pelo urro de Cihla e, instintivamente, mergulhei em direção à água. Vi uma faca atravessar o ar e cravar-se em um tronco.
– Eu não sou tola, Verizon. Esse é o seu nome, não é? - Perguntou, rindo. O brilho em seus olhos era quase demoníaco e uma hipótese passou pela minha cabeça: Cihla estava enlouquecendo. Era isso que os Jogos faziam, afinal.
– Por que não vem até aqui e me mata, se é tão corajosa? - Perguntei, mostrando desprezo - Atacar de longe é tão...
– E por que você está com uma lança em mãos, então? - Perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Aquilo me pegou de surpresa e, sem relutar, joguei a arma no chão.
– Está satisfeita? - Indaguei.
– Não. Eu quero que você me diga onde ela está.
– Quem?! - Perguntei, irritado - Estão todos mortos, Cihla, você não vê?
Ela levantou a cabeça para trás e gargalhou.
– Quer dizer que você não sabe? Ora, você é mais tolo do que eu imaginava. Até ela conseguiu enganar você.
– De quem você está falando? Responda! - Gritei.
Ela suspirou e, pela primeira vez, senti um tremor em sua voz.
– Ela o matou. Mursten. Você e sua companheira de distrito não eram os únicos amigos na Arena, idiota. Outras relações se concretizam enquanto estamos aqui.
Ela cuspiu no chão, olhou para mim e continuou.
– Ela também me fez isso - ela disse, apontando para seu tapa-olhos - e isso - desta vez apontando para o ferimento na coxa - Eu só tive tempo de pegar minhas coisas e correr. Mursten... Ele não conseguiu.
– Sobre quem você está falando? - Voltei a perguntar. Seu rosto estava tão sereno que parecia estar em transe. Talvez estivesse mesmo entrando em um estágio avançado de loucura.
– Você não precisa saber. Logo seremos somente eu e ela.
Com isso, ela atacou. Seus cabelos castanhos voavam ao vento e um sorriso feroz se estampava no rosto. Esticou o braço e tentou me acertar com sua faca, mas fui mais rápido. Girei a mão e acertei a massa em suas costas. Ela urrou e sangue escorreu de sua boca. Sua testa se enrugou em fúria e, com isso, seus movimentos ficaram infinitamente mais rápidos. Cravou a faca em meu estômago e eu caí de joelhos. Ela me chutou, fazendo-me cair na água e sentou sobre meu peito.
– Pobrezinho. - Ela disse, passando os dedos pelo meu queixo - Mas olhe pelo lado bom, você vai encontrar sua amiguinha.
Arany. Eu precisava vencer por ela. Aquilo renovou minhas forças e, antes de pegar a adaga que tinha escondido em minha manga, falei:
– Não, não vou.
Retirei a arma de seu esconderijo e cravei no ferimento já existente na coxa de Cihla. Ela caiu para o lado, agonizando.
– Você é quem vai encontrar seu amigo. Mande lembranças a Mursten.
Levantei a massa no ar e, sem piedade, cravei contra seu crânio. Ela gemeu fraquinho e parou de se movimentar, mas suas cordas vocais continuavam produzindo um tipo de resmungo. Voltei a espancá-la e, mesmo depois de ouvir o tiro de canhão, não parei. Até que eu olhei para baixo e vi o que antes era a cabeça de Cihla. Onde seus olhos redondos e sua boca deveriam estar, eu podia apenas ver um buraco oco e inundado de sangue escarlate, da mesma cor do arco de Kala. Kala... Será? Não. Não podia ser. Eu tinha vencido.
Sentei na água, arquejando de dor, e larguei meus pertences perto do corpo inerte de Cihla. O ferimento em minha barriga estava sangrando muito. Onde estava o aerodeslizador? Olhei para o céu, esperançoso, e esperei pelo gongo. Nada.
Rastejei até o tronco que havia no meio do lago e me apoiei. O sangue de Cihla se espalhava rapidamente e meu traje já estava absorvendo a coloração vermelha. O que estava acontecendo? Eu deveria esperar mais ou tocar algum tipo de sino? Estava prestes a gritar por ajuda quando uma voz familiar me interrompeu.
– Surpreso?
Virei-me em direção à voz, mas minha visão já estava escurecendo.
– Quem... Kala? É você?
– Ora, quem achou que fosse? - Ela perguntou, se aproximando. Sua voz estava ótima mas, assim que pude distinguir seu rosto, assustei-me. Seus olhos estavam roxos e inchados e, suas bochechas, repletas de hematomas.
– Você está...
– Diferente? Deformada? Eu sei, aquele garoto do 6 era muito forte - Disse, desinteressada - mas a Capital vai refazer o meu rosto do jeito que eu quero, não acha?
– Como você está viva? - Perguntei, tentando ganhar tempo. Voltei a me arrastar em direção às armas que estavam ao lado do corpo inerte de Cihla, mas Kala foi mais rápida.
– Não seja tão maldoso - Disse, divertindo-se.
Ela chutou a massa para longe e, com a ponta dos pés, me empurrou de volta à água. Eu estava muito fraco e, por isso, não consegui me levantar.
– Aquele garoto gordo não me matou. Eu simplesmente desmaiei. Aliás, tenho de agradecer a você por tê-lo matado antes que derrubasse aquela pedra na minha cabeça.
– Por que não me acordou? Por que não ajudou Arany?
Ela gargalhou e se dirigiu até o corpo de Cihla. Olhou para ela e fez cara de nojo.
– Não seja idiota, Verizon. Você sabe que somente um de nós sobreviveria. Eu poderia ter matado vocês, sim, mas preferi que tudo ocorresse em seu determinado tempo.
Olhei, temeroso, quando ela colocou a mochila para a frente e, de lá, pegou uma pequena folha.
– Está vendo isso? É proveniente de uma árvore muito comum no 4. - Ela disse, caminhando para perto de mim - Em pequenas doses pode matar uma pessoa em poucos segundos mas, em grande volume, é capaz de eliminar qualquer veneno que exista em um organismo. Uma sorte tê-la achado aqui na Arena, não acha?
– Você... Você sabia disso o tempo todo! Deixou Arany morrer! - Gritei, segurando o choro.
– Se eu a tivesse salvado seria uma tola! Uma hora teria que matá-la de qualquer forma. Suportei vocês dois com sua amizadezinha inútil para ficar segura de Cihla. Ela sim era esperta, percebeu minhas intenções desde o início. Ela até me convidou para participar da Aliança deles, sabia? Mas eram muito metidos. Não gosto de pessoas assim.
Ela se ajoelhou no chão, pegou uma de suas flechas e esfregou-a contra a folha.
– O que você...?
– Não se preocupe. Só vai durar alguns minutos.
Não! Eu não podia morrer de uma maneira tão besta. Mas eu estava completamente indefeso contra ela! O que eu poderia fazer? Tudo girava ao meu redor mais uma vez mas, desta vez, eu sentia que não iria acordar. Desesperado, procurei em meio à água alguma coisa que pudesse me ajudar ou defender. A dois metros de mim, por fim, avistei um pequeno canivete prateado, provavelmente uma arma extra e discreta de Cihla. Estava bem longe do restante das armas e, com isso, poderia pegá-lo sem causar suspeitas. Se eu pudesse chegar até lá e esperar pelo momento certo...
Rastejei até lá e observei, incrédulo, o rastro de sangue que deixava no pequeno lago.
– Poupe seu tempo, Verizon. Você não tem como fugir. Logo tudo estará acabado. - Ela disse, sorrindo cruelmente. Agora ela passava uma segunda folha na ponta da flecha e logo viria atrás de mim.
Cheguei até o canivete, fiquei de costas, apoiei-me nos cotovelos e abri a lâmina. Eu só teria uma chance. Eu tinha que esperar ela estar perto o suficiente para...
– Pronto! - Ela disse, sorrindo - Ah, Verizon, eu estou tão feliz. Finalmente vou poder voltar para casa e ganhar admiração de minha mãe. Você sabia que ela nunca me deu atenção? E o pior é que... Bom, isso não é da sua conta. Vamos ao que interessa.
Ela pegou o arco em suas mãos e posicionou a flecha. Aproximou-se, mirou e, então, parou.
– Eu acho que é mais digno matá-lo com minhas próprias mãos. O que você acha?
Ela largou o arco no chão e veio até mim, sorrindo. Girou a flecha entre seus dedos e...
– Aaaaah! - Ela gritou - Seu desgraçado!
Chutei sua barriga, fazendo-a cair. O problema é que eu havia acertado seu ombro, e não seu coração. Logo ela se recuperaria e viria atrás de mim. Sem pestenejar, arrastei-me até as armas próximas ao corpo de Cihla. Eu só precisava pegar a minha lança e... Droga, a lança! Eu a havia deixado na margem do lago quando Cihla me desafiara! Sem opções, optei por arriscar com uma faca. Rastejei até ela e, quando meu dedo médio encostou na fina lâmina, um choque percorreu por minhas costas. Olhei para atrás e avistei Kala, arfando, com o arco em mãos.
– Você é rápido, Verizon. Mas não o bastante.
Meus olhos se fecharam e tudo o que eu pensava naquele momento é que finalmente reencontraria Arany.


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Notas finais do capítulo

Pois é, gente, o Verizon perdeu :( Mas a fic ainda não acabou, os próximos capítulos serão POV Kala (:
Feliz ano novo para todos! Até o próximo capítulo! :D



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