37 edição dos Jogos Vorazes escrita por bruno


Capítulo 15
A Despedida


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Sobrevivi ao fim do mundo! *Dança Gangnam Style*
Boa leitura! :D



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Acordei com o hino de Panem ressoando em meus ouvidos e, devagar, levantei os olhos. Esperei ver o rosto de Kala brilhando no céu mas, em vez disso, as imagens e a música desapareceram tão rapidamente quanto apareceram. Não haviam ocorrido mortes hoje.
– Sem mortes... Oh, por quanto tempo fiquei desacordado? - Perguntei a mim mesmo, enquanto me levantava. Olhei para baixo e, incrédulo, encarei as manchas de sangue seco que habitavam o chão onde eu estivera. Lembrei-me do que havia acontecido e avistei mais manchas a poucos metros de mim. Os corpos haviam sumido.
– Como não acordei com o barulho dos aerodeslizadores? - Voltei a me perguntar, em voz baixa.
Toquei minha cabeça e senti o cabelo grudento e espesso. Olhei para minhas mãos e elas estavam vermelhas.
– Eu perdi muito sangue, talvez... - E então uma lembrança passou pela minha mente. Arregalei os olhos e não pude conter o grito - Arany!
Corri o máximo que pude, mas as coisas ainda giravam ao meu redor. Tentei ficar calmo e me preparar para o pior. Quem sabe por quantos dias eu havia dormido? Arany já estava fraca quando eu e Kala deixamos o acampamento e, dias depois, sua situação estaria muito pior.
Finalmente cheguei em frente à lona. Vários pensamentos passavam pela minha cabeça. Eu queria vê-la sorridente, sem aquelas terríveis veias no rosto, mas temia encontrá-la em um estado horrível, ou pior: não encontrá-la. Relutante, passei por de baixo da lona e me surpreendi ao ouvir um urro e, depois, ver uma foice vindo em minha direção. Desviei e, sorrindo, disse:
– Arany! Sou eu, Verizon!
Estendi as mãos para frente e tateei o caminho a minha volta.
– Eu estou aqui.
Segui a direção de sua voz e, finalmente, a encontrei. Corri para abraçá-la e, quando me aproximei de seu corpo, apavorei-me. Ela estava incrivelmente magra, e as veias estavam ainda mais visíveis. Olhei, incrédulo, enquanto ela tossia.
– Arany... O que você...
– Eu disse que sabia me cuidar. - Ela falou, dando um fraco sorriso.
Tentei não chorar na sua frente e, forçando o riso, respondi:
– Você poderia ter me matado, sabia?
– Eu sei. Essa era a intenção. - Ela brincou, sorrindo. Não pude deixar de admirá-la. Ela estava em um estado deplorável e, mesmo assim, agia como se estivesse bem.
– Como você esteve esses dias? - Perguntei - Como você se virou?
– Não me lembro bem. Acho que dormi a maior parte do tempo.
– Quantos hinos você ouviu sem mim? - Perguntei, temeroso.
Ela pensou por um momento, arqueando as sobrancelhas.
– Contando com o que acabei de ver, dois. Ambos sem mortes.
– O quê? Então eu saí do acampamento há... Três dias atrás, no mínimo! - Exclamei, horrorizado.
Ela me observou, séria.
– Ela está morta, não é? Kala. Eu não a vi no céu, provavelmente estava dormindo, mas...
– Sim, ela está. Morreu no mesmo dia em que saímos daqui. O garoto do 6 a matou e eu cravei o machado nas costas dele. Antes disso, porém, ele me atacou e me deixou desnorteado. Acabei desmaiando e acordei há menos de uma hora com o som do hino. Assim que recuperei os sentidos, corri para cá. Achei que... algo de ruim tivesse acontecido com você.
Ela olhou no fundo dos meus olhos e deu um pequeno sorriso. Vi quando sua boca abriu e emitiu um ruído que, rapidamente, foi interrompido pela tosse. Ela ainda tossia sangue. Dei um pouco de água a ela e me acomodei ao seu lado. Coloquei meu braço direito ao redor de seu pescoço para que ela tivesse apoio e, juntos, como sempre fazímos, observamos as estrelas.
– Veja, aquelas lá. Perto da nuvem maior. Parecem um diamante. - Comentei.
Ela riu e seus olhos percorreram o céu, rapidamente.
– E aquelas - ela apontou - perto da Lua me lembram uma árvore.
– Você é do Distrito 7 e eu não sabia? - Brinquei, rindo. Ela também riu, mas acabou tossindo e, depois, engasgando. Assustei-me e coloquei seu corpo de lado. Afaguei suas costas, sem saber o que fazer, enquanto sangue se derramava pelo chão. Quando parou, voltei a virar seu corpo com a barriga para cima.
– Eu não quero mais ficar assim, Verizon. Quero morrer logo. - Ela disse, olhando fundo em meus olhos.
– Não! Você vai ficar bem, Arany. Não pode morrer por um motivo bobo desses. Você é forte demais para isso. - Respondi, pegando em seu nariz.
Ela riu, mostrando os dentes amarelados. Seus lábios estavam em um tom púrpura e seus olhos, agora profundos, olharam para mim. Era como se as picadas estivessem sugando toda a sua energia.
– Você sabe que eu não vou, Verizon. Sabe que vai ter que continuar sozinho. Sem mim.
– Não! Eu posso...
– Aceite, Verizon. Quanto mais cedo aceitar minha situação, menor será a sua dor. E eu não quero que sofra.
– Oh, Arany, se eu pudesse voltar no tempo... Se eu tivesse visto aquele formigueiro...
– Não há volta. Encare os fatos: eu estou morrendo. Se você gosta mesmo de mim, Verizon... Por favor, não insista.
Ela voltou a tossir e, quanto terminou, gemeu.
– Eu não consigo movimentar minhas pernas. Não consigo.
Seus olhos se encheram de lágrimas e tive que me conter. Seu estado era horrível e eu realmente não queria vê-la sofrendo. Por outro lado, queria aproveitar o máximo de tempo junto dela. Abracei-a e, por um momento, pude ouvir seu coração. Estava fraco e batia muito devagar. Seus órgãos estavam parando.
– Verizon, eu tenho um presente para você.
– Para mim? - Perguntei, incrédulo.
Ela apoiou-se nas mãos e voltou a sentar. Colocou os finos dedos por baixo dos cabelos e pegou uma pequena corrente. Ela olhou para mim, sorriu e estendeu a mão.
– Lembra disso? Trouxe para cá como uma lembrança do 1.
Olhei para o colar em suas mãos e abri um sorriso.
– Eu não acredito! Você ainda tem isso! - Falei, pegando o cordão em minhas mãos. Desenrolei a corrente de ouro e olhei para o pingente de um coração pela metade. Coloquei a joia no chão.
– Eu também tenho uma coisa para te mostrar. - Falei. Coloquei as mãos por trás do pescoço e retirei o cordão. Os colares ficavam totalmente escondidos por baixo de nossos trajes, por isso nunca tinham os visto - Eu também trouxe o meu.
Juntei as duas peças, que juntas formavam um coração completo. Elas simbolizavam nossa amizade eterna. Eu as havia comprado em uma loja há muitos anos atrás - talvez quatro. Os colares eram banhados a ouro e, os corações, cravejados com pequenos rubis. Dei um deles para Arany e fiquei com o outro. Sempre que nos encontrávamos durante a noite os colocávamos no chão para que ficassem juntos, unidos.
– Eu quero que fique com ele. Para não esquecer de mim.
Sua voz tremia e, novamente, lágrimas se formaram eu seus olhos.
– Eu nunca vou esquecer você, Arany. Não importa se o colar estiver comigo ou não.
– Você tem que vencer, Verizon. Você merece. Vença por mim.
Aquele pedido me pegou de surpresa, mas não demorei a responder.
– Eu vou, Arany. Vou ganhar e honrar nosso distrito. Vou honrar sua memória.
Beijei sua testa e deitamos novamente no chão lamacento. O cheiro constante de esgoto, por um momento, havia sumido de minhas narinas, infestando-me com sentimentos e pensamentos bons.
– Vamos dormir - Eu disse - você precisa descansar.
Viramo-nos de lado e acomodei meu braço por cima de seu corpo, de modo a abraçá-la. Segurei suas mãos, agora magras e frias, entre as minhas para dar a ela algum tipo de conforto.
– Boa noite, Verizon.
Algo em suas palavras criou um buraco em meu coração. Eu tinha medo de dormir. Tinha medo de perdê-la. Confrontei minhas angústias e acabei adormecendo. Eu estava sonhando com um mundo onde Arany e eu pudéssemos ficar juntos para sempre quando, no meio da noite, ouvi um canhão.
Levantei rapidamente. Não podia ser. Ajoelhei-me ao lado de Arany e toquei seu corpo carinhosamente.
– Arany? Ei, Arany, você ouviu isso?
Forcei meu cérebro a pensar o melhor e tentei novamente.
– Ora, não seja dorminhoca. Vamos, acorde.
Nada. Balancei seu corpo, desesperadamente. Lágrimas começaram a escorrer de meus olhos.
– Arany. Por favor, Arany, resposponda. Arany! - Eu fiquei completamente fora de mim porque, quando me dei por conta do que estava fazendo, sacudia seu corpo como um saco de batatas. Esperava que, de alguma forma, voltasse à vida.
– Arany, por favor. Por favor.
Debrucei-me sobre sua barriga e não resisti. Chorei como nunca havia chorado antes e, provavelmente, como nunca mais choraria. Ouvi o barulho do aerodelizador se aproximando, mas não liguei. Tudo o que eu queria era ficar com ela.
Tudo o que eu queria era ficar com Arany.


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Notas finais do capítulo

Nooooossa, vocês não sabem o quanto eu demorei para escrever esse capítulo. Eu adoro a Arany, foi triste ter que escrever sua morte Ç_Ç Não me matem, please.
E feliz Natal para todos! Muitos presentes do Papai Noel, ho ho ho! okn
Já ganharam os presentes? O que receberam? :D



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