37 edição dos Jogos Vorazes escrita por bruno


Capítulo 13
À Procura de Dádivas


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu de novo, hehehe. okn
Boa leitura! :D



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Era como se o chão tivesse aos poucos se despedaçado embaixo dos meus pés. Assisti, incrédulo, ao corpo de Arany ser coberto por milhares de pontinhos vermelhos enquanto ela gritava e, inutilmente, tapeava sua roupa numa tentativa desesperada de se livrar dos pequenos bestantes. Nervoso, corri até a árvore mais próxima. Cortei um dos galhos e, com a ajuda de um fósforo, coloquei fogo em uma das pontas. Voltei correndo até elas e, com a claridade da tocha, achei o formigueiro rapidamente. Tapei a entrada com terra várias vezes mas, não importava o que eu fizesse, as formigas voltavam a sair. Desesperado, joguei a tocha no formigueiro e assisti à morte de algumas delas. Algo me dizia, porém, que aquilo não era suficiente. Novas formigas não paravam de surgir e picar o corpo de Arany, que agora estava caída no chão. Ela rolava na terra na tentativa de livrar-se dos animais, o que era inútil. Lágrimas saíam compulsivamente dos meus olhos enquanto eu ouvia os gritos histéricos e assustados de Arany. Ela gritava em busca de ajuda, mas o desespero estava limitando meus movimentos. Kala continuava jogando terra enquanto eu pensava em alguma maneira de ajudar.
– Kala! Ajude-me a jogar a água dos cantis nela! - Gritei, indo em direção às mochilas.
– O quê?! Você está louco? Essa é a única água que temos! - Ela exclamou, irritada.
Ela tinha razão, afinal. Se usássemos a água para salvar Arany, todos morreríamos dias mais tarde por desitratação. Se não havíamos recebido dádivas até agora, não poderíamos contar com elas.
– Então ajude-me a pegar água do lago! - Gritei, desesperado.
Esvaziamos nossas mochilas, deixamos Arany para trás e corremos até o pequeno laguinho barroso que havia se formado no dia anterior. Enchemos duas mochilas com a água pastosa e voltamos até ela, que já tinha seus movimentos mais fracos. Seu grito estava rouco e, por trás das formigas e dos furos no traje causados pelas ferroadas, pude ver as veias saltadas em sua pele. Sem pensar duas vezes, jogamos o conteúdo das mochilas e, para o nosso alívio, vimos que metade das formigas pendiam, mortas, sobre a terra. Voltamos até o lago, prestando atenção aos crocodilos bestantes, enchemos as mochilas novamente, voltamos até Arany e jogamos a água barrenta novamente no seu corpo, que agora estava inerte sobre o solo.
– Será que...? - Perguntou Kala, olhando para mim.
– Não. Não dispararam o canhão. Ela deve ter desmaiado.
Recolocamos nossos pertences de volta às mochilas e levamos Arany de volta ao nosso pequeno acampamento. Deitamos seu corpo imóvel na terra e respiramos fundo. Abrimos suas pálpebras e, para a nossa surpresa, seus olhos estavam incrivelmente vermelhos, e suas veias eram muito visíveis. Os pequenos furos no seu traje relatavam onde as picadas tinham sido.
– São muitas. - Eu disse, segurando o choro.
– O que faremos? - Perguntou Kala, com certa preocupação.
– Talvez os nossos...
– Não espere por dádivas, Verizon. Não se iluda. - Ela me interrompeu.
Olhei novamente para o rosto de Arany, que estava marcado por grandes linhas azuladas e vermelhas.
– As veias dela estão se dilatando. Precisamos de algum remédio. Talvez, se nós formos...
Não pude concluir meu pensamento porque, do nada, o corpo de Arany começou a tremer compulsivamente. Ela estava tendo uma convulsão.
– Precisamos fazer alguma coisa! Precisamos! - Eu gritava, descontrolado.
– Verizon, pare! - Gritou Kala, obviamente irritada. Ela colocava o corpo de Arany de lado e olhava para mim, séria - Se quer ajudá-la, ficar descontrolado só vai atrapalhar.
Mais uma vez, estava certa. Impressionei-me com a calma e agilidade de Kala ao cuidar de Arany, que aos poucos estava parando de tremer.
– Tudo bem, o que podemos fazer? - Perguntei, ajoelhando-me ao seu lado.
– Minha avó era enfermeira e aprendi algumas coisas com ela. A convulsão deve ter sido causada por alguma toxina liberada pelas ferroadas das formigas. O corpo entrou em choque pela presença dessa substância, mas parece estar voltando ao normal.
– Isso quer dizer que a toxina está saindo do organismo dela? - Perguntei, temeroso.
– Não. Isso só quer dizer que a situação dela estará melhor por algumas horas. - Ela respondeu, indiferente.
Levantei novamente e comecei a andar em círculos.
– Precisamos de algum remédio. Auksas, Zlato, por favor! - Eu gritei, olhando para a câmera mais próxima - Ajudem!
– As dádivas não dependem só dos mentores, você sabe. Eles apenas permitem a entrada delas, mas quem as manda são os patrocinadores.
Assim que suas palavras chegaram aos meus ouvidos, tive uma ideia. Peguei meu machado em uma mão, a lança na outra, guardei a pequena adaga da garota do 5 no meu cinto improvisado e me dirigi para fora do acampamento.
– Verizon! Onde você vai? - Gritou Kala.
– Vou à procura de dádivas. - Respondi.
Passei por baixo da lona e comecei a correr. Se não tínhamos remédios, precisávamos de um. E o único meio de conseguí-lo seria dando um bom show para a Capital.
– Por favor, por favor - Eu sussurrava, numa oração desesperada para que encontrasse algum tributo. Se a Capital não gostasse do que eu estava por fazer, não gostaria de mais nada.
Para a minha surpresa, em um certo ponto do pântano, pude ouvir barulho de água. Aproximei-me e avistei uma silhueta na penumbra. Cheguei mais perto e vi que era um garoto. Ele olhava para a água, desdenhoso, provavelmente por somente agora ter descoberto que ela era barrosa e imprópria para consumo. Dei uma risada fraca quando avistei duas bolas luminosas se aproximando dele.
– Ei, menino! Tem bestantes aí, sabia? - Perguntei, aos gritos.
Ele olhou em minha direção, assustado, e saiu correndo da água.
– Espere! Eu não vou te machucar. Quero ser seu aliado. - Eu falei, calmamente.
Ele parou de correr e, hesistante, olhou para mim.
– Por que quer ser meu aliado? - Perguntou.
– Porque eu percebi que está à procura de água. Eu encontrei um lago límpido do outro lado da Arena e enchi cinco cantis. - Menti - Posso te dar um em troca de comida. O que acha?
Ele cerrava os olhos para poder me ver melhor. Desconfiado, se aproximou devagar.
– Você tem alguma arma? Eu estou sem. A única que consegui na Cornucópia foi roubada.
– Aqui, pegue. - Estendi a pequena adaga para ele, que a pegou rapidamente e sorriu.
– Obrigado. Você é de que Distrito? - Perguntou.
Droga. O que eu falo? pensei.
– Sou do 3. - Respondi rapidamente.
Ele, que olhava admirado para sua nova adaga, me encarou. Sua boca se abriu, mas nada saiu de lá. Com esforço, ouvi um sussurro.
– M-m-mas eu sou do 3.
A Capital, que provavelmente estava rindo da situação, iluminou os números em nossos trajes. Pude ver um 3 reluzente em sua roupa e, divertindo-me, ri quando ele olhou para o número presente em meus ombros.
– Você... - Ele não completou a frase, apenas saiu correndo para o meio das árvores. Corri atrás dele e me aproximei rapidamente. Dei uma rasteira e observei, animado, seu corpo caindo. Sentei-me em suas costas, puxei seu cabelo para trás, roubei sua adaga e coloquei-a em seu pescoço.
– Achou que fosse escapar tão facilmente? - Perguntei.
– Por favor...
– Não. Minha amiga está morrendo, precisa de remédios. E você, meu amigo - Eu falei, enquanto levantava e virava seu corpo com a barriga para cima - vai ser minha vítima.
Seu rosto ficou vermelho e seus olhos se encheram de lágrimas. Ele piscou várias vezes, tentado não chorar.
– Ora, que bonitinho! O garotinho está com medo! - Eu falei, debochando - O que você prefere, corte na...
Ele se debateu freneticamente, tentando fugir, e me empurrou. Caí para o lado e vi-o correndo novamente. Segurei seu tornozelo e puxei-o para o chão.
– Você vai ficar aqui – Falei, olhando em seus olhos - É uma pena, mas vou ter que prendê-lo.
Passei a adaga na frente dos seus olhos e, entendendo o que aconteceria, ele gemeu.
– Não! Por favor, eu não...
Sem piedade, cravei a adaga em dua mão direita. Afundei-a no chão com força para que ele não tivesse modo de fugir. Seu grito de dor ecoou pela floresta. No mesmo momento, ouvimos um canhão. Minha mente parou de funcionar e, fraquejando, olhei para o nada.
– Espero que ela tenha morrido, Carreirista. A sua amiga.
Olhei para ele, com desprezo, e vi que pela primeira vez ele estava se divertindo.
– Você, menininho nojento... - Eu estava prestes a xingá-lo quando ele cuspiu em meu rosto. Urrei, limpei-me e, finalmente, continuei - Você vai morrer. O próximo canhão que seus queridos familiares ouvirem será o anúncio da sua morte. O que você pensa disso?
Ele olhou para mim, calado, e seus olhos lacrimejaram novamente. Por trás do choro, porém, ele era forte. Nenhum outro tributo ousaria desafiar um Carreirista, afinal.
– E você, Carreirista imundo...
Por mais uma vez, interrompi-o. Essa, porém, tinha sido a última vez. Cravei minha lança em um de seus olhos e ele urrou em agonia. Levantei-me e, calmamente, olhei para a câmera.
– Espero que o esforço valha a pena.
Voltei-me novamente para o garoto e, indiferente, cravei meu machado em seu pescoço. Retirei a lança de seu olho e, satisfeito, ouvi um canhão.
– Dezesseis mortos. - Concluí.
Tirei a mochila de suas costas e irritei-me ao ver um mísero pacote de frutas secas. E o pior: estava pela metade. Mesmo assim, guardei-o na minha mochila. Meio pacote era melhor do que nada.
Surpreso, assisti a um pequeno paraquedas prateado flutuar pelo ar. Corri até ele e, ansioso, abri-o. Peguei um pequeno bilhete que estava dentro da embalagem e, nele, estava escrito Desculpe. Procurei o que mais havia dentro da embalagem e, horrorizado, vi a minha frente um par de óculos noturnos.
Eu não conseguiria salvar Arany.


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Notas finais do capítulo

Eu fiquei com dó do garoto do 3 :( O Verizon mentiu para ele u_u
O que acharam? (:



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