A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 37
Uma canção no meio da noite


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal espero que gostem do capitulo. Beijoos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/286682/chapter/37

Katniss se considerava uma pessoa dura. Ela acreditava que, por ter nascido em uma cidade perigosa do Oeste dos Estados Unidos, estava acostumada com qualquer tipo de barbárie. É estranho como a vida está constantemente provando que estamos errados. Ver o estado de Peeta e o modo como o tratavam tinha a desnorteado completamente. E o pior é que ela sabia que Snow tinha apenas começado.

Quando o amigo foi levado de volta para o quarto, Katniss sentiu como se tivesse levado um soco forte e ficado completamente desorientada. Ela não conseguia pensar em nada, era como se seu cérebro estivesse cheio de ar. Ela tentou se recompor, porque sabia que era exatamente assim que Snow a queria: completamente perdida. Fez o possível para lembrar do plano que tinha em mente e se permitiu demonstrar um pouco de frustração.

O interrogatório de Snow não fora tão difícil quanto ela imaginara. O intendente fazia perguntas sobre o movimento, a maioria das quais Katniss não tinha como responder, e parecia cada vez mais furioso por não conseguir nada de útil da garota.

O momento mais aterrorizador nem fora o interrogatório . O que mais a assustou foi o modo como ele a olhara no final, um aviso silencioso de que ele tinha tudo o que mais importava para ela em suas mãos. Katniss não pôde evitar lembrar o que ele dissera em seu ouvido quando trouxera Peeta para vê-la. “Você não quer ele machucado, quer?” Pela expressão de Peeta, ela percebeu que ele havia conseguido ter o mesmo efeito nele. Ela podia sentir a fúria e o medo do namorado ao ver Snow a tocando. Ela só podia esperar que não o machucassem tanto no interrogatório.

A única coisa que mantinha Katniss em pé era o pensamento de encontrar Darius. Ela precisava falar com o amigo. Ele saberia como avisar Haymitch e os outros. Talvez pudesse inclusive ajudar os dois a saírem daquela situação.

Infelizmente, Katniss teve que esperar muito tempo para conseguir falar com alguém, Snow mandou os soldados a levarem direto para o quarto e a garota não tinha como ver seus rostos porque todos eles nem sequer se viravam para encará-la. A garota pensou que nunca entenderia como os guardas podiam ficar tão impassíveis enquanto injustiças iam sendo cometidas perante seus olhos. Ah claro, ela entendia no seu íntimo. Eles estavam apenas cumprindo ordens. Entender isso era o que mais a apavorava.

Katniss ficou o que pareceu horas no quarto, sozinha imaginando como Peeta estaria atravessando seu próprio interrogatório e repassando as palavras que diria a Darius. Ela tinha que achar um modo de falar com o soldado a sós, mas isso parecia extremamente impossível. Já estava começando a se arrepender de ter dado esperança a Peeta quando a porta se abriu com uma criada trazendo comida.

A mulher parecia ter um pouco de receio de Katniss. Seus olhos negros olhavam para todos os lugares, como se estivesse constantemente a procura de uma ameaça. Uma pena avassaladora tomou conta da garota.

–A sua comida senhorita -disse a criada. Katniss achou que tinha sido um milagre ouvi-la, já que ela mal tinha sussurrado--Tem um bilhete do intendente.

–Obrigada- disse Katniss simplesmente. A mulher pareceu olhar para ela com curiosidade, mas foi só por um segundo.

–Tudo bem, Marina pode ir- disse um soldado, levou um segundo para que Katniss reconhecesse Darius.

Felizmente Katniss conseguiu se controlar, praticamente ela queria gritar de alivio. A Mulher apenas assentiu e, antes de partir, levantou seus olhos novamente para Katniss, e saiu apressada.

–Darius- começou Katniss, mas foi interrompida pelo soldado que apenas lançou um olhar apressado para sua porta- Meia noite.

Katniss levou apenas alguns segundos para entender. A Meia noite ele ficaria de guarda sozinho e aproveitaria para conversar com ela. A moça não sabia se ria, chorava, ou começava a cantar de tanto alivio. No entanto, bastou sua mente ser preenchida pela imagem de Peeta sendo interrogado para que todas essas emoções fossem suprimidas. Além disso, havia ainda o fantasma de Coin. Provavelmente ela estava lá fora, causando todo o tipo de confusão para os abolicionistas.

Katniss fez uma promessa. Se ela saísse viva da casa de Snow, Coin iria pagar por tudo o que ela estava fazendo. Peeta provavelmente não aprovaria esse tipo de ódio, mas ela sabia muito bem que não tinha tanta moral quanto Peeta. Pensando nisso, ela colocou toda a sua atenção na comida e no bilhete que estava no prato.

A Caligrafia de Snow era rebuscada, cada letra escrita cuidadosamente. O papel também era fino, percebeu Katniss. A Garota não podia deixar de se impressionar com a habilidade teatral do intendente. Ele sabia como prender a atenção. O bilhete só continha um frase. “Comporte-se” A moça esmagou o papel como se tivesse esmagando o rosto flácido do homem.

A medida que a noite avançava a casa ia ficando cada vez mais quieta. Katniss não conseguiu evitar imaginar se Snow tinha levado uma pobre coitada para sua cama. Ele avisara a Katniss que faria isso. Com um arrepio ela lembrou quando o intendente disse que um dia ela teria essa honra. Ela sempre imaginou que todas as pessoas tinham algo de bom ou ruim, mas era difícil, muito difícil imaginar alguma bondade em seu inimigo.

O tempo era algo extremamente exasperador. Os 5 minutos com Peeta foram segundos e agora as horas passavam com uma lentidão que deixava Katniss a ponto de arrombar a porta. Ela sabia que não devia ficar tão vulnerável a ansiedade, isso não ajudaria em nada, então começou a fazer o que não fazia a muito tempo. Cantou. Uma das canções antigas que a vó sempre cantava para ela e que, de alguma forma lhe lembrava Peeta.

Na beira do rio ele me encontrou

Perto do pinheiro me amou

Naquela quarta eu vi seus olhos azuis

Diga-me que amará antes que eles cheguem

Diga que me quer antes que outono o tire de mim

Folhas secas

Folhas vazias

Me encontraram na sala

Esperando pelo meu amado

Na beira do rio ele me encontrou

Perto do pinheiro me amou

Naquela quinta saímos dançando pelo matagal

Diga-me que amará antes que eles cheguem

Diga que me quer antes que outono o tire de mim

Folhas secas

Folhas vazias

Me encontraram na sala

Esperando pelo meu amado

Na beira do rio ele me encontrou

Perto do pinheiro me amou

Naquela sexta a guerra o chamou

Disse que me amaria, mesmo agora que eles o levaram

Agora que o outono o tirou de mim

Folhas secas

Folhas vazias

Me encontraram na sala

Na beira do rio ele me encontrou

Perto do pinheiro me amou

Naquele sábado uma bala o matou

Disse- me que me amaria, mesmo agora que eles o levaram

Agora que o outono o tirou de mim

Folhas secas

Folhas vazias

Já não me encontram na sala

Folhas secas, meu amado me visitou

Folhas secas, agora com ele vou

Ela ficou cantando até que não aguentasse mais, sentindo como se cada parte do seu corpo estivesse presa apenas aquela canção. Era sim que ela fugia. Se agarrar a uma música, a alguma coisa que a fizesse se sentir realmente parte do mundo, parte de algo bom, era sempre o modo que ela encontrava para se sentir inteira novamente. Ela lembrou de quando costumava fugir para o escritório do pai, ou para algum lugar onde houvesse muitas árvores. Ela gostava de ficar lendo, descobrindo as grandes heroínas e heróis, sentindo-se ligada aos grandes pensadores. Ás vezes ela sentia como se tudo o que lhe restasse no mundo eram aquelas histórias.

Darius a encontrou encolhida no canto mais escuro do quarto. Katniss estava se sentindo tão cansada que nem percebeu quando ele entrou. Assim que avistou a figura do soldado, Katniss pulou alerta, todos os seus sentidos começaram a funcionar apoiados por pura adrenalina. Demorou um tempo para que ela conseguisse reconhecer Darius e dar um suspiro de alivio.

–Então, eram vocês o casal que Snow estava procurando loucamente?- Perguntou o homem encarando Katniss.

–Sim – disse ela, sua pulsação apenas começando a diminuir o ritmo- Somo nós. Snow acha que temos como ajudá-lo a destruir os abolicionistas.

Darius olhou para ela desconfiado. Katniss quase podia ouvir o cérebro do soldado funcionando loucamente, tentando decidir o que fazer com ela. Por fim, ele soltou um suspiro.

–Você precisa que eu lhe ajude- Era mais uma afirmação do que uma pergunta- Acredito que lhe devo isso.

O zumbido nos ouvidos de Katniss aumentou perigosamente. Ela podia sentir seu sangue fervilhar de excitação. Era a chance deles escaparem. Era a única chance de escaparem.

–Sim, embora, eu saiba que não esteja em posição de lhe cobrar nada. Você já se arriscou demais levando uma carta minha a Peeta.

–Bom, isso é verdade- disse Darius, observando katniss. A garota imaginou como deveria parecer para ele. Patética, desesperada e completamente encurralada.

–Por favor- disse ela- Você é o único em que posso confiar. Eu sei que você é uma pessoa boa Darius, por favor nos ajude.

–Vou ver o que posso fazer. Devo a minha vida a você.

Katniss sentiu como se alguém tivesse injetado ar diretamente em seus pulmões.

–Obrigada Darius- disse ela quando conseguiu finalmente falar.

–Mas vai ser difícil, o que exatamente você quer que eu faça?

Então Katniss começou a contar tudo a Darius. O modo como eles tinham sido aprisionados, as ameaças de Snow, seu plano. Quando a garota falou que eles precisavam entrar em contato com os outros, avisar sobre Coin e sobre como eles estavam sendo coagidos a contar tudo os olhos do confederado se arregalaram.

–Darius, eu sei que estou pedindo um favor enorme, vou entender se você recusar. Será muito arriscado.

Darius ficou em silêncio por um momento. Quando ele levantou seus olhos para encarar Katniss, a garota poderia dizer que nunca tinha visto ninguém tão resoluto.

–Katniss, me alistei no exército confederado por obrigação. Porque minha família me fez acreditar que essa era a coisa certa. No fundo, eu sabia que nunca tinha lutado por algo que eu acreditava. Agora essa é aminha chance. Vou ajudá-los.

Sem pensar Katniss atirou seus braços em torno do amigo em um abraço apertado. Ela sentiu que estava fazendo uma cena mas não se importou.

–Obrigada Darius.

Darius sorriu para ela se despedindo em direção a porta. Antes que ele pudesse sair no entanto, Katniss segurou-o pelo pulso.

– Mais uma coisa Darius, por favor, tire Peeta daqui.

–Katniss, você disse que se algum de vocês escapasse Snow ia retalhar. E eu não sei... não vejo como poderíamos tirá-lo daqui.

–Eu sei. Mas nosso plano é muito arriscado, muitas coisas podem dar errado. É melhor que Peeta fique bem longe daqui. É a mim que Snow quer.

A boca de Darius se abriu, como se ele fosse dizer alguma coisa, depois de um tempo ele apenas assentiu saindo.

–Você é a pessoa mais corajosa que conheci Katniss- Foi a última coisa que ele disse, quase num sussurro enquanto fechava a porta.

Corajosa. Katniss não se sentia dessa forma nem um pouco. Tudo o que ela tinha era medo. Medo de que Darius não conseguisse avisar os outros, que Snow acabasse com seus amigos abolicionistas, e principalmente, medo de perder Peeta.

Katniss achou que não fosse conseguir dormir, mas ela estava tão cansada que foi colocar a cabeça no travesseiro que os sonhos vieram. Eram como um borrão de imagens em que ela e Peeta corriam, mas nunca conseguiam chegar ao um destino certo. Parecia que havia sempre algo perseguindo os dois. De repente Katniss caiu no chão. Gritou para que Peeta fosse embora, mas ele não ia. De repente ele começou a gritar e Katniss percebeu aonde havia caído. Corpos. Ela havia caído em cima de um mar de Ossos.

Katniss acordou gritando e suando frio com um barulho na porta. Ela percebeu que era a mesma mulher que havia lhe trazido comida no dia interior.

–Bom dia senhorita- ela disse.

Katniss queria conversar com a mulher por que ela parecia extremamente tímida. Provavelmente ela deveria ser o tipo de pessoa que tinha sofrido muito durante a vida e garota sabia que ser empregada de Snow não deveria ser algo fácil.

–Nada de café então? Essa é a próxima tática de snow? Nos deixar sem comida?- Perguntou Katniss observando as mãos vazias da mulher.

–Não senhora- disse ela com uma voz que Katniss percebeu que poderia ser muito bonita se ela não fosse tão baixa- O senhor me deu ordens e mandou que eu a arrumasse para encontra-lo. Ele a espera para o café.

Katniss estremeceu. A Perspectiva de ver Snow era algo que deixava Katniss desconfortável apenas com o pensamento. A mulher a arrumou e rápido demais ela já estava sendo conduzida para a sala ao encontro dele.

O Estômago de Katniss roncou ao ver a mesa posta. Haviam frutas, um pão quente que deveria ter saído do forno há alguns minutos, leite, suco, presunto e bacon, tudo o que alguém poderia querer. Ela lembrou da mesa de Lisbeth, com apenas um pão e café requentado, ou mesmo a mesa que Peeta lutava para manter cheia de comida todos os dias.

–Bom dia Katniss, eu realmente espero que tenha dormido bem.

Katniss sentiu a raiva borbulhar em seu sangue.

–Como se tivesse dormido sobre uma cama de espinhos, obrigada.

Snow sorriu.

–Eu disse que se você me ajudasse e se comportasse talvez pudéssemos agir como adultos civilizados.

–Eu me comportei bem, por isso ganho comida? Perguntou ela olhando a mesa farta

Snow fez um muxuxo de desdém.

–Não, pensei que você pudesse ser mais cooperativa de estômago cheio. Além do mais, não estava falando disso. Estava pensando que você gostaria de ver alguém. Para se despedir, já que esta pessoa está indo embora do país. Com certeza, você vai me agradecer.

A Primeira coisa que passou pela cabeça de Katniss, foi a de que Snow estava falando sobre Peeta. Ela sentiu como se o chão estivesse abrindo sobre seus, pés. Mas Snow precisava dele aqui. Ele não mandaria Peeta embora assim. Ela não tinha como saber de quem o intendente estava falando. Até que viu uma figura loira vestida elegantemente, esperando para entrar na sala de jantar.

Assim que viu a moça sorrindo e se aproximando dela, Katniss sentiu seu coração falhar uma batida. Prim, a estranha convidada de Snow era Prim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai seus lindos? O que acharam? Espero que tenham gostado. O que será que Prim está fazendo lá hein? Beijoos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Casa Dividida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.