A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 31
Classes de español


Notas iniciais do capítulo

Hola que tal :)
Como vão os melhores leitores do mundo? Bom aqui está mais um capitulo para vocês. Minha gente, estou de mudança e indo e vindo da praia então minha net e meu tempo de escrever se reduziram a quase nada. Se eu sumir (o que vou tentar com todas as forças não fazer) me resgatem ahahah. Brincadeira. Esperem que eu volto. Não abandonem essa escritora louca, por favor. Beijoos a todos e aproveitem o capítulo.



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Costurar, limpar, cuidar e morrer. Costurar, limpar, cuidar e morrer. Ás vezes parecia que o mundo se resumia a essas palavras. Katniss costurava feridas, limpava os doentes, cuidava de todos eles e embora trabalhasse incessantemente sempre haviam corpos para serem enterrados na manha seguinte.

Rue se atirara com mais afinco no trabalho desde a morte de Tresh. Se alguém fazia duas suturas, ela fazia quatro. Se alguém alimentava um ferido, Rue alimentava dois. Katniss sabia que a amiga estava tentando lidar com o luto a sua maneira.

Se havia alguma coisa em que Katniss tinha experiência era perder pessoas que amava. Ela estava tentando fazer como Rue, mas ás vezes era impossível. Milhares de coisas lembravam Tresh e sempre que essas lembranças viam traziam consigo uma pontada de dor que ela fazia o possível para afastar. Era sempre assim com o luto. Negar até que a dor viesse com força total.

E ainda havia a falta de noticias de Peeta e Haymitch. O menino que enviara com a carta tinha voltado e, embora trouxesse uma resposta, não havia muito o que Katniss pudesse saber sobre eles. As respostas tinham sido curtas e apressadas e embora quisesse negar, deixaram Katniss desapontada. Ela precisava ver os dois. A garota pensou em voltar depois da morte de Tresh, mas sabia que não podia. Ela não podia deixar Rue sozinha e ainda tinha muito trabalho a fazer. Snow estava chegando e ela sabia que tinha que se aproximar dele.

Haymitch não falara muito na carta e só dissera para ter cuidado, dizendo que não se precipitasse e que logo encontraria um meio de fisgar o aristocrata. Katniss odiava admitir, mas não fazia ideia de como se aproximaria de Snow. Usar armas femininas estava fora de questão. Esse era um prazer que Katniss não daria a Coin. A garota sabia que, se iria se arriscar, teria que ser do seu jeito.

Como temia, Snow chegou mais cedo que o previsto. Ele vinha sorrindo e dizendo aos soldados que tinha visitado pessoalmente o sul e que era tão provável os confederados ganharem a guerra quanto o mar da Califórnia congelar. Era visível sua alegria e Katniss sabia que não era por que eles estavam lutando por uma causa justa. Snow, percebeu Katniss, tinha muito a ganhar com aquela guerra. Poderia muito bem se tornar o senhor de São Francisco. E a garota sabia que ele não tinha nenhuma clemência por negros, índios ou qualquer que fosse a etnia.

A oportunidade que ela tanto esperava para se aproximar dele veio repentinamente. Assim que chegou, ele tentou conversar com um dos soldados que só falava Espanhol, perto da tenda onde Katniss o observava. Pelo que a moça sabia, Snow era um algodoeiro rico de Nova Orleans e tinha vindo para São Francisco em busca de ouro e fortuna. Falava inglês e francês perfeitamente bem. Um verdadeiro americano. Mas um verdadeiro americano não sabia espanhol e não tinha como se comunicar com os soldados rasos que eram recolhidos nas casas de famílias humildes do estado.

Assim que o pobre soldado saiu sem entender nada, Katniss se aproximou de Snow ignorando o medo que revolvia suas entranhas.

–Posso ajudá-lo com o espanhol se quiser.

Snow olhou para ela surpreendido e um sorriso malicioso brotou nos lábios dele. Katniss daria tudo o que tinha para apagá-lo. Bom, pensou ela, pelo menos esse sorriso não irá durar muito.

–Senhora Mellark. Seria um prazer. Mas devo confessar, estou surpreso com sua oferta.

–Por que estaria? Lutamos pela mesma causa não é mesmo?

–Com certeza, com certeza. Eu só pensei... Devido ao nosso passado...

–Sinto muito senhor Snow. Deve entender os motivos de uma mulher apaixonada não?-Disse da forma mais cínica que podia. Ela tinha que ganhar a confiança dele, custasse o que custasse. Snow não era estúpido, Katniss precisava agir da forma mais astuta possível.

–Perfeitamente. Não vou negar que fiquei desapontado e, minha cara, ainda espero provar que você se divertiria muito mais comigo do que com aquele professor.

Katniss sentiu uma raiva aguda, mas ignorou e a mandou para um lugar escondido na mente. Obrigou-se a dar um sorriso tímido para o intendente.

–Você sabe espanhol então? Que outra língua sabe?

–Só espanhol, o senhor sabe, como a maioria dos californianos nativos.

Katniss não contaria que sabia falar francês. Ela ouvira Snow falando nessa língua com soldados e seria mais fácil descobrir sobre o que ele estava tramando se o homem acreditasse que Katniss não sabia falar sua língua natal.

– Achei que soubesse francês- Snow lhe lançou um olhar desconfiado. O homem era inteligente, Katniss não podia negar.

–Ah não. Não nego que tentei estudar quando menina. No entanto, sempre fui uma negação nessa língua. Minha mãe gosta de dizer que falo muito bem. Aumentam os pontos, você sabe. Peeta até tentou me ensinar, mas foi um fracasso- disse ela fingindo uma gargalhada.

–Quem sabe não a ajudo? Francês é minha língua natal.

Katniss fingiu surpresa. Felizmente Snow parecia acreditar em sua expressão atordoada.

–Interessante como sabemos tão pouco um do outro não é mesmo? – disse ele observando a garota. Katniss sorriu. Ele podia saber pouco sobre ela, mas Katniss descobriria tudo sobre Coriolanus Snow.

Meia hora depois estava na tenda de Snow o ajudando com o espanhol. Katniss não pode evitar sentir saudades de Peeta lembrando as aulas de espanhol que tinha dado para ele, antes que tudo mudasse.

A moça já havia estado em outras tendas de oficiais de alto escalão antes, mas nenhuma se comparava com a tenda de Snow. Havia uma grande escrivaninha de mogno no centro, lotada de papeis. Como em todas as coisas que Snow tocava havia uma áurea de poder. Snow parecia precisar de poder como ar. A tenda era muito organizada para uma guerra e a garota se perguntou quem mantinha aquela organização.

–Algum problema?- Perguntou Snow depois de algum tempo.

–Estou bem- disse Katniss em espanhol sorrindo- Só cansada, você sabe.

– Imagino que sim- disse ele- Nunca vou entender como uma moça como você acabou vindo parar aqui.

–Queria ajudar, você deve entender.

–Claro, claro. E devo dizer, estou feliz que tenha vindo. Ganhei a oportunidade de conhecê-la mais de perto.- Disse Snow perigosamente próximo- Talvez, como disse, faça você se arrepender de ter casado com o professor Mellark.

Katniss estremeceu. Era uma tortura sentir Snow assim tão perto ainda mais quando ele a olhava daquela maneira. Antes que a garota pudesse responder, um homem entra apressado.

–Desculpe Intendente, preciso falar com o senhor sobre o professor urgentemente- disse o soldado em francês.

Katniss percebeu o forte sotaque da Luisiana. Katniss não entendia o que aquelas pessoas, vindas de um estado confederado estavam fazendo ali e, acima de tudo, lutando pela União. Mentalmente agradeceu que, embora já fizesse quase 60 anos desde que o estado tinha sido anexado aos Estados Unidos em 1803, algumas pessoas continuavam falando apenas francês. A garota fez uma cara confusa quando o soldado começou a falar e olhou para Snow. Felizmente o intendente mordeu a isca.

–Desculpe minha querida, esse soldado só fala francês. Posso explicar depois.

Katniss deu um sorriso tímido e fez sinal para que Snow prosseguisse.

–Tudo bem, ela não entende francês- disse Snow da forma mais dissimulada o possível- Vamos, me conte. Como vai nosso prisioneiro?

Prisioneiro? Katniss tinha certeza que essa conversa seria muito interessante e fez todo o esforço para fingir que estava olhando para os verbos do livro que tinha em sua frente.

– O professor resolveu falar. Ele disse que se você e Coin deixarem a garota em paz ele vai lhe ajudar no que precisa.

Professor, garota, Coin? Katniss sentiu o desapontamento se formando nela como gotas poderosas de ácido. Mesmo que entendesse bem francês aquela conversa parecia estar em códigos. Que professor? O que Coin teria haver com um professor? O que Snow teria ver com os dois? E por que Coin estava tramando junto com Snow? E a garota? Quem seria a garota? Katniss sentia como se as perguntas fossem a consumir viva ali naquele instante e fez o possível para manter o controle.

–Perfeito! Aquele pulha acha que pode andar por ai com aqueles negros e se dar bem. Diga para ele que, se não cooperar, terei uma arma apontada para sua adorável esposa. E diga a ele que ela está comigo nesse instante, me dando aulas de espanhol.

Snow sorriu para Katniss e olhou de volta para o soldado. A garota, Snow parecia estar falando dela. Mas se ela fosse a garota...

–Vou dizer a ele senhor.

–Diga que é só o começo. Que, se ele quiser voltar a ver a esposa ou ensinar novamente, é melhor cooperar.

O soldado lançou um olhar de pena para Katniss

Aquele olhar, aquela conversa. De repente, Katniss fez a ligação. Professor, esposa, abolicionista. Mas será verdade? Não podia ser. Katniss implorou de todo o coração para os deuses que aquilo fosse apenas coisa de sua cabeça. Teve que se agarrar ao livro com toda a força que tinha para dissimular o medo e o pânico que crescia envolvendo todo o seu coração enquanto a mente fazia suposições.

– Ótimo. Mantenha o sob vigilância. Não sabemos ainda quem são ou como agem seus amigos. Não podemos permitir que alguém o resgate da cabana. Ela está próxima demais daqui. Pode ser que haja soldados entre nós que trabalhem para eles.

Katniss sentia o ar pesar, era como se alguém a tivesse apunhalado pelas costas e retirasse todo o ar de seus pulmões. Peeta. Katniss agora tinha certeza. Ele estava em perigo. Pela conversa que ouvira, ela também, mas surpreendentemente não se importou com isso. O sorriso de Snow quase a deixou louca ali mesmo. A imagem de Peeta sozinho em uma cabana, ferido, deu forças para Katniss agir normalmente.

– Bom acho que está na hora de ir. Há muito serviço a fazer- disse com um sorriso afetado. Calma, tudo que ela precisava era calma.

– Perfeitamente minha querida. Vejo-a amanhã para mais uma aula?

–Claro. Logo, logo está falando como um nativo da língua de Cervantes.

A garota fez uma mesura para que não precisasse olhar nos olhos dele e se retirou. Assim que se afastou da tenda seus pés congelaram e ela teve que sentar no chão para evitar cair dura ali mesmo. Peeta, Peeta. Como eles poderiam tê-lo pego? De repente, no meio do desespero Katniss teve uma ideia. Cabana, eles tinham falado algo sobre uma cabana.

A garota correu até um soldado que ela se lembrava de ter visto conversando amigavelmente com Tresh.

– Senhor, por favor. Sabe onde tem uma cabana perto daqui?

–Uma cabana? Bom existe uma cabana há três quilômetros ao norte daqui, mais afastada da cidade. Mas essa é propriedade do intendente, ele não deixa os soldados se aproximarem. Apenas pessoal do alto escalão.

Katniss sentiu o estômago revirar e agradeceu ao homem. Suas pernas pareciam ser feitas de chumbo enquanto corria até o estábulo. Sem pensar entrou correndo e pegou um cavalo que já estava selado. Katniss não se importou quando os soldados tentaram interceptá-la, não se importou com os gritos e com as ordens para que voltasse. Ela chegou a dar um soco em um dos homens que tentaram segurá-la enquanto subia no cavalo.

Desesperada ela direcionou seu cavalo para frente e saiu loucamente pelo acampamento do soldados em direção a floresta, em direção a Peeta Mellark.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero de todo o coração que tenham gostado. Beijooos