A Casa Dividida escrita por Redbird


Capítulo 30
Na mira de Snow


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal
Não, eu não morri. Desculpem mesmo a demora pessoal. Deu tudo errado com minha net esse final de ano e não consegui avisar que ia demorar um pouco mais para postar. Vocês ainda estão ai não é?? Por favor, não vivo sem leitores. Enfim... aqui vai mais um capitulo. Espero que gostem.



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A noticia da morte de Tresh chegou no meio de uma das chuvas mais torrenciais que São Francisco já vira. Haymitch estava conversando com Peeta logo após o velho ter recebido uma carta de Katniss. O professor mal teve tempo de se preocupar com o conteúdo dela quando mais um menino chegou em meio a tempestade trazendo o luto.

Deveria haver um enterro, deveria haver alguma homenagem. Uma pessoa como Tresh não deveria ser enterrada junto com os outros em uma vala comum no campo de batalha. Infelizmente, Peeta sabia que era assim que as coisas funcionavam. O que mais o deixava furioso é que, mesmo que ele quisesse dar um enterro digno ao amigo, ele nunca poderia. Sendo negro, o destino de Tresh sempre foi ir para a vala comum.

Peeta tentou afastar os pensamentos de Tresh. Tentou esquecer o jeito como ele sempre achava alguma coisa engraçada para dizer quando todos estavam tão perdidos em preocupações. Tentou esquecer de quando o conheceu. Tresh o salvara de um assalto e tornara-se instantaneamente um dos melhores amigos que ele já tivera na vida.

Só de imaginar Katniss e Rue tendo que enterrar o amigo Peeta tinha vontade de correr até o acampamento dos soldados. Só de imaginar que nunca mais veria Tresh, que nunca mais riria das piadas dele, o professor se encheu de um pesar que poucas vezes sentiu na vida. Ele já tinha perdido os pais e uma esposa, ele conhecia muito bem a sensação de perder alguém, mas mesmo assim, por mais que sentisse essa dor cem vezes, ele nunca se acostumaria com ela.

– Essa guerra já começou a nos causar perdas Peeta, e cedo demais- Falou Haymitch pensativamente. O professor teve que concordar com ele.

Depois da morte de Tresh as coisas só pioraram. Novos soldados invadiam a cidade todos os dias deixando um rastro de destruição, negros eram chicoteados em público e obrigados a se alistarem, apesar de ser contra lei na Califórnia. Crimes, que já eram comuns como roubos, assassinatos e estupros se tornaram ainda mais rotineiros. Finnick quase foi apedrejado por dois mercenários por ser estrangeiro, se não fosse sua rapidez em pegar um cavalo que estava próximo e fugir Peeta teria perdido mais um amigo.

Em uma sexta, três dias depois de saber da morte do amigo, o professor foi até o centro da cidade como de costume procurar emprego. Era engraçado, mas ele quase já estava acostumado com algumas cenas inusitadas que ele via no caminho, como pessoas correndo apressadas, olhando para todos os lados, como se fossem ser atacadas a qualquer momento.

Toda vez que andava pela cidade desse jeito, tinha medo de testemunhar violências abomináveis e sempre agradecia aos céus quando percebia que apesar de tudo, não vira nada fora do comum.

Haviam boatos de que os Confederados iriam obrigar todos os homens do sul a lutar. Peeta sentiu pena dos pobres sulistas. Nenhum dos lados estava usando o alistamento forçado, mas todas as vezes que os soldados invadiam a casa de alguém, eles deixavam poucas chances de recusa. Além disso, todos sabiam que a União pegava negros desprevenidos e os obrigavam a lutar. O professor lembrou dos soldados invadindo sua casa, levando Tresh e Katniss. O rancor foi tanto que ele mal pode se reconhecer. Katniss tinha razão, a guerra mudava as pessoas.

Ele mal pode pensar nessas coisas, ouviu tiros do seu lado esquerdo e antes que pudesse ver o que estava acontecendo dois homens o agarraram por trás. Com desespero percebeu que haviam colocado uma venda nos seus olhos. Ele tentou lutar, mas foi impossível assim que um soco no estômago o fez cair. Foi erguido e sentiu o pavor tomar conta quando se deu conta que não havia mais chão sob seus pés.

Peeta sentiu uma estranha dor nas costelas quando foi jogado com força em algo duro. Primeiro, ele achou que tinha sido jogado no chão. No entanto, segundos depois, um movimento forte fez com que ele percebesse que estava numa carroça. Isso não era bom, significava que tinha sido sequestrado.

O difícil era saber o que alguém iria querer com ele. Ele era apenas um professor de história e francês desempregado, sem propriedades. Só estava na cidade há alguns meses. Meses, pensou Peeta com certo amargor, em que ele conseguiu aprontar um bocado de confusão.

Será que haviam descoberto sua ligação com o movimento abolicionista? Peeta achava isso quase impossível. Haymitch. Se eles tivessem descoberto alguma coisa o amigo estaria perdido. Peeta decidiu que o melhor era permanecer calado. Ele não tinha por que presumir que eles sabiam alguma coisa tinha? Se pelo menos ele soubesse para onde estava sendo levado.

A carroça, ou seja lá o que for que o estivesse carregando, pareceu andar por horas. Ele não tinha mais como saber para onde estava indo. Peeta nem tinha certeza se estava medindo o tempo corretamente.

Quando finalmente o veiculo parou ele se deu conta de que tudo estava silencioso. O silêncio foi o que mais assustou. Ele sabia que isso não era bom sinal. Depois ele sentiu que estava sendo carregado novamente. Um instinto o obrigava a lutar, mas ele sabia que isso não era o mais inteligente. Ele precisava saber onde estava, precisava saber quem eram aquelas pessoas o que queriam com ele e o que sabiam. Isso não seria uma tarefa fácil percebeu, nem um pouco fácil.

O impacto de ser atirado novamente no chão lançou uma dor excruciante para suas costas, mas não havia tempo para se preocupar com isso. Ele queria desesperadamente se livrar daquela venda.

–Obrigada tenente, pode deixá-lo comigo agora.

Peeta sentiu seu sangue gelando rapidamente ao ouvir aquela voz. Não era possível. Haymitch contou que ele logo voltaria de uma de suas inúmeras viagens, parecia que ele havia voltado rápido demais.

–Ás suas ordens senhor.

– Antes tire a venda dele, quero que esse pulha veja com quem está lidando.

O homem fez o que Snow pediu de uma maneira surpreendentemente gentil.

–Ótimo. Obrigada Mckinley. Chamo se precisar.

Peeta não viu, mas tinha certeza absoluta de que o homem havia batido continência e se retirado da forma mais respeitosa possível. Peeta tinha começado a odiar soldados. Ele avaliou mentalmente o local em que estava.

Parecia ser uma cabana de madeira, não haviam mobílias, a não ser por uma escrivaninha velha. Ele ouviu o barulho de água correndo então presumiu que ainda estava aos arredores de São Francisco. Não dava no entanto para dizer em que lado da Baia se encontrava. Fora o barulho de água e da respiração entrecortada de Snow Peeta não podia ouvir mais nenhum som, então presumiu que estavam longe do restante das tropas.

–Então- disse Snow- Aqui estamos professor.

Snow estava vestindo a farda azul dos soldados da União. Os cabelos pareciam mais brancos do que quando Peeta vira pela última vez. O homem parecia totalmente confiante, como todos os oficiais de alta patente sempre são. No entanto, apesar de toda a áurea de confiança, Peeta pode ver alguns resquícios de cansaço.

– O que eu estou fazendo aqui, o que você quer?

– Ah professor, indo direto ao assunto. Muito bom, também prefiro assim. Você está aqui por que faz parte do movimento abolicionista.

Peeta tentou se levantar, mas uma dor aguda nas costelas e nas pernas fez com que ele ficasse na posição humilhante em que estava. Snow aproveitou para apontar a arma diretamente para seu peito.

– Não! Snow, o que você está fazendo?

– Fique calmo professor, não quer que eu chame um dos meus homens para controlá-lo não é mesmo?

– Eu não sei o que você acha que eu estou fazendo, mas isso é ridículo, me deixe ir embora.

–Você desmente que tenha vindo para São Francisco a mando dos abolicionistas? Você desmente que, desde que pisou em São Francisco esteve ocupado em salvar negros?

–Eu pensei que a Califórnia proibisse a escravidão Snow- Disse Peeta petulantemente.

Snow lhe deu um chute nas suas costelas e fez sinal para que um dos homens entrasse. O soldado rapidamente levantou Peeta do chão e o prendeu em uma chave de braço enquanto Snow continuava apontando a arma para ele.

– Confesse Peeta Mellark, você estava tentando transformar aqueles negros malditos em nossos iguais.

– Não esqueça para quem você luta Snow- disse Peeta sem pensar. A raiva tomando conta rapidamente dele.

– Sim, é verdade. Luto por Lincoln. Mas convenhamos professor. Achei que você fosse mais inteligente. Nem todos da União são a favor da abolição. Lutamos pelo que todos lutam. Por nosso país e por que não dizer... por poder.

– Achei que se lutasse pela honra.

Snow deu uma risada tão alta que reverberou pelo teto da cabana.

–Professor, professor. Por favor! Agora me diga, quem mais está metido nesse movimento junto com você? Não tente nos esconder nada. Temos maneiras muito eficazes de descobrir.

– Então acho que vocês terão que descobrir por si mesmos. Da minha parte digo que não há ninguém envolvido nisso.

–Não seja estúpido. Sabe como descobrimos sobre você professor? Por um traidor. Sabemos que tem pessoas ajudando você a trazer negros do sul para norte, sabemos que tem feito pesquisas para os abolicionistas e, acima de tudo, sabemos que tem trabalhado para acabar com a elite escravagista de São Francisco.

–Eu não...

Antes que Peeta pudesse continuar um chute lhe acerta o estômago.

– Peeta Mellark, é melhor ter cuidado. Sabemos de alguém que também está envolvido nisso também. Seria uma pena se ela fosse machucada. Acho que nós dois concordamos nisso.

O desespero dessa vez tomou conta de Peeta, ele sabia o que Haymitch e Katniss diriam. Que ele estava sendo idiota. Mas ele não teve como evitar, a única coisa que conseguiu foi exprimir um lamento e fazer a única coisa que ele não podia fazer.

–Katniss- sussurrou Peeta.

Snow deu um sorriso vitorioso, como se Peeta tivesse feito o que ele queria e ele provavelmente tinha feito.

–Então você já está avisado. Pense bem. Daremos um tempo para que você nos ajude a acabar com a praga dos abolicionistas, de uma vez por todas.

Snow fez um sinal com as mãos e o soldado pegou a cadeira que estava atrás da escrivaninha e prendeu Peeta ali mesmo. Peeta sentiu as mãos começarem a doer e sabia que a dor ficaria pior ainda durante o tempo que estivesse amarrado ali.

–Seu cretino!- Foi a única coisa que Peeta conseguiu gritar.

–Ah e temos uma maneira de manter Katniss na nossa mira, se você quer saber- disse Snow parecendo satisfeito;

Peeta congelou. Ele queria tanto sair dali, ele estava se sentindo inútil e o modo como Snow falava... Katniss podia estar correndo perigo. O professor percebeu que Snow estava saboreando sua angustia como se estivesse faminto.

– Alma Coin, aquela mulher pode ser bem útil quando quer.

Coin! Então ela era a traidora. Sentindo seu estomago afundar o professor percebeu que não havia nada que ele pudesse fazer. Katniss estava correndo perigo e ele não tinha como salvá-la.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Espero que tenham tido um natal e um ano novo maravilhosos!!! Beijoos a todos.