Entre Livros E Maldições escrita por Witch


Capítulo 9
Interlude: a calma antes da tempestade


Notas iniciais do capítulo

Ahn, demorou, mas chegou? =x



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Henry estava com olheiras e tudo o que queria era voltar para a cama. Olhou ao redor e viu Emma conversando com Snow e David. Graham patrulhava e fazia questão de mostrar o revólver brilhante – como se aquilo fosse assustar uma bruxa - e August conversava com Ruby e ria, completamente despreocupado.

Bocejou. Estava sozinho dentro da lanchonete, com uma tigela ainda cheia de cereal e observava o movimento. Bocejou novamente e coçou os olhos. Passara a noite inteira quase em claro e por razões muito diferentes de Snow e Graham. O rapaz conseguira, depois de muito pedir a August, por um livro emprestado e passara o dia e quase a noite inteira lendo. Infelizmente, ainda não o terminara.

Encheu a colher com um pouco mais de cereal e comeu. Mastigou um pouco e engoliu.

A cidade inteira estava ali, ele apostava, rodeando a lanchonete, sussurrando entre si, temerosos e com vontade de voltar para casa. Aparentemente, só ele, Emma e August estavam mais calmos com todos os acontecimentos. Olhou para o livro ao seu lado e tentou se forçar a lê-lo, mas depois de passar tanto tempo ao lado do outro livro, que estava bem escondido na sua mochila, todas outras histórias pareciam sem graça. Ele tentara ler o livro recheado de contos de fadas, mas só conseguia pensar em Erza e sua busca pela Torre Amaldiçoada, que controlava todos os tempos e dimensões.

Contos de fadas eram legais, mas ele sabia como as histórias terminariam. Isso nunca o incomodou até ler sobre Erza e duvidar. Ele ficara grudado no livro, absorvendo cada página e se sentindo frustrado junto à heroína a cada obstáculo. Um dos personagens que ele gostava morrera e o rapaz sentiu seus olhos se enchendo de lágrimas. Foi só então que percebeu que naquela história nenhum personagem estava a salvo e que talvez até a própria Erza encontrasse o seu fim trágico, mesmo sendo a protagonista!, e isso não acontecia nos contos de fadas que estava acostumado a ler.

Aquilo o assustou mais do que deveria. Emma era a heroína daquela história e se nem Erza estava a salvo ( Erza, a heroína, a guerreira que sobrevivera a uma guerra, que usava uma espada com tamanha naturalidade, que possuía dezenas de aliados poderosos), se até ela podia morrer, o que aconteceria com a Emma, que era o completo oposto?

– Vamos começar a reunião! – exclamou Snow falando o mais alto possível.

– A bruxa ainda não está aqui. – disse Grumpy olhando ao redor. – Vamos esperar por ela?

Snow suspirou e olhou para Emma, que balançou os ombros.

– Mais um cinco minutos então. – declarou.

Henry continuou tomando seu café da manhã calmamente.

A bruxa já tinha chegado sim, só que ninguém prestara atenção o suficiente. Ele levantou o rosto e olhou para a mulher no canto da lanchonete, que digitava furiosamente no notebook, ignorando, conscientemente ou não, os acontecimentos ao redor. Uma xícara de café quente estava depositada na mesa e uma colher se movimentava sozinha em lentos círculos no líquido negro.

Ele não sabia quem a tinha servido com o café, mas ela era uma bruxa e ele não duvidava de nada. Olhou ao redor novamente e viu todos distraídos do lado de fora. Balançou a cabeça negativamente.

Saiu da cadeira e andou até o canto da lanchonete, aproveitando que ninguém os percebera lá dentro. Sentia medo, mas também sentia curiosidade. A bruxa não o percebera se aproximando e se percebera, não mostrara sinais. Ela só digitava e encarava a tela quase sem piscar.

– O que vai acontecer com a Erza?

Regina parou de digitar e o olhou com curiosidade.

– Você não deveria estar lendo a Torre, meu querido. – ela respondeu.

Ele balançou os ombros, não impressionado.

– Ela não morre né?

A bruxa consertou os óculos de leitura.

– Ainda não terminei o último livro, mas não espere pelo melhor.

Ele suspirou e olhou para o chão.

– É só uma história. Não leve tão a sério. Como eu disse, minhas histórias tendem a ser cruéis.

– Mas ela vai alcançar a Torre? – ele perguntou. - Pelo menos isso, certo?

Regina abriu um sorriso misterioso.

– Quem sabe? – soltou uma risada. – Aliás, sua mãe sabe que você está aqui sozinho?

Ele apontou para a reunião na frente da lanchonete.

– Eles estão te esperando.

– Tudo que eles têm que fazer é olhar para cá.

Ele assentiu e torceu os lábios.

– Eles são meio bobos.

Ela abriu um grande sorriso e concordou.

– Você é um rapaz muito inteligente. Diferente do resto da sua família.

Henry não soube se deveria se sentir elogiado ou insultado.

– A verdade – começou a escritora cruzando os braços e olhando a confusão do lado de fora – é que as pessoas sempre tendem a ignorar o mais obvio. Tudo que eles têm que fazer é olhar para essa direção, ainda sim eles teimam em olhar por todos os outros caminhos possíveis já que aqui é obviamente impossível, ou pelo menos é o que pensam.

Henry entortou a cabeça tentando entender. Regina abriu outro sorriso e balançou a cabeça.

– Não estou acostumada a conversar com crianças. – explicou. Depois, virou e revirou a bolsa negra que descansava numa outra cadeira. De lá, retirou um livro negro com um desenho de uma meia lua. – Esse livro é uma coletânea de contos. Mais leve que a minha Torre e quase tão bom. – e estendeu o livro para o rapaz.

– Contos? De terror? - perguntou pegando o livro. Tinha medo, sentia-se tremendo levemente, mas estava ansioso e não sabia por quê.

– Alguns sim, outros... nem tanto.

– Tem algum seu?

Regina abriu a boca para responder, mas fechou-a imediatamente. Lembrou-se do “E éramos um” e desejou fortemente queimar aquele livro negro. Forçou um sorriso.

– Sim, mas não é o meu favorito.

– Qual é o seu favorito?

Era uma boa pergunta, uma que ela nunca conseguira responder. Só sabia aqueles que ela odiava, mas aqueles que ela amava?

– Acho que seria “meu pequeno príncipe”.

Isso fez Henry sorrir.

– É tipo o “Pequeno Príncipe”?

– Mais ou menos. Se pudéssemos comparar, eu diria que é a perspectiva da Rosa sobre a falta que o Príncipe faz.

Henry se lembrava da história. Emma lera o livro diversas vezes para ele antes do rapaz aprender a ler, depois ele próprio relera a história diversas vezes.

– Eu posso ler?

Regina assentiu e olhou ao redor. Sentia a presença do seu familiar.

– Agora, termine o seu café, querido. O dia será longo.

Por alguma razão, ele concordava.

– Obrigado. – disse apertando o livro – Eu vou lê-lo e também vou terminar a Torre, mas eu só quero a Erza feliz, tá?

Depois se virou e correu para a sua mesa, onde comeu mais algumas colheres de cereal e abriu o livro de capa negra.

Regina sorriu e o acompanhou com o olhar. O rapazinho tinha futuro, ele era esperto, inteligente e sábio de uma forma que crianças normalmente não o são. Era revigorante. Crianças da Floresta Encantada jamais se aproximariam assim nela, mesmo antes de se tornar a Rainha Má. Mesmo em sua infância, as pessoas não se aproximavam assim tão facilmente... Grande parte da culpa era de Cora e o quanto ela apavorava todos ao redor.

Exceto Regina.

Regina via Cora de uma forma diferente, de uma forma mais inocente, mais incrível, mais... Tola. E talvez, por isso, ela se via em Henry agora. Fascinado e curioso, o rapaz se aproximara dela procurando e crendo numa parte boa, numa parte que ela não achava que existia mais, numa parte que não poderia machucá-lo, numa parte que ela tentara inutilmente resgatar durante todos esses anos através da literatura.

E falhara. Claro que falhara. Alguma vez tinha conseguido alguma coisa que não fosse o fracasso? Era tudo que tinha, tudo que sabia, o que mais podia ansiar? Mas agora a situação era diferente. Não era apenas vingança o que sentia, era mais, mais venenoso, mais forte, mais poderoso e Regina morreria antes de falhar.

Parou a colher que começara a fazer os círculos mais rapidamente e bebeu o café. Estava amargo e frio, mas ela o terminou num gole rápido. Aprendera o que era passar fome e bem sabia que um resto de café amargo podia ser a diferença entre a vida e a morte.

Exclamações assustadas fizeram tanto a bruxa quanto o rapaz curioso olharem para o lado de fora da lanchonete, onde a pantera negra surgira. Regina abrira um imenso sorriso para Emma e Snow, que a perceberam e exibiam expressões de surpresa. Riu quando Snow ficou ainda mais pálida ao perceber que Henry estivera lá sozinho durante todo aquele tempo junto a bruxa.

Midnight caminhava com passos lentos e a cabeça erguida e orgulhosa. O resto da cidade pareceu segui-lo e como uma onda, se espremeram para dentro da lanchonete. Regina olhou novamente para o cursor, que piscava no meio de uma frase, salvou o arquivo e fechou o notebook. A imensa pantera fez alguns barulhos, que não passava de rugidos para o resto da cidade.

Regina viu, pelo canto do olho, Snow e Charming se aproximarem de Henry. Emma só sussurrava irritada para Graham, Ruby não parecia muito surpresa e August exibia aquele maldito sorrisinho sabido.

– Entendo. – respondeu a bruxa torcendo os lábios. – Uma pena.

A besta rosnou mais alguma coisa e Regina assentiu.

– Ideia interessante. Veremos. Por agora, você está liberado, Midnight. Tente não matar ninguém, já tenho esqueletos o suficiente no meu armário.

Um rosnado indignado e a besta sumira entre a fumaça negra.

– Estávamos esperando por você. – disse Emma tomando a dianteira.

– Curioso, xerife. – respondeu a bruxa sorrindo – eu estava esperando vocês perceberem que eu já estava aqui.

– Não te vimos chegando.

– Oh, acredite ou não, eu também percebi isso.

Levantou-se da mesa.

– A verdade – continuou cruzando os braços – é que eu fiz isso por duas razões: uma, pois eu realmente preciso terminar o livro e, portanto, um tempo extra para escrever é sempre bom e dois, eu quero mostrar os quão despreparados vocês estão para lidar com os perigos que os espreitam. Só duas pessoas me perceberam em todo tempo que estive aqui: a filha da lua e Henry.

O rapaz abriu um sorriso orgulhoso e Ruby abaixou os olhos.

– Se eu tivesse interesse ou vontade de destruir essa cidadezinha e vocês seria muito fácil. Vocês estavam todos reunidos aqui e sabendo que eu chegaria eventualmente, imagine o que aconteceria se a minha presença não fosse esperada ou que eu estivesse interessada na derrota de vocês. Percebem o quanto seria fácil e rápido vencer agora?

Ela, obviamente, omitia o fato de sua magia estar mais fraca. Não é como se qualquer um deles precisasse saber mais do que ela estava disposta a expor.

– Fiquem com isso em mente durante a reunião. – finalizou se aproximando de Emma.

Os espectadores mantinham silêncio.

– Mantenham em mente que essa cidade só está em paz por que nada lá fora se atreve a me perturbar. A minha presença garante a vida de todos vocês.

Ela parou. Todos recuaram, exceto Emma, que sustentou seu olhar.

– Então, - respondeu Emma confiante – também mantenha em mente que nós te deixamos ficar aqui e diminua o ego, afinal se não fosse por mim, por que eu quebrei a maldição, você ainda estaria escrevendo crônicas para o jornal.

E sem esperar respostas, a loira se virou.

– Faremos a reunião lá fora como combinado. – voltou-se para Regina – Você primeiro, Majestade.

O olhar que as duas trocaram poderia facilmente ter colocado fogo na Granny’s, mas para August, que observava tudo, nada parecia mais interessante, nem mesmo o sorriso orgulhoso de Henry ou os olhares temerosos que Snow mandava para David.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, está pequeno, mas o tempo não me permite muito mais u-u