Estava em casa sozinha como sempre. A televisão anunciava outra série de assassinatos e infelizmente Alice sabia quem era o responsável. Sentia-se culpada pela morte das pessoas, se apenas tivesse entregado Connor podia ter-se livrado logo dessa culpa toda ou melhor nem estaria a sentindo agora. Assistia a mais um depoimento de uma família que havia perdido um membro da família e agora com ódio desejavam a prisão do assassino ou até mesmo a morte e era isso que não a deixava entregar Connor, não conseguia imaginá-lo preso por sua culpa. Queria que logo outra pessoa descobrisse tudo e o acusasse antes que mais vidas fossem perdidas.

  Já estava de noite e precisava descansar mas não conseguia dormir em paz com os acontecimentos recentes e as mortes que ocorriam. Nunca se sentiu tão sozinha na vida inteira, agora que precisava de alguém para desabafar não tinha. Ninguém poderia escutá-la.

  Ouviu barulhos na porta, batidas na verdade, mas ficou com medo de atender ou ver quem era. Poderia ser um ladrão mas para seu alívio tinha certeza de que havia trancado a porta. Mas o barulho não parava ouvia mais batidas na porta o que começava a assustá-la. A pessoa era insistente.

  -Vá embora... - dizia baixinho se encolhendo no sofá.

  A maçaneta virava mas porta não abria quem quer que fosse estava determinado a entrar. Alice resolveu então olhar pelo olho mágico e ver quem era. Com leves passos se aproximava da porta ainda com medo.

  -C-Connor?! - ela disse ao ver ele através do olho mágico.

  Connor estava apoiando-se na porta nem mesmo ficava de pé sozinho. Sem pensar duas vezes abriu a porta e Connor entrou em sua casa fechando a porta atrás de sí.

  -Alice, pensei que já estivesse dormindo. - disse sorrindo mas visivelmente ofegante.

  Alice estava em choque. Connor estava todo manchado de sangue no rosto haviam algumas gotas de sangue e a camisa branca estava tingida de vermelho. Ele sempre mantinha um sorriso no rosto como se nada estivesse fora do comum.

  -Connor... - ela disse com medo aparente nos olhos e dando alguns passos para trás.

  -Alice?

  -Você está...

  -Por que está se afastando?

  Enquanto tentava criar distância, Alice tropeçou no controle da televisão e caiu no chão. Connor correu para ajudá-la.

  -Não se aproxime! - ela gritou.

  Connor parou na hora um pouco surpreso com a reação de Alice. Aquela reação o lembrava do passado... E aquilo o assustava...

  A expressão de surpresa desapareceu do rosto de Connor e um sorriso maldoso surgia. Os olhos não transmitiam aquele mesmo calor aconchegante, pareciam frios sem emoção.

  -Alice, o que aconteceu? - ele perguntou com um sorriso assustador no rosto - Tem medo de mim?

  Alice estava mais assustada que antes com a mudança na voz e expressão de Connor, ele parecia uma pessoa completamente diferente. Sentia que havia um estranho falando com ela. Connor vinha em sua direção e a ajudou a se levantar. Tocou o rosto de garota olhando-a nos olhos. Ela não conseguia reagir.

  -Está com tanto medo que não consegue se mexer? Haha, pensei que fosse diferente dos outros...

  Quando percebeu, Alice já estava contra a parede e Connor prendia seus braços acima da cabeça. Seu rosto estava tão próximo que conseguia sentir a respiração do outro batendo em seu rosto.

  -Mais ninguém vive nessa casa? Pensei que com todo o barulho alguém viria. Mas Alexia conhece você mesmo, não é?

  Alexia havia contado tudo a ele, então era por isso que ele viera se abrigar em sua casa, ele tinha certeza de que não teria mais ninguém presente.

  -Quem é você?... - Alice finalmente disse - Você não é o Connor. É você quem comete os crimes?

  -Está certa e errada ao mesmo tempo. Eu sou o Connor mas acho que sou o que as pessoas chamariam de segunda personalidade. Mas o Connor que conhece tem total consciência do que faz, acho que pelo menos temos algo em comum.

  Alice aos poucos se acalmava, estava se acostumando à situação mas sabia que ainda estava em perigo.

  -Posso fazer uma pergunta?

  -Claro.

  -Por que não consigo entregar você?

  -Porque você se lembra de mim.

  -Mas eu conheci você recentemente.

  -Tem certeza?

  Agora estava com mais dúvidas ainda. Não lembra de ter visto Connor antes, e não entendia o que ele quis dizer.

  -A culpa é sua eu ter essa mania.

  -Mania?

  -De matar.

  -Minha culpa?

  -É, logo você se lembrará.

  -Tenho certeza que não conheço você.

  -Então me diga porque não consegue me entregar.

  Pensava, pensava e pensava já havia falado a sí mesmo, não? Então por que fazia a pergunta? Era por Alexia. Por que havia se esquecido?

  -Por Alexia...

  -É o melhor que pode pensar? Bem, infelizmente acho que ela não pensa o mesmo sobre você e sei que está ciente disso. Você a guarda como algo importante, não? Mas ela realmente não se importanta tanto assim com você.

  -Cala a boca! Você não me conhece e também não conhece Alexia!

  -Acho que a conheço melhor que você. Ela trocaria você por mim, não é prova o bastante? Acho que você não percebeu hoje, durante o intervalo, o que ela realmente sentia...

  -Para! - Alice disse soltando seus braços.

  -Sei que a verdade dói mas lembre-se que eu sempre estarei aqui por você e sei que você fará o mesmo por mim.

  Connor pegou mais uma vez seus braços colocando-os nas costas de Alice imobilizando-a, seu rosto estava próximo da orelha direita dela fazendo com que se arrepiasse.

  -Sabe que me preocupo com você, não sabe? - disse no ouvido dela.

  Ele começou a andar e consequêntemente Alice teve que seguir seus passos. Connor a jogou no sofá e antes que ela conseguisse se levantar ficou sobre ela. Não teve tempo de reagir, Connor já havia juntado seus lábios um no outro de forma estranhamente carinhosa. Com a mão direita, Connor acariciava o rosto de Alice e com a esquerda usava de apoio para não fazer peso sobre ela. Ela percebeu que ele não queria machucá-la e simplesmente não conseguiu afastá-lo. Passaram-se segundos e ambos não se moveram nem um pouco. Lentamente Connor se afastou de Alice e passou a fitá-la nos olhos.

  -Você ainda me ama?... - ele perguntou.

  Alice voltou a realidade e empurrou Connor. Ela se sentia como uma traidora, sabia que Alexia amava aquele garoto na sua frente. Como pode ter deixado ele a beijar sem mais nem menos?

  -Sai daqui! - ela gritou - E nunca mais volte!

  Alice abriu a porta e empurrou Connor para fora de sua casa. Sentia ódia, raiva de sí mesma. Não podia ter permitido aquele beijo acontecer, simplesmente não podia. Tocou seus lábios e parecia que estavam quentes, o coração acelerado não conseguia se acalmar de jeito nenhum e a mente parecia uma bagunça, tudo graças a Connor.

  Olhou para sua roupa, mais uma vez estava cheia de sangue. Sentia aquele cheiro familiar mais uma vez e que queria a todo custo esquecer.